Um outro ponto a ser esclarecido diz respeito à distinção
entre o psicólogo espírita e a Psicologia espírita.
Psicólogo espírita somos nós, portadores
de um registro nos muitos CRPs, que viveram um processo acadêmico
de formação e temos em comum a simpatia pelas idéias
espíritas e a atuação no movimento espírita.
Já a Psicologia Espírita é algo em construção.
Trata-se, ao mesmo tempo, da pesquisa dos fenômenos espirituais,
deixados à parte e tratados de forma preconceituosa pelas
universidades dos dois últimos séculos, e do emprego
de princípios próprios ao Espiritismo, decorrentes
dessa pesquisa, na prática psicológica.
A Psicologia Espírita não deve ser construída
como “mais uma linha ou escola psicológica”
ou como uma prática clínica alternativa, mas como
uma área da Psicologia que tem como objeto de estudo os
fenômenos espirituais. Como se sabe, a Ciência e a
Filosofia não se constituem apenas da publicação
de pesquisas ou da postulação de idéias articuladas
segundo a razão, mas dependem da aceitação
dessas por uma comunidade científica e/ou filosófica.
A construção de uma Psicologia Espírita,
portanto, pressupõe a interlocução com a
comunidade dos Psicólogos. Neste processo de interlocução,
não se faz necessário que todos os psicólogos
concordem com as idéias espíritas, (mesmo porque,
se este pré-requisito fosse fundamental, não existiria
Psicologia, nem Ciência e muito menos Filosofia). Faz-se
necessário que reconheçam como legítimos
os métodos empregados para a construção deste
novo campo da Psicologia e respeitem os frutos obtidos a partir
de sua aplicação. Concomitante a este processo de
construção da Psicologia Espírita como disciplina,
faz-se indispensável a reflexão ética sobre
as suas possíveis aplicações. Esta, também,
não se faz “a portas fechadas", ou seja, apenas
em meio aos simpatizantes.
Uma das missões do psicólogo espírita no
terceiro milênio é a construção da
Psicologia Espírita. Como se vê, esta é uma
missão que não depende apenas dos psicólogos
espíritas, mas os senhores hão de convir que eles
são agentes fundamentais.
A análise da viabilidade deste projeto inclui a apreciação
dos aspectos filosófico e científico do Espiritismo.
Estes, por sua vez, têm esbarrado historicamente em situações
de preconceito por parte da comunidade científica, como
disse há pouco.