O sonho é
um fenômeno corriqueiro, comum a todas as pessoas, que sempre
intrigou os seres humanos e que está intimamente ligado ao
sono. Quem já não sonhou estar voando? Quem já
não sonhou com pessoas falecidas ou desencarnadas...?
Com o advento da Doutrina Espírita, a partir
de 1857, muita luz se projetou sobre o enigma do sono e dos sonhos
, (1) cujos princípios repousam
sobre o axioma de que o homem é um ser integral, constituído
de corpo e alma, independentes entre si, premissa que tem auxiliado
grandemente o entendimento do fenômeno. Observando a incapacidade
humana de compreender os sonhos, os Espíritos exclamaram: “Pobres
homens, que mal conheceis os mais vulgares fenômenos da vida!”
(2)
Todos sonhamos, ainda que não nos lembremos!
O sonho, a catalepsia, a letargia (3) e
o sonambulismo (4) são todos fenômenos
de emancipação ou desdobramento da alma.
O Espírito se desdobra, quando se desprende
parcialmente do corpo físico, permanecendo unido a este por
um cordão ou laço fluídico (5)
(conhecido, vulgarmente, como “cordão (6)
prateado”), situação que ocorre diuturnamente
nos momentos do sono físico ou mesmo durante um leve cochilo.
Ao dormirmos, ficamos, temporariamente, no mesmo estado
em que permaneceremos depois da morte física, motivo pelo qual
se diz que o sono é um treino para a morte.
Sob esta ótica, pode-se dizer que todos
os dias morremos.
O sonho é a lembrança mais ou menos
nítida das experiências que o Espírito traz, ao
despertar, de sua excursão pelo Plano Espiritual. Constitui,
por isso, uma das evidências da realidade da alma.
Quando o corpo repousa, o Espírito libera um pouco mais suas
faculdades, ao contrário do que acontece quando se encontra
acordado, lembrando-se, muitas vezes, do passado e até penetrando
o futuro.
Se não dormíssemos, a encarnação
e o nosso progresso espiritual certamente estariam comprometidos,
uma vez que é no mundo espiritual a nossa pátria verdadeira
onde buscamos forças para enfrentar as dificuldades do dia-a-dia,
no plano físico. Não sem razão os Espíritos
disseram, na q. 402 da primeira obra básica que o sono
é a porta que Deus abre aos homens, para que possam relacionar-se
com os amigos do céu; é o recreio depois do trabalho.
Graças ao sono, os encarnados estão
sempre em contacto mais estreito com os desencarnados e inclusive
com outros encarnados. O Espírito jamais está
inativo. O sono, além de proporcionar o descanso e
o refazimento do corpo físico, facilita a ampliação
das percepções psíquicas e fornece maior intensidade
ao raciocínio e à memória.
A interpretação onírica é
um dos aspectos mais controvertidos deste tema. Muitas teorias exóticas,
para não dizer fantasiosas, já se levantaram sobre a
interpretação dos sonhos.
Em 1900, Sigmund Freud (1856-1939),
considerado o (7) “pai
da Psicanálise”, lançou a obra A
interpretação dos sonhos, que trouxe uma contribuição
acadêmica importante ao estudo deste interessante fenômeno.
Entretanto, Freud não levava em consideração
o elemento espiritual, motivo por que as suas teorias psicanalíticas
nem sempre explicam todos os fatos relacionados com os sonhos, apresentando,
mesmo, diversas lacunas.
Conforme anotado pelo Espírito André Luiz,
na obra “Os Mensageiros”, “Freud
foi um grande missionário da Ciência; no entanto, manteve-se,
como qualquer Espírito encarnado, sob certas limitações.
Fez muito, mas não tudo, na esfera da
(8) indagação psíquica”.
