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23 DE MAIO DE 2017 BY MZANOLINI
Os prós e os contras da empatia – Roman Krznaric versus
Paul Bloom
Para o pensador Roman Krznaric, a empatia
é a principal ferramenta para a revolução humana
no século XXI. Ele afirma que do século passado para
esse, passamos de uma fase de introspecção (autoconhecimento
a partir de um olhar para dentro), para o que ele chama de outrospecção
(autoconhecimento a partir de um olhar para fora, para o outro). A
outrospecção, por seu processo coletivo, tem o potencial
para disparar profundas mudanças sociais, políticas
e econômicas.
Já o professor de psicologia da Universidade
de Yale, Paul Bloom, acredita que a empatia leva as pessoas a tomarem
as piores decisões. Ele cita Adam Smith para ilustrar que quanto
mais empatia tivermos por alguém que sofre, mais desejaremos
retaliação contra aqueles que causam tal sofrimento.
Para ele a conclusão é que quanto mais empatia, maior
é a incidência de violência.
Krznaric nos lembra que a psicologia categoriza dois
tipo de empatia, a emocional e a cognitiva. A primeira é a
nossa capacidade inata de espelhar as emoções daqueles
que nos cercam. Esse tipo de resposta empática é resultado
de neurônios-espelho, que são fundamentais no processo
de aprendizagem por imitação, que é comum a todos
os seres humanos. Já a empatia cognitiva é uma decisão
racional. Para exemplificar,Roman Krznaric nos lembra do movimento
que levou à proibição da escravidão na
Inglaterra, onde por mais de 20 anos, os ativistas publicaram relatos
de ex-escravos, fizeram apresentações públicas
para apresentar os objetos de tortura e das voz aos cativos, para
aumentar a consciência da opinião pública.
Bloom, que é autor do livro Contra a Empatia: O Caso da
Compaixão Racional, afirma que o problema da empatia (emocional)
é que ela praticamente só acontece entre pessoas que
tem afinidades emocionais. Essa capacidade inata nos leva a entender
a dor e as ideias daqueles que estão ao nosso redor, e por
isso nos afasta daqueles que cresceram em outras realidades, em outros
países, com outras religiões. Ele defende a compaixão
por entender que ela nos mantém afastados do outro, sem o perigo
de nos misturarmos e confundirmos o nosso sentimento com o sentimento
alheio. A compaixão seria, para Bloom, uma janela para a razão
que faz com que possamos ser calorosos e zelosos em relação
ao ouro, sem perdermos nossa individualidade.
A leitura que Krznaric faz da empatia é mais ampla. Ela nos
diz que é automático sentir empatia por aqueles que
pensam como nós, e que quase sem esforço podemos sentir
empatia pelas pessoas marginalizadas, mas que devemos fazer um esforço
racional para sentir isso por aqueles que estão no poder, por
exemplo. Só compreendendo as motivações e os
sentimentos destes últimos é que poderemos desenvolver
estratégias para transformarmos a sociedade. Da mesma forma
que só através da razão podemos expandir nossa
empatia no espaço e no tempo. No espaço para compreender
o outro que vem de uma realidade completamente diferente da nossa.
E no tempo para ter empatia pelas futuras gerações que
herdarão as consequências de nossas escolhas.
Ao tentar opor compaixão e empatia, Bloom cria uma falsa dicotomia.
A empatia, por ser inata, nos convida a agir. Empatia é um
sentimento que compartilhamos. Se a nossa razão refina esse
sentimento e nos faz buscar em todos os outros seres humanos uma essência
comum com a qual podemos nos identificar, isso abre as portas para
um mundo de paz. Mas ainda assim a paz não é um resultado
inevitável da empatia. É preciso escolher agir, e essa
escolha terá que ser refeita a cada novo encontro.