Na prática diária, tanto
profissional quanto doutrinária, é constante a questão
dos fenômenos psicopatológicos ligados às áreas
do pensamento (delírios) e da senso-percepção
(alucinações), assim como dos fenômenos mediúnicos,
(em especial, os chamados inteligentes, a psicofonia, o desdobramento,
a vidência e a audiência), exigindo melhores estudos e
reflexões para evitar as confusões que resultam incorretas
indicações terapêuticas.
Allan Kardec, em “O Livro dos Espíritos”, já
apresentava o posicionamento dos orientadores espirituais sobre essa
confusão, em que se misturam quadros patológicos e manifestações
espíritas, no item sobre “os possessos” –
parte 2ª, cap IX, pergunta 474:
“Muitos epilépticos
ou loucos, que mais necessitavam de médico que de exorcismos,
têm sido tomados por possessos”.
Com o desenvolvimento das neurociências
e o retorno da ocupação com o tema espiritualidade,
muitos trabalhos surgiram, questionando a realidade dos fenômenos
mediúnicos e como eles ocorreriam na fisiologia cerebral. Existem,
hoje, vários estudiosos sérios que acreditam que os
temas que envolvem ciência e fé não se excluem
e que é preciso voltar-se para a compreensão de tudo
isso, de forma a ampliar o que seja a Verdade. Dr. Francis S Collins,
na introdução de seu best-seller “A Linguagem
de Deus”, afirma que “este livro tem por objetivo disseminar
esse conceito, argumentando que a crença em Deus pode ser uma
opção completamente racional e que os princípios
de fé são, na verdade, complementares aos da ciência”(págs
11-12 – 1ª ed 2007).
O objetivo deste trabalho é demonstrar a existência desses
fenômenos diante das evidências dos fatos, da necessidade
de diferenciá-los, de modo a oferecer o devido tratamento a
um e a outro, tanto dentro das possibilidades das ciências tradicionais,
quanto da ciência espírita.
Um dos mais importantes aspectos desta discussão é a
argumentação, existente desde antes do surgimento do
Espiritismo, de que as crenças religiosas e suas manifestações
seriam causa do surgimento ou do agravamento dos quadros de loucura;
e que os rituais religiosos seriam refúgio para aquelas atuações,
que os fenômenos apresentados e relatados seriam fruto da imaginação
doentia dos seus autores e observadores.
Kardec, de maneira brilhante e racional, argumenta contra essa acusação
em “O Livro dos Médiuns”, em sua primeira parte,
no capítulo IV. Ali ele afirma:
“Todas as idéias sempre
tiveram fanáticos exagerados e é preciso se seja dotado
de muito obtuso juízo, para confundir a exageração
de uma coisa com a coisa mesma”.
Mais à frente, o Codificador
argumenta:
“É fora de dúvida
que uma causa fisiológica bem conhecida pode fazer que uma
pessoa julgue ver em movimento um objeto que não se moveu,
ou que suponha estar ela própria a mover-se, quando permanece
imóvel. Mas quando, rodeando uma mesa, muitas pessoas a vêem
arrastada por um movimento tão rápido que difícil
se lhes fora acompanhá-la, ou que mesmo deita algumas delas
no chão, poder-se-á dizer que todas se acham tomadas
de vertigem, como o bêbado, que acredita estar vendo a casa
em que mora passar-lhe por diante dos olhos?”
Sobre o Pensamento e a Vida Mental
Entender o que verdadeiramente é
a mente e, por conseqüência, a consciência faz-se
hoje o maior desafio da ciência. Temos entre os estudiosos dois
grandes grupos. De um lado, estão os pesquisadores materialistas
mecanicistas que acreditam que, quando for determinado todo o mapeamento
cerebral e elucidados cada componente, função e interações,
que esta descrição será capaz de dizer tudo sobre
a natureza e a experiência humanas. No outro pólo estão
os que crêem que esta visão reducionista jamais capacitará
o homem a entender integralmente os sentimentos, as motivações
profundas dos comportamentos e muito menos será capaz de explicar
o produto mais fenomenal da vida: a consciência, propriedade
particular da criatura humana, por esta compreensão transcender
o nível da matéria.
Existem duas grandes correntes de pensamento no que concerne ao que
seja a consciência (e por conseqüência a mente).
Para o primeiro, a mente é o produto da atividade cerebral,
uma propriedade do mundo físico, que pode ser explorada e,
com o desenvolvimento das pesquisas, compreendida. O segundo acredita
que a mente transcende a questão material. Neste grupo se sobrepõem
as idéias do dualismo cartesiano – corpo/espírito.
