Espiritualidade e Sociedade



Wellington Zangari; Fátima Regina Machado

>   Incidência e Relevância Social das Experiências Psi de Estudantes Universitários Brasileiros

Artigos, teses e publicações

Wellington Zangari & Fátima Regina Machado
>   Incidência e Relevância Social das Experiências Psi de Estudantes Universitários Brasileiros

 

 


Resumo

O principal objetivo deste trabalho é relatar a incidência e relevância sociológica de experiências parapsicológicas na vida diária de estudantes universitários brasileiros, e chamar a atenção dos pesquisadores, especialmente dos que fazem pesquisa no Brasil, para a promissora oportunidade que este país oferece para se fazer estudos de campo produtivos. O presente estudo compreende a análise de dados obtidos através da aplicação de um questionário de 72 ítens, em parte traduzido do questionário de 46 ítens de Palmer (1979) com algumas adaptações de acordo com a cultura brasileira. O restante do questionário compreende 27 questões da Escala de Experiências de Dissociação (Scale Experience Dissociative), desenvolvida por Bernstein e Putnam (1986). Essas questões também foram traduzidas e incluídas no questionário para uma posterior análise dos dados. Os resultados foram muito interessantes: 89,5% dos respondentes disseram ter passado por pelo menos uma experiência psíquica. Detalhes descritivos dos resultados do questionário são apresentados. Em um trabalho futuro, pretendemos analisar todos os ítens do questionário, comparando-os aos resultados de outros questionários. Pretendemos também ampliar o estudo para conseguir uma amostra quantitativamente significativa da população brasileira para maiores análises.

 

 

Introdução

Diversas pesquisas de levantamento de dados têm sido conduzidas nas últimas décadas em Parapsicologia, entre elas Blackmore, 1984; Richards, 1990; Haight, 1979; Irwin, 1985 e 1985a; Kohr, 1980; Neppe, 1983; Thalbourne, 1981; Thalbourne, 1985 e assim por diante. No entanto, nada do que foi publicado até agora em matéria de levantamentos de dados inclui a população brasileira. Embora se diga que o Brasil é um "paraíso" em termos da freqüência de ocorrências de fenômenos psíquicos - ou, pelos menos, sugestão dessas ocorrências - tal característica não foi empiricamente demonstrada antes de nosso estudo. É por isso que sentimos que esta pesquisa é muito importante: nada parecido foi feito antes no Brasil, nem pelos diversos pesquisadores estrangeiros que visitaram e continuam visitando o nosso país para estudarem as experiências psíquicas brasileiras (ex. Patric Geisler, David Hess, Patrice Keane, Stanley Krippner e William Roll), nem por pesquisadores brasileiros. Através de nosso estudos, esperamos encorajar pesquisadores, especialmente os brasileiros, a iniciarem novos projetos de pesquisa parapsicológica no Brasil.

Neste trabalho, queremos demonstrar a análise da incidência e importância dos fenômenos psíquicos na vida diária de estudantes universitários brasileiros. Este é o primeiro estágio de um estudo mais completo, que consiste na análise de alguns dados que foram colhidos pela aplicação de um questionário de 72 ítens. Pretendemos analisar todos os ítens do questionário no futuro e ampliar a significação estatística da amostra de forma que se torne uma amostra quantitativamente representativa da população brasileira em geral.


Método

O presente estudo consistiu na administração e análise de 181 questionários a estudantes da Faculdade Anhembi Morumbi (São Paulo, SP, Brasil). O questionário consistia em 72 ítens, sendo 45 ítens traduzidos do questionário de Palmer (1979) e os outros 27 ítens tomados da Escala de Experiências Dissociativas (Dissociative Experience Scale ou DES, 1986), incluidas no questinário para uma análise posterior. (Na verdade, o DES é composto de 28 ítens, mas a cópia que conseguimos apresentava apenas 27. Descobrimos o erro somente após os questionários terem sido administrados. Conseqüentemente, não pudemos incluir o ítem que faltava no questionário.)

As questões da escala de dissociação foram traduzidas sem nenhuma modificação. Algumas questões do questionário de Palmer (2, 11, 36, 41, 42, 43 e 44) foram traduzidas e adaptadas à cultura brasileira. Uma questão foi propositadamente omitida (45). Não comentaremos aqui a respeito da adaptação de algumas outras questões porque estas não foram analisadas para o presente trabalho.

