Introdução
Este artigo foi escrito com a intenção
de ressaltar alguns aspectos importantes relacionados com o campo
da observação direta e da utilização de
instrumentação para a ampliação da capacidade
dos sentidos, bem como outros aspectos relacionados com os campos
das deduções e conjecturas, com vistas a uma colocação
da perspectiva criacionista relativa à ciência, para
então compará-la com a perspectiva evolucionista. Com
esse propósito, foi redigido um texto simples, de fácil
entendimento para estudantes que tenham cursado disciplinas científicas
pelo menos em nível de ensino médio.
Grandezas físicas
Ao iniciar-se um curso de física, é
introduzida a noção de "grandezas físicas",
indispensável para a caracterização dos fenômenos
a serem observados e medidos experimentalmente. Em seguida, passa-se
a tratar da medida dessas grandezas físicas, e de sistemas
coerentes de unidades de medida. Aí, para a estruturação
dos sistemas de unidades, estabelece-se o conceito de grandezas fundamentais
e de grandezas derivadas. Deixando-se de lado as grandezas térmicas,
elétricas e magnéticas, e limitando-se inicialmente
somente às grandezas mecânicas, são apresentadas
nos cursos de física três grandezas fundamentais, em
função das quais todas as demais podem ser definidas.
Apesar de existirem diferentes maneiras de escolher essas grandezas
fundamentais, a maneira mais simples e direta é a utilizada
pelos Sistemas Coerentes de Unidades que foram aceitos internacionalmente,
e que escolheram como fundamentais as grandezas comprimento, massa
e tempo. Iniciaremos nossas considerações abordando
alguns aspectos relativos ao espaço e ao tempo, como considerados
de forma clássica nos cursos de física em nível
médio. Será deixada para outra oportunidade a consideração
de aspectos relativos à grandeza massa.
Considerações sobre o espaço
e o tempo
Assim, com relação ao comprimento, por
exemplo, o campo delimitado pela observação direta cobre
dimensões de décimos de milímetros, que são
as menores discernidas pela vista desarmada, até dimensões
de alguns metros, variando, portanto, em torno das dimensões
médias macroscópicas do corpo humano e suas partes.
Dimensões maiores poderão ser discernidas - tratando-se
de objetos maiores, situados a maiores distâncias do observador
- mas sempre com a proporcional perda de definição da
imagem percebida. É o caso, por exemplo, da observação
de uma montanha de centenas de metros de altura, a uma distância
de alguns quilômetros do observador, ou a observação
da Lua ou do Sol por um observador situado na superfície da
Terra. Objetos de comprimentos menores do que o olho nu consegue discernir
- como microorganismos - podem ser discernidos mediante instrumentação
adequada, utilizando, por exemplo, técnicas de microscopia;
e objetos de maior porte podem também ser discernidos através
de dispositivos especiais de telemetria, chegando-se até às
dimensões incomensuráveis das mais remotas galáxias.
Dimensões da ordem de grandeza do tamanho de moléculas
podem ser mensuradas por dedução, mediante técnicas
especiais, da mesma forma que as dimensões correspondentes
a distâncias entre átomos de uma malha cristalina, ou
a diâmetros atômicos dos elementos químicos.
Com relação à grandeza tempo,
observações análogas podem também ser
feitas. Fenômenos que se desenvolvam em intervalos de tempo
muito curtos, por exemplo, são imperceptíveis à
nossa visão, pois os nossos sentidos não têm como
discernir intervalos de tempo abaixo de um certo valor. É sabido
experimentalmente, por exemplo, que uma lâmpada fluorescente
"pisca" incessantemente, porém sua freqüência
de pulsação, correspondente à freqüência
da rede elétrica, é suficientemente elevada para que
o tempo de persistência da imagem em nossa retina não
nos permita discernir a existência dessas pulsações.
