O CENTRO ESPÍRITA E A SOCIEDADE
Colocar o centro espírita diante das questões sociais
envolve muito cuidado. Não porque a temática social seja
perigosa, como muitos pensam, mas sim porque uma análise do centro
espírita sempre corre o risco de levantar propostas estáticas
e condicionantes, que apenas substituem as anteriormente aceitas, mas
que não levam em consideração o caráter
dinâmico do progresso humano e social. Tentarei, tanto quanto
possível, superar essa dificuldade.
Começarei por considerações relativas a estrutura
dos centros espíritas para depois enfocar as suas relações
com a sociedade.
I - O QUE É CENTRO ESPÍRITA?
Assumirei no contexto deste trabalho que o centro espírita é
uma associação de pessoas encarnadas, de homens. Poderia,
por opção, abranger também os espíritos
desencarnados nessa associação, já que os centros
espíritas contam, em geral, com a participação
ativa dos espíritos. Os motivos pelos quais não farei
isso são os seguintes:
a) Considero que o centro espírita é organizado e dirigido
por homens, tendo espíritos desencarnados como convidados. Desta
forma, qualquer estudo relativo a estrutura, atividades, métodos,
prioridades e direcionamento doutrinário em um centro espírita
passa, necessariamente, pelo comportamento dos homens que o compõem;
b) São os homens que participam da vida social, contexto em que
quero analisar o centro espírita.
Os homens do centro espírita estão
associados por um objetivo comum.
Realizam reuniões, estudam livros, atendem pessoas necessitadas,
constróem uma sede, conhecem-se mutuamente, confraternizam-se,
erguem uma placa e assumem perante todos: são espíritas
e assim querem ser identificados. O objetivo que os une é tão
forte, que aos poucos formam uma verdadeira comunidade, que cresce,
fortifica-se e acaba por ocupar boa parte de suas vidas.
Cabe perguntar: qual é esse objetivo? Impossível encontrar
uma resposta válida para todos os grupos. Com certeza esse objetivo
varia segundo fatores culturais, a ponto de podermos encontrar dois
centros espíritas com objetivos (e portanto atividades) completamente
diferentes. Num centro, maior ênfase é dada aos conhecimentos
do espiritismo, num outro se dá maior valor à prática
da mediunidade, num terceiro as pessoas se dedicam prioritariamente
ao atendimento de necessitados, num quarto centro a cura é o
maior objetivo, e assim por diante.
Seria de se esperar que o uso da palavra “espírita”
ao menos identificas-se um compromisso dos grupos com o espiritismo,
mas nem mesmo nesse ponto os centros espíritas são unânimes.
Jaci Regis (1986) assim se expressa sobre esse problema:
“Os centros espíritas
parecem, em sua maioria, não ter qualquer compromisso com a
doutrina. Desenvolvem atividades baseadas em comunicações
esparsas, fraudam as normas e métodos indicados para a mediunidade
e, muitas vezes, passam a ser subsidiários do desejo de ‘caridade’
que avassala seus dirigentes, sempre às voltas com sopas, roupas
usadas e rifas para obter recursos. Atendem a centenas de pessoas,
como o fazem o Rotary, o Lions Clube, e entidades filantrópicas
religiosas ou leigas. Admitem que não ensinam o espiritismo
para não faltar à caridade”.
O movimento de unificação entre centros tem conseguido
resultados positivos no sentido de que se redescubra o espiritismo.
Há alguns anos a União das Sociedades Espíritas
do Estado de São Paulo (USE) aprovou um documento chamado “Carta
aos Centros Espíritas”, que passou a ser divulgado em todo
o Estado, com propostas para uma maior adequação dos centros
espíritas às suas finalidades. Embora seja hoje passível
de revisão, esse documento representou um avanço na reaproximação
dos grupos com o espiritismo. Hoje a “Carta” é divulgada
em todo o Brasil, através do Conselho Federativo Nacional da
Federação Espírita Brasileira (CFN/FEB).
Apesar desses esforços, uma análise do panorama atual
nos mostra uma grande miscelânea, o que torna impossível
responder, com base no que se vê, a questão “O que
é Centro Espírita?”
Com essa indefinição não é possível
fazer proposta alguma. Para não encerrar o trabalho neste ponto,
opto por me fixar em uma conceituação mais precisa de
centro espírita. Sabendo a que tipo de grupo o termo se refere,
torna-se viável a tarefa de analisar as suas relações
com a sociedade e elaborar propostas para enriquecer essas relações.