Neste estudo preliminar, focalizamos nossa atenção às respostas das questões 1, 3, 11, 18, 19, 20, 21, 22, 24, 26, 27, 28, 29, 30, 34, 35, 39 e 44 porque essas questões estão centradas na incidência e importância das experiências psi na vida diária. Selecionamos as questões que foram caracterizadas por Palmer como "IA" e algumas das questões categorizadas por ele como "IB". A categoria "IA" envolviam "experiências que, se válidas, por definição envolvem psi, isto é, ESP ou PK. Essas experiências incluem experiências de ESP em vigília, sonhos contendo ESP, o fato de ser um agente da experiência ESP de alguém, e a atividade poltergeist (RSPK)" (Palmer, 1979). A categoria "IB" envolve "experiências que não são parapsicológicas como tais, mas são do interesse dos parapsicólogos porque podem propiciar um contexto para efeitos ESP ou PK" (Palmer, 1979). Incluímos as questões "IB" que englobavam experiências fora do corpo, aparições, assombrações e "memórias" de vidas passadas, porque nessas questões as relações dessas experiências com psi foram explicitamente exploradas.


A amostra

a) Seleção da amostra

Decidimos administrar o questionário a estudantes da Faculdade Anhembi Morumbi porque trabalhamos nessa instituição. Uma das coordenadoras dos cursos da área de Ciências Humanas conseguiu a colaboração de cinco professores para a aplicação do questionário. Esses professores lecionam em sete classes, cujos estudantes compreendem o nosso grupo de respondentes. Cinco dessas classes pertencem ao período noturno e duas ao período matutino. Ao todo, 181 estudantes participaram da pesquisa. Decidimos não aplicar o questionário às classes em que lecionamos para minimizar qualquer influência potencial de nosso relacionamento com os respondentes.


b) Características dos estudantes respondentes


Entre os 181 estudantes respondentes, 21 eram homens e 160 mulheres. Suas idades variavam de 18 a 47 anos. 62,4% tinham entre 18 e 25 anos e 37,6% tinham entre 26 e 47 anos. Quanto à religião, 61,5% dos estudantes eram católicos, 15% eram espíritas kardecistas, 7% eram protestantes, 3% umbandistas, 3% disseram ter algum tipo de crença oriental, 3% eram agnósticos ou ateus e 7% indicaram ter outros tipos de crença.

Procedimento

Em primeiro lugar, obtivemos permissão da coordenadora dos cursos de Ciências Humanas da Faculdade Anhembi Morumbi para aplicar os questionários aos estudantes, se possível, durante o período de aulas. No dia 7 de março de 1994, o questionário foi aplicado aos estudantes durante o período costumeiro de aulas, de acordo com o horário de aulas dos professores que colabararam.

Antes de começarmos a distribuir os questionários aos estudantes, enfatizamos que eles poderiam examinar o questionário e decidir se o responderiam ou não. Nossa intenção era obter, pelo menos, 200 questionários preenchidos, mas dos 214 estudantes que estavam matriculados para os cursos em questão, 11 decidiram não responder o questionário e 22 estavam ausentes. (Os estudantes não foram previamente informados dos planos de aplicação do questionário.) Aproximadamente 95% dos 192 estudantes que foram convidados a participarem do levantamento de dados responderam o questionário. Não convidamos outros estudantes para tomar parte na pesquisa para completar o número pretendido de 200 respondentes porque decidimos aplicar o questionário apenas às classes para as quais obtivemos permissão para fazê-lo. Cada estudante recebeu um questionário e uma folha de respostas.


Análise dos dados

As respostas foram transferidas para o Excel 4.0 For Windows para análise estatística.

 

Descrição dos resultados

a) Incidência

a.1- Experiência psi

a.1.1- Experiência de ESP em estado de vigília.

Questão: "Você já teve, enquanto acordado(a), um forte sentimento, impressão ou 'visão' de que um fato inesperado tivesse acontecido, estava acontecendo ou iria acontecer e soube, mais tarde, da ocorrência desse fato?"