Pode-se, entretanto, discernir indiretamente a sua existência
mediante a observação de algum objeto em movimento,
iluminado pela luz fluorescente, quando houver condições
para a manifestação do chamado "efeito estroboscópico",
caso em que o objeto fica, em nossa percepção, aparentemente
estático. Isso se dá quando é atingida uma relação
determinada entre a freqüência da rede elétrica
e a do objeto em movimento periódico. Os processos de filmagem
ultra-rápida utilizam-se desse efeito estroboscópico
para filmar eventos que se passam em intervalos de tempo muito pequenos,
e trazem informações muito interessantes para o conhecimento
de vários fenômenos que de outra forma passariam inteiramente
imperceptíveis ao nosso sentido da visão. A queda de
uma gota dágua sobre uma superfície livre, a deformação
de uma bola ao ser chutada ou ao ser atingida por uma raquete de tênis,
ou um taco de golfe, são exemplos ilustrativos da utilização
de filmagem ultra-rápida para ampliar o nosso limitado campo
da observação direta.
Por outro lado, eventos que ocorram, ou fenômenos
que se desenvolvam, em intervalos de tempo superiores ao de nossa
vida, só poderão ser discernidos em sua totalidade mediante
a transmissão de conhecimento de geração a geração.
Tem-se aí o campo específico do testemunho histórico,
que registra acontecimentos do passado, diretamente através
de documentação escrita (sob várias formas),
ou indiretamente, por exemplo, através de tradições
transmitidas oralmente. Esse testemunho histórico não
deixa também de ter sua limitação. De fato, existem
problemas quanto à comprovação da veracidade
de documentos escritos ou do verdadeiro conteúdo de tradições.
Mas também existe limitação maior, inerente ao
próprio processo do testemunho histórico, que é
a pressuposição da existência da escrita. Como
se sabe, os mais antigos documentos escritos não são
anteriores a 4000 anos antes de Cristo. Desta forma, o campo do testemunho
histórico limita-se automaticamente a essa data, sendo que,
para eventos anteriores a ela, somente se podem formular conjecturas.
Para intervalos de tempo anteriores a essa limitação
dada pelo testemunho histórico, além da fronteira estabelecida
pelo campo da instrumentação - que se desloca em função
dos desenvolvimentos da tecnologia - tem-se ainda uma região
em que podem ser desenvolvidos modelos, formuladas , e feitas deduções,
utilizando-se a metodologia científica, com o auxílio
de ferramentas da matemática e da informática. Nesse
campo, a história da ciência tem mostrado como se processa
o desenvolvimento das idéias, e a luta pela sua comprovação.
Uma idéia preconcebida é desenvolvida e posta à
prova, submetendo-se ao escrutínio dos pesquisadores interessados
na busca da verdade, até que seja ou não confirmada.
Avolumando-se as evidências contrárias, a idéia
será rejeitada e substituída por outra que seja mais
condizente com os fatos conhecidos.
A filosofia da ciência se ocupa do exame e do
acompanhamento do desenvolvimento das idéias que constituem
modelos ou teorias, e freqüentemente tem analisado idéias
específicas, que têm sido aceitas como paradigmas durante
certo tempo, mas que, submetidas ao crivo do escrutínio da
metodologia científica, têm sido abandonadas, pela sua
inconsistência, ou pela descoberta de novos fatos não
condizentes com os seus pressupostos. Filósofos da ciência,
como Thomas S. Kuhn, têm escrito sobre esse processo natural
do desenvolvimento das idéias científicas, lançando
bastante luz sobre ele. Em seu livro A estrutura das revoluções
científicas, já traduzido para o português, Kuhn
mostra, por exemplo, como foram desarraigados conceitos considerados
como inabaláveis, no decorrer do tempo, quando submetidos a
esse processo. Teorias famosas, como a do flogístico, do calórico,
e do éter, desenvolveram-se, tiveram seus dias de glória,
e finalmente foram sepultadas por não serem condizentes com
os novos fatos que foram sendo descobertos. Se isto acontece com os
modelos e as teorias, situados em um campo onde são possíveis
deduções e análises, utilizando o método
científico e ferramentas instrumentais como a matemática
e a informática, o que dizer a respeito de modelos e teorias
que se situam em um campo já rotulado especificamente como
sendo de conjecturas?
