Paulo
da Silva Neto Sobrinho
> O Papel dos Médiuns
na Comunicação
O amigo Felipe Fagundes, Itumbiara-GO,
nos questiona sobre se, de fato, pode o médium exercer um
papel de facilitador (animismo) e não de um real transmissor
para os desencarnados (mediunismo), quando estes querem passar suas
mensagens a nós, os encarnados, apresentando trecho de O
Livro dos Médiuns, que nos leva a essa conclusão.
Mencionou, inclusive, que no site da FEB existe algo a respeito,
o que, obviamente, fomos conferir.
No artigo Mediunismo e animismo, postado
em 15/07/2013, a autora Marta Antunes Moura, coordenadora das Comissões
Regionais na área da Mediunidade da Federação
Espírita Brasileira (FEB), Vice-presidente da FEB, afirma
o seguinte:
Todas as manifestações
mediúnicas (psicofonia, psicografia, vidência,
audiência, intuição, cura, etc.), classificadas
por Allan Kardec em fenômenos de efeitos físicos
e fenômenos de efeitos inteligentes, trazem o teor
anímico do médium, uma vez que este não age
como uma máquina, na recepção e
transmissão da mensagem do Espírito comunicante.
Funciona como um intérprete do pensamento do Espírito,
imprimindo naturalmente às comunicações mediúnicas
que intermedia características peculiares de sua personalidade
[…]. (MOURA, 2013, grifo nosso)
Realmente, pelo que encontraremos
em O Livro dos Médiuns, Capítulo XIX, que trata do
papel dos médiuns nas comunicações espíritas,
a ideia, em princípio, é essa mesma; vejamos as seguintes
questões que fazem parte do item de nº 223:
6ª O Espírito, que
se comunica por um médium, transmite diretamente seu pensamento
ou este tem por intermediário o Espírito encarnado
no médium?
“O Espírito do médium é o intérprete,
porque está ligado ao corpo que serve para falar e por
ser necessária uma cadeia entre vós e os Espíritos
que se comunicam, como é preciso um fio elétrico
para comunicar a grande distância uma notícia e,
na extremidade do fio, uma pessoa inteligente, que a receba e
transmita”.
9ª Compreende-se que seja assim, tratando-se dos médiuns
intuitivos, porém não relativamente aos médiuns
mecânicos.
“É que ainda não percebeste bem o papel que
desempenha o médium. Há aí uma lei que ainda
não apanhaste. Lembra-te de que, para produzir o movimento
de um corpo inerte, o Espírito precisa utilizar-se de uma
parcela de fluido animalizado, que toma ao médium, para
animar momentaneamente a mesa, a fim de que esta lhe obedeça
à vontade. Pois bem: compreende igualmente que, para uma
comunicação inteligente, ele precisa de um intermediário
inteligente e que esse intermediário é o Espírito
do médium.”
a) Isto parece que não tem aplicação ao que
se chama – mesas falantes, visto que, quando objetos inertes,
como as mesas, pranchetas e cestas, dão respostas inteligentes,
o Espírito do médium, ao que se nos afigura, nenhuma
parte toma no fato.
“É um erro; o Espírito pode dar ao corpo inerte
uma vida fictícia momentânea, mas não lhe
pode dar inteligência. Jamais um corpo inerte foi inteligente.
É, pois, o Espírito do médium quem
recebe, sem que saiba, o pensamento e o transmite, sucessivamente,
com o auxílio de diversos intermediários.”
10ª Dessas explicações resulta, ao que parece,
que o Espírito do médium nunca é completamente
passivo?
“É passivo, quando não mistura suas próprias
ideias com as do Espírito que se comunica, mas nunca é
inteiramente nulo. Seu concurso é sempre indispensável,
como o de um intermediário, embora se trate dos que chamais
médiuns mecânicos.” (KARDEC,
2007b, p. 280-282, grifo nosso)
No item 225, que, também,
nos foi apresentado como sustentação para o animismo
em todo tipo de mediunidade, encontramos algo interessante, que
pode estar causando alguma confusão, especialmente, por conta
de tradução. Inicia-se, esse item, com a informação
de que dois Espíritos superiores – Erasto e Timóteo
–, resumiram a questão do papel do médium. Eis
um trecho do que disseram:
a) Tradução
Herculano Pires:
"Qualquer que seja a natureza
dos médiuns escreventes, mecânicos,
semimecânicos ou simplesmente intuitivos, nossos
processos de comunicação por meio deles
não variam na essência. Com efeito, nossas comunicações
com os Espíritos encarnados, diretamente, ou com os Espíritos
propriamente ditos, se realizam unicamente pela irradiação
do nosso pensamento. (KARDEC, 2006, p.
