Se tudo fosse relativo,
a relatividade seria absoluta;
mas, se a relatividade fosse absoluta, nem tudo seria relativo.
Quando Galileu Galilei escreveu sua Teoria
da Relatividade, hoje conhecida como clássica, apenas, restringiu-se
aos movimentos mecânicos dos objetos terráqueos e longe
deveria estar de supor que abriria a porta para mais uma etapa metafísica
dos estudos exatos da cinemática e, a partir dela, dos fenômenos
universais.
Só em 1905 é que A. Einstein reformulou os estudos do
sábio italiano condenado pelas Igrejas cristãs por contrariar
os princípios bíblicos e evangélicos de suas
doutrinas, escrevendo seu primeiro trabalho a esse respeito, intitulado
Teoria da Relatividade Generalizada.
Galileu havia se restringido à que hoje se conhece como Mecânica
Newtoniana, a exemplo do caso de um passageiro dentro de um veículo
em movimento: se ele jogasse um objeto para trás, mesmo assim,
ele estaria indo para frente, dentro do dito veículo em movimento.
Segundo este sábio, ainda, dois móveis na mesma linha
reta, um se afastando do outro, a velocidade de afastamento seria
a soma das duas velocidades, mas se ambos caminhassem no mesmo sentido,
a velocidade de aproximação do de trás seria
dada pela diferença entre as respectivas velocidades; mas se
o da frente fosse mais veloz, a diferença seria de afastamento,
embora ambos caminhassem para o mesmo lado. Tudo relativo.
Este último é o caso do passageiro correndo atrás
da condução mais veloz do que ele: quanto mais corre,
mais longe fica!
Já Einstein aproveitou este conceito para explicar porque não
conseguiríamos chegar aos limites do Universo em expansão
porque sua velocidade de expansão é – ou deverá
ser – maior do que a velocidade da luz (que é a de observação),
por isso, qualquer emissão luminosa lançada pelos nossos
observatórios irá bancar o passageiro atrás da
condução. Eis porque seu estudo se prende à generalidade.
Atualmente, nossos observatórios da equipe de Palomar, registraram
as primeiras possíveis emissões luminosas de imagens
obtidas a partir das mais longínquas distâncias de nosso
planeta e que distam treze milhões de ano-luz da Terra; portanto,
o que estamos observando hoje como sendo o limite do Universo, já
ocorreu há esse tempo e só agora está chegando
até nós. E o curioso é que a Terra ainda não
existia quando esta imagem foi emitida. De qualquer forma, o que se
evidencia é que o Universo continua se estendendo, o que prova
que, além dele algo existe, senão, jamais poderia continuar
sua expansão. Eis, pois, uma relatividade de posições:
onde estaria a Terra quando estas emissões ora observadas foram
lançadas? Existiríamos onde? E aí vai por terra
a Gênese bíblica defendida pelos cristãos.
Em 1925, o próprio Einstein escreveu um novo estudo conhecido
como Teoria da Relatividade Restrita. Em que ela se difere da anterior?
Analisemos um exemplo, o mais clássico: se um móvel
se desloca numa direção e acende um farol em sua traseira,
pela relatividade clássica. A velocidade de afastamento da
luz em relação ao móvel que se desloca no sentido
oposto deveria ser a soma das duas velocidades, todavia, como não
existe velocidade maior do que a da luz, a lei de Galileu não
satisfaz a este caso. Daí a restrição ao exemplo
dado: a luz se afasta do móvel que se desloca em sentido contrário
sem que as velocidades se somem.
Este é um exemplo bem simples para que o leigo possa entender
a diferença de relatividades, que também é relativa.
Do mesmo modo, a distância entre dois pontos ditos fixos é
relativa porque, por mais próximos que estejam um do outro,
haverá sempre um ponto intermediário entre eles. Nosso
problema é a visão, restrita, que precisa de aparelhos
ópticos, como microscópios para ver os objetos de dimensões
ínfimas. Na Geometria, ainda, qualquer que seja o tamanho de
um segmento de reta, sempre poderemos dividi-lo ao meio, indefinidamente.
Fermat, matematicamente, usando equações hiperbólicas,
provou que a menor distância entre dois pontos é uma
catenária – aquela barriga de um fio elétrico
esticado entre dois postes – e que o segmento de reta cartesiano
é o limite relativo desta distância sideral.
E o que tem que ver tudo isso com a nossa existência? Primeiramente,
passemos por uma análise pedagógica:
Num estabelecimento padrão de ensino, o ideal é ter
três classes para cada série: uma para os mais adiantados,
outra para os médios e a terceira para os que tenham dificuldade
na aprendizagem e para os quais se torne essencial técnicas
especiais e, assim, os mais adiantados não se prejudicariam.
A Pedagogia se baseia na observação social para concluir
quais sejam as técnicas ideais de aprendizagem, portanto, relativas
ao próprio comportamento humano, no caso, infantil.