Conceituando "ciência"
Até aqui foram feitas breves considerações
a respeito das limitações do conhecimento humano, tendo
sido destacado o Campo da observação - "direta",
ao alcance dos nossos sentidos, e "instrumental" abrangendo
sua ampliação possível através da utilização
de instrumentação adequada, desenvolvida de maneira
cada vez mais aperfeiçoada à medida em que se dão
os avanços da tecnologia, em função dos próprios
avanços da ciência, em um processo sinérgico.
Continuando a explorar a possível extensão do Campo
da observação, voltamos a atenção agora
ao Campo dos modelos, teorias e deduções, que, em seu
conjunto, cobrem praticamente todo o campo de desenvolvimento das
atividades científicas. Para prosseguirmos, devemos então
nos demorar um pouco no que seja a concepção de ciência
aceita modernamente.
Embora não seja tão simples conceituar
a ciência em poucas palavras, mesmo porque existem várias
abordagens possíveis e, conseqüentemente, várias
conceituações e definições delas decorrentes,
tentamos, a seguir, partir de uma definição básica
representativa, acessível ao nível de ensino médio,
para tecer considerações a respeito da ciência,
tal qual se pode hoje compreendê-la, sem exageros nem extremismos.
Talvez se pudesse partir, com essa finalidade, da seguinte definição:
"Ciência é o conjunto organizado
de conhecimentos relativos a determinado objeto, especialmente os
obtidos mediante a observação, a experiência dos
fatos, e um método próprio".
A partir desta definição, pode-se, em
seguida, passar a algumas outras considerações pertinentes,
relativas aos termos nela envolvidos.
Conjunto organizado de conhecimentos, observação
e experimentação
Para que os conhecimentos a respeito de um dado objeto
ou assunto possam constituir um conjunto organizado, devem ser satisfeitas
algumas condições básicas, como por exemplo as
seguintes:
O conhecimento, para ser verdadeiramente científico,
deverá ser racional e objetivo, deixando de lado qualquer aspecto
não-racional ou irracional, e toda e qualquer subjetividade.
Deverá, também, respeitar a integridade dos fatos observados,
sendo inadmissível a rejeição de dados que porventura
não se coadunem com posições adotadas aprioristicamente.
O conhecimento científico deve ser sistêmico e metódico,
abrangendo todos os aspectos envolvidos com o objeto ou assunto estudado,
e não somente parte deles.
Deverá, ainda, ser caracterizado pela exatidão, devendo
ser claro e comunicável, não ficando somente em posse
da mente do pesquisador.
Para ser científico, o conhecimento deverá ser explicativo
e analítico, bem como verificável experimentalmente,
sem o que deixará de ser até mesmo conhecimento, tornando-se
mera conjectura.
O conhecimento científico deve distinguir-se do não
científico particularmente pelo seu caráter preditivo,
podendo apontar para a possibilidade de novos conhecimentos passíveis
de serem verificados pela experimentação.
E, finalmente, o conhecimento científico deve ser aberto e
útil, e permanecer ao alcance de outros pesquisadores e da
sociedade em geral.
Será de utilidade manter esses conceitos em mente para analisar
criticamente não só o criacionismo, como também
o evolucionismo, este em seu suposto caráter racional e científico,
em contraposição ao seu caráter efetivamente
não-racional. Devemos lembrar que a linha geral daquilo que
estamos alinhavando neste artigo conforma-se com o que foi apresentado
por Mário Bunge, reconhecido filósofo da ciência,
em seu livro intitulado La ciencia, su método y su filosofia,
Buenos Aires, Ed. Siglo Veinte, 1978, e citado por A. Guilherme Galliano
em O método científico, Harbra, S. Paulo, 1979.
