22/01/2008
OPINIÃO
CARLOS ALBERTO DI FRANCO* (20/1/2008)
Aborto é rejeitado
Pesquisa Datafolha divulgada no final do ano passado constatou um expressivo
aumento da rejeição ao aborto no Brasil. Para 87% dos
entrevistados, fazer um aborto é algo moralmente errado.
A maioria declara que daria apoio a um filho ou filha
no caso de uma gravidez na adolescência, e rejeita a prática
do aborto.
Ao considerar a hipótese de ter uma filha que
ficasse grávida ainda adolescente, 82% a apoiariam para que tivesse
o filho em qualquer situação. Dariam seu apoio para que
ela levasse a gravidez adiante.
Apenas 1% dos entrevistados aconselharia o aborto em
qualquer situação.
Não chegam a 1% os que a aconselhariam a fazer
um aborto, caso o pai da criança não quisesse assumir
o filho.
Se fosse um filho a engravidar uma menina, 71% o apoiariam
para que ele tivesse o filho em qualquer situação.
Os que aconselhariam um aborto em qualquer situação
não somam 1%, e o mesmo acontece com os que seriam favoráveis
à interrupção da gravidez por achar o rapaz muito
novo para ser pai.
O resultado da pesquisa é uma ducha de água
fria na estratégia pró-aborto do ministro Temporão
e confirma uma tendência flagrada em pesquisas anteriores.
As campanhas do governo estão de costas para
o Brasil real.
Vale acrescentar que, se o projeto do Conselho Federal
de Jornalismo estivesse vigorando, caro leitor, hoje certamente eu não
estaria escrevendo este artigo.
Mas, como a imprensa brasileira é pluralista
e defensora da liberdade de expressão, posso, sem nenhum constrangimento,
defender meu ponto de vista, que talvez não esteja, necessariamente,
em sintonia com a linha editorial de alguns jornais diários.
Os jornais não amordaçam. Felizmente.
Mas os governos, freqüentemente, gostam de ouvir Samba de Uma Nota
Só.
Por isso, devemos, todos nós, defender a liberdade
de imprensa e de expressão com vigor e coragem moral.
A legalização do aborto, independentemente
dos eufemismos de alguns e da ambigüidade do presidente da República,
é prioridade do governo Lula.
A opinião pública assiste, atônita,
a uma articulada campanha que pretende impor contra a vontade expressa
da sociedade, e em nome da ´democracia´, a eliminação
do primeiro direito humano fundamental: o direito à vida.
Agora, no entanto, o que se pretende é o aborto
amplo e irrestrito. A legalização do aborto, estou certo,
é o primeiro elo da imensa cadeia da cultura da morte.
Após a implantação do aborto descendente
(a eliminação do feto), virão inúmeras manifestações
do aborto ascendente (supressão da vida do doente) - a eutanásia
já está sendo incorporada ao sistema legal de alguns países
-, do idoso e, quem sabe, de todos os que constituem as classes passivas
e indesejadas da sociedade.
O brasileiro é contra o aborto. Não se
trata apenas de uma opinião, mas de um fato medido em pesquisa
de opinião. Por isso o governo precisa ir devagar com o andor.
A legalização do aborto seria, hoje e
agora, uma ação nitidamente antidemocrática. Ademais,
existe a questão dos princípios.
A democracia é o regime que mais genuinamente
respeita a dignidade da pessoa humana. Qualquer construção
democrática, autêntica e não apenas de fachada,
reclama os alicerces dos valores éticos fundamentais.
Por isso, não obstante a força do marketing
emocional que apóia as campanhas pró-aborto, é
preocupante o veneno antidemocrático que está no fundo
dos slogans abortistas.
Não se compreende de que modo obteremos uma sociedade
mais justa e digna para seres humanos (os adultos) por meio da morte
de outros (as crianças não nascidas).
Há um elo indissolúvel entre a prática
do aborto, o massacre do Carandiru, a chacina da Candelária e
outras agressões à vida: o ser humano é encarado
como objeto descartável.
A violência contra a infância abandonada,
o surpreendente crescimento da violência infanto-juvenil, o clima
de insegurança que se respira nos grandes centros urbanos são
a conseqüência lógica da cultura da morte.
É inútil enclausurar-se em condomínios
fechados, multiplicar guaritas, erguer muros cada vez mais altos.
A humanidade humanicida não pode esperar sensibilidade
da geração que deu à luz, porque os filhos não
costumam ser mais generosos e dedicados que seus pais.
* Consultor, professor de Ética e doutor em Comunicação
pela Universidade de Navarra
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"Assim que é concebido, um homem é
um homem" (Prof. Jerôme Lejeune, Pai da Genética Moderna).
"O aborto não é, como dizem, simplesmente um assassinato.
É um roubo... Nem pode haver roubo maior. Porque, ao malogrado
nascituro, rouba-se-lhe este mundo, o céu, as estrelas, o universo,
tudo. O aborto é o roubo infinito". (Mário Quintana)
Diário do Nordeste - 21.01.2008
http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=505498
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