Na busca desta compreensão surgem inúmeras dúvidas,
as quais direcionam muitas pesquisas atuais. A jornalista Rita Carter
assim se refere sobre elas em seu livro: “O Livro de Ouro da
Mente”:
“Ela [a mente] tem um propósito
ou é apenas um subproduto da complexidade neural? É
um córrego único e contínuo ou aquela sensação
de continuidade e unidade é uma ilusão? Se fosse possível
remover o conteúdo informativo de um cérebro vivente
e mantê-lo separado de seu corpo – fazendo, talvez,
um download dele para um disquete -, a consciência iria com
ele? E, em caso afirmativo, onde exatamente ela estaria? De quais
bytes de dados você poderia prescindir ao colocar vovô
em off-line e ainda ter a certeza de que ele é capaz de desfrutar
sua existência virtual?”.
Podem-se resumir os resultados já
encontrados sobre o assunto, afirmando que as idéias são
criadas nos lobos frontais. Nesta região são construídos
os planos, reunidos os pensamentos, ocorrem as associações,
formando novas memórias, e as percepções são
armazenadas para posteriormente ser enviadas para as áreas
que constroem a memória de longo prazo ou para o esquecimento.
Para os que realizaram esses estudos, a região frontal do cérebro
é o lar da consciência, pois nela reside o autoconhecimento
e as emoções são processadas. Tais estudos vêm
corroborar as idéias místicas tradicionais que já
pregavam tais ensinamentos, colocando o terceiro olho nessa região.
Amit Goswami, no livro “O Universo Autoconsciente”, afirma:
“A consciência é
o que o torna o ser único que você é, diferente
de sua amada e de qualquer outra pessoa, e que reage de forma particular
ao presente”.
Em sua teoria, o autor afirma que
a consciência se reveste de quatro aspectos diferentes: o campo
da consciência, que ele chama de percepção; os
objetos da consciência, tais como o pensamento e os sentimentos;
o sujeito da consciência ou experimentador; e a consciência
como fundamento de todo o ser.
O Espiritismo entende que a consciência é um dos atributos
fundamentais do Espírito.
Na pergunta de nº 621, de “O Livro dos Espíritos”,
Kardec pergunta aos orientadores espirituais “Onde está
escrita a lei de Deus?”, ao que eles respondem: “Na consciência”.
Entretanto, naquela obra não há um maior esclarecimento
sobre o que seja a consciência e de que forma ela possa fornecer
recursos para a compreensão do que seja a mente.
No livro “O Problema do Ser, do Destino e da Dor” o célebre
escritor Léon Denis assim se expressa:
“A consciência é,
pois, como diria William James, o centro da personalidade, centro
permanente, indestrutível, que persiste e se mantém
através de todas as transformações do indivíduo.
A consciência é não somente a faculdade de perceber,
mas também o sentimento que temos de viver, agir, pensar,
querer. É una e indivisível. A pluralidade de seus
estados nada prova, como vimos, contra a sua unidade. Aqueles estados
são sucessivos, como as percepções correlativas,
e não simultâneos.
“Todavia, a consciência apresenta, em sua unidade, como
sabemos, vários planos, vários aspectos. Física,
confunde-se com o que a Ciência chama de ‘sensorium’,
isto é, a faculdade de concentrar as sensações
externas, coordená-las, defini-las, perceber-lhes as causas
e determinar-lhes os efeitos. Pouco a pouco, pelo próprio
fato da evolução, essas sensações vão-se
multiplicando e apurando, e a consciência intelectual acorda.
Daí em diante não terá limites seus desenvolvimentos,
pois que poderá abraçar todas as manifestações
da vida infinita”.
A codificação espírita
não traz especificamente uma definição do que
seja a mente.
O espírito Emmanuel, no livro “Pensamento e Vida”,
define a mente como “o campo da nossa consciência desperta,
na faixa evolutiva em que o conhecimento adquirido nos permite operar”.
Segundo o espírito André Luiz, em sua obra “Evolução
em dois mundos”, o corpo mental é o envoltório
sutil da mente. Haveria também uma estrutura fisiológica
correlacionada com a sede da mente no campo físico, correspondente
ao chamado centro coronário, que estaria instalada na região
central do cérebro, que assimilaria os estímulos do
Plano Superior e orientaria “a forma, o movimento, a estabilidade,
o metabolismo orgânico e a vida consciencial da alma encarnada
ou desencarnada”.
