Espiritualidade e Sociedade



Mauro M. Spínola

>     O Centro Espírita e a Sociedade

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Mauro M. Spínola
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O CENTRO ESPÍRITA E A SOCIEDADE


Colocar o centro espírita diante das questões sociais envolve muito cuidado. Não porque a temática social seja perigosa, como muitos pensam, mas sim porque uma análise do centro espírita sempre corre o risco de levantar propostas estáticas e condicionantes, que apenas substituem as anteriormente aceitas, mas que não levam em consideração o caráter dinâmico do progresso humano e social. Tentarei, tanto quanto possível, superar essa dificuldade.

Começarei por considerações relativas a estrutura dos centros espíritas para depois enfocar as suas relações com a sociedade.



I - O QUE É CENTRO ESPÍRITA?


Assumirei no contexto deste trabalho que o centro espírita é uma associação de pessoas encarnadas, de homens. Poderia, por opção, abranger também os espíritos desencarnados nessa associação, já que os centros espíritas contam, em geral, com a participação ativa dos espíritos. Os motivos pelos quais não farei isso são os seguintes:

a) Considero que o centro espírita é organizado e dirigido por homens, tendo espíritos desencarnados como convidados. Desta forma, qualquer estudo relativo a estrutura, atividades, métodos, prioridades e direcionamento doutrinário em um centro espírita passa, necessariamente, pelo comportamento dos homens que o compõem;

b) São os homens que participam da vida social, contexto em que quero analisar o centro espírita.


Os homens do centro espírita estão associados por um objetivo comum.

Realizam reuniões, estudam livros, atendem pessoas necessitadas, constróem uma sede, conhecem-se mutuamente, confraternizam-se, erguem uma placa e assumem perante todos: são espíritas e assim querem ser identificados. O objetivo que os une é tão forte, que aos poucos formam uma verdadeira comunidade, que cresce, fortifica-se e acaba por ocupar boa parte de suas vidas.

Cabe perguntar: qual é esse objetivo? Impossível encontrar uma resposta válida para todos os grupos. Com certeza esse objetivo varia segundo fatores culturais, a ponto de podermos encontrar dois centros espíritas com objetivos (e portanto atividades) completamente diferentes. Num centro, maior ênfase é dada aos conhecimentos do espiritismo, num outro se dá maior valor à prática da mediunidade, num terceiro as pessoas se dedicam prioritariamente ao atendimento de necessitados, num quarto centro a cura é o maior objetivo, e assim por diante.

Seria de se esperar que o uso da palavra “espírita” ao menos identificas-se um compromisso dos grupos com o espiritismo, mas nem mesmo nesse ponto os centros espíritas são unânimes. Jaci Regis (1986) assim se expressa sobre esse problema:

“Os centros espíritas parecem, em sua maioria, não ter qualquer compromisso com a doutrina. Desenvolvem atividades baseadas em comunicações esparsas, fraudam as normas e métodos indicados para a mediunidade e, muitas vezes, passam a ser subsidiários do desejo de ‘caridade’ que avassala seus dirigentes, sempre às voltas com sopas, roupas usadas e rifas para obter recursos. Atendem a centenas de pessoas, como o fazem o Rotary, o Lions Clube, e entidades filantrópicas religiosas ou leigas. Admitem que não ensinam o espiritismo para não faltar à caridade”.


O movimento de unificação entre centros tem conseguido resultados positivos no sentido de que se redescubra o espiritismo. Há alguns anos a União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo (USE) aprovou um documento chamado “Carta aos Centros Espíritas”, que passou a ser divulgado em todo o Estado, com propostas para uma maior adequação dos centros espíritas às suas finalidades. Embora seja hoje passível de revisão, esse documento representou um avanço na reaproximação dos grupos com o espiritismo. Hoje a “Carta” é divulgada em todo o Brasil, através do Conselho Federativo Nacional da Federação Espírita Brasileira (CFN/FEB).

Apesar desses esforços, uma análise do panorama atual nos mostra uma grande miscelânea, o que torna impossível responder, com base no que se vê, a questão “O que é Centro Espírita?”

Com essa indefinição não é possível fazer proposta alguma. Para não encerrar o trabalho neste ponto, opto por me fixar em uma conceituação mais precisa de centro espírita. Sabendo a que tipo de grupo o termo se refere, torna-se viável a tarefa de analisar as suas relações com a sociedade e elaborar propostas para enriquecer essas relações.