Portanto, muito antes de Freud, o Espiritismo já havia desvendado
os sonhos, que podem representar diversas (9)
situações. Algumas delas são :
a) visão atual de coisas presentes ou ausentes;
b) visão retrospectiva do passado;
c) em alguns casos menos freqüentes, pressentimento do futuro;
d) comumente, constituem quadros alegóricos (simbólicos)
que os bons Espíritos nos apresentam como úteis advertências
ou salutares conselhos;
e) de outras vezes, esses quadros alegóricos são produzidos
por Espíritos imperfeitos, quando tentam nos enganar e explorar
nossas paixões;
f) em outras circunstâncias, o sonho pode representar apenas
uma ruminação das experiências vividas durante
o período em que o Espírito permaneceu acordado.
Nesse caso, o sonho não retrata propriamente lembranças
de fatos ocorridos na espiritualidade, mas apenas criações
fluídicas do pensamento derivadas de alguma preocupação
ou experiências mais fortes vivenciadas durante o dia, fenômeno
designado pela Psicanálise de “restos do dia”.
Como lembram os imortais na q. 404 de O Livro dos Espíritos,
“os sonhos não são verdadeiros como o entendem
os ledores de buena-dicha [adivinhos], pois fora absurdo crer-se
que sonhar com tal coisa anuncia tal outra. São verdadeiros
no sentido de que apresentam imagens que para o Espírito
têm realidade, porém que, freqüentemente,
nenhuma relação guardam com o que se passa na vida corporal”.
O despertamento do sono indica que o Espírito, acompanhado
de seu envoltório, o períspírito, este de natureza
semimaterial sutil ou quintessenciada, retornou ao casulo carnal,
trazendo as memórias de suas experiências pelo mundo
espiritual, as quais, entretanto, em virtude do contacto do perispírito
com as células, são abafadas pelo corpo denso, cujos
átomos vibram com maior lentidão.
Por causa disso, muitas vezes não lembramos dos sonhos ou apenas
nos recordamos de partes deles, que nada mais são do que trechos
de lembranças de nossas experiências pelo mundo invisível,
fazendo com que se apresentem estranhos, sem muito nexo, como se estivéssemos
lendo uma página em que algumas palavras, linhas ou mesmo frases
inteiras estivessem apagadas, truncando ou impedindo a compreensão
integral da mensagem.
Tal fenômeno ocorre porque a apreensão dos fatos, nos
sonhos, é feita diretamente pelo pensamento, não
passando pelos órgãos dos sentidos. Pondere-se,
ainda, que a linguagem do pensamento é universal, enquanto
a linguagem das palavras articuladas é revestida de símbolos
que nem sempre traduzem, com exatidão, a essência das
experiências vivenciadas pelo Espírito, que não
encontram analogia no estreito vocabulário humano. Isso, de
certo modo, explica por que duas pessoas estrangeiras, mesmo não
conhecendo o idioma um do outro, podem se comunicar pela via telepática.
Ao penetrar o mundo espiritual, pelas portas do sono, o encarnado
entra em relação mais próxima com outros Espíritos,
encarnados ou desencarnados, onde influencia e é influenciado,
para o bem ou para o mal, conforme
suas afinidades e suas tendências.
Muitas decisões que tomamos e idéias que temos, durante
o dia, são hauridas desses relacionamentos extracorpóreos.
Por isso, os Benfeitores Espirituais recomendam que sempre oremos
antes de dormir (10), para que
nos contactemos com Espíritos que estejam em condições
morais superiores à nossa, ocasião em que podemos receber
ajuda, além de sermos úteis, promovendo boas obras e
inclusive auxiliando Espíritos necessitados, se for o caso.
Como alerta Carlos Torres Pastorino, em seu opúsculo Minutos
de Sabedoria (11) , não
devemos nos impressionar com os sonhos. Isto poderia levar-nos a extravagâncias
ridículas. Vivamos acordados no bem que os nossos sonhos serão
belos e bons. Se alguma característica de verdade nos for revelada
em sonho, aceitemo-la com simplicidade, mas não nos deixemos
levar por interpretações supersticiosas. Procuremos
sempre o lado bom das coisas.
Concluindo, os sonhos encontram explicações nas leis
que governam as relações entre o mundo físico
e o mundo espiritual, decorrentes da existência do Espírito,
do perispírito e dos fluidos espirituais, a chave que faltava
para a melhor compreensão desses fenômenos.