Por outro lado, na teoria reencarnacionista, nossa vida atual é
conseqüência dos nossos atos de vidas passadas enquanto
que nossos atos presentes irão influenciar nossas encarnações
futuras. Como se tem dito, a tese reencarnacionista se baseia num
princípio físico que diz que “todo fenômeno
é repetitivo” e que “um agente capaz de realizar
determinado fenômeno poderá reproduzi-lo tantas vezes
quantas necessárias”. Como não existem exceções
senão em regras gramaticais, cientificamente, a existência
em si, ou seja, nossa vida, não poderia contrariar esta lei.
Evidentemente, a reencarnação é uma tese que
não interessa aos sacerdotes religiosos, principalmente àqueles
que vendem a seus fiéis um lugarzinho num céu fictício
que não existe em nenhuma parte senão na vontade errônea
destes fiéis que almejam tal privilégio inexistente,
na vaga ilusão de que possam possuí-lo.
Por esse motivo, a Religião em si sempre se opôs à
Ciência, acusando-a de materialista e atéia, o que vem
a ser o mesmo que terrível heresia “castigada”
pelo Criador com a condenação eterna, evidentemente,
tudo dentro desta ficção religiosa sem provas nem argumentos
convincentes; apenas aceita pelos fanáticos e crentes que,
de fato, irão almejar privilégios superiores, com ou
sem méritos para tal, apenas, por serem fiéis a este
aludido Deus.
Por outro lado, se analisarmos a figura divina do Criador, vamos verificar
que se trata de terrível aberração, afinal, se
somos criados à sua imagem e semelhança, Deus antropomórfico
possui todos os predicados e defeitos humanos que, evidentemente,
herdamos d’Ele quando nos fez desta forma.
Para justificar todas essas aberrações, os sacerdotes
responsáveis pelo ensino dogmático – dogma não
se discute: aceita-se – criaram a “lei do livre arbítrio”
a fim de tirar a culpa do Criador e transferi-la para o próprio
homem que resolveu, por conta própria, agir à sua moda,
mesmo contrariando os desígnios da “criação”.
E Deus, apesar de onisciente, não sabia disso!
O livre arbítrio, de fato, é uma opção
humana; um exemplo clássico é a escolha do transeunte
pelo momento certo em que vá atravessar uma rua com veículos
circulando; ele tem o livre arbítrio de escolha deste momento,
mas, se não o fizer corretamente, corre o risco de ser atropelado.
Mais uma vez, um conceito relativo: o livre arbítrio!
Todavia, se há uma pergunta que nem a relatividade explica,
é: – por que existimos?
Em decorrência disso, se não existíssemos, o que
haveria em nosso lugar? E a partir de tal idéia, começam
os devaneios da relatividade: – Por que teríamos sido
criados? Simples vontade do Criador é algo assaz infantil para
que se aceite já que o Universo só pode existir por
uma causa muito grave, tal sua intrínseca estrutura perfeita
e exata.
Todas as concepções religiosas só perduram porque
os fiéis às suas crenças nunca pararam para estudar
o que já se sabe a respeito das observações cosmológicas.
Convém mais crer que haja um Deus hipotético que vá
premiá-los pela sua fidelidade do que admitir que cabe a eles
todo esforço para se auto-evolverem a fim de que acompanhem
o progresso universal.
Em nossa sociedade cristã, o conceito da Criação
é algo absurdo porque parte da idéia de que um Ente
divino teria tido vontade de fazê-lo e teria escolhido a Terra
como centro da sua criação. Mas, se imaginarmos que
nosso planeta é um ínfimo astro perdido numa galáxia
secundária – no caso, a Via Láctea – cuja
dimensão seria percorrida pela luz em dez milhões de
anos, por que nos considerarmos como sendo a obra prima desta dita
criação de Deus? Por que não nos teria, então,
colocado em um astro superior? Sequer, a Terra é o principal
planeta do nosso sistema solar.
Mais uma pedra no caminho do “criacionismo”.
As teses da relatividade são implacáveis:
A criação universal é deveras perfeita para que
seja obra de um Deus religioso qualquer, incompetente e parcial, que
só se preocupe com os fiéis de sua respectiva seita.
E que, ainda por cima, possa ter a imagem e a semelhança com
o homem, este ser cheio de defeitos que habita nosso planeta.
O Agente Supremo do Universo há que ser único para todos.
Suas leis são as mesmas, até para o ínfimo e
sua perfeição também será relativa à
existência cósmica do nosso espaço sideral. Ele
evolve com o progresso de sua obra, dita “criação”.
Cabe, aqui, uma frase de Voltaire: – “... relativo é
o conhecimento humano; absoluto é o conhecimento atribuído
a Deus!”
E o que viria a ser o absoluto? Sem dúvida, só poderia
ser algo imutável, portanto, se descrevemos um ciclo evolutivo
de existência, esta, obrigatoriamente, será relativa
à velocidade de aperfeiçoamento que se desenvolva, independente
do relativismo terreno; em síntese, alguns astros podem avançar
mais rapidamente no processo da evolução que outros,
porém, a caminhada geral é definida por tudo aquilo
que exista e continue seu ciclo através do espaço-tempo.
Neste caso, Deus também seria relativo.