Seguindo o modelo da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas,
cujo regulamento é transcrito por Kardec em O Livro dos
Médiuns (1981) atribuirei duas características
básicas ao centro espírita:
a) Comprometimento com o espiritismo,
através do estudo de livros espíritas (incluindo necessariamente
as obras de Kardec) e adequação das diversas atividades
aos conceitos e métodos próprios da doutrina;
b) Inexistência de hierarquia estática e restritiva,
ou seja, igualdade de oportunidade para aprender, praticar e influir.
As ideias apresentadas na sequência do texto
aplicam-se aos centros que possuam as características citadas.
Ao voltar os seus olhos para a vida social os homens do centro espírita
terão a visão de mundo que o espiritismo dá. Não
farão análise e propostas baseadas em fatos isolados ou
interesses transitórios. Valorizarão a teoria e, a partir
dela, construirão a sua prática.
No seio desse centro nasce a consciência dos caminhos a trilhar
para a construção de um novo mundo. À medida que
o espiritismo é compreendido pelos seus integrantes, mais claro
se torna para eles o significado da vida. A realidade se torna mais
clara, as contradições do mundo se esclarecem, a verdade
aparece, a mentira é desmascarada. Aos poucos, quanto mais o
espiritismo ganha suas consciências, mais próximos da realidade
ficam. Esse centro espírita dá a cada um a chance de descobrir
o mundo enquanto descobre a si mesmo.
II - O CENTRO ESPÍRITA PARA
O HOMEM
O espiritismo rompe com as doutrinas que vendem a salvação
depois da morte. Não promete nada, não sugere adesão
involuntária, não se mostra como o único caminho.
Oferece a sua luz sem pedir subordinação, substitui a
obediência cega pela atuação consciente e entrega
a cada um a responsabilidade pela sua própria vida. Liberta o
homem.
A liberdade que o espiritismo oferece é baseada no conhecimento.
Compreendendo o significado da vida e a verdadeira natureza de si mesmo,
o homem começa a dar passos seguros, deixa de ser joguete das
circunstâncias e traça o seu próprio caminho.
É claro que isso não é uma receita de liberdade,
pois cada um que se encontrar com o espiritismo reagira a seu modo.
Uns darão mais voltas, hesitarão mais, serão mais
vagarosos ou passarão por maiores conflitos, enquanto outros
encontrarão com maior facilidade o caminho da libertação.
Mas para todos o espiritismo traz a liberdade em potencial. Cada um
que o aproveite a seu modo.
O centro espírita é a casa do espiritismo e deverá
canalizar o potencial libertador da doutrina. Para conseguir isso, deverá
antes de tudo ver as pessoas como indivíduos diferentes entre
si, com capacidade moral intelectual, anseios preocupações
e problemas diferentes. Ao contrário do que fazem os templos
religiosos, o centro espírita não pode se propor a uma
massificação de ideias e comportamentos. Cabe a ele manter,
é bem verdade, um certo zelo com a doutrina, defendendo sua autenticidade,
seu caráter racional, e evitando desvios, infiltrações
ou distorções, mas não é possível
conceber um centro realmente espírita que distribua a todos uma
interpretação particular do espiritismo. Estaria boicotando
a doutrina, desviando os objetivos do grupo e escravizando as pessoas.
O espiritismo visa o homem. O centro espírita é um dos
meios de atingi-lo. O homem do centro espírita transformará
a si mesmo e à sociedade se tiver o espiritismo como instrumento.
Se o centro espírita inverte essa relação, isolando-se
da vida real e exigindo do homem que abandone o seu mundo, está
traindo os próprios objetivos do espiritismo. A “paz”
que oferece, “não encontrada lá fora”, é
uma versão disfarçada da fuga que incentiva. Não
vai contribuir para construir ou libertar nada.
O centro espírita é feito para o homem, não o contrário.
O homem do centro espírita vai ver o seu dia-a-dia como a continuidade
de um movimentado processo evolutivo. Passará a compreender o
significado revolucionário da imortalidade e o verdadeiro sentido
da vida que vive. Perceberá os detalhes da dialética da
evolução: as relações entre os mundos material
e espiritual, as mudanças de estado (encarnação/desencarnação)
e as influências mútuas entre o livre-arbítrio e
a lei de causa e efeito. Entenderá caráter transitório
da vida atual, que não pode ser analisada fora do contexto da
eternidade, mas ao mesmo tempo valorizará essa vida. Afinal,
dentro do vai-e-vem da evolução, que momento não
é importante?