Seguindo o modelo da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, cujo regulamento é transcrito por Kardec em O Livro dos Médiuns (1981) atribuirei duas características básicas ao centro espírita:

a) Comprometimento com o espiritismo, através do estudo de livros espíritas (incluindo necessariamente as obras de Kardec) e adequação das diversas atividades aos conceitos e métodos próprios da doutrina;

b) Inexistência de hierarquia estática e restritiva, ou seja, igualdade de oportunidade para aprender, praticar e influir.


As ideias apresentadas na sequência do texto aplicam-se aos centros que possuam as características citadas. Ao voltar os seus olhos para a vida social os homens do centro espírita terão a visão de mundo que o espiritismo dá. Não farão análise e propostas baseadas em fatos isolados ou interesses transitórios. Valorizarão a teoria e, a partir dela, construirão a sua prática.

No seio desse centro nasce a consciência dos caminhos a trilhar para a construção de um novo mundo. À medida que o espiritismo é compreendido pelos seus integrantes, mais claro se torna para eles o significado da vida. A realidade se torna mais clara, as contradições do mundo se esclarecem, a verdade aparece, a mentira é desmascarada. Aos poucos, quanto mais o espiritismo ganha suas consciências, mais próximos da realidade ficam. Esse centro espírita dá a cada um a chance de descobrir o mundo enquanto descobre a si mesmo.


II - O CENTRO ESPÍRITA PARA O HOMEM

O espiritismo rompe com as doutrinas que vendem a salvação depois da morte. Não promete nada, não sugere adesão involuntária, não se mostra como o único caminho. Oferece a sua luz sem pedir subordinação, substitui a obediência cega pela atuação consciente e entrega a cada um a responsabilidade pela sua própria vida. Liberta o homem.

A liberdade que o espiritismo oferece é baseada no conhecimento. Compreendendo o significado da vida e a verdadeira natureza de si mesmo, o homem começa a dar passos seguros, deixa de ser joguete das circunstâncias e traça o seu próprio caminho.

É claro que isso não é uma receita de liberdade, pois cada um que se encontrar com o espiritismo reagira a seu modo. Uns darão mais voltas, hesitarão mais, serão mais vagarosos ou passarão por maiores conflitos, enquanto outros encontrarão com maior facilidade o caminho da libertação. Mas para todos o espiritismo traz a liberdade em potencial. Cada um que o aproveite a seu modo.

O centro espírita é a casa do espiritismo e deverá canalizar o potencial libertador da doutrina. Para conseguir isso, deverá antes de tudo ver as pessoas como indivíduos diferentes entre si, com capacidade moral intelectual, anseios preocupações e problemas diferentes. Ao contrário do que fazem os templos religiosos, o centro espírita não pode se propor a uma massificação de ideias e comportamentos. Cabe a ele manter, é bem verdade, um certo zelo com a doutrina, defendendo sua autenticidade, seu caráter racional, e evitando desvios, infiltrações ou distorções, mas não é possível conceber um centro realmente espírita que distribua a todos uma interpretação particular do espiritismo. Estaria boicotando a doutrina, desviando os objetivos do grupo e escravizando as pessoas.

O espiritismo visa o homem. O centro espírita é um dos meios de atingi-lo. O homem do centro espírita transformará a si mesmo e à sociedade se tiver o espiritismo como instrumento. Se o centro espírita inverte essa relação, isolando-se da vida real e exigindo do homem que abandone o seu mundo, está traindo os próprios objetivos do espiritismo. A “paz” que oferece, “não encontrada lá fora”, é uma versão disfarçada da fuga que incentiva. Não vai contribuir para construir ou libertar nada.

O centro espírita é feito para o homem, não o contrário. O homem do centro espírita vai ver o seu dia-a-dia como a continuidade de um movimentado processo evolutivo. Passará a compreender o significado revolucionário da imortalidade e o verdadeiro sentido da vida que vive. Perceberá os detalhes da dialética da evolução: as relações entre os mundos material e espiritual, as mudanças de estado (encarnação/desencarnação) e as influências mútuas entre o livre-arbítrio e a lei de causa e efeito. Entenderá caráter transitório da vida atual, que não pode ser analisada fora do contexto da eternidade, mas ao mesmo tempo valorizará essa vida. Afinal, dentro do vai-e-vem da evolução, que momento não é importante?