Através das informações de André Luiz,
a área que hoje é considerada responsável pela
a atividade consciencial do espírito, no campo cerebral, estaria
afeta ao comando do centro cerebral. Ela estaria contígua ao
coronário, com influência decisiva sobre as demais. Ela
governaria “o córtex encefálico na sustentação
dos sentidos, marcando a atividade das glândulas endócrinas
e administrando o sistema nervoso, em toda a sua organização,
coordenação, atividade e mecanismo”.
Tentando entender o mecanismo de integração cérebro-mente,
Dr. Décio Iandoli apresenta essas inteligentes percepções,
no seu livro “Fisiologia Transdimensional”:
“O centro coronário
e o centro cerebral (frontal) trabalham em sintonia e sincronia
no gerenciamento e encaminhamento das ‘ordens’ do princípio
inteligente, cumprindo sua função de interface físico-etérica
no seu plano mais superior e sutil.
“Se recordarmos a ligação do centro coronário
à glândula pineal e do centro frontal à hipófise,
facilmente entendemos essa relação funcional e seus
mecanismos, já que a primeira subjuga, a partir dos centros
hipotalâmicos, as respostas hipofisárias, que secretam
seus diversos hormônios com ação geral e específica
sobre os vários compartimentos orgânicos, como já
explanado no capítulo da endocrinologia.
“Por este sistema, verte o ‘fluido mental’, secreção
da mente e não do cérebro, que se difunde pelos caminhos
neurais a todo o córtex (via glândula pineal) e, posteriormente,
a todo o corpo biológico, por ação glandular
e neural eferente”.
O Pensamento
Para os estudiosos vinculados às
escolas mecanicistas, que conceberam o cérebro como uma máquina
complexa, dotada de estados internos, o pensamento seria um desses
estados semelhantes aos sentimentos. As diversas justaposições
desses estados, produzidas pela ação de um estímulo
específico, provocariam as mais variadas possibilidades de
atuação humana; o livre-arbítrio, nessa teoria,
seria uma simples ilusão.
As informações da jornalista Rita Carter, no livro já
anteriormente citado, faz entender a mecânica do pensamento
dentro da moderna visão da neurociência:
“Pensar não é
apenas um termo genérico para o conjunto de aptidões
abrigadas no cérebro. Envolve muitas delas: recordar e imaginar,
em particular. Mas inclui algo que não faz parte de nenhuma
outra função: o autoconhecimento. Tal aspecto do pensamento
é capturado na palavra que é muitas vezes usada paro
o descrever: reflexão.
“O processamento de pensamentos é de uma certa maneira
como os estágios posteriores do processamento sensorial.
Assim como as várias partes de uma imagem – local,
cor, formato, tamanho e assim por diante – são reunidas
e integradas num todo, também nós reunimos diversas
memórias e imagens e as colocamos juntas para criar um novo
conceito. A grande diferença é que, enquanto a construção
sensorial é inconsciente, o processamento de pensamentos
é feito conscientemente. Quando o córtex frontal realiza
suas tarefas, ele monitora o que está fazendo. Portanto,
enquanto uma imagem simplesmente ‘chega à consciência,
um conceito traz consigo o conhecimento de como veio a ser’”.
Segundo os estudos mais recentes,
o pensamento, nos seus aspectos práticos, que são a
manutenção de idéias e a suas manipulação,
ocorrem em uma região do córtex pré-frontal dorsolateral
(lado superior), que é também a região da chamada
memória operacional. Nesta área são feitos os
planejamentos e as escolhas das várias ações
possíveis da criatura.
Dentro da abordagem espírita, o pensamento é um atributo
do espírito (“O Livro dos Espíritos”,
perg 89), sendo, portanto, uma ação da própria
essência do ser.
Ainda do ponto de vista espiritista, o pensamento é um tipo
de matéria formada por partículas de características
próprias, modificando-se de conformidade com a sua individualidade,
quantidade, tipo, qualidade e aplicação. É responsável
pela psicosfera que envolve o espírito, interferindo no corpo
físico. Portanto, teria uma expressão mais material
do que se consegue perceber, sendo o agente criador de uma dimensão
diferente da que trata a Física, expressando ao redor da criatura
aquilo que habita em sua intimidade.
Essas partículas são manipuláveis e, de acordo
com a inteligência que as conduz, podem se comportar e se direcionar
de formas diversas.
O pensamento se encontra sujeito à vontade daquele que o origina.
André Luiz, no livro “Evolução em Dois
Mundos”, afirma:
“A partícula do pensamento,
embora viva e poderosa na composição em que se derrama
do espírito que a produz, é igualmente passiva perante
o sentimento que lhe dá forma e natureza para o bem e o mal”.
