Jáder
dos Reis Sampaio
> A Pesquisa Qualitativa Entre a Fenomenologia e o Empirismo-Formal
Resumo
Metodologia e epistemologia são duas áreas
relacionadas, mas independentes entre si. É muito comum na pesquisa
administrativa brasileira entender-se a pesquisa chamada de qualitativa
a partir de um referencial epistemológico empirista-formal. Realizou-se
uma análise das contribuições teóricas ao
tema por autores clássicos e contemporâneos. A proposta
do presente trabalho teórico é distinguir a orientação
epistemológica baseada no empirismo-formal da que se fundamenta
na fenomenologia. Aceita esta distinção e o “status”
científico destas duas matrizes de conhecimento, mostra-se que
há implicações metodológicas distintas para
a pesquisa qualitativa, seja com relação ao objetivo,
seja com relação à abordagem do objeto, seja com
relação à construção de construtos
e indicadores. Desta forma, a pesquisa qualitativa não é
uma pesquisa para a qual não se teve fôlego para estudar
um número suficiente de eventos que permitam generalização,
nem está às voltas com um tipo de objeto que permite apenas
uma mensuração não métrica e muito menos
é uma abordagem menor da ciência porque não consegue
estabelecer com fundamento leis que estabelecem relações
determinantes ou probabilísticas entre eventos. Trata-se de um
tipo de pesquisa própria para a análise em profundidade
de fenômenos onde se pressupõe, ou se busca entender melhor,
a singularidade ou a subjetividade.
Introdução
Sempre que se discute uma pesquisa científica, está
se optando por uma certa produção de conhecimento
que atende a determinados parâmetros ou exigências propostos
por um determinado grupo de pesquisadores. Um equívoco que
geralmente se comete é pressupor a existência de uma
teoria epistemológica única que fundamentaria a escolha
dos métodos de investigação.
Em meio ao pensamento administrativo, a noção de ciência
mais difundida filia-se às escolas derivadas do empirismo.
Mesmo nesta tradição, há muitas escolas epistemológicas
concorrentes, como o empirismo lógico, o empirismo probabilista,
o empirismo crítico e o evolucionista. Em ruptura à
tradição empirista, temos inúmeras escolas
de teoria do conhecimento, como a fenomenológica (e seus
desdobramentos) e a pragmática.
A idéia que o conhecimento científico é um
tipo de conhecimento verdadeiro, e que a aplicação
da metodologia científica conduz à obtenção
da verdade, é um mito de difícil sustentação
se o leitor se dispuser a analisar atentamente os pressupostos sobre
os quais se constrói uma dada teoria epistemológica.
O Que é Ciência?
Francis Bacon (1561-1626), ao redigir sua obra “Novum
Organum” lançou algumas das bases da
ciência moderna. Propôs que o estudo se voltasse à
análise da natureza, cujos resultados pudessem permitir uma
acumulação sistemática do conhecimento. Propôs
o método indutivo como o caminho para atingir este objetivo,
através da experiência escriturada, que compreendia
a observação sistemática e a realização
de experimentos. O filósofo natural deveria observar as condições
em que um determinado fenômeno ocorria (tábua de presença),
as condições em que ele não ocorria (tábua
de ausência) e registrar os diferentes graus de variação
do fenômeno a fim de descobrir possíveis correlações
entre as variações (tábua das graduações).
Feitas as observações o pesquisador procuraria estabelecer
induções amplificadoras (generalizações)
extraindo o que existe de geral em uma coleção de
fenômenos e estendendo por analogia aos demais nas mesmas
condições. Em Bacon já temos uma distinção
entre ciência (fruto da experiência humana) e especulação
ou metafísica (fruto do raciocínio calcado na “lógica
vulgar” ou mesmo da revelação divina).
Isaac Newton (1642-1727) abriu mão da análise teórica
calcada em uma autoridade (pelo menos formalmente) para analisar
as regularidades físicas, tendo por parâmetros comparativos
os modelos da álgebra. Uma frase famosa onde ele expõe
sua crítica ao emprego de hipóteses foi: “hypotheses
non fingo”. Ele possibilitou uma certa forma de se fazer
ciência, onde se procura o avanço do conhecimento através
da identificação de regularidades constatadas matematicamente
e por indução, ou, simplesmente, “leis naturais”.
Newton, portanto, adiciona as matemáticas ao método
de Bacon.
Uma das dificuldades que este procedimento gerava envolvia a sucessiva
complexificação das teorias explicativas dos fatos
estudados, o que poderia fazer com que os cientistas se perdessem
no “perigo da especulação” a partir das
mesmas. Um filósofo que deu uma contribuição
histórica a este problema foi David Hume (1711-1776), com
sua famosa “investigação acerca do conhecimento
humano”. Ele defende a identificação de nexos
de causalidade dos fenômenos naturais (entendidos como sucessões
temporais entre dois fenômenos percebidos em bases de uma
vinculação necessária, ou seja, para que o
segundo aconteça é necessário que o primeiro
o anteceda) e toma como critério de verdade a possibilidade
de retorno das teorias às bases empíricas que as geraram
(fenômenos sensíveis), ou seja, às percepções
originais. Criticando o pensamento cartesiano, ele admite a lógica
dedutiva apenas para a matemática (porque consiste em relações
entre símbolos), considerando-a criadora de sofismas e ilusões
quando aplicada ao mundo natural, que necessariamente não
se comporta segundo a lógica.
Seu projeto de construção do conhecimento foi muito
bem sucedido no mundo das ocorrências físicas, e marcou
uma distinção entre as Físicas e as Metafísicas,
que gerou um certo desprezo nos meios acadêmicos por estas
últimas. Ele foi extremamente influente até o final
do século XIX e início do século XX, quando
físicos como Albert Einstein propuseram teorias que invalidavam
a aplicação das leis de Newton a territórios
pouco conhecidos da Física, como as partículas subatômicas,
o que gerou uma desconfiança na capacidade de generalização
das conclusões obtidas por estes métodos.
Grosso modo, temos então uma noção de ciência,
que seria um método de produção de conhecimento
verificável e acumulável, que estabelece nexos de
causalidade entre fenômenos, a partir da observação
sistemática e experimentação de fenômenos
naturais com a finalidade de identificarem-se, por generalização,
regularidades (leis) passíveis de descrição
matemática.
Esta definição será quase que totalmente criticada
no século XX. Bachelard e Kuhn criticariam a cumulatividade
do conhecimento científico introduzindo conceitos como corte
epistemológico e mudança de paradigma, respectivamente.