O homem do centro espírita valoriza o momento em que vive porque sabe que a vida não e uma farsa. Tudo que está aprendendo e realizando é fundamental. Compreende e valoriza a vida após a morte, mas não vive em função dela, pois sabe que o entendimento das relações entre as vidas atual e futura só tem significado se contribuir para entender a realidade de sua existência atual. O momento que vive é, para ele, enquanto vive, o mais importante, pois é quando está preparando, ou realizando, a grande arrancada.


III - O PROCESSO DE CONSCIENTIZAÇÃO

O maior instrumento para o homem do centro espírita compreender e influenciar a realidade que vive é a consciência espírita, aqui entendida como conhecimento dos conceitos doutrinários aliado a uma capacidade de análise crítica. Cabe ao centro espírita criar as condições necessárias para que as pessoas interessadas possam conhecer o espiritismo e desenvolver a sua própria conscientização.

Conhecer o espiritismo não é atividade simples como muitos pensam. Na verdade, essa forma de pensar contribui, em parte, para que o espiritismo ainda seja, na expressão de José Herculano Pires, “o grande desconhecido”. Para se conhecer o espiritismo é preciso método, pelo seguinte motivo: não se pode encará-lo como um amontoado de informações sem uma consciência lógica e sem qualquer relação com outras formas de pensamento. Para se conhecer o espiritismo é necessário conhecer:

a) Os seus pontos básicos;

b) O inter-relacionamento entre esses pontos (as relações lógicas que os envolvem) e

c) As relações entre o espiritismo e as diversas correntes do pensamento filosófico e científico.

O método da conscientização espírita é o estudo doutrinário. Através de cursos e grupos de estudos, voltados especificamente para o desenvolvimento do conhecimento espírita, o centro espírita abre espaço para a conscientização.

Essas atividades exigem programação precisa, escolha de literatura adequada e estruturação de um ambiente didático coerente com a matéria em estudo. Cabem aos livros de Allan Kardec um papel preponderante: são a referência básica para todos os estudos e análises.

O desenvolvimento da capacidade crítica se obtém através da análise integrada dos conceitos doutrinários e do estudo das relações entre o espiritismo, outras doutrinas e os diversos aspectos da realidade humana e social.

A censura e as restrições temáticas não podem fazer parte dos estudos doutrinários se quisermos encontrar uma conscientização sólida. A análise da realidade é a única forma de evitar que esses estudos se transformem em debates estratosféricos e inúteis. Por exemplo, ao estudar “As Leis Morais” de O Livro dos Espíritos, há que se buscar o sentido objetivo do texto, evitando a atitude tornada comum de amenizar ou mesmo falsear o tom muitas vezes contundentes utilizado por Allan Kardec. Os diversos pontos que tratam de questões sociais (tais como distribuição dos bens da terra, herança, igualdade, liberdade etc.) só poderão ser realmente entendidos se analisados abertamente, tomando por referência a própria realidade.

Allan Kardec viu com naturalidade a possibilidade de incluir debates sociais nos estudos das sociedades espíritas (O Livro dos Médiuns - cap. XXIX, “Assuntos de estudo”, item 347):

“A par das obras especiais, formigam os jornais repletos de fatos, de narrativas, de conhecimentos, de rasgos de virtudes ou de vícios, que levantam graves problemas morais, cuja solução só o espiritismo pode apresentar, consistindo isso ainda um meio de se provar que ele se prende a todos os ramos da ordem social”.

A conscientização não tem um fim em si mesma. Visa relacionar a teoria com a prática, a ideia com a realidade. Se o centro espírita der ao homem a chance de conhecer o espiritismo e se conscientizar de seu papel individual, estará também contribuindo para uma ação. Para Allan Kardec (1869) a conscientização é decisiva:

“A aspiração por uma ordem superior de coisas é indício da possibilidade de atingi-la. Cabe aos homens progressistas ativar esse movimento pelo estudo e a aplicação dos meios mais eficazes. "

A questão 932 de O Livro dos Espíritos também esclarece sobre o papel das pessoas conscientizadas:

“Por que, no mundo, os maus, tão frequentemente, sobrepujam os bons em influência?
– Pela fraqueza dos bons; os maus são intrigantes e audaciosos, os bons são tímidos. Quando estes o quiserem dominarão.”


IV - OLHANDO PARA A FRENTE

A tradicional apatia do centro espírita em relação à organização social tende a desaparecer. O homem moderno não se conforma mais com conceitos abstratos de “bem”, “mal”, “amor” e “caridade”, busca o que realmente significam. Abrindo as suas portas para a sociedade, com seus problemas, angústias e anseios, o centro espírita talvez deixe de ser uma ilha de tranquilidade no mar tempestuoso para ser o remo que faltava ao navegador. Através de estudos, debates, palestras ou simples conversas, os homens do centro espírita prepararão a revolução a seu modo, através das consciências.

