Christiano
Torchi
> Caráter da Revelação Espírita
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Este é um dos mais importantes
temas para a compreensão correta da Doutrina Espírita,
porque abrange a estrutura teórica da Ciência da
Alma ou da Ciência do Infinito, que é o
Espiritismo. Como este espaço não nos permite tratar
do assunto com profundidade, esboçaremos algumas noções
básicas que estimulem o leitor à pesquisa.
A Revelação Espírita tem por característica
essencial a verdade e possui natureza dúplice: é
divina, por um lado, porque a sua iniciativa é dos
Espíritos superiores; é científica,
por outro, porque a sua elaboração compete aos homens.
A Doutrina Espírita “[...] não foi ditada
completa, nem imposta à crença cega; porque
é deduzida, pelo trabalho do homem, da observação
dos fatos que os Espíritos lhe põem sob os olhos e das
instruções que lhe dão, instruções
que ele estuda, comenta, compara, a fim de tirar ele próprio
as ilações e aplicações. [...]”.
[1]
“[...] o Espiritismo não é da alçada
da Ciência”, [2] porque esta
refere-se às ciências ordinárias (Física,
Química, Biologia etc.), que estudam os fenômenos
puramente materiais e tratam das propriedades da matéria, que
se pode examinar e manipular livremente.
O Espiritismo, que tem base científica própria, “é
uma ciência que trata da natureza, origem e destino dos Espíritos,
bem como de suas relações com o mundo corporal”,
[3] cujos fenômenos repousam na
ação de inteligências dotadas de vontade própria
e livre-arbítrio, as quais, geralmente, não estão
dispostas a se submeter ao papel de cobaias nem permanecem ao sabor
das exigências e dos caprichos dos investigadores humanos. Apesar
de serem independentes, a Ciência e o Espiritismo se completam
reciprocamente.
Embora tenha surgido em meados do século XIX, após o
que, houve um espantoso surto de progresso científico, a Doutrina
Espírita não está desatualizada. A razão
disso é que os seus princípios se encontram muito próximos
do nível fenomênico, [4]
havendo atravessado incólume as radicais mudanças de
paradigma [5]
ocorridas nas primeiras décadas do século XX.
Ademais, a revelação é gradual e apropriada ao
estágio evolutivo da Humanidade. De Moisés ao Espiritismo,
passando por Jesus, temos cerca de 4.000 anos de saga evolutiva, e
ainda não superamos totalmente os instintos animais que nos
prendem à retaguarda, dos quais, muitas vezes, abusamos, por
falta da necessária renovação moral, que exige
profundas mudanças por meio da educação, que
“é o conjunto dos hábitos adquiridos”.
[6]
Não raro, vemos muitos dos modernos modelos da Física
e de outras ciências sofrerem radicais revisões, todavia,
“[...] a obra de Kardec constitui um genuíno paradigma
científico, e esse paradigma representa, até
hoje, a única diretriz segura ao longo da qual se podem desenvolver
pesquisas científicas acerca dos fenômenos espíritas
e do aspecto espiritual do ser humano em geral”. [7]
(Grifei.)
A Metapsíquica e a Parapsicologia
malograram no seu propósito de interpretar os fenômenos
psíquicos, porque tentaram realizá-lo fora do paradigma
espírita, utilizando metodologia inadequada, pertinente às
ciências ordinárias, mais centradas em aparelhos e em
cálculos numéricos e estatísticas, quase sempre
sujeitos a equívocos.
Sem prejuízo da utilização combinada, pela ciência
espírita, dos métodos indutivo e dedutivo, preconizados
pelas ciências positivas, a estabilidade dos fundamentos espíritas
está garantida, também, pelo ensino coletivo concordante
dos Espíritos, característica que confere grande
autoridade e força moral à Revelação Espírita,
imprimindo-lhe marcantemente o caráter divino.
Como adverte Ademir L. Xavier Jr., inspirado em André Luiz,
“[...] experimentações científicas
detalhadas no campo espírita só podem ser feitas com
a expressa colaboração do Plano Espiritual superior
que, para isso, exige uma definitiva demonstração desses
valores divinos em nós”. [8]
Não dá para fazer Ciência Espírita sem
os Espíritos superiores.
Ressalvem-se os legítimos esforços dos pesquisadores
espíritas sinceros que, atentos ao avanço das ciências,
procuram decifrar determinadas indagações que ainda
se apresentam como desafiadores enigmas para os estudiosos em geral,
contudo, “Pelo fato de o Espiritismo assimilar todas as
ideias progressistas, não se segue que se faça campeão
cego de todas as concepções novas, por mais sedutoras
que sejam à primeira vista, com o risco de receber, mais tarde,
um desmentido da experiência e de se expor ao ridículo
de haver patrocinado uma obra inviável. [...]” [9]
Por isso, devemos nos espelhar em Kardec, que sempre se pautou com
muita prudência, evitando adotar teses científicas prematuras.
O Espiritismo, não tenhamos dúvida, é chamado
a desempenhar imenso papel na Terra, por meio de seus adeptos conscientes:
“Na gênese dos males que afligem o homem e a Humanidade,
permanece a ignorância” e “há muita
angústia aguardando a contribuição espírita,
e muita loucura necessitada de socorro espírita”.
