Corpo intermediário entre o Espírito
ou a alma e o corpo físico. De constituição semimaterial
e eletromagnética, é o veiculo das sensações
que circulam do mundo exterior para o Espírito e das ordens
de comando em sentido contrário. Possui varias propriedades
de interesse como a expansibilidade e elasticidade, de fundamental
importância pra a realização dos fenômenos
mediúnicos.
É também a sede
da memória palingenética e nele se situa os centros
de força ou “chakras” que são vórtices
de concentração energética, através dos
quais as energias espirituais se distribuem por seu todo, bem como
aos plexos nervosos que lhes correspondem em localização
no corpo carnal. Também conhecido por varias outras denominações
como corpo astral, corpo espiritual, Ka, Linga Sharira, ochéma,
etc.
O perispírito
acompanha sempre o Espírito, não morre com o corpo físico,
aliás, é a sua matriz antes do nascimento. Ele é
modificável de acordo com a condição encarnado/desencarnado,
com o mundo físico em que habita e com a evolução
intelecto-moral do Espírito. Kardec assim denominou-o em analogia
com o fruto e o perisperma pela sua condição de envoltório
da alma ou Espírito.
Este é um dos capítulos mais vastos para estudos dentro
da Doutrina Espírita, daí a dificuldade de efetuar uma
síntese. Há tanta coisa a dizer sobre ele que há
livros inteiros dedicados exclusivamente ao assunto. A existência
de um modelo organizador biológico (MOB), termo utilizado por
pesquisadores modernos e que pode ser tomado pro sinônimo de perispírito,
a despeito de algumas divergências conceituais, já pôde
ser comprovada cientificamente. Por exemplo: o Dr. Harold Saxon Bhurr,
da Universidade de Yale (EUA), detectou campos eletromagnéticos
em sementes, contendo potencialmente a forma da futura árvore
adulta. O mesmo obteve com girinos. Eis aí uma primeira aparente
discrepância. Quando falamos em perispírito, a própria
etimologia subentende a existência de um espírito. Mas
sabemos que em plantas e animais não existe ainda espírito
e sim um principio inteligente que naquele só se tornará
ao atingir o estagio humano pela aquisição da razão
e do livre-arbítrio. Assim, MOB parece conter um conceito mais
elástico do que perispírito. De qualquer forma, a função
principal é a mesma e se mantém, quer nos vegetais e animais
como no homem, isto é, o de servir de matriz e dar suporte a
forma física.
Na década de 40, na antiga União Soviética, o casal
Semyon Kirlian descobriu um processo de fotografar o efeito luminoso
das radiações, do que então denominaram corpo bioplasmático.
A idéia mais aceita no movimento espírita é de
que estas emanações seriam quando muito o resultado da
atividade ou presença de uma outra organização
conhecida como corpo vital, intermediário entre o corpo carnal
e o perispírito. Kardec, por sua vez, menciona o duplo-etérico
com que parece distinguir do perispirito propriamente dito. As pesquisas
continuam e depara-se, não raro, com definições
um tanto quanto conflitantes, com incorporação de conceitos
orientais que, às vezes, podem ajudar, mas, pela resistência
de uns e falta de analise criteriosa de outros, podem estabelecer mais
confusões.
O perispirito é o laço semimaterial (Divaldo P. Franco
substitui o termo “semimaterial” por plasma, quarto estado
da matéria, seguindo Carlos Alberto Tinoco que complementa-o
com o adjetivo “frio” e outros imaginam-no com uma parte
mais material e outra energética) que prende o Espírito
ao corpo físico. Considerado o verdadeiro corpo do Espírito,
é seu invólucro, derivado da Energia Cósmica Universal,
tal como o próprio corpo carnal. Hernani Guimarães Andrade,
estudioso do aspecto cientifico da Doutrina, na elaboração
de sua teoria em que situa o Espírito numa quarta dimensão,
atribui uma constituição daquilo que denomina de matéria-psi
e Jorge Andréa supõe um perispírito formado por
antimatéria.
Leve e imponderável (há também quem pretenda tê-lo
pesado – mais ou menos 60 gramas – e deve tratar-se do corpo
vital), acompanha o Espírito tanto quando encarnado como desencarnado.