Carnap abriu mão do conceito de verificabilidade, substituindo-o
pelo de confirmabilidade. Popper estenderia as críticas à
indução e à generalização, questionaria
os fundamentos epistemológicos do probabilismo e proporia
a falseabilidade e a falsificação, assim como a transitoriedade
das teorias científicas aceitas. Todos os autores citados
tratam das chamadas ciências naturais. Evitaremos o desenvolvimento
destas contribuições porque elas nos fazem perder
a linha mestra do presente trabalho.
Há Diferentes Métodos?
Vimos desenvolvendo o presente raciocínio
mostrando que por detrás de um conceito aparentemente aceito
de ciência, entre seus próprios expoentes, há
inúmeras discussões que estão longe de poderem
ser consideradas acessórias, posto que se referem a elementos
essenciais da noção empírico-formal de ciência.
Podemos dizer que há diferentes métodos do conhecimento
científico? Apesar de a grande maioria dos autores acima
defenderem a teoria da ciência unificada, cada um buscando
trazer para a sua proposta as diretrizes “verdadeiras”
do método científico, podemos dizer que há
uma variação ainda mais acentuada em torno do conceito
de ciência, especialmente das ciências humanas e sociais,
cuja questão discutirei posteriormente.
Em meio aos livros de teoria do conhecimento e metodologia de pesquisa
científica, há diferentes classificações
de métodos concorrentes, que surgiram de bases de pensamento
epistemológico diversas (ou matrizes epistemológicas)
e que, mais que um exercício especulativo, passaram a orientar
pesquisadores e cientistas, consolidando-se em orientações
concorrentes de escolas, linhas de pesquisa e disciplinas.
Para fins de ilustração deste ponto de vista, passamos
a apresentar o referencial de ZILLES, que adotaremos neste trabalho
por sua simplicidade, mas há diversos outros como o de DE
BRUYNE ET AL. (1991).
ZILLES (1994) divide o conhecimento científico em três
grupos: o das ciências formais, o das ciências
empírico-formais e o das ciências
hermenêuticas.
As ciências formais têm “relações
entre signos” como seu objeto de pesquisa, compreendem a matemática
e a lógica, são racionais e sistemáticas,
são verificáveis, no sentido da possibilidade do emprego
da dedução.
As ciências empírico-formais foram descritas no item
anterior e têm por objeto a realidade empiricamente
apreensível (natureza), podendo usar as ciências
formais como seu instrumental.
As ciências hermenêuticas, por sua vez “são
ciências da interpretação. (...) A interpretação
procura evidenciar uma significação não imediatamente
aparente. A significação é uma relação
entre um signo e uma entidade pertencente ao mundo real ou ao mundo
ideal. Em resumo, as ciências hermenêuticas
visam a realidade humana enquanto apreensível, enquanto perceptível
na natureza transformada pela cultura. (...) visa à subjetividade,
suas intencionalidades. (...) trabalham essencialmente
com a categoria do sentido”. (ZILLES, 1994. p. 164)
A Fenomenologia de Edmund Husserl é uma das teorias que procura
fundamentar epistemologicamente este último conceito. Trataremos
dela de forma mais detida, mas antes passamos a discutir os pontos
de conflito entre as ciências naturais e as ciências
humanas e sociais.
O Problema do Método nas Ciências
Humanas e Sociais
Uma discussão também histórica em meio aos
epistemologistas, repousa na possibilidade de adoção
dos métodos do empirismo formal às chamadas ciências
humanas e sociais. Independente dos argumentos pró ou contra
este projeto, qualquer leitor desapaixonado considera razoável
que a aplicação destes métodos às ciências
do homem pressupõe a aceitação apriorística
de que o ser humano é explicável à partir de
“leis” que desvendam a sua “natureza”.
Caso contrário, tratando-se o homem como um ser portador
de uma condição humana, ou seja, dotado de livre arbítrio,
capaz de construir sua própria cultura e resignificar o mundo
ao seu redor, não faz sentido empregar-se um método
que busca explicá-lo destituindo-o de suas capacidades. Esta
condição humana (termo que emprego no sentido de delimitar
o homem produtor de cultura e produzido por ela, em distinção
à natureza humana) seria incognoscível por uma matriz
epistemológica calcada no empirismo, não sendo objeto
passível do emprego dos métodos das ciências
naturais.
Após quase um século e meio de Psicologia concebida
como ciência humana, podemos acompanhar o desdobramento da
aplicação dos métodos das ciências naturais
e sugerir que eles são mais bem sucedidos quando o homem
é visto como (ou reduzido a) um ser orgânico. A pesquisa
médica é um exemplo de sucesso do emprego dos métodos
naturais, mas nenhum médico acreditaria, por exemplo, na
existência de diferenças estruturais e funcionais significativas
entre dois corações humanos, a menos que estivéssemos
estudando patologias, ou seja, eles trabalham com uma natureza do
organismo humano.
As conclusões da Psicologia empírica, entretanto,
se tornam polêmicas e duvidosas quando se analisa o homem
como um ser psíquico, tendo algum poder explicativo quando
descritivas, mas sendo incertas quando preditivas. Parece-me que
o ser psíquico é apenas parcialmente determinado,
ou seja, as regularidades que podemos identificar a partir de sua
pesquisa não seriam suficientes para uma compreensão
de sua dinâmica singular e são raramente passíveis
de generalização para pessoas educadas em culturas
muito diferentes entre si.
Um psiquiatra de renome parece ter chegado a conclusão semelhante
e talvez um pouco menos pessimista quando desenvolveu o seguinte
pensamento:
"Uma das antinomias fundamentais
é a proposição: A psique depende do corpo,
e o corpo depende da psique. (...) Chegamos assim à formulação
dialética, que no fundo significa que a interação
psíquica nada mais é do que a relação
de troca entre dois sistemas psíquicos. Uma vez que a individualidade
do sistema é infinitamente variável, o resultado
é uma variabilidade infinita de afirmações
de validade relativa. No entanto, se individualidade fosse singularidade,
isto é, se o indivíduo fosse totalmente diferente
de qualquer outro indivíduo, a psicologia seria impossível
enquanto ciência, isto é, ela consistiria num caos
inextricável de opiniões subjetivas. Mas como a
individualidade é apenas relativa, isto é, apenas
complementa a conformidade ou a semelhança entre os homens,
as afirmações de validade universal, ou seja, as
constatações científicas, tornam-se possíveis.