194, grifo nosso)
b) Tradução
Guillon Ribeiro:
"Qualquer que seja a natureza
dos médiuns escreventes, quer mecânicos
ou semimecânicos, quer simplesmente intuitivos,
não variam essencialmente os nossos processos
de comunicação com eles. De fato, nós
nos comunicamos com os Espíritos encarnados dos médiuns,
da mesma forma que com os Espíritos propriamente ditos,
tão só pela irradiação do nosso
pensamento. (KARDEC, 2007b, p. 288, grifo
nosso)
c) Tradução
Salvador Gentile:
Qualquer que seja a natureza
dos médiuns escreventes, quer sejam mecânicos,
semimecânicos, ou simplesmente intuitivos, nossos
procedimentos de comunicação com eles
não variam essencialmente. Com efeito, nos comunicamos
com os próprios Espíritos encarnados, como com
os Espíritos propriamente ditos, unicamente pela irradiação
do nosso pensamento. (KARDEC, 1993a, p.
252, grifo nosso)
Na primeira tradução,
a de Herculano Pires, justamente a com o teor que nos foi apresentado,
faltou a conjunção “quer”
ou a expressão “quer sejam”,
fundamental para o entendimento da explicação, pois,
sem ela, têm-se a impressão que se está falando
dos médiuns de uma maneira geral, quando, na verdade, se
refere somente aos médiuns escreventes.
Por outro lado, para nós, há diferença significativa
em dizer “comunicação com eles” e “comunicação
por meio deles”. Observando-se o contexto, fica claro que
a explicação se prende à primeira expressão,
pela qual eles informam como os Espíritos se comunicam com
os demais Espíritos desencarnados, quanto com o Espírito
dos médiuns escreventes.
Especificamente, sobre os médiuns
escreventes mecânicos, temos:
[…] Pode, pois, o
Espírito exprimir diretamente suas ideias, quer
movimentando um objeto a que a mão do médium serve
de simples ponto de apoio, quer acionando a própria mão.
Quando atua diretamente sobre a mão, o Espírito
lhe dá uma impulsão de todo independente da vontade
deste último. Ela se move sem interrupção
e sem embargo do médium, enquanto o Espírito tem
alguma coisa que dizer, e para, assim ele acaba.
Nesta circunstância, o que caracteriza o fenômeno
é que o médium não tem a menor consciência
do que escreve. Quando se dá, no caso, a inconsciência
absoluta; têm-se os médiuns chamados passivos
ou mecânicos. É preciosa esta
faculdade, por não permitir dúvida alguma sobre
a independência do pensamento daquele que escreve. (KARDEC,
2007b, p. 230, grifo nosso)
[…] O papel do médium mecânico é
o de uma máquina; […]. (KARDEC,
2007b, p. 231 grifo nosso)
[…] Em Saint-Jean d'Angély vimos um médium
mecânico que podemos considerar excepcional. Trata-se
de uma senhora que redige longas e formosas comunicações
enquanto lê o jornal ou conversa com os presentes, e isto
sem nunca olhar para sua própria mão.
Sucede muitas vezes que, distraída, não se apercebe
de que a comunicação chegou ao fim. Os médiuns
iletrados são numerosos, e muitos há que psicografam
sem jamais terem aprendido a escrever. Isso não é
mais surpreendente do que ver um médium desenhar sem
ter sido iniciado nessa arte. […]. (KARDEC,
2000d, p. 29, grifo nosso)
Entendemos, com base nessas transcrições,
que o papel do médium escrevente mecânico, também
ocorre sem animismo, porquanto, o Espírito comunicante age
diretamente no órgão físico do médium,
no caso a sua mão, para expressar seu pensamento.
