Doris Spadotto

>   Perispírito

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Doris Spadotto
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Corpo intermediário entre o Espírito ou a alma e o corpo físico. De constituição semimaterial e eletromagnética, é o veiculo das sensações que circulam do mundo exterior para o Espírito e das ordens de comando em sentido contrário. Possui varias propriedades de interesse como a expansibilidade e elasticidade, de fundamental importância pra a realização dos fenômenos mediúnicos.

É também a sede da memória palingenética e nele se situa os centros de força ou “chakras” que são vórtices de concentração energética, através dos quais as energias espirituais se distribuem por seu todo, bem como aos plexos nervosos que lhes correspondem em localização no corpo carnal. Também conhecido por varias outras denominações como corpo astral, corpo espiritual, Ka, Linga Sharira, ochéma, etc.

O perispírito acompanha sempre o Espírito, não morre com o corpo físico, aliás, é a sua matriz antes do nascimento. Ele é modificável de acordo com a condição encarnado/desencarnado, com o mundo físico em que habita e com a evolução intelecto-moral do Espírito. Kardec assim denominou-o em analogia com o fruto e o perisperma pela sua condição de envoltório da alma ou Espírito.



Este é um dos capítulos mais vastos para estudos dentro da Doutrina Espírita, daí a dificuldade de efetuar uma síntese. Há tanta coisa a dizer sobre ele que há livros inteiros dedicados exclusivamente ao assunto. A existência de um modelo organizador biológico (MOB), termo utilizado por pesquisadores modernos e que pode ser tomado pro sinônimo de perispírito, a despeito de algumas divergências conceituais, já pôde ser comprovada cientificamente. Por exemplo: o Dr. Harold Saxon Bhurr, da Universidade de Yale (EUA), detectou campos eletromagnéticos em sementes, contendo potencialmente a forma da futura árvore adulta. O mesmo obteve com girinos. Eis aí uma primeira aparente discrepância. Quando falamos em perispírito, a própria etimologia subentende a existência de um espírito. Mas sabemos que em plantas e animais não existe ainda espírito e sim um principio inteligente que naquele só se tornará ao atingir o estagio humano pela aquisição da razão e do livre-arbítrio. Assim, MOB parece conter um conceito mais elástico do que perispírito. De qualquer forma, a função principal é a mesma e se mantém, quer nos vegetais e animais como no homem, isto é, o de servir de matriz e dar suporte a forma física.

Na década de 40, na antiga União Soviética, o casal Semyon Kirlian descobriu um processo de fotografar o efeito luminoso das radiações, do que então denominaram corpo bioplasmático. A idéia mais aceita no movimento espírita é de que estas emanações seriam quando muito o resultado da atividade ou presença de uma outra organização conhecida como corpo vital, intermediário entre o corpo carnal e o perispírito. Kardec, por sua vez, menciona o duplo-etérico com que parece distinguir do perispirito propriamente dito. As pesquisas continuam e depara-se, não raro, com definições um tanto quanto conflitantes, com incorporação de conceitos orientais que, às vezes, podem ajudar, mas, pela resistência de uns e falta de analise criteriosa de outros, podem estabelecer mais confusões.

O perispirito é o laço semimaterial (Divaldo P. Franco substitui o termo “semimaterial” por plasma, quarto estado da matéria, seguindo Carlos Alberto Tinoco que complementa-o com o adjetivo “frio” e outros imaginam-no com uma parte mais material e outra energética) que prende o Espírito ao corpo físico. Considerado o verdadeiro corpo do Espírito, é seu invólucro, derivado da Energia Cósmica Universal, tal como o próprio corpo carnal. Hernani Guimarães Andrade, estudioso do aspecto cientifico da Doutrina, na elaboração de sua teoria em que situa o Espírito numa quarta dimensão, atribui uma constituição daquilo que denomina de matéria-psi e Jorge Andréa supõe um perispírito formado por antimatéria.

Leve e imponderável (há também quem pretenda tê-lo pesado – mais ou menos 60 gramas – e deve tratar-se do corpo vital), acompanha o Espírito tanto quando encarnado como desencarnado. Veiculo das sensações exteriores, percepções espirituais e condutor da vontade do Espírito para a manifestação no mundo material, modifica-se segundo a evolução do ser imortal e conforme o mundo em que este deve atuar. A sua estrutura eletromagnética atrai em torno de si os elementos de que necessita para formar e manter a forma humana tal como as limalhas de ferro em torno do imã.