Conseqüentemente, estas afirmações podem referir-se
unicamente às partes do sistema psíquico conformes,
isto é, às que podem ser comparadas e, portanto
apanhadas estatisticamente, e não ao individual, ao único
dentro do sistema. A segunda antinomia fundamental da psicologia
é a seguinte: O individual não importa perante o
genérico, e o genérico não importa perante
o individual. " (JUNG, 1985. p. 2-3)
Muitos autores consagrados na literatura
aceitam as diferenças epistemológicas entre as ciências
humanas e sociais. Kirk e Miller apontam o seguinte:
“... “Objetividade,”
também, é um conceito ambíguo. Em um sentido,
ele se refere ao pressuposto heurístico, comum nas ciências
naturais, que tudo no universo pode, em princípio, ser
explicado em termos de causalidade. Nas ciências sociais,
este pressuposto frequentemente parece perder o sentido, em razão
do que, aquilo que os cientistas sociais tentam explicar é
a conseqüência das escolhas existenciais internas feitas
pelas pessoas.”
(KIRK e MILLER, 1988. p. 10)
Este problema não é
diferente nas ciências administrativas, posto que têm
por objeto as organizações de trabalho constituídas
por seres humanos. Se por um lado é possível estabelecer
regularidades que parecem ser universais às relações
de troca (lei de oferta e procura nas ciências econômicas),
da mesma forma temos as organizações com suas singularidades
(os transplantes de modelos administrativos, por exemplo), gerando
outputs diferentes daqueles que seriam esperados por um
certo modelo administrativo.
Podemos ver por que determinadas
metodologias qualitativas são tão difundidas nesta
área do conhecimento, como os estudos de caso, a despeito
do desenvolvimento dos métodos quantitativos e dos aparelhos
de auxílio ao processamento de informações.
Quanto mais próximos dos fenômenos culturais humanos,
mais singulares se tornam os fenômenos em Administração
e, portanto, mais importante a compreensão das unidades.
Quanto maiores as possibilidades de tomada de decisões e
as mudanças no ambiente, menos preditivos se tornam os modelos
administrativos, que parecem ter validade circunscrita a determinados
cenários.
Ao gerente, em um cenário turbulento, pode ser mais valioso
deter um repertório de construções compreensivas
e capacidade analítica (de preferência criativa) que
conhecer prescrições calcadas em modelos universais
de funcionamento das organizações. O emprego de ferramentas
de finalidade prospectiva e situacional parece ter se desenvolvido
bastante na administração, com a finalidade de dar
suporte à tomada de decisões.
Como lidar com o conhecimento tendo em vista objetos possivelmente
dotados de singularidade? É aceitável renunciar ao
desejo de conhecê-los taxando-os de incognoscíveis,
ou há formas de desenvolver algum tipo de entendimento?
Dilthey (1833/1911) foi um dos filósofos alemães que
defendeu a idéia que as ciências humanas e sociais
têm por objeto uma realidade humana, histórica e social,
criticando o emprego isolado dos métodos das ciências
naturais nesta área. Ele considera fundamental a análise
da compreensão da experiência pessoal e da expressão
do espírito humano nesta área do conhecimento.
Dentre as escolas de pensamento epistemológico, passo a apresentar
uma das mais in fluntes e prolíficas para com este problema:
a Fenomenologia de Edmund Husserl.
O Que é Fenomenologia?
ZILLES (1994) fez uma síntese da evolução
dos conceitos de fenômeno em Filosofia, onde mostra haverem
pelo menos dois sentidos marcantes: o primeiro, mais amplo, significaria
“tudo o que aparece, se manifesta ou se revela”
e está conectado a tudo o que existe exteriormente, ou seja,
os fenômenos físicos. Kant, entretanto, notabilizou-se
ao distinguir o fenômeno da coisa em si (que denominou “noumenon”).
Para eles os fenômenos seriam os objetos da experiência,
e as “coisas em si” seriam “incognoscíveis
e transcendentes à experiência”.
Edmund Husserl (1859-1938) irá construir a Fenomenologia
como uma vertente crítica ao naturalismo vigente à
sua época, que insistia em negar a subjetividade para estudar
os fatos naturais como se fossem uma realidade única. Volta-se,
portanto, ao mundo interior dos homens, chamado transcendental¹,
onde ser fará a conexão possível entre as coisas
em si e as idéias. Husserl privilegia, portanto, o estudo
da consciência que define como uma instância psíquica
que constitui significações, seja ao apreender ou
ao constituir os significados dos acontecimentos naturais ou psíquicos.
A consciência é
entendida pela Fenomenologia de Husserl como sendo um “fluxo
temporal de vivências”, peculiar, porque é imanente,
ou seja, capaz de dar sentido às coisas e de apreender através
da intuição aquilo que é universal, já
que ela capta a multiplicidade de fatos e a sua essência comum.
Outro aspecto importante da consciência diz respeito à
sua “intencionalidade”. Chauí (1988)
descreve a intencionalidade como “dirigir-se para, visar
alguma coisa”, o que a torna uma atividade constituída
de atos que visam a algo. “Toda consciência é
uma consciência de algo.” Husserl denomina a estes
atos, que podem ser perceptivos, imaginativos, especulativos, volitivos,
etc., com o termo noesis, e aquilo a que visam
com o termo noema. Os noemas estão presentes
na consciência sem serem partes dela.
Husserl distingue ainda dois níveis de noesis; o nível
empírico onde se identificam atos psicológicos
e individuais para conhecer um significado independente deles, e
o nível transcendental onde as noesis são
atos do sujeito constituinte que cria os noemas enquanto idealidades
puras ou significações.
“A fenomenologia husserliana
pretende estudar, pois, não puramente o ser, nem puramente
a representação ou aparência do ser, mas o
ser tal como se apresenta no próprio fenômeno. E
fenômeno é tudo aquilo de que podemos ter consciência,
de qualquer modo que seja.”
(ZILLES, 1994. p. 125)
Outro conceito importante
para o entendimento da fenomenologia reside na dinâmica da
relação entre o fato e a consciência. Como já
afirmamos acima, Husserl trabalha com as intuições
da consciência como sendo os elementos constituintes do conhecimento.
Elas, entretanto, só constroem conhecimento à medida
que são capazes de perceber as essências, distinguindo
diferentes possibilidades de representação dos objetos.