Veiculo das sensações exteriores, percepções
espirituais e condutor da vontade do Espírito para a manifestação
no mundo material, modifica-se segundo a evolução do ser
imortal e conforme o mundo em que este deve atuar. A sua estrutura eletromagnética
atrai em torno de si os elementos de que necessita para formar e manter
a forma humana tal como as limalhas de ferro em torno do imã.
É indestrutível (há na literatura espírita
descrições de que ele pode ser desestruturado, numa morte
por explosão, por exemplo, embora sem aniquilamento total), usualmente
invisível pela condição de não solidez e,
segundo o mentor Emmanuel, compõe-se também de substancias
químicas que transcendem a serie estequiogenética (elementos
ainda não descobertos e situados alem da tabela periódica).
A forma humana poderia ser comprometida tanto no caso de acidentes graves
como no curioso caso dos ovóides descritos pelo autor espiritual
André Luiz, em que o monoideísmo, a fixação
obstinada em certa idéia, num circulo vicioso e muito prolongado,
poderia reduzi-lo a uma forma lembrando um ovo. Acrescente-se, e até
como decorrência desta fixação mórbida –
vingança, por exemplo -, o fenômeno da zoantropia, quando,
em zonas umbralinas, o Espírito se mostra aos demais com a forma
perispiritual de animais, como um lobo (licantropia), ou entes cornudos,
figurando o diabo, etc. Mas se o Espiritismo afirma que este não
existe, como explicar? É o efeito ideoplástico da mente
sobre o perispírito que é altamente plasticizante, deste
modo, os Espíritos podem aparecer vestidos com tal ou qual roupa,
manter uma cicatriz de identificação, tomar a aparência
de anjo alado, de Nossa Senhora, etc.
Entre as funções não citadas está a de servir
de arquivo de todos os conhecimentos adquiridos pelo espírito,
nele residindo, portanto, a memória palingenética ou extra
cerebral. Algumas analises, levando-se em conta informações
do plano espiritual, podem nos conduzir a conclusão de que o
perispírito não deve ser homogêneo; talvez a sua
parte energética, de fato, constitua quase como um corpo especial.
Seria o corpo mental não citado por Kardec, provavelmente para
não dificultar a compreensão já difícil
ao falar de um corpo invisível, matriz do carnal, etc. É
mais lógico pensar que o corpo mental, aquela parte do perispírito
que é integrante e inseparável do Espírito, é
que deve manter os registros de sua vida imortal.
Dissemos no inicio da importância capital do perispírito
nas manifestações mediúnicas, inclusive as que
envolvem a produção de fenômenos ostensivos; materializações,
transportes de objetos, escrita e audição diretas (pneumatografia
e pneumaofonia respectivamente), curas e outros. Podem ser incluídos
aqui os desdobramentos anímicos durante o sono fisiológico
e todos os demais tipos de transe. O corpo adormece, mas o Espírito
continua livre e atuante na dimensão espiritual graças
ao seu veiculo sutil, o perispírito.
Das propriedades, a visibilidade só é possível
quando atinge um grau maior de condensação, como nas aparições,
e depois ainda mais na tangibilidade ou materialização,
quando todos os presentes podem ver, tocar, conversar. Na vidência,
o perispírito está em seu estado natural e só é
percebido pelo médium. A penetrabilidade lhe permite atravessar
paredes e outros obstáculos a qualquer distancia com deslocamentos
praticamente instantâneos. Mas nem todos possuem tal capacidade.
Muitos, especialmente logo após desencarnar, devido aos condicionamentos
e baixo poder vibratório decorrente da maior condensação
do corpo etéreo ou perispírito, usam portas e veículos
de transporte, como os encarnados. Já falamos da plasticidade
que explica as ideoplastias e as transfigurações. A bilocação
ou bicorporeidade é o deslocamento do Espírito, com seu
perispírito altamente condensado, a lugar diverso de onde está
o corpo físico (Ex. Antonio de Pádua).
Relevante papel também está reservado ao perispírito
nos fenômenos do nascimento e da morte. Antes de reencarnar o
Espírito é devidamente preparado para tal empreitada.
