“O livro dos Médiuns”, ou Guia dos Médiuns
e dos Evocadores, segunda obra da Codificação Espírita,
foi publicada em 15 de janeiro de 1861, em Paris, e tem como conteúdo
doutrinário:
“O ensino especial dos Espíritos sobre a teoria de todos
os gêneros de manifestações, os meios de comunicação
com o mundo invisível, o desenvolvimento da mediunidade, as
dificuldades e os escolhos que se podem encontrar na prática
do Espiritismo, constituindo o seguimento de “O livro dos Espíritos”.”
É obra destinada a todos os espíritas
e estudiosos dos fenômenos produzidos pelos desencarnados, não
só para os trabalhadores da mediunidade. Encontramos nela explicações
essenciais para a prática espírita equilibrada; condições
seguras favoráveis à manifestação dos
Espíritos e as implicações daí decorrentes
(dificuldades, empecilhos, equívocos etc.); como obter assistência
dos bons Espíritos, recebendo deles boas comunicações;
como desenvolver discernimento sobre a influência moral e do
meio nas comunicações; saber avaliar as mensagens mediúnicas
e a sua procedência, utilizando, entre outros, o critério
da linguagem usada pelo comunicante, identificando-o acertadamente,
se for o caso, sobretudo se o seu nome faz vinculações
com personalidade de destaque ou conhecida; entender os mecanismos
da obsessão, suas características, graus, tipos e formas
de prevenção; orientar-se quanto à organização
das sociedades espíritas, em geral, e dos grupos mediúnicos
em particular.
Importa considerar que “O livro dos Médiuns” é
um desdobramento de trabalho anteriormente escrito por Kardec.
Cerca de um ano após o lançamento da primeira edição
de “O livro dos Espíritos”, cujo sucesso surpreendeu
o próprio Allan Kardec, julgou este por bem editar uma espécie
de manual essencialmente prático, que contemplasse a exposição
completa das condições necessárias para a comunicação
com os Espíritos e os meios de desenvolver a faculdade mediúnica.
Essa providência revelou-se de suma importância, porque
apontava um rumo, uma direção segura a quantos quisessem
familiarizar-se com os mecanismos que possibilitam o intercâmbio
espiritual entre os dois planos da vida, uma espécie de vade-mécum
destinado a orientar corretamente as pessoas que, com a sistematização
do Espiritismo em corpo de doutrina, passaram a interessar-se pelos
fenômenos mediúnicos. Deu-lhe o Codificador da Doutrina
o título de “Instruções Práticas
sobre as Manifestações Espíritas” (1858).
Não obstante o papel inestimável que esse livro desempenhou
nos primórdios da Codificação Espírita,
Allan Kardec avisou aos leitores da “Revue Spirite” (agosto
de 1860) que aquela obra estava inteiramente esgotada e não
seria reimpressa. Novo trabalho, muito mais completo e que seguiria
outro plano, viria substituí-la dentro de pouco tempo. Foi
a primeira referência ao lançamento de “O livro
dos Médiuns”, publicado em 1861.

Organização de “O livro dos
Médiuns”
Introdução: Kardec
fornece explicações relativas à natureza da obra
e às condições sérias de realização
da reunião mediúnica. Ensina que, a despeito da faculdade
mediúnica ser inerente ao ser humano, o desenvolvimento da
mediunidade depende do esforço do médium em querer se
transformar em legítimo instrumento de comunicação
entre os dois planos da vida e da possibilidade dos Espíritos
poderem manifestar-se.
Primeira Parte –
Noções Preliminares: organizada em quatro capítulos
(Há espíritos?; O maravilhoso e o sobrenatural; Método;
Sistemas), Kardec analisa questões cruciais relacionadas à
prática mediúnica, apresentando lúcidas argumentações
sobre o método de investigação utilizado para
comprovar os fenômenos mediúnicos, a imortalidade e sobrevivência
do Espírito após a morte, o caráter não
“miraculoso” ou “sobrenatural” das mensagens
espíritas e as condições que justificam as comunicações
dos Espíritos.
Segunda Parte – Manifestações
Espíritas: composta de 32 capítulos, assim denominados:
Ação dos espíritos sobre a matéria; Manifestações
físicas. Mesas girantes; Manifestações inteligentes;
Teoria das manifestações físicas; Manifestações
físicas espontâneas; Manifestações visuais;
Bicorporeidade e transfiguração; Laboratório
do mundo invisível; Lugares assombrados; Natureza das comunicações;
Sematologia e tiptologia; Pneumatografia ou escrita direta. Pneumatofonia;
Psicografia; Médiuns; Médiuns escreventes ou psicógrafos;
Médiuns especiais; Formação dos médiuns;
Inconvenientes e perigos da mediunidade; O papel dos médiuns
nas comunicações espíritas; Influência
moral do médium; Influência do meio; Mediunidade nos
animais; Obsessão; Identidade dos Espíritos; Evocações;
Perguntas que se podem fazer aos Espíritos; Contradições
e mistificações; Charlatanismo e embuste; Reuniões
e sociedades espíritas; Regulamento da Sociedade Parisiense
de Estudos Espíritas; Dissertações espíritas;
Vocabulário espírita. Encontramos nessa parte o referencial
espírita para a organização e funcionamento do
trabalho mediúnico: comunicabilidade dos Espíritos,
as relações com os encarnados e as influências,
ocultas ou evidentes, boas ou más, sutis ou patentes, por eles
exercidas.
Allan Kardec sempre se manteve fiel (e coerente) aos ensinos transmitidos
pelos Espíritos orientadores da Humanidade, retirando de “O
livro dos Espíritos” os subsídios necessários
para a construção das demais obras de sua autoria. Desenvolveu,
para tanto, metodologia adequada de investigação e análise,
evitando premissas falsas e conclusões equivocadas. Neste contexto,
concluiu que a Doutrina Espírita apresenta dois grandes fundamentos,
que não devem ser ignorados pelo adepto: o esclarecimento doutrinário,
obtido pelo estudo regular, e a melhoria moral, adquirida pelo combate
às imperfeições:
“Dissemos que o Espiritismo é toda uma ciência,
toda uma filosofia. Portanto, quem quiser conhecê-lo seriamente
deve, como primeira condição, dispor-se a um estudo
sério e convencer-se de que ele não pode, como nenhuma
outra ciência, ser aprendido como se estivéssemos brincando.
[…]”.
Afirma, também, em outro momento: “[…] O verdadeiro
espírita jamais deixará de fazer o bem. Há corações
aflitos a aliviar, consolações a dispensar, desesperos
a acalmar, reformas morais a operar. Essa é a sua missão
e aí ele encontrará a verdadeira satisfação.
[…]”.
Um ponto muito importante, entre tantos veiculados pela obra, e que
traça diretrizes para a correta prática mediúnica,
é a desmistificação dos conceitos de médium
– pessoa que veicula ideias, vontades e sentimentos dos Espíritos
comunicantes – e de mediunidade – faculdade inerente ao
psiquismo humano, independentemente do patamar evolutivo do medianeiro.
Em consequência, Kardec e os Espíritos orientadores preferem
considerar os médiuns como intérpretes, que podem ser
bons ou ruins, dando preferência àqueles que não
interferem nas ideias transmitidas pelos Espíritos, os quais
“[…] procuram o intérprete que mais simpatize com
eles e que exprima com mais exatidão os seus pensamentos. […]”.
Vale a leitura, releitura, exame minucioso,
estudo e valorização da obra em nossas fileiras e por
cada um de nós.
Fica a dica!