Mediunidade é
a capacidade de entrar em contato com outras consciências
ou espíritos, encarnados e desencarnados, e transmitir-lhes
o pensamento, os sentimentos, as idéias e as sensações,
sob as mais variadas formas. E médium
é todo aquele que tem esta capacidade, em maior ou menor
grau. Embora haja outras variações para estas definições,
muitas válidas, estas são as mais conhecidas e as
mais relevantes para o assunto que pretendo tratar.
Captando e transmitindo pensamentos
e sentimentos que vêm de fora de si mesmo, o médium
trabalha, o tempo todo, com o que não é seu, com
o que não lhe pertence e nem nasce dentro dele. Ele trabalha,
principalmente, com os conteúdos de outras mentes que,
aproveitando-se de sua capacidade, tentam se comunicar.
Uma das questões mais presentes nas pessoas que me procuram
para o curso de mediunidade é como distinguir o que é
seu do que é dos espíritos que se comunicam, como
saber se o que está sendo transmitido não é
conteúdo do próprio médium, e não
das consciências ou entidades que se comunicam por intermédio
dele, especialmente porque se sabe que mais de 70% dos médiuns
hoje permanecem totalmente conscientes durante o fenômeno.
As entidades que se comunicam por um médium podem mudar
e variar muito de um trabalho para o outro, sendo quase impossível
prever com exatidão quem irá se comunicar a cada
oportunidade ou que tipo de conteúdos surgirão a
cada trabalho. E esta questão se complica ainda mais quando
pensamos na sintonia, pois nenhum fenômeno mediúnico
ocorre sem que haja uma boa dose de similaridade, de afinidade
entre os conteúdos do médium e da entidade comunicante,
para que as idéias transmitidas sejam melhor compreendidas
e repassadas pelo médium.
Como saber, então,
com segurança, o que é do próprio médium
e o que vem da entidade? Como distinguir entre coisas, às
vezes, muito parecidas, passando pelo mesmo canal? Além
disso, como manter-se isento e imparcial nas comunicações,
quando, muitas vezes, o que chega mobiliza o médium profundamente,
tocando seus sentimentos e emoções de maneira mais
intensa?
Só podemos distinguir coisas
quando as conhecemos bem, quando as reconhecemos, quando as identificamos
com certa facilidade. Não é possível, portanto,
ao médium, distinguir os seus conteúdos dos conteúdos
das entidades comunicantes se ele não conhecer algo desses
conteúdos, para poder identificá-los, compará-los
e separá-los adequadamente.
Não podendo controlar os conteúdos que lhe chegam,
ao médium não resta outra opção a
não ser trabalhar naquilo que está mais próximo
dele, sobre o que ele tem muito mais controle e com o que está
em contato 24 horas por dias, 7 dias por semana: ele mesmo,
seus conteúdos, suas questões, seus padrões,
sua luz e sua sombra.
Um bom médium, portanto,
além de dominar o fenômeno e as técnicas,
precisa conhecer a si mesmo em profundidade, precisa trabalhar
constante e cuidadosamente o autoconhecimento. Um bom
médium, antes de se entregar aos fenômenos, precisa
saber quais são as suas próprias dúvidas
e questões, as suas dificuldades e limitações,
as suas qualidades e necessidades, para, só então,
poder transmitir, com segurança, aquilo que lhe chega de
outras mentes, por intermédio de sua própria capacidade
de comunicação psíquica, sem o receio de
estar misturando o que é seu com o que é de quem
se comunica ou de estar interferindo na comunicação.
Por isso, sempre friso muito nos
meus cursos que estudar e praticar mediunidade é,
antes de tudo, um trabalho de autoconhecimento, um estudo
interno profundo, que deve nos colocar cara a cara com tudo o
que somos, com tudo o que sabemos e, principalmente, ainda não
sabemos de nós mesmos.
Não entendo que seja possível
ser um médium consciente, responsável e equilibrado
se não houver autocontrole sadio das próprias emoções,
se o médium não for capaz de olhar para si mesmo
com autocrítica saudável, se não houver disposição
sincera para reconhecer as próprias características,
trabalhando aquelas em que se percebe desequilibrado ou confuso,
limitado ou incômodo.
Num transe mediúnico, o médium entra em contato
profundo com muito do que as entidades sentem e pensam, e precisa
estar seguro do que ele próprio pensa e sente, para não
se deixar confundir ou mesmo enganar nos trabalhos que irá
fazer.
Não se trata apenas de vigilância, ou de apenas observar,
mas de reconhecer o que se pensa e sente, porque isso acontece,
o que isso nos causa, em que circunstâncias acontece etc.
Também não se trata de moralismo, de acomodar atitudes
ao que outros determinaram ser a melhor conduta, de seguir preceitos
morais religiosos, mas de consultar a própria consciência
em busca da verdade sobre si mesmo, em busca da essência
do ser, em busca daquilo que realmente identifica cada um de nós,
independentemente de rótulos, crenças, conceitos
filosóficos etc.
Quando um médium se conhece, ele não teme o contato
com outras mentes, pois está seguro do que está
dentro dele e não será facilmente desviado, desequilibrado
ou enganado. Quando ele não se conhece, no entanto, fica
perdido em meio ao fluxo de sentimentos, emoções
e pensamentos que lhe chegam e pode ver-se perturbado tentando
separar o que percebe, ou questionando-se sobre o que está
acontecendo com ele.
O estudo e o exercício
da mediunidade, portanto, exigem autoconsciência, auto-análise,
autocrítica, observação constante de si mesmo,
não como juiz ou carrasco, mas como testemunha lúcida
e fiel do que se passa interiormente, pronta para atuar naquilo
que for necessário para melhorar-se, quando solicitada.
Mediunidade é meio de comunicação.
E toda comunicação fica muito prejudicada quando
há ruído, quando o sinal não é forte,
quando o meio que a transmite não consegue ser fiel, imparcial
e ético na sua função. O médium que
cuida de manter isolados, embora não escondidos ou anulados,
seus conteúdos, mantém limpos e calibrados os seus
canais de comunicação, garantindo recepções
e transmissões de qualidade, tanto para ele quanto para
quem se comunica através dele.
Mediunidade é intercâmbio de idéias,
sentimentos, pensamentos, emoções e sensações
e, quando está ciente disso e de seus próprios conteúdos,
o médium consegue não só receber informações
e orientações importantes para si mesmo e os que
o acompanham, como também pode colaborar com os seus próprios
conteúdos, conhecimentos e experiências, ajudando
àqueles que o buscam para a comunicação,
fazendo da mediunidade uma troca rica e construtiva.
Mediunidade é serviço de integração
de dois mundos - ou, quem sabe, mais até - que
funcionam de forma diferenciada, em diferentes freqüências,
com diferentes características e peculiariedades. E o médium
que sabe disso e procura conhecer bem essas diferenças,
bem como as semelhanças que existem, consegue acompanhar
todo fenômeno de forma lúcida e com grande discernimento,
sem se deixar afetar negativamente por aquilo que lhe chega.
Mediunidade é oportunidade de trabalhar pelos outros,
mas, antes de tudo, por si mesmo, estudando-se e aplicando aquilo
que aprende nas comunicações em sua própria
vida.