Resenha de Adalberto Cardoso sobre o livro de Licia
do Prado Valladares
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(trecho)
Este excelente A invenção da favela,
de Licia Valladares, assume tal ponto de vista já
no título. Borrando fronteiras disciplinares,o trabalho é
um pouco de história das idéias e dos conceitos (como
em Koselleck), um pouco de sociologia do conhecimento (como em Merton),
um pouco de sociologia construtivista (como em Gusfield) e um pouco
de sociologia histórica (como em Elias), que procura desvendar
as metamorfoses da favela carioca no imaginário de agentes
do poder público, sanitaristas,urbanistas,cientistas sociais,militantes
da Igreja Católica e outras confissões, jornalistas
e outros que contribuíram, cada qual à sua maneira,
para a transformação, ao longo de cem anos, da favela
em problema social e, depois, em problema sociológico. Como,
para a autora, o “pensamento de determinado autor só
pode ser compreendido quando se leva em conta o seu tempo,origens
de classe,características sociais, políticas e religiosas,
além do contexto intelectual em que circulava e se inseria”
(p. 13), o livro é também um pouco de história
do Brasil, que aparece como pano de fundo do teatro que realmente
interessa, as representações sobre a favela. Nesse
sentido, e em muitos outros, trata-se de obra original que vem preencher
importante lacuna nos estudos sobre o tema no Brasil.
Embora o problema geral que interessa à autora
não seja explicitado desde o início (na verdade,insidioso
nas páginas iniciais,ele só se revela plenamente no
final do texto, ali pela página 150), o livro de Licia Valladares
pode ser lido como uma tentativa de recuperar o processo de consolidação,no
ideário carioca e também nacional,de um conjunto de
dogmas sobre a favela. A partir do que ela denomina mito fundador
(situado no final do século XIX,quando os combatentes de Canudos
fincam moradia no morro da Providência,mais tarde morro da
Favella, reproduzindo ali os padrões habitacionais típicos
do sertão nordestino e, com isso, fundando a visão dual
que opunha “favela versus cidade”, na esteira da dualidade
“sertão versus litoral” típica das interpretações
do Brasil de então), Valladares mostra em que medida as representações
sucessivas sobre a favela como fenômeno social terminaram por
consolidar, mesmo entre os cientistas sociais, o “dogma”
de que a favela é diferente do asfalto. Sua lavra é
cortante:
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