47% dos respondentes relataram ter tido experiências de ESP em estado de vigília. Entre esses respondentes (47%): 81% disseram ter mais de uma experiência desse tipo; 71% disseram ter obtido informações através de alucinações; 65% dessas experiências tiveram eventos trágicos como conteúdo; 65% dessas experiências envolviam membros da família dos respondentes; 61% dos respondentes que relataram essas experiências tinham contado a alguém sobre elas "antes de saberam sobre o evento por meios normais" , o que torna esses casos potencialmente verificáveis; e 83% relatou que o evento ou a informação ocorreu em um período de 24 horas antes ou depois da experiência.

a.1.2- Sonhos contendo ESP

Questão: "Você já teve um sonho bem claro e específico que se combinou com algum fato ocorrido antes, durante ou depois do momento em que você estava sonhando, sem que você tivesse conhecimento do fato previamente ou não estivesse esperando que aquilo acontecesse?"

A maiorida dos respondentes (64%) relatou que passaram pela experiência de terem sonhos contendo ESP. Dentre esses respondentes (64%): 92% disse ter tido mais de uma experiência desse tipo; 97% relataram que esses sonhos eram mais vívidos do que os sonhos comuns; a maioria das informações via ESP obtidas nesses sonhos (71%) estava relacionada a eventos trágicos; 75% disseram que a informação do sonho envolvia membros da família; 83% disseram que a informação dada no sonho se relacionava com eventos que ocorreram num espaço de 24 horas antes ou depois da experiência, semelhante às respostas da questão sobre ESP em vigília; 63% disseram ter contado esses sonhos "ESP" a alguém antes que os eventos sonhados tivessem realmente acontecido.

a.1.3- Influência por ESP

Questão: "Alguém já lhe disse ter tido um sonho, "visão" ou intuição que parecia conter uma informação sobre um fato envolvendo você, sendo que tal informação não poderia ter sido adquirida por nenhuma via 'normal' ou convencional?"

63% dos respondentes relataram que foram fontes de informação via ESP em sonho, 'visão' ou intuição de terceiros. Dentre esses respondentes (63%): 93% disseram ter tido mais de uma experiência desse tipo; 74% disseram ter sentido uma forte emoção durante a experiência; 52% relataram que estavam pensando na outra pessoa durante a experiência; e 38% relataram que a experiência envolveu membros da família.

a.1.4- RSPK

Questão: "Você já viu algum objeto se mover sem que fosse possível descobrir algum meio natural ou físico que fosse responsável pelo movimento?"

17% de nossos respondentes relataram tais experiências psicocinéticas. Dentre esses respondentes (17%): 75% relararam ter tido essa experiência mais de uma vez; e 59% disseram que uma outra pessoa esteve presente durante a experiência.

a.2- Experiências relacionadas a psi.

a.2.1- Experiências Fora do Corpo

Questão: "Você já teve alguma experiência em que sentiu como se se deslocasse "para fora" ou "para longe" de seu corpo físico, isto é, sentiu que sua consciência ou que sua mente estava em algum lugar diferente de seu corpo físico?" (Se estiver em dúvida se teve ou não esse tipo de experiência, por favor, responda "não".)

31% dos respondentes relataram experiências fora do corpo. Dentre esses respondentes (31%): 63% disseram ter tido mais de uma experiência desse tipo; 57% viram seu próprio corpo físico; 68% tiveram a sensação de viajar para fora do corpo; 17% relataram que foram vistos como aparições durante suas experiências; e 19% relataram que "saíram"do corpo por vontade própria. Mas, o dado mais relevante para nós foi o fato de que 40% desses respondentes relataram que adquiriram informações aparentemente através da ESP, durante a experiência fora do corpo.

a.2.2- Aparições

Questão: "Alguma vez, enquanto estava acordado(a), você já teve a nítida impressão de ver, ouvir ou ser tocado por alguém ou alguma coisa, sendo que essa impressão não parecia ser devida a nenhuma causa externa física ou natural?" (Por favor, não inclua aqui experiências com figuras religiosas.)

62% reportaram ter tido tais experiências. Dentre essses respondentes (62%): 91% relataram ter tido mais de uma experiência desse tipo; 60% relataram que "viram" alguma coisa; 81% disseram ter ouvido alguma coisa; 57% relataram que foram tocados po alguma coisa ou alguém; 47% relataram que as aparições pareciam ser um membro de sua família; 35% relataram que tiveram uma experiência com alguém que já tinha morrido; 26% relataram que outras pessoas estavam presentes no momento da experiência. De acordo com os objetivos deste estudo, o dado mais importante foi o fato de que 21% daqueles que disseram ter tido esse tipo de experiência relataram ter adquirido informações sobre acidentes ou mortes inesperadas por intermédio da aparição.

a.2.3- Morar em uma casa assombrada.

