Um espírita de muitos anos
de casa perguntou-nos qual era a diferença entre expiação,
prova e missão. Resolvi inserir também o conceito
de provação, empregado por Kardec em sua obra.

Kardec usa missão como uma
tarefa que um espírito se coloca ou concorda em realizar
a pedido de seus superiores. Como toda tarefa, ela tem suas dificuldades,
mas estas não se acham ligadas a erros do passado, são
apenas “ossos do ofício”. Alfred Schweitzer,
por exemplo, tomou como missão pessoal a construção
do hospital em Lambaréné, no Gabão - África
e seu trabalho como cirurgião. Ele já era um organista
de sucesso e um teólogo cristão, quando decidiu realizar
esta tarefa. Embora desconheçamos o passado de Albert, se
ele não tiver nenhuma dívida do passado com a comunidade
africana, podemos considerá-lo um missionário.

Fotos de Lambaréné por Joel
Mattison
O dicionário Houaiss definiu provação
como “situação aflitiva ou sofrimento muito
grandes, que põe à prova a força moral, a fé
religiosa, as convicções de um indivíduo”
e ao definir prova ele coloca como sinônimo de provação.
Aceitar este conceito tem uma consequência importante no entendimento
espírita da vida. Nem todas as situações que
passamos são remissões de erros passados. O sofrimento
não é necessariamente algo articulado à culpa
e ao erro, mas pode ser uma circunstância da vida que nos
possibilita o autoconhecimento, mobiliza nossas energias e talentos.
Mais importante que explicar ou dar sentido ao sofrimento empregando
a reencarnação, o conceito de prova ou provação
põe ao ser humano consciente e lúcido a tarefa de
saber superá-lo.
As provas costumam ser objeto de escolha dos espíritos minimamente
lúcidos ainda antes da encarnação (questão
269 de O livro dos espíritos), mas, como na vida,
ele pode optar por provas que são superiores à sua
força e sucumbir a elas.
Por expiação, o Houaiss entende como “purificação
de crimes ou faltas cometidas”. Seria uma situação
da vida que envolve sofrimento físico ou psicológico,
que se acha ligada a um evento passado, que o sujeito percebe como
errado, ou de cujas consequências não consegue se evadir
facilmente. Os espíritos com quem Kardec dialogou explicam
que encarnações como a das crianças com paralisia
cerebral (ele não usa este termo) geralmente estão
ligadas a algum “abuso temporário” (questão
373 de O livro dos espíritos).
Quando se observa em alguém que passa por uma expiação,
não se pode concluir esta pessoa seja má. Todos cometemos
equívocos, e nenhum de nós, em sã consciência,
consegue sustentar que tem um passado reencarnatório imaculado.
Daí a proposta de tolerância e caridade uns para com
os outros, o que, convenhamos, quase nunca é fácil.