O método científico
Continuando a seguir a linha mencionada, lembramos
que o método científico, por sua vez, apresenta características
que o individualizam, e que devem ser observadas para que os procedimentos
adotados para o desenvolvimento da ciência possam garantir resultados
confiáveis. Dentre tais características destacam-se
as que são mencionadas a seguir:
Técnicas de observação
no procedimento experimental
Como já ressaltado, o conhecimento científico começa
a ser adquirido a partir da observação, seja direta,
seja utilizando instrumentação adequada. A observação
somente, entretanto, pode não ser confiável, pois as
limitações dos nossos sentidos podem nos induzir a interpretações
falsas. Exemplo ilustrativo dessas interpretações falsas
são as chamadas "ilusões de ótica",
das quais numerosos casos bastante conhecidos podem ser citados. Exatamente
para eliminar distorções na interpretação
daquilo que nossos sentidos detectam, é que são desenvolvidas
técnicas de observação, as quais passam a fazer
parte do método científico. Em cada campo específico
da "observação científica" existem
normas e protocolos que são estabelecidos para garantir a necessária
objetividade das medidas a serem procedidas, quer quantitativamente,
quer qualitativamente. Assim, as técnicas de observação
devem ir além da simples utilização correta dos
sentidos ou da instrumentação, para cobrir também
a fidedignidade da interpretação dos dados obtidos.
Técnicas de raciocínio
no procedimento racional
Basicamente são duas as técnicas de raciocínio
utilizadas na construção do conhecimento científico
- a dedução e a indução. No processo indutivo,
parte-se de resultados obtidos da observação dos fatos
para sustentar uma tese levantada com certo grau de subjetividade.
Procura-se ir, assim, do particular para o geral. Neste processo,
depois de se observar um conjunto de fatos procura-se elaborar uma
teoria que tente explicar todos aqueles fatos satisfatoriamente, ou
então procura-se estabelecer uma lei geral que possa descrevê-los
satisfatoriamente.(7) No processo dedutivo, parte-se do geral para
o particular. A partir de uma hipótese considerada válida,
ou de relações conhecidas ou aceitas de alguma forma,
procura-se demonstrar uma tese determinada.
Paralelamente à indução e à
dedução, colocam-se também como técnicas
de raciocínio (e também como técnicas experimentais)
a síntese e a análise. A síntese é um
processo lógico de reconstrução do todo mediante
o estudo de suas partes constitutivas. Semelhantemente à indução,
ela caminha do particular para o geral. A análise é
um processo metódico de estudo do objeto em consideração,
que decompõe o todo em suas partes constitutivas, que poderão
assim ser estudadas mais facilmente. Semelhantemente à dedução,
ela caminha do geral para o particular. De maneira semelhante à
indução e à dedução, a síntese
e a análise são processos inversos que não se
excluem mutuamente, mas sim se complementam, sendo ambos essenciais
na construção do conhecimento científico.
A aplicação
do método científico
A aplicação do método científico ao tratamento
dos diferentes tipos de problemas com que se defronta a ciência
é feita de conformidade com as peculiaridades de cada objeto
ou assunto de estudo, o que justifica a existência de numerosos
roteiros de aplicação distintos. De maneira geral, os
roteiros para a aplicação do método científico
podem ser expostos em linhas gerais da maneira seguinte:
Roteiro de formulação de problema
Reconhecimento dos fatos
- Exame do grupo de fatos, classificação preliminar
e seleção dos que sejam relevantes para o estudo que
se tem em vista.
Descoberta do problema
- Descoberta da lacuna ou incoerência existente no corpo do
conhecimento científico.
Formulação
do problema - Redução do problema a seu núcleo
significativo, provavelmente solúvel, com a ajuda do conhecimento
disponível; ou seja, formulação de uma pergunta
que tenha a probabilidade de ter resposta correta.
