Muitas vezes a passagem de Lucas a respeito do "Bom
Ladrão" é utilizada, principalmente
pelos nossos detratores de plantão, para sustentar a idéia
de que não existe a reencarnação. Assim, achamos
por bem fazer uma análise desse episódio, para que
possamos encontrar a verdade. Vamos, então, às narrativas
bíblicas sobre tal acontecimento, tiradas da Bíblia
Anotada, Editora Mundo Cristão:
Mateus 27, 38 e 44
– E foram crucificados com ele dois ladrões,
um à sua direita e outro à sua esquerda. E
os mesmos impropérios lhe diziam também os ladrões
que haviam sido crucificados com ele.
Marcos 15, 27 e 32 – Com ele crucificaram
dois ladrões, um à sua direita, e outro à
sua esquerda. Também os que com ele foram crucificados
o insultavam.
Lucas 23, 39-43 – Um dos malfeitores
crucificados blasfemava contra ele, dizendo:
Não és tu o Cristo? Salva-te a ti mesmo e a nós
também. Respondendo-lhe, porém, o outro
repreendeu-o dizendo: Nem ao menos temes a Deus, estando
sob igual sentença? Nós na verdade com justiça,
porque recebemos o castigo que os nossos atos merecem; mas este
nenhum mal fez. E acrescentou: Jesus, lembra-te de mim quando
vieres no teu reino. Jesus lhes respondeu: Em verdade te digo
que hoje estarás comigo no paraíso.
João 19, 18 – Onde o crucificaram,
e com ele outros dois, um de cada lado, e Jesus no meio.
Ressaltamos que se a Bíblia,
segundo dizem, é totalmente inspirada por Deus. Se assim
é, por que não narram os Evangelistas os mesmos fatos?
Ora, se a fonte de inspiração é de uma mesma
origem, Deus, deveriam ser tais narrativas completamente iguais,
pelo menos quanto ao fundo. Poderemos até aceitar palavras
diferentes, mas não com divergências quanto ao fato
ocorrido, mas aqui ele é narrado de forma diferente, conforme
iremos observar a seguir:
1 – Quanto ao diálogo
Mateus, Marcos e João
nada relatam de qualquer diálogo entre os três crucificados.
2 – Quanto à atitude
Mateus e Marcos dizem que os ladrões
estavam, isto sim, entre os que escarneciam de Jesus. Só
Lucas diz que Jesus teria dito para um deles que hoje estarás
comigo no Paraíso.
3 – Quanto à testemunha
João, que estava ao pé
da cruz, ou seja, a testemunha ocular, nada diz sobre este diálogo
de Jesus com um dos ladrões.
Por curiosidade vamos ver como essa
frase aparece nas Bíblias de outras editoras:
Mundo Cristão:
"Em verdade
te digo que hoje estarás comigo no paraíso"
Vozes:
"Em verdade te digo:
ainda hoje estarás comigo no paraíso".
Pastoral:
"Eu lhe garanto: hoje
mesmo você estará comigo no paraíso".
Ave Maria:
"Em verdade te digo, hoje
estarás comigo no paraíso".
Barsa:
"Em verdade te digo:
que hoje serás comigo no paraíso".
Loyola:
"Eu te asseguro:
hoje mesmo estarás comigo no paraíso".
Perguntaríamos, então,
qual delas é a frase mais verdadeira? Enquanto
algumas dizem "em verdade", outras dizem "eu garanto"
e "eu te asseguro", apesar dessas Bíblias terem
como origem o mesmo segmento religioso.
Por outro lado, vários outros
autores confirmam o que Dr. Severino Celestino da Silva disse em
seu livro "Analisando as Traduções Bíblicas":
"Sabemos que os manuscritos
originais do Novo Testamento não possuíam pontuação,
e em face do fato de o grego clássico (incluindo o grego
koiné, no qual foi escrito o Novo Testamento) gozar de
ampla liberdade no tocante à ordem das palavras, é
impossível, à base do próprio texto grego,
provar um lado ou outro dessas idéias contraditórias".
Assim, não fica difícil
entender que nas traduções colocaram a pontuação
conforme à conveniência de cada tradutor.
