
Há alguns meses fui convidado
pela direção da reunião pública da Associação
Espírita Célia Xavier para dialogar com o público
sobre o tema “Papel do espírita em uma sociedade em transição”.
Nesse trabalho, preparado originalmente para um encontro no C.E. Thiago
Maior, também de Belo Horizonte, recuperamos o pensamento de
Allan Kardec nos capítulos 16, 17 e 18 de “A Gênese,
os milagres e as predições” de Allan Kardec.
A análise de Kardec sobre as
predições é que elas não são uma
espécie de “filme do futuro”, em que o “profeta”
ou “médium” vê como se fosse um cinema o
que vai acontecer. Ele associa a teoria da presciência a um
agrônomo, por exemplo, que conhece o tempo da floração
e do surgimento dos frutos de uma determinada plantação.
Ele sabe quando deve acontecer, mas não é capaz de prever
incidentes inesperados, como uma chuva de granizo que impeça
o surgimento das flores e dos frutos. Quanto maior o conhecimento
de um espírito, maior a capacidade dele falar de coisas que
virão, embora não possa prever as escolhas das pessoas
Isso é muito importante para
entendermos a visão de transformação e de transição
no pensamento de Allan Kardec. Ele faz uma interpretação
do discurso apocalíptico de Jesus, o chamado Sermão
Profético, como contendo descrições fortes para
sensibilizar um povo com mentalidade rude. As guerras, os cataclismos
e outras coisas descritas no sermão seriam apenas símbolos
de conflitos de valores e de princípios que deveriam ser compartilhados
no mundo, no futuro. Jesus defende uma sociedade regida pela fraternidade
e solidariedade, ou seja, um mundo no qual todas as pessoas se tratam
como merecedoras de respeito e que compartilham o mesmo status de
sujeitos de direito, ou seja, como se diz, são iguais diante
da lei (dos homens e de Deus).
Kardec chama a nossa atenção
para o progresso material e moral do mundo. Reafirma que o progresso
material, que tem por base o desenvolvimento do conhecimento, antecede
o progresso moral. As transições podem ser lentas e
graduais ou bruscas. Ele também diz que algumas partes do mundo
podem avançar mais rapidamente que outras.
O que se conclui é que a transição
defendida por Allan Kardec não é a espera de
um momento mágico a partir do qual se declara que o mundo deixou
de ser de expiações e provas e se tornou um mundo de
regeneração. Não é uma data.
Não é uma declaração de entidade espiritual.
É um processo de transformação das pessoas e
das sociedades, uma mudança de mentalidades que gera transformações
nas leis e na forma que vivemos.
Fonte: https://espiritismocomentado.blogspot.com/2021/01/transicao-uma-visao-racional.html?spref=fb