O homem do centro espírita valoriza o momento em que vive porque
sabe que a vida não e uma farsa. Tudo que está aprendendo
e realizando é fundamental. Compreende e valoriza a vida após
a morte, mas não vive em função dela, pois sabe
que o entendimento das relações entre as vidas atual e
futura só tem significado se contribuir para entender a realidade
de sua existência atual. O momento que vive é, para ele,
enquanto vive, o mais importante, pois é quando está preparando,
ou realizando, a grande arrancada.
III - O PROCESSO DE CONSCIENTIZAÇÃO
O maior instrumento para o homem do centro espírita compreender
e influenciar a realidade que vive é a consciência espírita,
aqui entendida como conhecimento dos conceitos doutrinários aliado
a uma capacidade de análise crítica. Cabe ao centro espírita
criar as condições necessárias para que as pessoas
interessadas possam conhecer o espiritismo e desenvolver a sua própria
conscientização.
Conhecer o espiritismo não é atividade simples como muitos
pensam. Na verdade, essa forma de pensar contribui, em parte, para que
o espiritismo ainda seja, na expressão de José Herculano
Pires, “o grande desconhecido”. Para se conhecer o espiritismo
é preciso método, pelo seguinte motivo: não se
pode encará-lo como um amontoado de informações
sem uma consciência lógica e sem qualquer relação
com outras formas de pensamento. Para se conhecer o espiritismo é
necessário conhecer:
a) Os seus pontos
básicos;
b) O inter-relacionamento entre esses pontos (as relações
lógicas que os envolvem) e
c) As relações entre o espiritismo e as diversas correntes
do pensamento filosófico e científico.
O método
da conscientização espírita é o estudo doutrinário.
Através de cursos e grupos de estudos, voltados especificamente
para o desenvolvimento do conhecimento espírita, o centro espírita
abre espaço para a conscientização.
Essas atividades exigem programação precisa, escolha de
literatura adequada e estruturação de um ambiente didático
coerente com a matéria em estudo. Cabem aos livros de Allan Kardec
um papel preponderante: são a referência básica
para todos os estudos e análises.
O desenvolvimento da capacidade crítica se obtém através
da análise integrada dos conceitos doutrinários e do estudo
das relações entre o espiritismo, outras doutrinas e os
diversos aspectos da realidade humana e social.
A censura e as restrições temáticas não
podem fazer parte dos estudos doutrinários se quisermos encontrar
uma conscientização sólida. A análise da
realidade é a única forma de evitar que esses estudos
se transformem em debates estratosféricos e inúteis. Por
exemplo, ao estudar “As Leis Morais” de O Livro dos
Espíritos, há que se buscar o sentido objetivo do
texto, evitando a atitude tornada comum de amenizar ou mesmo falsear
o tom muitas vezes contundentes utilizado por Allan Kardec. Os diversos
pontos que tratam de questões sociais (tais como distribuição
dos bens da terra, herança, igualdade, liberdade etc.) só
poderão ser realmente entendidos se analisados abertamente, tomando
por referência a própria realidade.
Allan Kardec viu com naturalidade a possibilidade de incluir debates
sociais nos estudos das sociedades espíritas (O Livro dos Médiuns
- cap. XXIX, “Assuntos de estudo”, item 347):
“A par
das obras especiais, formigam os jornais repletos de fatos, de narrativas,
de conhecimentos, de rasgos de virtudes ou de vícios, que levantam
graves problemas morais, cuja solução só o espiritismo
pode apresentar, consistindo isso ainda um meio de se provar que ele
se prende a todos os ramos da ordem social”.
A conscientização
não tem um fim em si mesma. Visa relacionar a teoria com a prática,
a ideia com a realidade. Se o centro espírita der ao homem a
chance de conhecer o espiritismo e se conscientizar de seu papel individual,
estará também contribuindo para uma ação.
Para Allan Kardec (1869) a conscientização é decisiva:
“A aspiração
por uma ordem superior de coisas é indício da possibilidade
de atingi-la. Cabe aos homens progressistas ativar esse movimento
pelo estudo e a aplicação dos meios mais eficazes. "
A questão
932 de O Livro dos Espíritos também esclarece sobre o
papel das pessoas conscientizadas:
“Por que,
no mundo, os maus, tão frequentemente, sobrepujam os bons em
influência?
– Pela fraqueza dos bons; os maus são intrigantes e audaciosos,
os bons são tímidos. Quando estes o quiserem dominarão.”
IV - OLHANDO PARA A FRENTE
A tradicional apatia do centro espírita em relação
à organização social tende a desaparecer. O homem
moderno não se conforma mais com conceitos abstratos de “bem”,
“mal”, “amor” e “caridade”, busca
o que realmente significam. Abrindo as suas portas para a sociedade,
com seus problemas, angústias e anseios, o centro espírita
talvez deixe de ser uma ilha de tranquilidade no mar tempestuoso para
ser o remo que faltava ao navegador. Através de estudos, debates,
palestras ou simples conversas, os homens do centro espírita
prepararão a revolução a seu modo, através
das consciências.