“Dizemos que dois
atos intuitivos possuem a mesma essência quando as suas
intuições puras têm a mesma matéria.
...Todas as intuições objetivamente completas de
uma mesma matéria têm a mesma essência.”
(HUSSERL, 1988. p. 78)
Uma vez aceita a premissa
husserliana se pergunta como fazer ciência, ou ainda, o que
é ciência para a fenomenologia. O critério de
verdade em Husserl (1988, p. 94) é definido como “a
plena concordância entre o visado e o dado como tal”,
ou, como interpreta Chauí, entre “o ato de conhecer
e o seu correlato”. Isto não significa que a verdade
seja apenas uma verdade subjetiva, no sentido de ser considerada
apenas no recesso do pensamento de seu criador, mas reflete a ordem
das coisas.
A questão a que esta afirmação nos remete é:
como pode o agente do conhecimento distinguir as essências
das coisas e não ser iludido pelas aparências da realidade
exterior ou pelos conteúdos pré-existentes da sua
consciência?
ZILLES e CHAUÍ identificam três condições
propostas por Husserl para a fundamentação de uma
ciência de rigor:
a) ausência
de pressupostos: ou seja, o pesquisador evitaria considerar
o que já foi dito por pensadores ou pela teoria, indo
diretamente às coisas mesmas, buscar suas essências.
A epoqué consiste “em nos abstermos por completo
de julgar acerca das doutrinas de qualquer filosofia anterior
e em levar a cabo todas as nossas descrições no
âmbito desta abstenção”. (Husserl
apud Zilles, 1994. p. 128)
b) o caráter a priori: que significa
desconfiar dos dados empíricos para fundamentar-se em
idealidades (“as coisas mesmas”) da consciência
transcendental, a única capaz de captar as essências.
Entende Husserl que a intuição da essência
é diferente da percepção do fato. É
fácil ilustrar este tipo de postulado quando se observam
ações de pessoas, que estão revestidas
de intencionalidades. A mera observação do resultado
da ação ou da ação em curso não
revela a intencionalidade do sujeito. O trabalhador que opera
em ritmo lento pode estar protestando contra a fábrica,
estar estressado, despido de conhecimento necessário
para a realização de sua atividade, disperso,
preocupado com problemas de casa, ou por uma infinidade de motivos.
c) evidência apodítica: seriam
as bases das construções dos juízos (aos
moldes do pensamento cartesiano). Seriam evidências “com
ausência total de dúvida”, cuja obtenção
se dá a partir das reduções fenomenológicas
que Zilles descreve da seguinte forma:
“Para chegar ao fenômeno
puro, Husserl suspende o juízo em relação
à existência do mundo exterior (transcendente). Descreve
apenas o mundo como se apresenta na consciência, ou seja,
reduzido à consciência. Tal suspensão ou colocação
entre parênteses chamou epoqué. Portanto, não
duvida da existência do mundo, mas simplesmente o põe
“entre parênteses” ou o idealiza ou
o reduz ao fenômeno: a redução fenomenológica.
No fenômeno, por sua vez, procede a sucessivas reduções
em busca da essência: a redução eidética.
Assim entende a fenomenologia como análise descritiva das
vivências da consciência depuradas de seus elementos
empíricos para descobrir e apreender as essências
diretamente na intuição.”
(ZILLES, 1994. p. 130-131)
Não é de fácil
entendimento a delimitação da redução
eidética como método. De Bruyne (1991) entende, a
partir de Merleau Ponty, que se o pesquisador imaginar todas as
relações implicadas por um fenômeno e o fizermos
variar, pela imaginação, tudo o que não puder
ser variado sem que o objeto desapareça é uma essência.
A Fenomenologia, apesar de se situar como uma ciência rigorosa,
não se acha descrita metodologicamente de forma prescritiva,
o que levou Martin Heiddegger, discípulo de Husserl a escrever
uma frase que ficou famosa: “compreender a Fenomenologia
é apreender suas possibilidades”. Como a fenomenologia
fez escola, alguns dos seus pesquisadores realizaram esforços
de apresentação compreensiva do método. Bruyn,
por exemplo, fez uma releitura do trabalho de Spigelberg, onde se
identificam sete “passos” do método fenomenológico,
a saber:
1. Investigar fenômenos
particulares
2. Investigar essências gerais
3. Apreender as relações essenciais entre as essências
4. Observar os modos de aparecimento
5. Observar a constituição dos fenômenos na
consciência
6. Suspender a crença na existência do fenômeno
7. Interpretar o significado do fenômeno. (BRUYN,
1970. p. 284)
Miles e Huberman (1994) tecem outra consideração metodológica
sobre o trabalho dos fenomenologistas. Eles afirmam que os pesquisadores
desta orientação freqüentemente trabalham com
transcrições de entrevistas e que são cuidadosos
na condensação deste material. Evitar-se-ia o uso
de codificação, mas trabalhar-se-ia fazendo releituras
continuadas nas fontes primárias com cuidados para com suas
próprias pressuposições para capturar-se a
essência (o lebenswelt do informante). Podemos adicionar
que os discípulos da fenomenologia empregam outros métodos
que não a leitura de entrevistas transcritas, utilizando
também a observação participante.
Parece-nos que a fenomenologia tem seu lugar nas ciências
humanas e sociais e que a tentativa de empregá-la como método
de análise de objetos próprios das ciências
naturais é infrutífero, posto que eles se acham despidos
de intencionalidade ou de consciência de si. Neste campo a
aparência estaria mais “próxima” das essências;
os determinismos são mais patentes e, por tal, os métodos
empírico-formais são mais produtivos, já que
se focalizam na identificação de regularidades e conseqüente
construção teórica, seja pela via da indução,
seja pela do método hipotético-dedutivo.
Miles e Huberman situam a fenomenologia, a semiótica, o desconstrutivismo
estético, a etnometodologia e a hermenêutica em uma
única categoria de linhas de metodologia de pesquisa, denominada
interpretativismo. Eles consideram que apesar de suas diferentes
ênfases e variações, há uma linha comum
de ação e compreensão.
O Que é Pesquisa Qualitativa?
Um bom número de autores entende a pesquisa qualitativa como
sendo uma pesquisa cujas variáveis não podem ser mensuradas
a nível intervalar ou de razão. PARASURAMAN (1986),
por exemplo, define-se nesta linha:
“Pesquisa qualitativa envolve
coletar, analisar e interpretar dados que não podem ser
significativamente quantificados, isto é, sumarizados em
forma de números. Por esta razão a pesquisa qualitativa
é algumas vezes considerada como uma pesquisa soft.”