Um problema terá que ser enfrentado: a participação ou não do centro espírita, como grupo, nas lutas sociais. Parece-me mais coerente, para o momento, que isso seja evitado, pelas seguintes razões:

a) o compromisso primeiro do centro espírita é o espiritismo, ou seja, a difusão e o desenvolvimento da doutrina, tanto no que se refere aos estudos filosófico-morais quanto à pesquisa científica. Engajar diretamente o centro espírita nas lutas sociais pode ter como consequência o esquecimento de algumas áreas próprias da doutrina;

b) As preocupações com o poder temporal, inevitáveis nas lutas sociais, podem ofuscar os objetivos maiores a que o espiritismo se propõe em relação ao homem e à própria sociedade;

c) A política partidária, com suas campanhas eleitorais e interesses contrastantes de partidos e pessoas, poderá, em momentos de descuido, engajar o centro espírita em interesses outros que nada têm a ver com o espiritismo.

É claro que, havendo equilíbrio e firmeza doutrinária, nenhum desses prejuízos ocorreria. No entanto, é claramente mais seguro para o espiritismo e para o centro espírita que as questões sociais sejam tratadas com independência sem qualquer compromisso transitório. Assim o espiritismo cumprirá o seu papel e a sociedade se beneficiará disso.




REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

KARDEC, Allan - Liberdade, igualdade e fraternidade . in: Obras Póstumas, trad. Sylvia M. P. Silva, LAKE, 2ª ed., p. 193, São Paulo-SP, 1979.
KARDEC, Allan - O Livro dos Médiuns, trad. Guillon Ribeiro, FEB, 43ª ed., pp. 413-44, Rio de Janeiro-RJ, 1981.
KARDEC, Allan - O Livro dos Espíritos, trad. Salvador Gentile, IDE, 14ª ed., p. 362, Araras-SP, junho de 1982.
REGIS, Jaci - O Centro Espírita no Século XX, submetido ao 7º Congresso Espírita Estadual da USE, Águas de São Pedro-SP, agosto de 1986.


Mauro M. Spínola é engenheiro eletrônico; membro da equipe do programa radiofônico “Momento Espírita”, pela Rádio Boa Nova de Guarulhos e presidente do Conselho Deliberativo da Fraternidade Espírita Beneficente Ismael - Penha, São Paulo-SP.


Fonte: Anais do II Encontro Nacional Sobre o Aspecto Social da Doutrina Espírita - São Paulo, 28/02 a 03/03 de 1987

DIGITALIZAÇÃO:
PENSE – Pensamento Social Espírita.
www.viasantos.com/pense
Março de 2010.

 

 

BREVE HISTÓRICO

A origem desse movimento, que pretende discutir o Aspecto Social da Doutrina Espírita, esta fundamentalmente calcada numa releitura que o movimento espírita iniciou das obras de Allan Kardec; possível graças ao processo de abertura democrática recentemente instaurado no País.

Embora o conjunto da obra kardequiana tenha sido estudado desde a introdução do espiritismo no Brasil, poucos espíritas assimilaram profundamente o teor progressista e humanista da doutrina. Hoje, após mais de um século da edição de O Livro dos Espíritos, esta obra começa a ser estudada com maior ênfase, sobretudo em sua terceira parte, que trata das Leis Morais.

Kardec tocou nas questões sociais mais delicadas de sua época, encarou-as de frente e, algumas vezes, posicionou-se contra regimes políticos ora vigentes. Essa postura é digna de nota, pois mostra que o único compromisso que norteou sua obra foi com a verdade.

Hoje, no movimento espírita, temos espaços para discussões políticas. Essa e outras conquistas são graças a alguns pensadores que vieram antes de nós e prepararam o terreno com suas obras. Para esses, que muitos percalços encontraram junto a uma parcela conservadora do movimento, deixamos aqui a nossa homenagem e reconhecimento.

Algumas tentativas de discutir explicitamente a visão social do espiritismo já foram tentadas no Brasil. Entretanto, parece que somente no final da década de 70 é que esse debate tomou corpo, quando alguns eventos esparsos abordaram essa temática. Aos poucos fortaleceu-se a ideia de que discutir questões sociais e políticas não nos afasta da verdadeira doutrina espírita, ao contrário, levá-nos ao encontro dela.