Com o auxilio dos benfeitores ligados a esta área (como no Ministério
da Reencarnação), faz o seu planejamento não só
de escolhas de experiências, como das características do
futuro corpo físico que lhe servirá de instrumento. Uma
vez de posse do novo modelo baseado no material disponível na
bagagem genética dos futuros pais, é atraído por
uma força irresistível à célula-ovo e aí
ligado justamente pelo laço perispírito que, a essa altura
dos acontecimentos, também perdeu a sua forma original, encolhendo
até o ponto da similaridade com a contraparte material. À
medida que o germe se desenvolve, o laço se encurta, se aperta,
completando-se essa ligação no nascimento. O envolvimento
do perispírito com o novo corpo em formação se
dá molécula a molécula e o Espírito gradativamente
vai perdendo a consciência e lembranças do passado, pelo
rebaixamento vibratório e diminuição de atividade
do perispírito. O medico Ricardo Di Bernardi teoriza que os enjôos
da gravidez teriam muito a ver com as diferenças vibratórias
dos perispíritos da mãe e do reencarnante, ali submetidos
à verdadeira simbiose temporária.
No processo da morte dá-se o inverso, isto é, esta só
ocorre quando o último laço que liga o perispírito
ao corpo material é rompido. Nas mortes naturais, o desembaraçamento
ocorre aos poucos, enquanto nas violentas provoca impacto o impacto
emocional profundo no ser. Mas morrer biologicamente não significa
necessariamente desencarnar ou desligar-se totalmente do corpo carnal
e muitos há que padecem a angustia, às vezes, até
de não se saberem mortos ou, por excesso de apego, ignorância
e viciações, experimentar os efeitos da decomposição
cadavérica.
Também não se pode deixar de mencionar a relevância
do perispírito nas chamadas doenças cármicas e
nas obsessões. Muitas disfunções físicas
e mentais têm a ver ou com desequilíbrios acumulados na
vida atual e passadas, arquivadas no perispírito e que agora
exigem reparação através da drenagem ao corpo físico,
ou por conseqüência de influencias perniciosas de entidades
negativas, ou atraídas por afinidade ao convívio na atmosfera
psíquica do individuo. Sempre o intermediário de vinculação
é o corpo perispiritual.
Especial destaque ao perispírito nos transplantes de órgãos,
cuja causa da rejeição parece estar relacionada aquele
e só contornada por medicação especifica. Por falar
nisso, outro detalhe curioso é a atuação dos medicamentos
homeopáticos que, fracionados seus elementos várias vezes,
acabam por adquirir propriedades sutis e tangenciando a energia pura,
atingindo mais diretamente a natureza perispiritual. E nos casos de
doenças mentais várias, os psicotropicos, mesmo nas obsessões,
desempenhariam certo papel útil, ainda que efêmero, por
“anestesiar” ou bloquear o fluxo de idéias e sentimentos
provindos da intimidade profunda mais ligada às vidas passadas,
bem como isolando o perispírito do enfermo do assedio do obsessor.
Quanto a certas sensações e necessidades inerentes ao
corpo físico, como frio, fome, sono, sexo, etc., fundamentalmente,
dependem do estagio evolutivo em que se encontra o desencarnado. Até
Leon Denis o afirma. A percepção de dor, por exemplo,
em região do corpo onde se instalou a enfermidade que provocou
a morte, pode ser um reflexo condicionado que o tempo, preces e ou esclarecimento,
poderão contornar. Para um suicida a mesma poderá se prolongar
mais e é uma imposição divina pelo abuso cometido.
Os viciosos sentirão falta do álcool e buscarão
a companhia de encarnados através dos quais absorverão
as emanações prazerosas, o mesmo ocorrendo com os escravizados
pelas sensações do sexo desvirtuado. Alimentação,
higiene “corporal” também constituem condicionamentos
dos quais aos poucos irá se libertando, se possuir um mínimo
de conhecimento da vida espiritual e, por merecimento, puder contar
com o auxilio de terceiros.
Como dissemos, este é um dos mias extensos e intrigantes temas
estudados pelo Espiritismo. Vale a pena buscar o aprofundamento de seu
conhecimento não só nas obras de Kardec, mas de várias
outras que buscam, a luz do conhecimento cientifico atual, compreender
melhor a sua natureza, constituição, propriedades e funções.
Afinal, para chegarmos ao Conhece-te a ti mesmo, certamente temos que
passar por ele, pois nós, seres humanos, enquanto encarnados,
somos constituídos basicamente de um corpo material, de um Espírito
imortal e do perispírito.
Fonte: Espiritismo, uma visão
panorâmica – Wilson Czerski
Editora – Casa Editora “O Clarim” – 2006.
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