(PARASURAMAN, 1986. p. 240)
Sampson leva esta concepção
às suas conseqüências:
“A pesquisa qualitativa
é usualmente exploratória ou diagnóstica.
Ela envolve um número pequeno de pessoas que não
estão amostradas em uma base probabilística. Elas
podem, contudo, serem selecionadas para representar diferentes
categorias de pessoas de um mercado-alvo ou segmento da comunidade.
Em pesquisa qualitativa nenhuma tentativa é feita para
obter conclusões rápidas e sólidas (hard)”
(SAMPSON, 1991. p. 29)
Estas visões estão
associadas à concepção empírico-formal
de ciência. Outros autores defendem uma definição
um tanto diferente de pesquisa qualitativa.
Kirk e Miller ampliam o conceito de pesquisa qualitativa dizendo
que ele pode ser visto a partir de duas óticas: a ótica
da “oposição à quantidade”
e a da tradição das ciências sociais que “fundamentalmente
dependem da observação de pessoas em seu próprio
território e interagindo com elas em sua própria linguagem,
em seus próprios termos”. Eles consideram a primeira
definição limitada e se posicionam da seguinte forma:
“A partir da nossa visão
pragmática, a pesquisa qualitativa implica em um comprometimento
com atividades de campo. Não implica em um comprometimento
com a “inumeração”. A pesquisa
qualitativa é um fenômeno empírico, socialmente
localizado, definido pela sua própria história,
não apenas um “saco de gatos” que compreende
todas as coisas que não são quantitativas.”
(KIRK e MILLER, 1988. p. 10)
Eles adotam uma posição epistemológica interessante.
Se por um lado não crêem que o mundo externo determina
absolutamente a única e correta forma visão que se
pode ter dele (positivismo) pelo outro lado criticam a
posição oposta e extrema de que é possível
encontrar explicações alternativas para tudo e com
isto desistir de fazer qualquer esforço de escolha entre
elas (relativismo). Recordam-nos de que há um outro
lado da objetividade: a de que o mundo externo existe, apesar de
tudo (realismo).
Posição semelhante é a de Miles e Huberman
(1994) que se definem como “realistas transcendentais”
por acreditarem que o fenômeno social não existe apenas
na mente, mas também no mundo objetivo e que algumas relações
estáveis podem ser encontradas entre eles.
Glazer e Strauss (1970) criticam a concepção empirista-formal
da teoria científica, como a concepção de Sampson
apresentada acima, e defendem que a pesquisa qualitativa não
é uma preliminar da pesquisa quantitativa, mas que pode ser
a base da formulação e descoberta de “teoria
substantiva”. Os métodos clínicos têm
sido a base de inúmeras teorias em Psicologia. A psicanálise
e a epistemologia genética de Jean Piaget são exemplos
de teorias que se tornaram globalmente difundidas. Nas ciências
sociais, a etnometodologia e o interacionismo simbólico têm
sido construídos a partir dos métodos qualitativos,
quase que exclusivamente.
Em um outro extremo temos a definição de um cientista
social, Cicourel (1969), que seria considerado relativista por Miles
e Huberman, já que ele considera semelhantes o dogma religioso
e a ciência, considerando-os ao mesmo tempo como corpos de
conhecimento e ideologias, já que ambos possuem “seus
próprios pressupostos teóricos, métodos e regras
para admitir proposições para o seu respectivo corpo
de conhecimento”. Ele entende que “o mundo
dos “observáveis” não está
simplesmente “lá fora” para ser descrito
e medido com os sistemas de mensuração da ciência
moderna, mas o curso dos eventos históricos e das ideologias
de uma dada era pode influenciar o que está “lá
fora” e como estes objetos e eventos devem ser percebidos,
avaliados, descritos e medidos”. (CICOUREL,
1969. p. 38). Com base nesta perspectiva, ele evita a análise
de métodos pela via da distinção entre sistemas
científicos e metafísicos, ou se representam ideologias
particulares, mas considera-os todos como meios de obter conhecimento
sobre o mundo social.
Ely et al. (1996) também definem
a pesquisa qualitativa de uma perspectiva diferente, que não
pode ser considerada relativista como a de Cicourel, mas fenomenológica.
Estas autoras consideram pouco compreensivo definir o termo “pesquisa
qualitativa”, sendo melhor analisar características
comuns de seus métodos. Elas identificam cinco características
que consideram comuns a todo tipo de pesquisa qualitativa:
1. Os eventos só podem
ser entendidos adequadamente se eles são vistos no contexto.
Por isto, o pesquisador qualitativo imerge-se no “setting”.
2. Os contextos de questionamento
não são planejados, eles são naturais. Nada
é predefinido ou suposto.
3. Os pesquisadores qualitativos
querem que aqueles que são estudados falem por si mesmos,
para que forneçam suas perspectivas em palavras e outras
ações. Conseqüentemente, a pesquisa qualitativa
é um processo interativo no qual as pessoas estudadas ensinam
ao pesquisador sobre suas vidas.
4. Os pesquisadores qualitativos
presenciam a experiência como um todo, não como variáveis
separadas. O objetivo da pesquisa qualitativa é compreender
a experiência de forma global².
5. Os métodos qualitativos
são apropriados às afirmações acima.
Não há um método geral.
6. Para muitos pesquisadores
qualitativos, o processo em seu curso fornece uma avaliação
do que foi estudado”.
(ELY et al., 1996. p. 4)
As autoras sintetizam bem em seu texto as diretrizes interpretacionistas
para a pesquisa qualitativa, mas certamente não compreendem
com elas o tipo de investigação realizado por cientistas
como Parasuraman. Isto nos conduz às considerações
finais deste despretensioso trabalho.
¹ ZILLES (1994) mostra a distinção que o pensador
austríaco faz entre o transcendental e o transcendente. Enquanto
o primeiro é fruto da consciência, o último
termo é empregado referindo-se ao mundo exterior.
² “..to understand experience as unified.”
A Pesquisa Qualitativa
entre a Matriz Hermenêutico - Fenomenológica e a Matriz
Empírico-Formal
Não foi difícil mostrar que em
meio aos chamados cientistas humanos e sociais, incluindo-se aí
os que laboram no campo da administração, há
uma multiplicidade de concepções de ciência.
