Hoje fui ao cinema com a minha filha
que está de gesso no pé, mas se recuperando bem. Conseguimos
uma cadeira de rodas no shopping, para que ela não
tivesse que se deslocar de muletas e fomos assistir um cinema em
família. A jovem na cadeira de rodas chamava a atenção
das pessoas, que a olhavam com diversos estados de espírito,
entre a dúvida e a piedade. As crianças não
escondiam algum comentário com as mães, sempre generosos
ou engraçados.
Ao fim do filme, uma das funcionárias
do cinema nos atendeu com muita gentileza, facilitando a saída,
informando sobre os espaços para cadeira de rodas e consolando
minha filha, dizendo-lhe que em breve estaria andando novamente.
Acolhemos com simpatia a generosidade dessa funcionária,
que se sentiu respeitada e segura conosco. A conversa com minha
filha foi até o ponto em que ela recomendou que aproveitasse
o convívio com a mãe, que compunha o nosso trio, quando
ela se emocionou. Ela nos disse que sua mãe havia ido há
três meses, e que ela sentia muita saudade. Sabia que a mãe
estava bem, mas nunca mais receberia um abraço dela.
Eu reagi como de costume, disse-lhe
que ainda iria rever a mãe, mas ela não escutou.
Imediatamente, recordei a narrativa
do John. Ele dizia que muitas pessoas levavam sua dor para o Chico
e que uma vez ele ouviu uma mãe narrar a dor de perder a
filha. O ímpeto dele foi de falar alguma coisa que normalmente
dizemos, como “o tempo vai diminuir a sua dor”, ou “não
fique triste”, ou ainda alguma frase daquelas que visam diminuir
a manifestação de sofrimento, mas que expressam apenas
a nossa incapacidade de entendê-lo ou nosso desejo oculto
de afastá-lo de nós.
O Chico apenas abraçou e
chorou. Chorou com a mãe. E o ato de perfeito entendimento,
de empatia na dor, parece que tinha seu efeito mágico. O
choro aliviava. Ela não estava mais sozinha em sua dor.
Quando me lembrei, quis abraçar
também a funcionária, mas não seria conveniente.
Entendi que o Chico não apenas fazia a coisa certa, mas criou
o lugar certo e um momento socialmente aceito para que as dores
pudessem ser repartidas. Eu entendi como era singelo e, ao mesmo
tempo, grandioso, o trabalho que esse homem fez. Alguém com
óculos diferentes dos meus, geralmente critica o que o Chico
fazia, como assistencialismo ou sensacionalismo baratos. Geralmente
são pessoas que enxergam o homem apenas com suas necessidades
fisiológicas, de segurança e de conhecimento, visto
como arte e cultura. Eles não estão errados, apenas
são incapazes de compreender o que fazia o médium
das Minas Gerais.
Agradeço ao John Harley ter
compartilhado seu mundo íntimo. Nos dias de hoje, foi um
ato de coragem.