A omissão do movimento de unificação brasileiro é que levou um grupo de jovens espíritas universitários de Florianópolis-SC, que mantinham estreitas ligações com espíritas do Estado de São Paulo, a organizar, após um trabalho intenso e maduro, o 1º Encontro Nacional Sobre a Doutrina Social Espírita, realizado em fevereiro de 1985, na cidade de Santos-SP

Destaca-se que a preparação desse 1º encontro contou com sugestões de diversos pontos do Brasil. A comissão organizadora providenciou a divulgação prévia de textos, preparados por espíritas com razoável atuação no movimento. Esses textos subsidiaram o debate sobre quatro temas principais: “Valores Doutrinários”, “Comunicação”, “Atuação Política e Organização de Grupos Sociais” e “Educação”. Houve participação significativa e verificou-se que a quase totalidade das pessoas, de diversas faixas etárias, eram militantes do movimento de unificação de seus Estados. Essa realidade garantia a continuidade da discussão. Em suas conclusões, realça-se a moção votada, por unanimidade, pela convocação da Assembléia Nacional Constituinte.

Nos meses seguintes ao 1º encontro, registrou-se amplo debate pela imprensa espírita, com posicionamentos diversificados sobre a questão social. Na plenária do 1º Encontro decidiu-se pela realização do 2º encontro em 1987, na cidade de São Paulo. No intervalo de tempo passado, temos convicção que cresceram as discussões sobre o tema, inclusive com algum interesse do movimento de unificação.

A alteração da designação para Encontro Nacional Sobre o Aspecto Social da Doutrina Espírita - Ensasde, procurou atender algumas críticas quanto à denominação “Doutrina Social Espírita” e foi resultado de ampla consulta feita, principalmente, aos participantes do 1º encontro.

A continuidade desse movimento e algo ainda indefinido, pois só o tempo definirá a necessidade de novos Ensasdes. Em algum momento, não muito distante, o movimento de unificação deverá assumir essa tarefa, talvez não na forma de encontros grandiosos, mas sim como trabalho rotineiro. Portanto, até que isto aconteça, o Ensasde não será um “movimento paralelo”, mas sim, um trabalho necessário.

São Paulo, outubro de 1986.
Comissão Organizadora do 2º Ensasde

 


APRESENTAÇÃO

Este é o primeiro produto do 2º Ensasde, concluído antes do evento, com objetivos múltiplos: divulgação, promoção de debates e arrecadação de recursos financeiros para auxiliar na organização do encontro.

Apesar de nossa necessidade material, o objetivo maior que nos levou a aglutinar as contribuições desses autores em um volume, é registrar seus pontos de vista sobre alguns dos principais temas que hoje estabelecem o vínculo do espiritismo com as questões sociais. Essa relação é tão ampla que, evidentemente, não se esgota nos pontos aqui abordados; mesmo assim, pretensiosamente, denominamos o trabalho de Espiritismo e Sociedade, pois é preciso ficar claro a que veio.

A restrição de espaço estabelecida aos autores procura compatibilizar a oportunidade de abordar diversos assuntos com a necessidade de suscitar estudos e discussões, elementos sem os quais acreditamos que o movimento não evolua em sua visão da sociedade.

Com o estudo se aprofunda, com a discussão se troca conhecimentos, mas sobretudo com a prática é que se evolui. Assim, esperamos que a reflexão deste material produza alterações de comportamentos individuais e coletivos, principalmente no meio espírita.

As opiniões colocadas nos textos são de responsabilidade exclusiva dos autores. A crítica, se colocada em bom nível, propiciará excelente oportunidade de debate e, consequentemente, maior estudo doutrinário. Merece nota também o fato de tratar-se de um trabalho de encarnados. Não se desconhece (e nem poderia) as influências do mundo espiritual no material, mas cabe dar ênfase que a transformação da sociedade é tarefa dos que aqui reencarnam.

Finalmente, esclarece-se que os autores foram escolhidos a critério da Comissão Organizadora do 2º Ensasde, que buscou convidar elementos com folha de serviços no movimento e vivência nos temas sobre os quais escreveriam. Infelizmente, não foi possível a publicação de todos os trabalhos dos companheiros convidados, pelos seguintes motivos: impossibilidade de escrever, recusa ou envio fora do prazo de fechamento da edição.

São Paulo, outubro de 1986.
Comissão Organizadora do II Ensasde


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