Analisando, especificamente essa
frase, e, se admitirmos que isso realmente tenha acontecido, teremos
uma contradição de Jesus, pois Ele mesmo disse: a
cada um segundo suas obras (Mateus
16, 27). E, quando do episódio com Madalena, após
sua ressurreição, disse Ele a Madalena: "Não
me detenhas, porque ainda não subi para meu Pai, mas vai
para meus irmãos, e dize-lhes que eu subo para meu Pai e
vosso Pai, meu Deus e vosso Deus"
(João 20, 17). Ora, se Jesus, três dias após
sua morte, ainda não tinha subido ao Pai, como Ele poderia
ter afirmado ao "Bom Ladrão", que hoje estarás
comigo, ou seja, justamente no dia de sua morte na cruz.
Por outro lado, o "Bom
Ladrão", ao reconhecer que "nós
na verdade com justiça, porque recebemos o castigo que os
nossos atos merecem; mas este nenhum mal fez", ele está
aceitando a justiça dos homens, e por mais forte razão,
aceitaria a Justiça de Deus que lhe daria uma pena merecida.
Assim, podemos concluir também que ele não aceitaria
uma recompensa por algo que não tivesse feito, não
é mesmo?
Além disso, o dito "Bom
Ladrão" (e, diga-se de passagem, é o
único ladrão bom da história
da humanidade) somente reconheceu que ele e o outro tinham motivos
para morrerem crucificados, e que Jesus era um inocente sendo condenado,
assim, já que não houve nem mesmo um simples arrependimento,
por que o prêmio?.
Narra Mateus (20, 20-23) que a mãe
dos filhos de Zebedeu chega a Jesus com o seguinte pedido: “Ordena
que estes meus dois filhos se sentem um à tua direita e outro
à tua esquerda, no teu reino”. Não vemos
Jesus atendendo ao pedido desta abnegada mãe, ao contrário,
disse-lhe: “Mas quanto a vos sentardes à minha
direita ou à minha esquerda, não me cabe concedê-lo,
porque estes lugares são destinados àqueles para os
quais meu Pai os reservou”. Ora, se aqui Jesus afirma
que não cabe a Ele conceder um lugar no Paraíso ou
reino dos céus, como, então promete um lugar ao “bom
ladrão”? Será que Ele estaria contradizendo-se?
Acreditamos que não, pois tanto nesse caso, quanto no outro,
agiria sem conceder qualquer tipo de privilegio, ou seja, “a
cada um segundo suas obras”.
Já falamos, várias vezes, mas não custa repetir.
Coloquemos a frase do seguinte modo: Em verdade te digo hoje, estarás
comigo no paraíso? Veja como uma simples vírgula muda
completamente o sentido do texto. Desta forma, é muito mais
condizente com a Justiça Divina, pois somente um indivíduo
irá para o Paraíso, quando tiver realizado as obras
que justifiquem merecê-lo, não importando quanto tempo
levará para isso.
Não estaria também em conflito com o texto: “Ora,
se invocais como Pai aquele que, sem acepção
de pessoas, julga segundo a obra de cada um,
portai-vos com temor durante o tempo da vossa peregrinação,
...” (1 Pedro 1, 17). E,
para reforçar que Deus não faz mesmo acepção
de pessoas, pedimos para consultar: Deuteronômio 10, 17; 2
Coríntios 19, 7; Jó 34, 19; Atos, 10, 34; Romanos
2, 11 e Efésios 6, 9.
E, para aqueles que não aceitam a reencarnação,
recomendamos-lhes verem como ela é obvia nas seguintes passagens:
Mateus 17, 12
- Mas digo-vos que Elias já veio, e não
o conheceram, mas fizeram-lhe tudo o que quiseram. Assim
farão eles também padecer o Filho do homem.
Mateus 11, 14-15 - E, se quereis dar crédito,
é este o Elias que havia de vir. Quem
tem ouvidos para ouvir, ouça.
João 3, 3: Jesus respondeu, e disse-lhe: Na verdade,
na verdade te digo que aquele que não nascer de
novo, não pode ver o reino de Deus.
João 3, 7: - Não te maravilhes
de te ter dito: Necessário vos é nascer
de novo.
Vemos que, infelizmente, muitos
ainda não “têm ouvidos de ouvir”.
Não compreendemos como podem conceber uma Justiça
Divina sem a reencarnação. Já que, para nós,
a reencarnação é o único meio de “sermos
perfeitos como o Pai Celestial” (Mateus
5, 48), conforme nos recomenda Jesus, a não ser que
Ele nos tenha ensinado algo que não pudéssemos fazer,
o que seria um absurdo.