Questão: "Você já morou em alguma casa que você acreditava ser mal-assombrada?"

14% da amostra respondeu "sim".

a.2.4- Memórias de vidas passadas.

Questão: "Você já teve o que parece ser a "lembrança" de uma vida anterior, ou seja, uma "reencarnação" ?"

18% dos respondentes relataram ter tido esse tipo de "lembrança". Dentre esses repondentes (18%): 72% relataram que tiveram mais de uma experiência desse tipo; 66% relataram que tais memórias apareceram durante sonhos; 27% disseram lembrar-se de mais de uma vida; 36% disseram que se recordavam ter sido pessoas famosas em outras vidas; 42% relataram que podiam se lembrar de detalhes da suposta vida passada; 27% disseram que verificaram detalhes e confirmaram sua exatidão, o que nos faz considerar a hipótese de ESP.

b) Importância social da experiência psi.

b.1- Proteção em uma crise.

b.1.1- Salvou a si mesmo.

Questão: " Alguma das experiências pessoais que você indicou nesta pesquisa "salvou" você (ou poderia tê-lo salvo) de um acontecimento sério ou trágico como, por exemplo, de uma doença, de uma crise emocional grave, de um acidente ou da morte? "

26% responderam "sim".

b.1.2- Salvo por alguém.

Questão: "Alguma outra pessoa já lhe contou sobre uma experiência de "aviso" que ela tenha recebido que dizia respeito a você, que o salvou (ou poderia tê-lo salvo) de um acontecimento sério ou trágico como de uma doença, de uma crise emocional grave, de um acidente ou de sua possível morte?"

27% responderam "sim".

b.1.3- Algumas de suas próprias experiências indicadas nesta pesquisa "salvou" uma outra pessoa (ou poderia tê-la salvo) de um acontecimento sério ou trágico, como, por exemplo, de uma doença, de uma crise emocional grave, de um acidente ou da morte?"

18% responderam "sim".

b.2- Mudança de atitudes.

Questão "Algumas dessas experiências que você indicou até agora nesta pesquisa influenciou ou mudou SIGNIFICATIVAMENTE algum de seus sentimentos ou atitudes em relação a..."

Os dados mais significativos obtidos nas respostas a esta questão foram aqueles relacionados à mudança de atitudes dos respondentes quanto às suas crenças espirituais (43% do total), seguido por aqueles que disseram ter tido uma mudança de atitude em relação a si mesmo (35% do total).

b.3- Influência nas decisões.

Questão: "Algumas das experiências que você indicou até aqui influenciou ou mudou alguma das importantes decisões que você tomou em sua vida em relação a..."

Os dados mais interessantes obtidos na resposta a esta questão relacionam-se ao estilo de vida, como gastar o tempo, ideais ou propósitos ou objetivos na vida (27% do total da amostra), seguidos pela influência da experiência em decisões sobre a escolha de ir ou não para a escola ou para a faculdade, ou em que se especializar (25% da amostra total).


Discussão

Sentimos que o dado mais significativo obtido foi de que 89,5% dos respondentes relataram que passaram por algum tipo de experiência parapsicológica. Pensamos que a alta porcentagem de pessoas que disseram ter passado por esse tipo de experiência está relacionada especificamente às características religiosas dos brasileiros. Por exemplo, as religiões assim chamadas mediúnicas são muito comuns no Brasil. O espiritismo kardecista e a umbanda são as mais conhecidas dessas religiões. Ensina-se os kardecistas e adeptos da umbanda a entrarem em estados alterados de consciência, estados estes que são considerados fortes condutores de psi (Stanford, 1987). Apesar do fato de 60% de nossa amostra ter dito ser católica, 79% destes disseram acreditar que a reencarnação é possível, provável ou uma certeza. (Ver Tabela 3.)

Essa crença na reencarnação é uma forte evidência da influência do espiritismo na assim chamada "religião oficial". Isto é, é muito comum no Brasil que as pessoas tenham duas religiões: a oficial, geralmente a católica, e uma outra que é geralmente de natureza espiritualista. Essa adesão a duas religiões acontece em larga escala devido ao processo de colonização sofrido pelos brasileiros e outros povos latino-americanos, um processo que promoveu o sincretismo religioso. (Bastide, 1940) A religião católica foi imposta: as pessoas "aceitaram-na", mas não abandonaram suas crenças particulares, misturando-as com a religião oficial. Tais misturas sincréticas de religiões foram transmitidas às novas gerações desde o colonialismo e tornou-se uma característica fundamental da religiosidade brasileira.