É indestrutível (há na literatura espírita descrições de que ele pode ser desestruturado, numa morte por explosão, por exemplo, embora sem aniquilamento total), usualmente invisível pela condição de não solidez e, segundo o mentor Emmanuel, compõe-se também de substancias químicas que transcendem a serie estequiogenética (elementos ainda não descobertos e situados alem da tabela periódica). A forma humana poderia ser comprometida tanto no caso de acidentes graves como no curioso caso dos ovóides descritos pelo autor espiritual André Luiz, em que o monoideísmo, a fixação obstinada em certa idéia, num circulo vicioso e muito prolongado, poderia reduzi-lo a uma forma lembrando um ovo. Acrescente-se, e até como decorrência desta fixação mórbida – vingança, por exemplo -, o fenômeno da zoantropia, quando, em zonas umbralinas, o Espírito se mostra aos demais com a forma perispiritual de animais, como um lobo (licantropia), ou entes cornudos, figurando o diabo, etc. Mas se o Espiritismo afirma que este não existe, como explicar? É o efeito ideoplástico da mente sobre o perispírito que é altamente plasticizante, deste modo, os Espíritos podem aparecer vestidos com tal ou qual roupa, manter uma cicatriz de identificação, tomar a aparência de anjo alado, de Nossa Senhora, etc.

Entre as funções não citadas está a de servir de arquivo de todos os conhecimentos adquiridos pelo espírito, nele residindo, portanto, a memória palingenética ou extra cerebral. Algumas analises, levando-se em conta informações do plano espiritual, podem nos conduzir a conclusão de que o perispírito não deve ser homogêneo; talvez a sua parte energética, de fato, constitua quase como um corpo especial. Seria o corpo mental não citado por Kardec, provavelmente para não dificultar a compreensão já difícil ao falar de um corpo invisível, matriz do carnal, etc. É mais lógico pensar que o corpo mental, aquela parte do perispírito que é integrante e inseparável do Espírito, é que deve manter os registros de sua vida imortal.

Dissemos no inicio da importância capital do perispírito nas manifestações mediúnicas, inclusive as que envolvem a produção de fenômenos ostensivos; materializações, transportes de objetos, escrita e audição diretas (pneumatografia e pneumaofonia respectivamente), curas e outros. Podem ser incluídos aqui os desdobramentos anímicos durante o sono fisiológico e todos os demais tipos de transe. O corpo adormece, mas o Espírito continua livre e atuante na dimensão espiritual graças ao seu veiculo sutil, o perispírito.

Das propriedades, a visibilidade só é possível quando atinge um grau maior de condensação, como nas aparições, e depois ainda mais na tangibilidade ou materialização, quando todos os presentes podem ver, tocar, conversar. Na vidência, o perispírito está em seu estado natural e só é percebido pelo médium. A penetrabilidade lhe permite atravessar paredes e outros obstáculos a qualquer distancia com deslocamentos praticamente instantâneos. Mas nem todos possuem tal capacidade. Muitos, especialmente logo após desencarnar, devido aos condicionamentos e baixo poder vibratório decorrente da maior condensação do corpo etéreo ou perispírito, usam portas e veículos de transporte, como os encarnados. Já falamos da plasticidade que explica as ideoplastias e as transfigurações. A bilocação ou bicorporeidade é o deslocamento do Espírito, com seu perispírito altamente condensado, a lugar diverso de onde está o corpo físico (Ex. Antonio de Pádua).