Um problema terá que ser enfrentado: a participação
ou não do centro espírita, como grupo, nas lutas sociais.
Parece-me mais coerente, para o momento, que isso seja evitado, pelas
seguintes razões:
a) o compromisso
primeiro do centro espírita é o espiritismo, ou seja,
a difusão e o desenvolvimento da doutrina, tanto no que se
refere aos estudos filosófico-morais quanto à pesquisa
científica. Engajar diretamente o centro espírita nas
lutas sociais pode ter como consequência o esquecimento de algumas
áreas próprias da doutrina;
b) As preocupações com o poder temporal, inevitáveis
nas lutas sociais, podem ofuscar os objetivos maiores a que o espiritismo
se propõe em relação ao homem e à própria
sociedade;
c) A política partidária, com suas campanhas eleitorais
e interesses contrastantes de partidos e pessoas, poderá, em
momentos de descuido, engajar o centro espírita em interesses
outros que nada têm a ver com o espiritismo.
É claro
que, havendo equilíbrio e firmeza doutrinária, nenhum
desses prejuízos ocorreria. No entanto, é claramente mais
seguro para o espiritismo e para o centro espírita que as questões
sociais sejam tratadas com independência sem qualquer compromisso
transitório. Assim o espiritismo cumprirá o seu papel
e a sociedade se beneficiará disso.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
KARDEC, Allan - Liberdade, igualdade e
fraternidade . in: Obras Póstumas, trad. Sylvia M. P. Silva,
LAKE, 2ª ed., p. 193, São Paulo-SP, 1979.
KARDEC, Allan - O Livro dos Médiuns, trad. Guillon Ribeiro, FEB,
43ª ed., pp. 413-44, Rio de Janeiro-RJ, 1981.
KARDEC, Allan - O Livro dos Espíritos, trad. Salvador Gentile,
IDE, 14ª ed., p. 362, Araras-SP, junho de 1982.
REGIS, Jaci - O Centro Espírita no Século XX, submetido
ao 7º Congresso Espírita Estadual da USE, Águas de
São Pedro-SP, agosto de 1986.
Mauro M. Spínola é engenheiro eletrônico; membro
da equipe do programa radiofônico “Momento Espírita”,
pela Rádio Boa Nova de Guarulhos e presidente do Conselho Deliberativo
da Fraternidade Espírita Beneficente Ismael - Penha, São
Paulo-SP.
Fonte: Anais do II Encontro
Nacional Sobre o Aspecto Social da Doutrina Espírita - São
Paulo, 28/02 a 03/03 de 1987
DIGITALIZAÇÃO:
PENSE – Pensamento Social Espírita.
www.viasantos.com/pense
Março de 2010.
BREVE HISTÓRICO
A origem desse movimento, que pretende
discutir o Aspecto Social da Doutrina Espírita, esta fundamentalmente
calcada numa releitura que o movimento espírita iniciou das obras
de Allan Kardec; possível graças ao processo de abertura
democrática recentemente instaurado no País.
Embora o conjunto da obra kardequiana tenha sido estudado desde a introdução
do espiritismo no Brasil, poucos espíritas assimilaram profundamente
o teor progressista e humanista da doutrina. Hoje, após mais
de um século da edição de O Livro dos Espíritos,
esta obra começa a ser estudada com maior ênfase, sobretudo
em sua terceira parte, que trata das Leis Morais.
Kardec tocou nas questões sociais mais delicadas de sua época,
encarou-as de frente e, algumas vezes, posicionou-se contra regimes
políticos ora vigentes. Essa postura é digna de nota,
pois mostra que o único compromisso que norteou sua obra foi
com a verdade.
Hoje, no movimento espírita, temos espaços para discussões
políticas. Essa e outras conquistas são graças
a alguns pensadores que vieram antes de nós e prepararam o terreno
com suas obras. Para esses, que muitos percalços encontraram
junto a uma parcela conservadora do movimento, deixamos aqui a nossa
homenagem e reconhecimento.
Algumas tentativas de discutir explicitamente a visão social
do espiritismo já foram tentadas no Brasil. Entretanto, parece
que somente no final da década de 70 é que esse debate
tomou corpo, quando alguns eventos esparsos abordaram essa temática.
Aos poucos fortaleceu-se a ideia de que discutir questões sociais
e políticas não nos afasta da verdadeira doutrina espírita,
ao contrário, levá-nos ao encontro dela.