Selecionamos duas orientações, seguindo a proposta
de Zilles, que designamos como “matrizes”,
posto que não se trata de aplicar um método para uma
disciplina (como a física) e outro para outra (como a medicina).
Trata-se de entender que mesmo dentro de uma dada disciplina, especialmente
aquelas cujo objeto se acha em clara interação com
o homem e sua cultura, é-se passível de aplicar métodos
de pesquisa qualitativa com bases fenomenológico-hermenêuticas
ou com bases empírico-formais.
Geralmente, quando se usa o conceito “pesquisa qualitativa”
está se dizendo “pesquisa não-quantitativa”,
ou seja, que por algum motivo não construiu suas conclusões
a partir da análise matemática das suas variáveis,
que por sua vez não foram mensuradas a nível intervalar
ou de razão. Sempre que se define assim, está se dizendo
que se aceita a matriz empírico-formal como referência
epistemológica (única) para a construção
do conhecimento, que se está procedendo segundo as suas prescrições
metodológicas mas que se reconhece uma limitação
da pesquisa: seja o desconhecimento teórico do fenômeno
específico (ausência de variáveis conhecidas)
que demanda uma pesquisa exploratória, seja a desconfiança
da capacidade de um modelo teórico aceito explicar corretamente
um fenômeno, seja a impossibilidade de se mensurar um número
significativo de variáveis a nível nominal, tudo isto
justificaria o emprego da pesquisa qualitativa como uma préetapa
ou uma etapa confirmatória do desenvolvimento teórico
(uma teoria de regularidades).
Considerando-se a matriz hermenêutico-fenomenológica,
entretanto, o termo pesquisa qualitativa assume uma dimensão
totalmente diferente diante da construção teórica.
Aqui se parte da crítica da metodologia empírico-formal
como incapaz de construir teorias válidas, especialmente
com relação a fenômenos que pressupõe
a subjetividade ou ação subjetiva e intencional dos
atores sociais. Neste cenário, não se buscam regularidades,
mas sim a compreensão das opções dos agentes,
daquilo que os levou singularmente a agir como agiram. Só
é possível esta empreitada ouvindo os sujeitos a partir
de sua lógica e exposição de razões.
Quando muito, pode-se identificar crenças compartilhadas
mais ou menos por grupos sociais, ou seja, cultura, sem pressupor
que ela seja uma categoria estática no tempo e no espaço,
mas uma categoria analítica em permanente transformação.
Desta forma, a análise da linguagem (ou análise do
discurso) parece ser mais produtiva que a análise matemática.
Na matriz empírico-formal, tem-se a análise a partir
de objetos, mesmo que estes sejam produções ideológicas
de uma pessoa ou grupo social. Isto leva seus críticos a
atentarem para o fenômeno da reificação, que
neste sentido seria a transformação em objeto daquilo
que não o é.
Na matriz fenomenológico-hermenêutica tem-se a análise
a partir da percepção do sentido das produções
do sujeito, em busca de essências e de compreensão,
através da intersubjetividade, o que leva seus críticos
a atentarem para o fenômeno da subjetividade, no sentido de
uma certa arbitrariedade do pesquisador na construção
de suas teorias, assim como de uma dificuldade de verificação
ou falsificação destas.
Entendemos que os dois métodos produzem conhecimento, mas
cabe ao pesquisador senso crítico e clareza sobre seus objetos
e objetivos, assim como a explicitação suficiente
das matrizes epistemológicas que estão em uso a fim
de não se perder em sua pesquisa e se fazer compreendido
por seus pares. Concluímos também que a medida em
que objetividade e subjetividade se entrecruzam no objeto de pesquisa,
torna-se mais complexo fazer escolhas metodológicas.
Fontes Bibliográficas
BACON, Francis. Novum organum ou verdadeiras
indicações acerca da interpretação da
natureza. São Paulo: Nova Cultural, 1988. [Coleção
“Os Pensadores”]
BRANDÃO, Helena H. N. Introdução à análise
do discurso. São Paulo: Editora da UNICAMP, 1996.
BRUYN, Severyn. The new empiricists: the participant observer and
phenomenologist. In: FILSTEAD, William. Qualitative methodology:
firsthand involvment with the social world. Chicago: Rand McNally,
1970.
CHAUÍ, Marilena. Husserl: Vida e Obra. São Paulo:
Nova Cultural, 1988. [Coleção “Os Pensadores”]
CICOUREL, A. Method and measurement in sociology. New York: The
free press, 1969.
DE BRUYNE, Paul, HERMAN, Jacques, DE SCHOUTHEETE, Marc.Os processos
discursivos. In: Dinâmica da pesquisa em ciências sociais.
Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1991.
ELY, Margot et. al. Grounding. In: Doing qualitative research: circles
within circles. London: The Falmer Press, 1996
GLASER, B., STRAUSS, A. L. A discovery of substantive theory: a
basic strategy underlying qualitative research. In: FILSTEAD, William.
Qualitative methodology: firsthand involvment with the social world.
Chicago: Rand McNally, 1970.
HUME, David. Investigação acerca do entendimento humano.
São Paulo: Nova Cultural, 1988. [Coleção “Os
Pensadores”]
HUSSERL, Edmund. Elementos de uma elucidação fenomenológica
do conhecimento. In: Investigações Lógicas.
São Paulo: Nova Cultural, 1988. [Coleção “Os
Pensadores”]
JUNG, Carl G. A prática da psicoterapia. Petrópolis:
VOZES, 1985.
KIRK, Jerome, MILLER, Marc L. Reliability and validity in qualitative
research. London: Sage, 1988.
MARTINS, Gilberto. Abordagens metodológicas em pesquisas
na área de Administração. Revista de Administração,
São Paulo, v.32, n. 3, p. 5-12, jul/set 1997.
MILES, M., HUBERMAN, A. Michael. Qualitative data analysis. California:
Sage, 1994.
PARASURAMAN, A. Qualitative research. In: Marketing research. Canada:
Addison-Wesley, 1986.
SAMPSON, Peter. Qualitative research and motivation research. In:
WORCESTER, Robert R. Consumer market research handbook. Amsterdam:
ESOMAR, 1991.
VALVERDE, José María. História do pensamento.
São Paulo: Nova Cultural, 1987.
ZILLES, Urbano. Teoria do conhecimento. Porto Alegre: EDIPUCRS,
1994.
