
Em nossa reunião mediúnica,
há um mês ou dois, estávamos em uma sala muito
quente e abafada. O ventilador não conseguia, senão
circular ar quente entre os membros, quando terminamos a parte de
estudos e iniciamos as comunicações com os espíritos.
Em pouco tempo, três comunicações simultâneas
deram início.
Uma das comunicações despertou o tema deste texto.
A médium começou a sentir frio, e o espírito
relatou um acidente em um local muito frio, que provocou sua desencarnação.
Como a médium pode sentir frio em um local tão quente?
Se o espírito comunicante não está mais encarnado
e também não se encontra no local em que desencarnou,
por que relata sentir frio?
Nas pessoas encarnadas as sensações são frutos
dos órgãos dos sentidos. Os olhos são uma espécie
de transdutores de luz, que transformam as ondas luminosas de certa
faixa de frequências em impulsos nervosos. Os ouvidos fazem
o mesmo com ondas sonoras. Paladar e olfato transformam os sabores
e odores; o tato transforma sensações de frio/calor,
pressões sobre o corpo e movimentos. O sistema nervoso leva
os impulsos ao cérebro. A teoria espírita entende
que, no caso dos encarnados, estes impulsos são processados
pelo Espírito, através do perispírito.
Os espíritos desencarnados não têm tato, porque
se encontram desligados do seu organismo. Como podem sentir frio?
Após conversar com diversos espíritos, Kardec concluiu
que os relatos de sensações por espíritos são
recordações, memórias (questões 256
e 257 de O Livro dos Espíritos), empregadas para descrever
o estado em que se encontra. O fundador do espiritismo usa a expressão
latina sensorium commune para deixar claro
que não há no perispírito o equivalente aos
sensores da derme ou da audição e que o Espírito
sente como um todo. Em outras palavras, a consciência é
uma faculdade espiritual, e não perispiritual. O Espírito
desencarnado, contudo, ainda tem o registro das sensações
que anteriormente eram recebidas do organismo, podendo trazê-las
à consciência como evocamos uma recordação
de infância.
Por que então, Espírito comunicante, e, por consequência,
a médium, relatavam sentir frio? Por que o Espírito
acreditava estar ainda em meio à neve. Ele não era
capaz de perceber que se comunicava através de uma médium
que estava em uma sala quente, porque se sentia ainda confuso após
a desencarnação. O frio que a médium sentia
é, portanto, uma percepção profunda da consciência
um pouco perturbada do espírito comunicante.
Em situações como esta, dar a notícia da desencarnação
é menos importante que dialogar com o comunicante. Ao nos
relatar suas vivências, sentimentos e sensações,
ele vai aos poucos organizando sua experiência e assenhorando-se
dela. Ele pode passar de um estado de confusão, a um estado
em que é capaz de se comunicar com outros espíritos
em melhor estado, capazes de auxiliá-lo.