Roteiro de construção de modelo
teórico
Dando seqüência ao que vinha sendo exposto
quanto à aplicação do método científico,
abordamos agora a metodologia da construção de modelos
teóricos.
Seleção dos
fatores pertinentes - Elaboração de suposições
plausíveis relativas às variáveis provavelmente
pertinentes.
Elaboração de hipóteses
centrais e suposições auxiliares - Proposta de
um conjunto de suposições concernentes aos nexos entre
as variáveis pertinentes, como por exemplo a formulação
de leis ou teorias que supostamente possam amoldar-se aos fatos observados.
Tradução matemática
- Quando possível, tradução das hipóteses,
ou parte delas, para alguma linguagem matemática.
Roteiro de dedução de conseqüências
particulares
Busca de suportes racionais
- Dedução de conseqüências particulares que
possam ter sido verificadas no mesmo campo ou em campos contíguos.
Busca de suportes empíricos
- Elaboração de predições sobre a base
do modelo teórico e de dados empíricos, considerando
técnicas de verificação disponíveis ou
concebíveis.
Roteiro de prova de hipótese
Plano da prova -
Planejamento dos meios para pôr à prova as predições;
plano de observações, medições, experimentos,
e demais operações instrumentais.
Execução da prova -
Realização das operações e coleta de dados.
Elaboração dos dados
- Classificação, análise, avaliação,
redução, etc.
Inferência da conclusão
- Interpretação dos dados elaborados à luz do
modelo teórico.
Roteiro de introdução de conclusões
em teorias
Comparação
das conclusões com as predições - Confronto
dos resultados da prova com as conseqüências do modelo
teórico, precisando em que medida pode ele ser confirmado ou
rejeitado (inferência provável).
Reajuste do modelo - Eventual correção,
ou mesmo substituição do modelo adotado.
Sugestões acerca de trabalho ulterior
- Busca de lacunas ou erros na teoria ou nos procedimentos empíricos,
se o modelo for rejeitado; exame de possíveis extensões
e conseqüências em outros campos do conhecimento, se o
modelo for confirmado.
Modelos, teorias e deduções
Uma vez conceituada a ciência e o método
científico, feitas as observações sobre as técnicas
de observação e de raciocínio, e apreciada a
aplicação do método científico, aí
incluída a formulação de modelos teóricos,
voltamos ao Campo dos modelos, teorias e deduções considerado
inicialmente.
Foram vistos, no roteiro apresentado para a aplicação
do método científico, os passos a serem dados para a
construção do modelo teórico que deverá
representar a realidade que está sendo objeto de estudo. Foi
visto, também, que um modelo (uma teoria, ou deduções
tiradas do modelo ou teoria) deve ser submetido à prova, para
sua convalidação. Pode decorrer bastante tempo entre
a formulação de um modelo ou teoria e a sua rejeição
por não poder explicar novos fatos descobertos, ou por ter
feito predições que não foram comprovadas. Assim,
teorias que hoje são aceitas como "científicas",
amanhã poderão ser descartadas pela própria comunidade
científica, por não resistirem à prova de suas
hipóteses. É este, aliás, o mecanismo de "evolução"
da própria ciência, como alguns filósofos da ciência
têm destacado em suas obras. Poderia, a propósito, ser
citado Thomas Kuhn, que, em seu livro já citado A estrutura
das revoluções científicas, destaca a história
da mudança dos "paradigmas" científicos, como
por exemplo as Teorias do glogístico, do calórico, do
éter, e outras, no campo da física e da química.
Considerando os vários campos do conhecimento
humano, e tentando delimitá-los, pode-se verificar que o Campo
dos modelos, teorias e deduções engloba os dois campos
correspondentes à observação do objeto em estudo,
ou seja, o campo da observação direta, e o da observação
mediante instrumentação, e estende-se para além
dos seus limites. Dentro dos limites daqueles dois primeiros campos
citados, evidentemente os modelos, teorias e deduções
terão maior possibilidade de sucesso para descrever a realidade,
pois estarão baseados em evidências palpáveis.