Destaques
"...a pesquisa qualitativa não é uma pesquisa
para a qual não se teve fôlego para estudar um número
suficiente de eventos que permitam generalização,
nem está às voltas com um tipo de objeto que permite
apenas uma mensuração não-métrica e
muito menos é uma abordagem menor da ciência porque
não consegue estabelecer com fundamento leis que estabelecem
relações determinantes ou probabilísticas entre
eventos. Trata-se de um tipo de pesquisa própria para a análise
em profundidade de fenômenos onde se pressupõe, ou
se busca entender melhor, a singularidade ou a subjetividade."
A idéia que o conhecimento científico é um
tipo de conhecimento verdadeiro, e que a aplicação
da metodologia científica conduz à obtenção
da verdade, é um mito de difícil sustentação
se o leitor se dispuser a analisar atentamente os pressupostos sobre
os quais se constrói uma dada teoria epistemológica.
Grosso modo, temos então uma noção de ciência,
que seria um método de produção de conhecimento
verificável e acumulável, que estabelece nexos de
causalidade entre fenômenos, a partir da observação
sistemática e experimentação de fenômenos
naturais com a finalidade de identificarem-se, por generalização,
regularidades (leis) passíveis de descrição
matemática.
Este problema não é diferente nas ciências administrativas,
posto que têm por objeto as organizações de
trabalho constituídas por seres humanos. Se por um lado é
possível estabelecer regularidades que parecem ser universais
às relações de troca (lei de oferta e procura
nas ciências econômicas), da mesma forma temos as organizações
com suas singularidades (os transplantes de modelos administrativos,
por exemplo), gerando outputs diferentes daqueles que seriam esperados
por um certo modelo administrativo.
Neste cenário, não se buscam regularidades, mas sim
a compreensão das opções dos agentes, daquilo
que os levou singularmente a agir como agiram. Só é
possível esta empreitada ouvindo os sujeitos a partir de
sua lógica e exposição de razões. Quando
muito, pode-se identificar crenças compartilhadas mais ou
menos por grupos sociais, ou seja, cultura, sem pressupor que ela
seja uma categoria estática no tempo e no espaço,
mas uma categoria analítica em permanente transformação.
Pesquisa
Qualitativa Entre a Fenomenologia e o Empirismo-Formal
Jáder dos Reis Sampaio
Professor aposentado da Universidade Federal de
Minas Gerais. Psicólogo formado pela UFMG, Especialista em Psicologia
do Trabalho pela Universidade de Brasília - UnB, Mestre em Administração
pela UFMG e Doutorando em Administração pela Universidade
de São Paulo - USP.
Artigo publicado originalmente na Revista de Administração
da Universidade de São Paulo
SAMPAIO, Jáder dos Reis. A pesquisa qualitativa
entre a fenomenologia e o empirismo formal.
Revista de Administração. São Paulo, v. 36, n.
2, p.16-24, abr/jun 200
História & Pesquisa
Seção em parceria com a "Liga
de Historiadores e Pesquisadores Espíritas"
Comitê Editorial da LIHPE
Autor: Jáder dos Reis Sampaio
País: Brasil
Boletim GEAE
Grupo de Estudos Avançados Espíritas
http://www.geae.inf.br
Ano 12 - Números 480 à 483 - 2004
topo
—
Visitem o blog de Jáder Sampaio:
> Espiritismo Comentado - http://espiritismocomentado.blogspot.com.br
Leiam outros textos de Jáder Sampaio:
>
Ação social espírita no século XXI
>
Allan Kardec advoga uma certeza instintiva da existência de Deus?
>
Allan Kardec e o Islamismo
>
Allan Kardec e os diferentes espíritas
>
Alma, Espíritos e espírito: qual a diferença para
Allan Kardec?
>
André Luiz : Cruz ou Chagas
>
Apocalipse Gnóstico de Paulo de Tarso e a Reencarnação
(O)
> Astrid
Sayegh - entrevista por Jáder Sampaio
>
As bases científicas do espiritismo por Delanne
>
Boicote na Casa Espírita
>
Caçadores de Bruxas
>
Carlos Imbassahy e a jovem médium Aurora
>
As Cartas Psicografadas de Chico Xavier
>
Carlos Alvarado escreve sobre possibilidades de estudos de transe mediúnico
>
A Casa de Chico Xavier
>
O Chico dos Pobres
>
Chico Xavier e Roberto Muskat
>
A Ciência como empreendimento coletivo
>
Cientista norte-americana escreve sobre passes e desobssessão no
Brasil
>
Cinco Espíritos escrevem por dois médiuns: Chico Xavier
e Divaldo Franco
>
Com o Chico no cinema
>
Como estudar Hermínio Miranda no Centro Espírita?
>
Como foi e vem sendo construído o Movimento Espírita no
Estado de São Paulo?
>
Como foi Escrito “O Livro dos Espíritos”?
>
Como foi fundada a Federação Espírita Brasileira?
>
Comunicabilidade dos Espíritos é uma premissa metafísica
no Espiritismo? (A)
>
Construção da Psicologia Espírita (A)
>
Convênios de Creches Espíritas com o Poder Público
>
Criptestesia de Charles Richet e a Hipnose (A)
>
Curiosa ligação de uma médium de Pernambuco com uma
instituição de São Bernardo do Campo (A)
>
Darwin, Deísta; Kardec, Cristão-Espírita
>
Delanne : pesquisador de Espiritismo
>
Deolindo Amorim conhece Carlos Imbassahy
>
Deus criou o vírus da Covid-19?
>
Devem os Centros Espíritas Manter Creches?
>
As Diferentes reuniões públicas, de Estudo e de formação
dos trabalhadores espíritas
>
Os dois conceitos de natureza em Allan Kardec
>
Educação Espírita da Criança
>
EIDÔLON ou Sombra: em busca da ideia de Perispírito na Grécia
Antiga
>
Encontrando Jesus a partir da análise dos Evangelhos
>
A Experiência religiosa afeta o cérebro?
>
Espiritismo: Ciência Natural ou Filosofia?
>
Espiritismo: crença compartilhada ou doutrina filosófica?
>
Espiritismo é a Verdade Absoluta?
>
Espiritismo e Totalitarismo: História do Espiritismo na Hungria
>
Espiritismo, Misticismo, Sentimento Religioso e Positivismo: uma resposa
de Léon Denis
>
O Espiritismo na Áustria
>
Espiritismo na Universidade?
>
Espiritismo na Zona Rural Fluminense
>
Espiritismo ou espiritismo?