O pensamento emitido pode vibrar em
diferentes faixas, dependendo do sentimento que o gerou. Os de vibrações
mais elevadas são de alta freqüência, mais etéricos,
energéticos, de pequeno comprimento de onda e são originários
de sentimentos derivados do amor verdadeiro, produzindo criações
de expressão superior. Os de baixo padrão vibratório
são mais densos, com menor teor de energia, de grande comprimento
de onda e estão ligados aos sentimentos vinculados aos vícios
e à matéria, presentes na maioria dos encarnados e daqueles
que, desencarnados, comungam dessa esfera, mantendo uma realidade
mais sombria e, provavelmente ligada ao surgimento das chamadas formas
alucinatórias, observadas pelos portadores de transtornos mentais.
Segundo os estudos da Teosofia, os pensamentos criam uma série
de vibrações na substância do corpo mental. Este,
por sua vez, exterioriza uma fração de si mesmo, o qual
vai atrair, no meio etéreo, substâncias semelhantes a
si.
Quando emitem pensamentos, as estruturas sutis do espírito,
em especial o corpo mental, utilizam forças, as quais demandam
maior ou menor esforço, segundo as suas naturezas mais intrínsecas,
produzindo resíduos de partículas mentais. Esses resíduos
vão atuar tanto no próprio perispírito quanto
no ambiente e nas individualidades que o sentirem. Se eles são
de maior densidade, portanto, vinculados às questões
mais materiais apresentarão resíduos mais tóxicos,
provocando alterações ao nível do perispírito
ou materializando formas-pensamentos que, pela sua inferioridade,
atingirão as estruturas mais densificadas do próprio
espírito ou de terceiros sintonizados com os mesmos princípios
morais.
Os pensamentos de alto teor vibratório, por sua leveza e superioridade,
atuam como higienizadores, causando harmonização, podendo
levar à renovação do próprio perispírito,
reestruturando-lhe as áreas comprometidas, proporcionando maior
estado de saúde e sentimento de bem-estar.
Do surgimento dos delírios e alucinações
Sabe-se hoje que as atividades cerebrais
são reguladas pelos neurotransmissores, que são substâncias
químicas secretadas pelos neurônios, os quais funcionam
em locais específicos e que podem apresentar efeitos diferentes,
conforme a região ativada. Já foram identificados aproximadamente
cinqüenta deles, mas, certamente, eles são muito mais.
Entre os mais importantes, encontra-se a dopamina, que controla os
graus de excitação de várias regiões cerebrais.
Os níveis elevados deste neurotransmissor parecem estar associados
ao surgimento da esquizofrenia e dos processos alucinatórios
e delirantes.
Uma das observações importantes dos estudiosos é
a de que o cérebro não vê, ouve ou sente o mundo
exterior. Na verdade, ele constrói respostas aos estímulos
aos quais é submetido. Estes levam o cérebro a criar
uma imagem, como no caso das ondas luminosas que após se chocarem
com objetos, atingem os neurônios sensíveis à
luz no olho, que está de acordo com as informações
recebidas. No entanto, o cérebro pode fazer uma leitura errônea
do estimulo captado ou gerar estímulos próprios, os
quais seriam interpretados como exteriores a ele. Estas situações
gerariam no primeiro caso as ilusões e no segundo, as alucinações.
Acredita-se que alucinação, imaginação,
percepção ou identificação teriam as mesmas
bases anatômicas e neuroquímicas. Numa varredura cerebral,
o que se identifica são as mesmas atividades e nas mesmas áreas
cerebrais, tanto no caso da percepção de um objeto externo
ou no simples fato de imaginá-lo. No entanto, a ativação
na presença do objeto seria maior do que no caso da imaginação.
No caso do relato de visões de “assombrações”,
segundo os estudiosos, o que diferiria é o fato de a inconsciência
do observador gerar tais percepções, mas não
uma mudança do mecanismo cerebral de percepção.
Buscando compreender as alucinações, neurocientistas
acreditam que elas podem ser entendidas como experiências sensoriais
geradas automaticamente e de forma intensa, oriundas de um mecanismo
disfuncional do indivíduo.
C. D.Frich publicou um trabalho na revista “The Lancet”,
em 1995, em que afirma que as vozes escutadas pelos esquizofrênicos
são a sua própria voz, geradas numa parte diferente
do cérebro, que não o centro da fala, provocando um
input auditivo em outra região cerebral. Nas pessoas normais
isso não aconteceria, pois haveria um monitoramento de todo
o cérebro, evitando que a fala pessoal fosse confundida com
vozes externas.
O sistema que possibilita a diferenciação entre estímulos
internos e externos pode ser alterado nas chamadas pessoas normais,
como no caso de luto intenso, quando essas criaturas relatam ter escutado
a voz do morto.