Relevante papel também está reservado ao perispírito nos fenômenos do nascimento e da morte. Antes de reencarnar o Espírito é devidamente preparado para tal empreitada. Com o auxilio dos benfeitores ligados a esta área (como no Ministério da Reencarnação), faz o seu planejamento não só de escolhas de experiências, como das características do futuro corpo físico que lhe servirá de instrumento. Uma vez de posse do novo modelo baseado no material disponível na bagagem genética dos futuros pais, é atraído por uma força irresistível à célula-ovo e aí ligado justamente pelo laço perispírito que, a essa altura dos acontecimentos, também perdeu a sua forma original, encolhendo até o ponto da similaridade com a contraparte material. À medida que o germe se desenvolve, o laço se encurta, se aperta, completando-se essa ligação no nascimento. O envolvimento do perispírito com o novo corpo em formação se dá molécula a molécula e o Espírito gradativamente vai perdendo a consciência e lembranças do passado, pelo rebaixamento vibratório e diminuição de atividade do perispírito. O medico Ricardo Di Bernardi teoriza que os enjôos da gravidez teriam muito a ver com as diferenças vibratórias dos perispíritos da mãe e do reencarnante, ali submetidos à verdadeira simbiose temporária.

No processo da morte dá-se o inverso, isto é, esta só ocorre quando o último laço que liga o perispírito ao corpo material é rompido. Nas mortes naturais, o desembaraçamento ocorre aos poucos, enquanto nas violentas provoca impacto o impacto emocional profundo no ser. Mas morrer biologicamente não significa necessariamente desencarnar ou desligar-se totalmente do corpo carnal e muitos há que padecem a angustia, às vezes, até de não se saberem mortos ou, por excesso de apego, ignorância e viciações, experimentar os efeitos da decomposição cadavérica.

Também não se pode deixar de mencionar a relevância do perispírito nas chamadas doenças cármicas e nas obsessões. Muitas disfunções físicas e mentais têm a ver ou com desequilíbrios acumulados na vida atual e passadas, arquivadas no perispírito e que agora exigem reparação através da drenagem ao corpo físico, ou por conseqüência de influencias perniciosas de entidades negativas, ou atraídas por afinidade ao convívio na atmosfera psíquica do individuo. Sempre o intermediário de vinculação é o corpo perispiritual.

Especial destaque ao perispírito nos transplantes de órgãos, cuja causa da rejeição parece estar relacionada aquele e só contornada por medicação especifica. Por falar nisso, outro detalhe curioso é a atuação dos medicamentos homeopáticos que, fracionados seus elementos várias vezes, acabam por adquirir propriedades sutis e tangenciando a energia pura, atingindo mais diretamente a natureza perispiritual. E nos casos de doenças mentais várias, os psicotropicos, mesmo nas obsessões, desempenhariam certo papel útil, ainda que efêmero, por “anestesiar” ou bloquear o fluxo de idéias e sentimentos provindos da intimidade profunda mais ligada às vidas passadas, bem como isolando o perispírito do enfermo do assedio do obsessor.

Quanto a certas sensações e necessidades inerentes ao corpo físico, como frio, fome, sono, sexo, etc., fundamentalmente, dependem do estagio evolutivo em que se encontra o desencarnado. Até Leon Denis o afirma. A percepção de dor, por exemplo, em região do corpo onde se instalou a enfermidade que provocou a morte, pode ser um reflexo condicionado que o tempo, preces e ou esclarecimento, poderão contornar. Para um suicida a mesma poderá se prolongar mais e é uma imposição divina pelo abuso cometido. Os viciosos sentirão falta do álcool e buscarão a companhia de encarnados através dos quais absorverão as emanações prazerosas, o mesmo ocorrendo com os escravizados pelas sensações do sexo desvirtuado. Alimentação, higiene “corporal” também constituem condicionamentos dos quais aos poucos irá se libertando, se possuir um mínimo de conhecimento da vida espiritual e, por merecimento, puder contar com o auxilio de terceiros.

Como dissemos, este é um dos mias extensos e intrigantes temas estudados pelo Espiritismo. Vale a pena buscar o aprofundamento de seu conhecimento não só nas obras de Kardec, mas de várias outras que buscam, a luz do conhecimento cientifico atual, compreender melhor a sua natureza, constituição, propriedades e funções. Afinal, para chegarmos ao Conhece-te a ti mesmo, certamente temos que passar por ele, pois nós, seres humanos, enquanto encarnados, somos constituídos basicamente de um corpo material, de um Espírito imortal e do perispírito.


Fonte: Espiritismo, uma visão panorâmica – Wilson Czerski
Editora – Casa Editora “O Clarim” – 2006.

 




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