>
Estudo sem Conteúdo
>
Estupro de menor e aborto - que pensar?
>
Éthos, Sincretismo e Identidade do Espiritismo Brasileiro
>
Flammarion : um astrônomo diante do mundo dos Espíritos
>
O Gênio céltico : traduzida a obra mais polêmica de
Léon Denis
>
Grupo da Fraternidade Irmã Ló
>
Há milagres
>
Há um século e meio - Viagem espírita de 1862
>
Herculano Pires, Ernest Renan e Charles Guignebert
>
A Humildade de Deolindo Amorim
>
A Importância do vínculo psicológico na evangelização
de crianças de comunidades
>
Iniciativas Brasileiras e Francesas de preservação da Memória
Espírita
>
O Insight de Allan Kardec
>
Interrupção temporária da mediunidade
>
As Irmãs Fox, Conan Doyle e o Espiritismo Brasileiro
>
Isolamento de Grupos nos Centro Espírita
>
Judeus e Helenistas no Cristianismo Nascente em Jerusalém
>
Kardec, a Alma do mundo e o Panteísmo
>
Kardec e Husserl: um anacronismo?
>
Kardec e o ensino moral de base cristã
>
Kardec, o filme na sala de aula
>
Lammenais, a Religião e Allan Kardec
>
Letargia e Catalepsia
>
A LIHPE, a Universidade e o Movimento Espírita
>
O Livro dos Médiuns: esse desconhecido
>
Livros, tablets, downloads e pirataria: uma conversa necessária
e cultura em uma organização do terceiro setor
>
O Médium de Jerônimo de Praga estudou o Cristianismo
>
Mediunidade no Laboratório (A)
>
Mediunidade : pesquisa e história
>
Mediunidade e Tipos Psicológicos
>
Mediunidade Intuitiva
>
Meu filho deve ir para a Mocidade antes do tempo?
>
Muitos resultados negativos na análise de cartas psicografadas
por médiuns brasileiros
>
Museu Histórico, Museus Espíritas
>
Nos Bastidores da Obsessão e "O Céu e o Inferno"
>
Origem da restrição às evocações de
espíritos no Brasil
>
Orígenes, Reencarnacionista Cristão?
>
A Páscoa e os espíritas
>
Pedro, Tu me Amas?
>
Pequenas editoras, Grandes autores
>
A Pesquisa Qualitativa Entre a Fenomenologia e o Empirismo-Formal
>
Pesquisadores norte-americanos estudam médiuns - Julie Beischel
(PhD) e Gary Schawrtz (PhD) publicaram na revista Explore, os resultados de
uma pesquisa com médiuns de base experimental
>
Por que acreditamos em reencarnação?
>
A Prática de Aborto afeta a saúde mental da mulher?
>
Prece diminui enxaqueca?
>
O Problema da Territorialização das Sociedades Espíritas
>
Os Profetas entre os Judeus, os Cristãos e os Espíritas
>
Proposta de Associações Municipais de Creches Espíritas
>
Provação, Prova, Expiação e Missão
>
Quais são as diferenças entre "O Evangelho Segundo
João" e os três evangelhos sinóticos?
>
Qual a diferença entre Medicina Alternativa e Medicina Complementar?
>
O que é Medianímico?
>
O que é Monomania, termo psiquiátrico empregado por Allan
Kardec?
>
O que é a Terceira Parte da nossa reunião mediúnica
>
O que são questões filosóficas? A Vida
>
O que um Papel Kraft tem a ver com Deus?
>
Quem é O Sal da Terra?
>
Quem é o próximo?
>
Quem foi Alfred Russel Wallace?
>
"Quem foi Jesus" é encenado em Belo Horizonte
>
A questão de Deus: Kardec, Tomás de Aquino e John Duns Scotus
>
Reencarnação na França antes de Kardec
>
A Religião e a Modernidade
>
Religião pode ser boa para a saúde mental?
>
Resenha do livro O Espiritismo, uma nova filosofia, de Maurice
Lachâtre: entre Kardec, o anarquismo e o socialismo do século XIX
>
Reuniões mediúnicas à distância: psicografar
ou não?
>
Sensações dos Médiuns
>
Schemata
>
Sinais de nascença em "A Tragédia de Santa Maria"
>
Sobre o conceito de Espírito
>
Sofrimento e mecanismos de defesa de voluntários
>
Solstício e o Natal (O)
>
A Teoria da Presciência exposta por Allan Kardec
>
Tertuliano e os Cristãos do Segundo Século
>
Textos Cristãos nos tempos de Paulo de Tarso, segundo Emmanuel
(Os)
>
Texto Evangélico contém mitos? (O)?
>
Trabalhadores, Frequentadores ou Assistidos?
>
Os Trabalhadores da Vinha
>
Trajetória da "Sociedade Anônima" segundo Simoni
Privato - Século XIX
>
Transição: uma visão racional
>
Tratamento "Espiritual" em mulheres com Artrite reumatoite na
Dinamarca
>
Tratamento Espiritual (Healing) beneficia pacientes com sintomas crônicos?
>
Tratamentos semelhantes ao Passe e à Prece: Palavras que permitem
acessar pesquisas científicas
>
Três Diferentes Tipos de Pesquisas sobre a Mediunidade
>
Um estudo compreensivo sobre a psicografia
>
Um Novo Velho Grande Livro : "Mesopotâmia: luz na noite do
tempo", do Espírito Josepho
>
Um pouco mais sobre Deísmo
>
Uma análise de 91 estudos de diferentes formas de tratamentos espirituais
>
Uma dissertação de Mestrado sobre a Epístola de Paulo
aos Coríntios
>
Uma História de Amélie Gabrielle Boudet
>
Uma pesquisa contemporânea sobre mesas girantes
>
União Espírita Mineira publica cobertura completa do 14º
ENLHIPE
>
Vamos?
>
Vidência e Clarividência : uma revisão dos conceitos
na literatura espírita, metapsíquica e parapsicológica
>
Voluntários: um estudo sobre a motivação de pessoas
e cultura em uma organização do terceiro setor
>
Yvonne e o Ambiente Metaetérico
>
Yvonne, as Irmãs de Sion e os detalhes de suas narrativas
>
Yvonne A. Pereira e seus livros
Vejam também:
Alina Gomide Vasconcelos; Jáder dos Reis
Sampaio; Elizabeth Nascimento
>
PMK: Medidas válidas para a predição do desempenho
no trabalho?
>
voltar para a página inicial
topo
|