Sandra Jacqueline Stoll é professora do Departamento de Antropologia
da Universidade Federal do Paraná (UFPR), com doutorado em
Antropologia pela Universidade de São Paulo (USP). É
membro do NAU (Núcleo de Antropologia Urbana da USP) e coordenadora
do Nuarp (Núcleo de Arte, Ritual e Performance da UFPR). É
autora de Espiritismo à brasileira (Edusp/Orion, 2003).
A discussão sobre o comprometimento da ética
religiosa com os sistemas econômicos é um tema clássico
da tradição sociológica, campo em que a produção
de Max Weber figura como paradigma. Hoje, porém, o tema não
se coloca nos mesmos termos: a clássica discussão sobre
a relação entre ética religiosa e economia vem
cedendo espaço à investigação das práticas
monetárias correntes no campo religioso e suas conseqüências
éticas.
No Brasil a discussão sobre o tema vem ganhando espaço
nos estudos socioantropológicos, freqüentemente remetendo
ao universo evangélico e dos cultos afro-brasileiros (1). O
presente artigo tem a intenção de estender a discussão
ao campo espírita, até o momento não considerado
no contexto desse debate (2). Recorro, para tanto, a um estudo de
caso sobre a família Gasparetto, cuja trajetória recente,
marcada pela aproximação do ideário da chamada
“Nova Era” e das práticas de “auto-ajuda”,
tem se des tacado pelo consórcio entre a mediunidade e a produção
de inúmeros itens que circulam no mercado neo-esotérico
e/ou de auto-ajuda, dentre eles: livros, fitas de vídeo e discos,
além de cursos, palestras e workshops. Essa prática,
realizada com fins lucrativos, tem suscitado o questionamento de um
dos fundamentos da prática espírita: o exercício
da mediunidade como prática de caridade.