Para as pessoas em geral, um(a) médium não é apenas alguém que é um(a) espírita e recebe mensagens de pessoas mortas ou que provoca fenômenos físicos. O(a) médium é também alguém que desenvolveu poderes extraordinários. Isto é, essa pessoa é capaz de mediar entre o visível e o invisível, entre o sagrado e o profano. Desse modo, a cultura popular valoriza as experiências parapsicológicas como dons especiais, não como evidência de alguma patologia.

Uma vez que há uma aceitação social geral das habilidades psíquicas, é fácil para os brasileiros relatarem experiências psi, além do fato de que muitas pessoas têm sido repetidamente encorajadas a vivenciá-las. Considerando que os experimentos têm demonstrado que as pessoas que acreditam em ESP alcançam resultados mais significativos do que as pessoas que não acreditam em ESP, (Schmeidler, 1964) pensamos que os aspectos culturais podem afetar a crença das pessoas nos fenômenos parapsicológicos e, por isso, as pessoas se tornam mais abertas a tais experiências.

Essas características das crenças brasileiras poderiam explicar a forte importância social das experiências que os dados demonstraram. Mais de 90% de nossos respondentes disseram ter tido pelo menos uma experiência psi e, destes, a maioria (80% do total) disse que a experiência ou experiências pelas quais passaram influenciaram suas vidas ou mudaram seus sentimentos ou atitudes frente a diversas questões e situações importantes. Além disso, os respondentes disseram que suas experiências salvaram-nos de algum evento negativo (26%), possibilitaram o salvamento de uma outra pessoa (27%) ou fez com que eles mesmos fossem salvos por alguém (18%). Essas alegações ilustram a relevância social das experiências parapsicológicas.

Um outro ponto importante a ser observado é a constituição de nossa amostra. Como foi visto, 160 mulheres e 21 homens responderam o questionário. Em primeiro lugar, a preponderância de mulheres respondentes ocorreu porque a grande maioria dos estudantes universitários é composta por mulheres. Em segundo lugar, as classes em que os questionários foram aplicados são dos cursos da área de Humanas, e, no Brasil, esses cursos contam com uma maior preferência feminina. Para verificar se a preponderância de mulheres tornaria os resultados tendenciosos, comparamos o número de homens e mulheres separadamente e descobrimos que a incidência e relevância das experiências psi para cada grupo foi comparável. Isto é, dos 21 homens respondentes, 90% disseram ter tido algum tipo de experiência psi; e das 160 mulheres respondentes, 89% disseram o mesmo.

Ao darmos continuidade ao nosso estudo, pretendemos aplicar o questionário a estudantes de outras áreas a fim de verificar se a porcentagem de incidências de experiências psíquicas assim como sua relevância social persistem.

É possível que essa amostra seja qualitativamente representativa da população brasileira em geral porque a faculdade escolhida (Faculdade Anhembi Morumbi) é particular. No Brasil, em geral, as pessoas ricas é que têm meios para estudar numa escola superior gratuita. O vestibular para a admissão em uma universidade pública é muito difícil e poucas pessoas podem estudar em uma boa escola particular de forma a estarem preparadas para o vestibular. No Brasil, as escolas públicas de 1º e 2º graus em geral são muito pobres e o ensino não é muito bom. (Há algumas raras exceções.) Por isso, as universidades particulares têm uma maior variedade de pessoas de diferentes classes sociais: os estudantes mais pobres podem conseguir bolsas de estudo e os estudantes das classes média e alta podem pagar pelos cursos. Os dados levantados indicaram que 43% dos respondentes pertencem à classe baixa, 36,5% à classe média e 21% à classe alta. Um outro aspecto que pode servir de base para a idéia de que a amostra poderia ser qualitativamente representativa da população brasileira vem do fato de que o levantamento de dados foi feito em uma faculdade da cidade de São Paulo. Isto é muito importante porque a migração de outras cidades brasileiras para São Paulo é bem grande, fazendo com que São Paulo tenha, como população, uma mistura de pessoas de várias regiões do país.