Fora dos limites, entretanto, acaba sendo pequena a possibilidade
de sucesso, pois acaba-se ficando na dependência de técnicas
de raciocínio que deverão substituir as evidências
inexistentes. Substituir a observação pelo raciocínio,
pura e simplesmente, poderá acarretar um considerável
distanciamento da realidade!
O evolucionismo e o criacionismo à luz
do método científico
Feitas as observações acima, pode-se
passar à consideração do evolucionismo e do criacionismo
perante o método científico. Fica claro, então,
que o criacionismo não tem, e nem alega ter, embasamento no
método científico, pois não tem como ser submetido
à prova de hipótese. Ele se baseia, na realidade, em
conceitos básicos que são aceitos como verdadeiros pela
fé em uma revelação. No caso do criacionismo
bíblico, na revelação dada através dos
relatos de várias naturezas que se encontram expressos direta
ou indiretamente na Bíblia. Por outro lado, muito embora o
evolucionismo alegue ter embasamento científico, também
não tem como ser submetido à prova de hipótese,
pois ele se baseia em conceitos que são admitidos como verdadeiros
tão somente por um ato de fé, e que não têm
como ser demonstrados por constituírem um modelo teórico
que faz suposições impossíveis de serem comprovadas.
Como exemplo de hipóteses incomprováveis,
pode-se mencionar a origem de uma primeira célula viva, ou
a transformação das espécies no nível
de macroevolução. Desta forma, doutrinas como o Evolucionismo,
tal qual ele é apresentado na maior parte das vezes, e também
o Criacionismo, não podem ser adjetivadas como "científicas",
por localizarem-se no Campo das Conjecturas. De fato, os acontecimentos
aos quais ambas as doutrinas se referem situam-se numa faixa de tempo
inacessível a qualquer técnica de observação
experimental, ou de procedimento racional, dentro dos parâmetros
do método científico. Ambas as "doutrinas"
constituem, na realidade, "estruturas conceituais" no sentido
introduzido pelo filósofo da ciência Karl Popper, ou
seja, posições filosóficas assumidas a priori,
para a aplicação do método científico
com vistas à compreensão dos objetos que nos circundam.
Esta aplicação, mesmo que bem sucedida, dentro das suas
possibilidades, jamais convalidará "cientificamente"
qualquer das duas doutrinas.
Sem poder descer a maiores detalhes neste artigo,
pela escassez de espaço, não se pode deixar de ressaltar,
entretanto, que foram assinalados no decorrer do texto propositadamente
vinte-e-dois destaques específicos que mereceriam considerações
especiais para esclarecer como o evolucionismo, em particular, não
tem condições de ser enquadrado nos critérios
que caracterizam a aplicação do método científico
para a organização de um conjunto organizado de conhecimentos
que poderiam ser obtidos mediante a observação e a experiência
dos fatos. Isto é, talvez contrariando a crença estabelecida
aceita pela maioria (silenciosa?) dos que desenvolvem atividades científicas,
decididamente o evolucionismo não preenche os requisitos para
ser considerado como ciência. Ele é apenas uma estrutura
conceitual!
Conclusão
A partir das considerações apresentadas,
conclui-se que, na realidade, evolucionismo e criacionismo constituem
duas maneiras distintas, e extremas, de aceitar uma explicação
para a existência da vida, da nossa existência, a existência
de nosso planeta e do nosso sistema solar, e a própria existência
do Universo, explicação esta que transcende as potencialidades
da ciência e do método científico, podendo ser
aceita somente por um ato de fé - seja fé criacionista,
seja fé evolucionista!
Ruy Carlos de Camargo Vieira é presidente
da Sociedade Criacionista Brasileira e este artigo representa a posição
da mesma.