Até quanto ao fato de transmissão de pensamento dos
espíritos, ou seja, fenômenos de efeitos inteligentes,
não há nenhuma dúvida, porquanto, o Espírito
do médium é quem transmite aquilo que o desencarnado
tem interesse em passar aos destinatários.
Quanto aos fenômenos de efeitos físicos é que
nos pareceu estranhos, diante da seguinte explicação
em O Livro dos médiuns, cap. IV, sobre a
teoria das manifestações físicas:
VIII. Como pode um Espírito
produzir o movimento de um corpo sólido?
“Combinando uma parte do fluido universal com o
fluido que o médium emite, próprio àquele
efeito.”
XIII. Se compreendemos bem o que disseste, o princípio
vital reside no fluido universal; o Espírito tira deste
fluido o envoltório semimaterial que constitui o seu perispírito
e é ainda por meio deste fluido que ele atua sobre a matéria
inerte. É assim?
“É. Quer dizer: ele empresta à matéria
uma espécie de vida factícia; a matéria se
anima da vida animal. A mesa, que se move debaixo das
vossas mãos, vive como animal; obedece por si mesma
ao ser inteligente. Não é este quem a impele,
como faz o homem com um fardo. Quando ela se eleva, não
é o Espírito quem a levanta com o esforço
do seu braço: é a própria mesa que, animada,
obedece à impulsão que lhe dá o Espírito.”
XIV. Que papel desempenha o médium nesse fenômeno?
“Já eu disse que o fluido próprio
do médium se combina com o fluido universal que o Espírito
acumula. É necessária a união desses dois
fluidos, isto é, do fluido animalizado e do fluido
universal para dar vida à mesa. Mas nota bem que essa vida
é apenas momentânea, que se extingue com a ação
e, às vezes, antes que esta termine, logo que a quantidade
de fluido deixa de ser bastante para a animar.” (KARDEC,
2007b, 94-97, grifo nosso)
A não ser que estejamos totalmente
enganados, pelo acima exposto, temos a impressão de que,
no caso, o médium apenas fornece a energia para que o Espírito
comunicante possa agir diretamente sobre o móvel, fazendo-o
transmitir sua vontade. Se assim for, então o papel do médium
se restringe a fornecer a energia, o ectoplasma, para a produção
do fenômeno; portanto, não é, propriamente,
um agente transmissor do pensamento, mas, apenas, o doador da energia
que move o objeto.
Acreditamos, também, que, em relação aos chamados
médiuns mecânicos, ocorra algo nesse sentido, levando-se
em conta essa explicação de Allan Kardec (1804-1869):
179. Quem examinar certos efeitos
que se produzem nos movimentos da mesa, da cesta ou da prancheta
que escreve não poderá duvidar de uma ação
diretamente exercida pelo Espírito sobre esses objetos.
A cesta se agita por vezes com tanta violência que escapa
das mãos do médium e não raro se dirige a
certas pessoas da assistência para nelas bater. Outras vezes,
seus movimentos dão mostra de um sentimento afetuoso. O
mesmo ocorre quando o lápis está colocado na mão
do médium; frequentemente é atirado longe com força,
ou, então, a mão, bem como a cesta, se agitam convulsivamente
e batem na mesa de modo colérico, ainda quando o médium
está possuído da maior calma e se admira de não
ser senhor de si. Digamos, de passagem, que tais efeitos demonstram
sempre a presença de Espíritos imperfeitos; os Espíritos
superiores são constantemente calmos, dignos e benévolos;
se não são escutados convenientemente, retiram-se
e outros lhes tomam o lugar. Pode, pois, o Espírito
exprimir diretamente suas ideias, quer movimentando um objeto
a que a mão do médium serve de simples ponto de
apoio, quer acionando a própria mão.
Quando atua diretamente sobre a mão, o Espírito
lhe dá uma impulsão de todo independente da vontade
deste último. Ela se move sem interrupção
e sem embargo do médium, enquanto o Espírito tem
alguma coisa que dizer, e para, assim ele acaba.
Nesta circunstância, o que caracteriza o fenômeno
é que o médium não tem a menor consciência
do que escreve. Quando se dá, no caso, a inconsciência
absoluta, têm-se os médiuns chamados passivos ou
mecânicos. É preciosa esta faculdade, por não
permitir dúvida alguma sobre a independência do pensamento
daquele que escreve. (KARDEC, 2007b, p.