Pretendemos testar se esses resultados persistem ou não em ampliações futuras de nossa pesquisa, quando pretendemos aumentar a generalização dos nossos dados estatisticamente, aumentando o tamanho da amostra. Assim, teremos uma maior possibilidade de comparar os resultados brasileiros aos levantamentos de dados feitos em outros países. Por enquanto, podemos dizer que se os resultados persistirem, haverá a evidência de uma maior incidência de experiências parapsicológicas no Brasil do que em outros países nos quais os levantamentos de dados sobre Parapsicologia têm sido feitos. Neste ponto, nossos dados não são conclusivos. Na verdade, nossos dados constituem o ponto de partida para um estudo mais completo da população brasileira. Esperamos que outros pesquisadores se inspirem em nosso estudo e que conduzam novas pesquisas na área da Parapsicologia no Brasil.

Agradecimentos

Gostaríamos de agradecer a Maria do Carmo Negrini Fagundes (Coordenadora do Curso de Letras e Secretariado da Faculdade Anhembi Morumbi), e Maria José Gervásio, Luiz Antonio Ferreira, Verônica Pakrauskas Totis, Irene Hirsch, Irene da Glória Rodrigues (professores da Faculdade Anhembi Morumbi), Joanne McMahon, PhD. (Parapsychological Foundation), Dr. John Palmer (FRNM) e Filipe Rios por sua ajuda e encorajamento. Gostaríamos de agradecer especialmente a Carlos Alvarado e Nancy Zingrone. Esta pesquisa não seria possível sem a colaboração dessas pessoas.

 

Referências

BASTIDE, R. (1960). As Religiões Africanas no Brasil: contribuição a uma sociologia das interpenetrações de civilizações. Livraria Pioneira Editora. São Paulo.

BERNSTEIN, E.M. & PUTNAM, F.W. (1986). Development, reliability, and validity of a dissociation scale. Journal of Nervous and Mental Disease, 174, 727-735.

BLACKMORE, S. (1984). A postal survey of OBEs and other experiences. JASPR, 52, 225-244.

_______________ (1985). Some advice on questionnaire research. Parapsychology Review, 16 (5), 5-8.

HAIGHT, J. (1979). Spontaneous psi cases: a survey of ESP, attitude, and personality relationships. JP, 43, 179-203.

IRWIN, H.J. (1985). A measurement and correlates of paranormal belief. JASPR, 79, 301-326.

__________(1985a). Parapsychological phenomena and the absorption domain. JASPR, 79, 1-11.

KOHR, R. L. (1980). A survey of psi experiences among members of special population. JASPR, 74, 395-411.

NEPPE, V.M. (1983). Temporal lobe symptomatology in subjective paranormal experiments. JASPR, 77, 1-29.

PALMER, J. (1979). A community mail survey of psychic experiences. JASPR, 73, 221-251.

RICHARDS, D.G. (1990) Hypnotic suscecibility and subjective psychic exxperience: A study of participants in A.R.E. conferences. JP.(1), 35-51.

SCHMEIDLER, G. R. and McConnell, R.A. (1973). ESP and Personality Patterns. Westport, Conn.: Greenwood Press. (Original work published 1958.)

STANFORD, R. (1978). Ganzfeld and Hypnotic-Induction Procedures em ESP Research: toward understanding their sucess. In Advances in Parasychological Research 5. McFarland, (39-76).

THALBOURNE, M. (1981). Extroversion and sheep-goat variable: Aconceptual replication. JASPR, 75 105-109.

__________________(1985). Are believers in psi more prone to schizophrenia? In White, R. & Sofvin J. (Eds.), Research in Parapsuychology 1984. Metuchen, NJ: Scarecrow Press, pp. 85-88.


Wellington Zangari
Diretor
Inter Psi
Grupo de Semiótica, Interconectividade e Consciência,
Centro de Estudos Peirceanos,
Programa de Estudos Pós-Graduados em Comunicação e Semiótica,
PUC-SP

** 


Fátima Regina Machado
Diretora-Executiva do Centro de Estudos Peirceanos,
Membro do Inter Psi
Grupo de Estudos de Semiótica, Interconectividade e Consciência, do CEPE, COS, PUC-SP.

Fonte: http://www4.pucsp.br/pos/cos/cepe/intercon/revista/artigos/survey.htm


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