A omissão do movimento de unificação brasileiro
é que levou um grupo de jovens espíritas universitários
de Florianópolis-SC, que mantinham estreitas ligações
com espíritas do Estado de São Paulo, a organizar, após
um trabalho intenso e maduro, o 1º Encontro Nacional Sobre a Doutrina
Social Espírita, realizado em fevereiro de 1985, na cidade de
Santos-SP
Destaca-se que a preparação desse 1º encontro contou
com sugestões de diversos pontos do Brasil. A comissão
organizadora providenciou a divulgação prévia de
textos, preparados por espíritas com razoável atuação
no movimento. Esses textos subsidiaram o debate sobre quatro temas principais:
“Valores Doutrinários”, “Comunicação”,
“Atuação Política e Organização
de Grupos Sociais” e “Educação”. Houve
participação significativa e verificou-se que a quase
totalidade das pessoas, de diversas faixas etárias, eram militantes
do movimento de unificação de seus Estados. Essa realidade
garantia a continuidade da discussão. Em suas conclusões,
realça-se a moção votada, por unanimidade, pela
convocação da Assembléia Nacional Constituinte.
Nos meses seguintes ao 1º encontro, registrou-se amplo debate pela
imprensa espírita, com posicionamentos diversificados sobre a
questão social. Na plenária do 1º Encontro decidiu-se
pela realização do 2º encontro em 1987, na cidade
de São Paulo. No intervalo de tempo passado, temos convicção
que cresceram as discussões sobre o tema, inclusive com algum
interesse do movimento de unificação.
A alteração da designação para Encontro
Nacional Sobre o Aspecto Social da Doutrina Espírita - Ensasde,
procurou atender algumas críticas quanto à denominação
“Doutrina Social Espírita” e foi resultado de ampla
consulta feita, principalmente, aos participantes do 1º encontro.
A continuidade desse movimento e algo ainda indefinido, pois só
o tempo definirá a necessidade de novos Ensasdes. Em algum momento,
não muito distante, o movimento de unificação deverá
assumir essa tarefa, talvez não na forma de encontros grandiosos,
mas sim como trabalho rotineiro. Portanto, até que isto aconteça,
o Ensasde não será um “movimento paralelo”,
mas sim, um trabalho necessário.
São Paulo, outubro de 1986.
Comissão Organizadora do 2º Ensasde
APRESENTAÇÃO
Este é o primeiro produto do 2º Ensasde, concluído
antes do evento, com objetivos múltiplos: divulgação,
promoção de debates e arrecadação de recursos
financeiros para auxiliar na organização do encontro.
Apesar de nossa necessidade material, o objetivo maior que nos levou
a aglutinar as contribuições desses autores em um volume,
é registrar seus pontos de vista sobre alguns dos principais
temas que hoje estabelecem o vínculo do espiritismo com as questões
sociais. Essa relação é tão ampla que, evidentemente,
não se esgota nos pontos aqui abordados; mesmo assim, pretensiosamente,
denominamos o trabalho de Espiritismo e Sociedade, pois é preciso
ficar claro a que veio.
A restrição de espaço estabelecida aos autores
procura compatibilizar a oportunidade de abordar diversos assuntos com
a necessidade de suscitar estudos e discussões, elementos sem
os quais acreditamos que o movimento não evolua em sua visão
da sociedade.
Com o estudo se aprofunda, com a discussão se troca conhecimentos,
mas sobretudo com a prática é que se evolui. Assim, esperamos
que a reflexão deste material produza alterações
de comportamentos individuais e coletivos, principalmente no meio espírita.
As opiniões colocadas nos textos são de responsabilidade
exclusiva dos autores. A crítica, se colocada em bom nível,
propiciará excelente oportunidade de debate e, consequentemente,
maior estudo doutrinário. Merece nota também o fato de
tratar-se de um trabalho de encarnados. Não se desconhece (e
nem poderia) as influências do mundo espiritual no material, mas
cabe dar ênfase que a transformação da sociedade
é tarefa dos que aqui reencarnam.
Finalmente, esclarece-se que os autores foram escolhidos a critério
da Comissão Organizadora do 2º Ensasde,
que buscou convidar elementos com folha de serviços no movimento
e vivência nos temas sobre os quais escreveriam. Infelizmente,
não foi possível a publicação de todos os
trabalhos dos companheiros convidados, pelos seguintes motivos: impossibilidade
de escrever, recusa ou envio fora do prazo de fechamento da edição.
São Paulo,
outubro de 1986.
Comissão Organizadora do II Ensasde