Educando crianças autônomas
- Nós, Educadores, estamos preparados para ajudar?
Quando falamos de autonomia, lembramos
logo de Piaget, que a definiu como sendo a capacidade de formar decisões
nos campos moral e intelectual. No campo moral, refere-se a decidir
o que é certo e o que é errado. No campo intelectual,
é decidir o que é verdadeiro ou não, levando em
conta fatos relevantes, independentemente de recompensa ou punição.
Diante dessa reflexão de Piaget, nós, educadores, podemos
nos considerar preparados para uma educação baseada na
autonomia? Sabemos direcionar o processo educativo alicerçado
na autonomia ou reforçamos a heteronomia tanto na educação
familiar como na escolar? E por que fazemos isso?
Para educar é preciso educar-se! Essa frase nos faz
pensar em seu significado. Como educar se não sabemos como fazer
isso conosco mesmo?
As ações educativas no grupo familiar, normalmente, são
desenvolvidas com o que nós educadores recebemos de “herança”
educativa de nossos pais, e, se não houver um despertamento natural
de mudança da nossa parte, tal processo se repetirá de
geração a geração, e os erros se manterão
vivos como verdades, pois a educação baseada na heteronomia
cerceia e controla decisões, promove a obediência cega,
motivada pelo medo e punição ou mesmo a rebeldia. Por
conta disso, a criança não desenvolve a capacidade de
dizer a verdade e assumir suas ações no campo moral. E,
no campo intelectual, enfrenta dificuldades no despertar das habilidades
e competências nas ações diárias da vida.
Não podemos esquecer que o espírito reconstrói
suas estruturas mentais, baseadas em experiências reencarnatórias
anteriores e somando as da atual existência, habilitando, aperfeiçoando
e ampliando sua capacidade de interação com o meio físico
e espiritual.
Léon Denis, no livro O Problema do Ser e do Destino,
diz que “ a alma contém, em estado virtual, todos os germes
de seu desenvolvimento futuro. Está destinada a tudo conhecer,
tudo adquirir, tudo possuir (...)”.
Entretanto, cada criança reagirá à ação
educativa de acordo com o seu “eu” interior, reflexo de
sua bagagem e experiências de vidas passadas. Daí compreender
uma mesma ação educativa numa família ter reflexos
diferenciados em cada filho. E o mesmo ocorre referente à escola
com cada aluno. Por isso a educação não pode ser
linear.
Cada espírito é uma individualidade que precisa ser orientada
com o que ele tem a nos oferecer como educadores. A cada um o método,
a técnica e a forma própria de direcionar.
Assim, a importância de o educador de espíritos ter um
olhar próprio para si mesmo em suas ações diárias
da vida, para que possa, principalmente pelos seus exemplos, contribuir
significativamente com o desenvolvimento da autonomia moral e intelectual
de seu filho ou aluno.
Mas o que estamos vendo na atualidade são ausências de
luzes no labor da educação, face à imaturidade
da grande maioria de educadores de espíritos. E assim, como consequência
do descaso da família e das instituições escolares,
a violência, a agressividade se rompem na fase da adolescência,
principalmente, pois o espírito se revela como realmente é.
As sensações repercutem na promiscuidade sexual, na drogadição,
transtornos variados e total desrespeito às regras, agindo numa
anomia ( a:negação, nomia: regra, lei), por terem
faltado as bases estruturais nas idades iniciais.
A autonomia só aparece com a reciprocidade. Isto é, quando
o respeito mútuo é bastante forte, nos diz Piaget, no
livro O Juízo Moral na Criança.
Em O Livro dos Espíritos, Kardec perguntou
aos Espíritos na questão 629: Que definição
se pode dar à moral? E os Espíritos responderam: “A
moral é a regra para bem se conduzir, isto é, para distinção
entre o bem e o mal. Ela está na observância da Lei de
Deus (...).
Piaget e Pestalozzi analisaram as várias fases pelas quais o
homem percorre até alcançar a autonomia moral. Cada um
classificou da seguinte forma: Piaget (anomia, heteronomia e autonomia).
Pestalozzi (o estado natural ou primitivo, o estado social e o estado
moral), que na
realidade se identificam.
Partindo dessa premissa, a Doutrina Espírita dá continuidade
aos estudos de Piaget e Pestalozzi ampliando ainda mais a nossa visão,
diante desses conhecimentos. E é em O Evangelho Segundo Espiritismo
que vamos encontrar a forma que completa todo esse entendimento: “(...)
Na sua origem, o homem só tem instinto; mais avançado
e corrompido, só tem sensações; mais instruído
e purificado, tem sentimentos; e o ponto mais delicado do sentimento
é o amor, mas não no sentido vulgar da palavra, mas o
sol interior que condensa e reúne em seu ardente foco todas as
aspirações e todas as revelações sobre-humanas
(...)”.
Assim, como educadores de espíritos, é importante
que nos esforcemos em avançar em nossa transformação
moral, buscando a autoeducação e, consequentemente, deixando
exemplos que
venham refletir no coração e mentes daqueles que estamos
compromissados em educar.
Mudanças! Reorganização de valores! Aprender a
aprender. Eis o real significado na arte de educar. E a Doutrina Espírita
nos traz a luz como fonte de progresso.
Precisamos estar atentos para melhor direcionar a educação,
levando nossos educandos a uma condição libertadora como
espíritos imortais, através da autonomia moral e intelectual,
pois dessa forma poderão evoluir e contribuir com a obra da Criação.
Referências
Bibliográficas:
KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo . Ed. CELD.
KARDEC, Allan.O Livro dos Espíritos . Ed. CELD.
DENIS, Leon. O Problema do Ser e do Destino . Ed. CELD.
ALVES, Walter Oliveira. Educação do Espírito –
Introdução à Pedagogia Espírita. Editora
Ide.
PIAGET, Jean. O Juízo Moral da Criança – Summus
Editorial – São Paulo – 1994.
Fonte: https://celd.xyz/wp-content/uploads/05-Revista_CELD_Maio-2017.pdf
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