[10]
As revelações sempre obedecem a um fim útil,
nunca para satisfazer a vã curiosidade. Sendo assim, é
muito importante ter em mente a instrução dos Espíritos
a Kardec: “não pedirdes ao Espiritismo se não
o que ele vos possa dar”. [11]
Serve-nos de grande alerta o caso do “Processo dos Espíritas”,
[12] ocorrido logo após a desencarnação
de Kardec, que, em virtude da invigilância de um médium,
levou um inocente à prisão, no rumoroso caso das “fotografias
espíritas”.
Eis um meio preventivo excelente para nos livrar das armadilhas da
caminhada, para não sermos vítimas da mistificação,
para não sermos ludibriados por nós mesmos nem pelos
falsos profetas encarnados e da erraticidade:
[...] [o fim do Espiritismo] é o melhoramento moral da
Humanidade; se vos não afastardes desse objetivo,
jamais sereis enganados, porquanto não há duas maneiras
de se compreender a verdadeira moral, a que todo homem de bom senso
pode admitir. Os Espíritos vos vêm instruir e guiar no
caminho do bem e não no das honras e das riquezas, nem vêm
para atender às vossas paixões mesquinhas. [...]
[13] (Grifei.)
Jesus é o nosso paradigma maior. Confiemos nele e sigamos o
seu exemplo, fazendo a nossa parte, e tudo o mais virá por
acréscimo.
Enfim, atendamos aos sagrados deveres que ele nos designou para cada
hora, perseverando até o fim, quando então poderemos,
jubilosos e de consciência tranquila, colher os frutos de nosso
trabalho, em consonância com as leis da Criação
Divina.
Referências:
[1] KARDEC, Allan. A Gênese.
52. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Cap. I, item 13.
[2] . O Livro dos Espíritos. 91. ed.
Rio de Janeiro: FEB, 1992. “Introdução”, item
VII, p. 36.
[3] . O que é o Espiritismo. 55. ed.
Rio de Janeiro: FEB, 2007. “Preâmbulo”, p. 55.
[4] As teorias fenomenológicas são erigidas a partir da
observação empírica direta dos fatos, gozando,
por isso, de alta estabilidade, o que já não ocorre com
as teorias não-fenomenológicas (construtivas), que compõem,
por exemplo, a maioria das teorias da Física e da Química,
cujo alto grau de abstração reduz a segurança na
formulação dos seus princípios.
[5] Sobre o paradigma e outros temas ligados ao Espiritismo e à
Filosofia da Ciência, indicamos para consulta os seguintes artigos,
de autoria do prof. Sílvio Seno Chibeni, todos publicados na
revista Reformador: “O Paradigma Espírita”
jun./1994. p. 20(176)-24(180); “A Excelência Metodológica
do Espiritismo – I”, nov./1988, p. 12(328)-17(333),
e Parte II, dez./1988, p. 25(373)-30(378); “O Espiritismo
em seu tríplice aspecto: científico, filosófico
e religioso – Parte I”, ago./2003, p. 37(315) - 41(319),
Parte II, set./2003, p. 38(356) - 41(359), e Parte III (final), out./2003,
p. 39(397)-41(399); e “Questões acerca da natureza
do Espiritismo – II – Revisão da terminologia espírita?”,
ago./1999, p. 30 (250)-32(252), bem como: “Ciência Espírita”,
do mesmo autor, publicada na Revista Internacional do Espiritismo, mar./1991,
p. 45-52; “Polissemias no Espiritismo”, de Aécio
Pereira Chagas, idem, ibidem, set./1996, p. 247-9; e “Ciência
e Espiritismo: um alerta de Allan Kardec e André Luiz”,
de Alexandre Fontes da Fonseca, idem, ibidem, out./2003, p. 476.
[6] KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos.
91. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Questão 685-a, comentário
de Kardec.
[7] CHIBENI, Sílvio Seno. “O Paradigma Espírita”.
Reformador, junho de 1994. p. 20 (176) – 24 (180).
[8] XAVIER JR., Ademir L. “Algumas considerações
oportunas sobre a relação Espiritismo-Ciência”.
Reformador, agosto de 1995. p. 24 (244) - 25(246).
[9] KARDEC, Allan. Revista Espírita: jornal de estudos
psicológicos. Ano XI. Julho de 1868. 2. ed. Rio
de Janeiro: FEB, 2006. “A geração espontânea
e A Gênese”. p. 285-293.
[10] FRANCO, Divaldo P. Reflexões espíritas.
Pelo Espírito Vizanna de Carvalho. Salvador: LEAL, 1991. “Hora
da Divulgação Espírita”, cap. 28, p. 127-8.
[11] KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns.
80. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Cap. XXVII, item 303, p. 424.
[12] Sobre o “Processo dos Espíritas”,
consulte a obra com o mesmo título, de Madame P.-G. Leymarie.
(Resumo em português por Hermínio C. Miranda). 3. ed. Rio
de Janeiro: 1999. p. 32.
[13] KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns.
80. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Cap. XXVII, item 303, p. 424.
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Fonte: Revista REFORMADOR,
abril de 2008 e
(Grupo de Estudos Avançados Espíritas)
Boletim do GEAE
Ano 16 Número 534
30 de março de 2008
http://www.geae.inf.br/pt/boletins/geae534.html#Carater
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