229-230, grifo nosso)
Do explicado, entendemos que a ação
do Espírito comunicante é direta sobre a mão
do médium; daí este não ter a menor consciência
do que escreve. Isso demonstra, para nós, que aqui também
não há como se falar do Espírito transmitindo
seu pensamento ao médium e este retransmitindo aos presentes.
Será que há contradição no que os Espíritos
disseram sobre o assunto? Acreditamos que não é bem
o caso. Sabemos que alguns pontos não foram desenvolvidos
suficientemente e outros foram reformulados, como, por exemplo,
a questão da possessão, em que um desencarnado toma
posse, no sentido literal do termo, do corpo do médium. Em
O Livro dos Espíritos e em O
Livro dos Médiuns, Kardec não admite
essa possibilidade; porém, em dezembro de 1863, especificamente
na Revista Espírita, como veremos,
ele volta ao assunto, reformulando-o, passando, agora, a admitir
tal fato, o que o leva a em A Gênese
tratar novamente desse tema.
Em O Livro dos Médiuns, cap. XIII –
Da psicografia, destacamos este parágrafo:
Chamamos psicografia indireta
à escrita assim obtida, em contraposição
à psicografia direta ou manual, obtida pelo próprio
médium. Para se compreender este último processo,
é mister levar em conta o que se passa na operação.
O Espírito que se comunica atua sobre o médium
que, debaixo dessa influência, move maquinalmente
o braço e a mão para escrever, sem ter
(é, pelo menos, o caso mais comum) a menor consciência
do que escreve; a mão atua sobre a cesta e a cesta
sobre o lápis. (KARDEC, 2007b, p.
209, grifo nosso)
Aqui Kardec não fala em transmissão
de pensamento, mas em atuação do Espírito que
faz com que o médium, sob essa influência, passe a
escrever, pela ação direta do Espírito comunicante
sobre o braço do médium.
Vejamos o que consta na Revista Espírita
1863:
Um caso de possessão
Senhorita Julie
Dissemos que não havia
possessos no sentido vulgar da palavra, mas subjugados; retornamos
sobre esta afirmação muito absoluta, porque nos
está demonstrado agora que pode ali haver possessão
verdadeira, quer dizer, substituição, parcial no
entanto, de um Espírito errante ao Espírito encarnado.
Eis um primeiro fato que é a prova disto, e que apresenta
o fenômeno em toda a sua simplicidade. […].
[…] Ele [o espírito] declara que, querendo conversar
com seu antigo amigo, aproveitou de um momento em que
o Espírito da Senhora A…, a sonâmbula, estava
afastado de seu corpo, para se colocar em seu lugar.
[…].
P. Que fez durante esse tempo o Espírito da senhora A…?
– R. Estava lá, ao lado, me olhava e ria de ver-me
nesse vestuário.
(KARDEC, 2000b, p. 373-374, grifo nosso)
Ora, se o espírito da Senhora
A…, “estava lá, ao lado, me olhava e ria
de ver-me nesse vestuário”, ele não participou
em nada do processo de comunicação do Espírito
(que a possuía) com os presentes na reunião, embora,
obviamente, seu corpo físico estivesse sendo utilizado.
Em A Gênese, no capítulo
XIV, Os Fluidos, tratando das obsessões, a certa altura de
suas explicações, Kardec diz:
47. – Na obsessão,
o Espírito atua exteriormente, com a ajuda do seu perispírito,
que ele identifica com o do encarnado, ficando este afinal enlaçado
por uma como que teia e constrangido a proceder contra a sua vontade.
Na possessão, em vez de agir exteriormente, o Espírito
atuante se substitui, por assim dizer, ao Espírito encarnado;
toma-lhe o corpo para domicílio, sem que este,
no entanto, seja abandonado pelo seu dono, pois que isso só
se pode dar pela morte. A possessão, conseguintemente,
é sempre temporária e intermitente, porque um Espírito
desencarnado não pode tomar definitivamente o lugar de
um encarnado, pela razão de que a união molecular
do perispírito e do corpo só se pode operar no momento
da concepção. (Cap. XI, nº. 18.)
De posse momentânea do corpo do encarnado, o Espírito
se serve dele como se seu próprio fora: fala pela sua boca,
vê pelos seus olhos, opera com seus braços, conforme
o faria se estivesse vivo. Não é como na
mediunidade falante, em que o Espírito encarnado fala transmitindo
o pensamento de um desencarnado; no caso da possessão é
mesmo o último que fala e obra; quem o haja conhecido em
vida, reconhece-lhe a linguagem, a voz, os gestos e até
a expressão da fisionomia. (KARDEC,
2007e, p. 349, grifo nosso)
Vemos, pois, que a ação
do Espírito comunicante é direta sobre o corpo físico
do encarnado, pelo qual age “conforme o faria se estivesse
vivo”; ou seja, não há transmissão de
seu pensamento para a mente do médium, para que este, a seu
turno, transmita aos presentes.
E, ainda em A Gênese, ao falar das
manifestações físicas, Kardec argumenta:
41. Por meio do seu perispírito
é que o Espírito atuava sobre o seu corpo vivo;
ainda por intermédio desse mesmo fluido é que ele
se manifesta; atuando sobre a matéria inerte, é
que produz ruídos, movimentos de mesa e outros objetos,
que os levanta, derriba, ou transporta. Nada tem de surpreendente
esse fenômeno, se considerarmos que, entre nós, os
mais possantes motores se encontram nos fluidos mais rarefeitos
e mesmo imponderáveis, como o ar, o vapor e a eletricidade.
É igualmente com o concurso do seu perispírito que
o Espírito faz que os médiuns escrevam,
falem, desenhem. Já não dispondo de corpo
tangível para agir ostensivamente quando quer manifestar-se,
ele se serve do corpo do médium, cujos órgãos
toma de empréstimo, corpo ao qual faz que atue como se
fora o seu próprio, mediante o eflúvio fluídico
que verte sobre ele. (KARDEC, 2007e,
p. 343, grifo nosso)
Demonstra, também, que o
Espírito comunicante age diretamente usando o corpo do médium,
que toma de empréstimo.
Na Revista Espírita 1869, mês
de fevereiro, Kardec narra a respeito de um Espírito que
não acreditava ter morrido, e que se manifestou “em
se servindo do corpo do Sr. Morin, em sonambulismo espontâneo”,
durante uma hora. Recebeu, posteriormente, uma explicação
para esse fenômeno:
Há aqui, uma substituição
de pessoa, uma simulação. O Espírito
encarnado recebe a liberdade ou cai na inação. Digo
inércia, quer dizer, a contemplação daquilo
que se passa. Ele está na posição
de um homem que empresta momentaneamente a sua habitação,
e que assiste às diferentes cenas que se realizam com a
ajuda de seus móveis. Se gosta mais de gozar da
sua liberdade, ele o pode, a menos que não haja para ele
utilidade em permanecer espectador.
Não é raro que um Espírito atue e
fale com o corpo de um outro; deveis compreender a possibilidade
deste fenômeno, então que sabeis que o Espírito
pode se retirar com o seu perispírito mais ou menos longe
de seu envoltório corpóreo. Quando esse
fato ocorre sem que nenhum Espírito disto se aproveite
para ocupar o lugar, há a catalepsia. Quando um Espírito
deseja para ali se colocar para agir, toma um instante a sua parte
na encarnação, une o seu perispírito ao corpo
adormecido, desperta-o por esse contato e restitui o movimento
à máquina; mas os movimentos, a voz não são
mais os mesmos, porque os fluidos perispirituais não afetam
mais o sistema nervoso do mesmo modo que o verdadeiro ocupante.
(KARDEC, 2001b, p. 48-49, grifo nosso)
Se o Espírito que se comunica
está atuando e falando com o corpo do médium, e que
o seu Espírito encarnado pode se retirar mais ou menos longe
do seu corpo, então, fica claro que a ação
é totalmente realizada pelo primeiro, sem que o médium
esteja recebendo seu pensamento para transmiti-lo, uma vez que sua
ação é direta.
É oportuno vermos essas explicações de Léon
Denis (1846-1927), que têm muito a ver com o nosso assunto:
Indagam certos experimentadores:
o Espírito do manifestante se incorpora efetivamente no
organismo do médium? ou opera ele antes, a distância,
pela sugestão mental e pela transmissão de pensamento,
como o pode fazer um espírito exteriorizado do sensitivo?
Um exame atento dos fatos nos leva a crer que essas duas
explicações são igualmente admissíveis,
conforme os casos. As citações que acabamos
de fazer provam que a incorporação pode
ser real e completa. É mesmo algumas vezes inconsciente,
quando, por exemplo, certos Espíritos pouco adiantados
são conduzidos por uma vontade superior ao corpo de um
médium e postos em comunicação conosco, a
fim de serem esclarecidos sobre sua verdadeira situação.
Esses Espíritos, perturbados pela morte, acreditam ainda,
muito tempo depois, pertencerem à vida terrestre. Não
lhes permitindo seus fluidos grosseiros entrarem em relação
com Espíritos mais adiantados, são levados aos grupos
de estudo, para serem instruídos acerca de sua nova condição.
É difícil às vezes fazer-lhes compreender
que abandonaram a vida carnal e sua estupefação
atinge o cômico, quando, convidados a comparar o organismo
que momentaneamente animam com o que possuíam na Terra,
são obrigados a reconhecer o seu engano. Não
se poderia duvidar, em tal caso, na incorporação
completa do Espírito.
Noutras circunstâncias, a teoria da transmissão
à distância parece melhor explicar os fatos.
As impressões oriundas de fora são mais ou menos
fielmente percebidas e transmitidas pelos órgãos.
Ao lado de provas de identidade, que nenhuma hesitação
permitem sobre a autenticidade do fenômeno e intervenção
dos Espíritos, verificam-se, na linguagem do sensitivo
em transe, expressões, construções de frases,
um modo de pronunciar que lhe são habituais. O
Espírito parece projetar o pensamento no cérebro
do médium, onde adquire, de passagem, formas de
linguagem familiares a este. A transmissão se efetua, em
tal caso, no limite dos conhecimentos e aptidões do sensitivo,
em termos vulgares ou escolhidos, conforme o seu grau de instrução.
Daí também certas incoerências que se devem
atribuir à imperfeição do instrumento.
Ao despertar, o Espírito do médium perde toda consciência
das impressões recebidas no sentido de liberdade, do mesmo
modo que não guardará o menor conhecimento do papel
que seu corpo tenha desempenhado durante o transe. Os sentidos
psíquicos, de que por um momento havia readquirido a posse,
se extinguem de novo; a matéria estende o seu manto; a
noite se produz; toda recordação se desvanece. O
médium desperta num estado de perturbação,
que lentamente se dissipa. (DENIS, 1987,
p. 252-254, grifo nosso)
Temos, portanto, as duas hipóteses,
ou seja, a de transmissão de mente a mente e a de usar diretamente
o corpo do médium, processo ao qual Denis denomina de incorporação,
tema que alhures já tratamos.
Em duas das obras da série André Luiz, pela psicografia
de Francisco Cândido Xavier (1910-2002), encontramos a confirmação
do segundo caso mencionado por Denis, quais sejam: Missionários
da Luz e Nos domínios da mediunidade,
que recomendamos a sua leitura.
Paulo da Silva Neto Sobrinho
www.paulosnetos.net
jul/2014
Referências
bibliográficas
DENIS, L. No Invisível, Rio de Janeiro:
FEB, 1987.
KARDEC, A. A Gênese. Rio de Janeiro: FEB, 2007e.
KARDEC, A. O Livro dos Médiuns. Araras, SP: IDE, 1993a.
KARDEC, A. O Livro dos Médiuns. Rio de Janeiro: FEB, 2007b.
KARDEC, A. O Livro dos Médiuns. São Paulo: Lake, 2006.
KARDEC, A. Revista Espírita 1863. Araras, SP: IDE, 2000b.
KARDEC, A. Revista Espírita 1869. Araras, SP: IDE, 2001b.
KARDEC, A. Viagem Espírita em 1862. Matão, SP: O Clarim,
2000d.
XAVIER, F. C. Missionários da Luz. Rio de Janeiro: FEB, 1986.
XAVIER, F. C. Nos Domínios da Mediunidade, Rio de Janeiro: FEB,
1987.
MOURA, M. A. Mediunismo e animismo.
Disponível pelo link: http://www.febnet.org.br/blog/geral/colunistas/mediunismo-e-animismo/,
acesso em 27.07.2014, às 07:53hs.
Fonte:
http://www.aeradoespirito.net/ArtigosPN/O_PAPEL_DOS_MEDIUNS_NA_COMUNICACAO.html
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Mediunidade - percepção da Psique humana : proposição
de um novo conceito para a mediunidade
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A Memória Genética não explica a reencarnação
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Os milagres existem?
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Moisés – primeiro inquisidor
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Os mortos estariam dormindo?
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A mulher na Bíblia
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Nada é definitivo nas obras básicas
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Nascer, crescer, morrer, renascer ainda e progredir sempre, tal é
a lei > frase atribuída a Allan Kardec
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Neurocirurgião muda de opinião após vivenciar uma
EQM
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Os nomes dos títulos dos Evangelhos designam seus autores?
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Nos animais doentes poder-se-ia aplicar passe magnético?
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Obsessão, processo de cura de casos graves
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Para entender o Espiritismo - Resposta ao “parapsicatólico”
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O Papel dos Médiuns na Comunicação
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Pedro, tu és Papa?
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A pena de talião no Espiritismo
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Perdão, punição, redenção, crença
ou reencarnação?
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O perispírito e as polêmicas a seu respeito
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O perispírito não é fluido vital
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Pluralidade dos mundos habitados
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Possessão: há a posse física do encarnado?
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Preexistência do Espírito
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A profecia sobre a volta de Elias se realizou?
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As provas da sobrevivência do espírito
> Quais são as Obras Básicas?
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Qual a primeira obra espírita que deve ser lida?
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Os quatro Evangelhos de Roustaing
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Quem era o discípulo a quem Jesus amava?
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A Questão do Bom ladrão
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Racismo em Kardec?
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A reclamação de um defunto
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Reencarnação - Bibliografia
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Reencarnação, a prova definitiva
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Reencarnação e as pesquisas científicas
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Reencarnação e a evolução humana
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Reencarnação e o inconsciente coletivo
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A Reencarnação é um dogma dos espíritas?
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Reencarnação no Concílio de Constantinopla - (Orígenes
x Império Bizantino)
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Reencarnação no contexto histórico
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Reencarnação no Evangelho, A
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Reencarnação no Pentateuco
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Reencarnação x ressurreição física
e penas eternas
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Relendo a Bíblia, revendo a teologia
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Religião Espírita: é o que, de fato, é o Espiritismo
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Ressurreição da Carne?
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Ressurreição, o significado bíblico
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Ressurreição ou Reencarnação?
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Reunião de doutrinação (esclarecimento) de espíritos
foi recomendada na codificação?
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Reuniões mediúnicas de desobsessão (doutrinação
ou esclarecimento de Espíritos)
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Satanás – ser ou não ser, eis a questão
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Segredos da supermemória
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Será que os profetas previram a vinda de Jesus?
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Será que Saul conversou com Samuel-espírito?
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Os seres do invisível e as provas ainda recusadas pelos cientistas
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Sinal combinado para confirmar contato com os mortos
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Só a reencarnação para explicar
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Somente Espíritos Superiores trazem-nos novas instruções?
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Sudário: relíquia verdadeira ou falsificação
medieval
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Teodora e as 500 prostitutas
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Terrorismo Religioso
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Tiptologia, a prova de uma ação mental exterior ao médium
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Todos nós somos médiuns
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Torre de Babel: o carro na frente dos bois
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Tradutor, traidor
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Trindade - o “mistério” criado por um leigo, anuído
pelos teólogos
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Umbral, há base doutrinária para sustentá-lo
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A vida do espírito é só no corpo físico?
Leiam também de Paulo da Silva Neto Sobrinho,
em co-autoria
Silva Neto Sobrinho, Paulo da & Silva, Vladimir
Vitoriano da
> Deuteronômio
– lei divina ou mosaica?
Visitem o site de Paulo da Silva Neto Sobrinho
>>> http://www.paulosnetos.net
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