No livro citado anteriormente, Rita Carter aponta uma série
de situações com as quais ela relaciona alterações
em regiões específicas do cérebro:
– 15% das pessoas que tem
perda parcial da visão apresentam relatos de alucinações;
– lesões no lobo frontal
esquerdo provocam a redução na capacidade de distinguir
os estímulos gerados externa e internamente;
– lesões na área
occipito-parietal levam a crença de que objetos podem aparecer
e desaparecer, por uma incapacidade de reter dois objetos na visão
ao mesmo tempo;
– estimulação
do lobo temporal pode provocar intensos flashbacks, sensações
de “presenças” de seres ou pessoas e alteração
na percepção da forma dos objetos;
– a estimulação
do sistema temporal/límbico pode levar as sensações
intensas de alegria, de estar na presença de Deus e precipitar
visões religiosas;
– quando se estimula o córtex
auditivo pode se produzir vozes alucinatórias. No caso da
sua área superior, a percepção será
de sons, barulhos, como silvos, cliques e estrondos;
– na área de formato
visual, presente no hemisfério direito, surgirão contornos
fantasmagóricos, no caso de uma superestimulação;
– a percepção
de duplos espectrais de pessoas vivas ou de si próprio pode
ser o resultado de uma alteração da margem do córtex
parietal/sensorial.
Estudos apontam ainda que a enxaqueca,
a epilepsia e uma grande variedade de drogas podem alterar a atividade
cerebral normal, provocando alucinações.
No caso de pessoas que perdem ou reduzem a capacidade de apreender
os estímulos sensoriais externos, há maior propensão
para ouvir vozes e sons fantasmas. Acreditam os estudiosos que o cérebro
evoluiu para manter uma vigilância permanente do mundo externo
e que, quando o fluxo desses estímulos é desligado,
ele busca algo que o substitua, ampliando a intensidade e significação
de pequenos estímulos.
Os casos de alucinações somatossensoriais são
de mais difícil identificação, pois os indivíduos
normais tomam como realidade leves alucinações, como
no caso em que se coça na ausência de um estímulo
externo gerador.
Desta forma, a visão da ciência atual conclui que as
alucinações seriam fruto de lesões de áreas
sensitivas específicas, da superestimulação em
alguns casos, de processos patológicos com sofrimento neuronal,
como nas enxaquecas, epilepsia, intoxicações por substâncias
químicas, ou como mecanismo de substituição no
caso da perda de determinadas sensibilidades.
A ciência espírita não nega a realidade dos fenômenos
alucinatórios, mas vai além na sua compreensão.
Por saber que o pensar gera, ao derredor da criatura, formas compatíveis
com seu pensamento; que, quando estes pensamentos se tornam constantes
e de grande intensidade, surgem as formas-pensamentos, as quais parecem
ser entidades ou vivências reais que – por não
fazerem parte do campo mental dos que observam o fenômeno –
são consideradas inexistentes.
Existe ainda a realidade espiritual, que transcende os mundos físicos,
móvel de estudo do Espiritismo, a qual pode ser sentida e experimentada
de forma mais ostensiva pelos chamados médiuns ou sensitivos
que, ao relatá-las, podem ser vistas como alucinações.
O fenômeno seria mais próximo das questões patológicas
quando a mediunidade estivesse conturbada, apresentando uma expressão
afetiva adoecida pelo medo, pela culpa e, em especial, pela raiva,
como nas chamadas obsessões ou possessões.
Nesse sentido, a Organização Mundial de Saúde
já orienta que a fenomenologia que se assemelha às alucinações
precisa ser observada dentro do aspecto cultural de uma sociedade
e, fazendo parte desta cultura, não pode ser entendida como
expressão patológica por si somente.
Os delírios são alterações do juízo
de realidade (capacidade de distinguir o falso do verdadeiro) e implica
lucidez da consciência. Inúmeros estudos utilizando SPECT
e PET em indivíduos esquizofrênicos detectaram a presença
de hipoatividade cortical frontal e hiperatividade temporal em pacientes
delirantes agudos. Esses métodos de investigação
demonstraram, principalmente através de um amplo estudo PET
do FSC, que diferentes agrupamentos de sintomas delirantes da esquizofrenia
estão relacionados a padrões específicos de atividade
cerebral subjacente. Tais situações estariam diretamente
ligadas ao aumento da ação dopaminérgica, já
que o uso de inibidores desse neurotransmissor faz desaparecer a sintomatologia
em quase sua totalidade.
Os indivíduos acometidos tanto de delirium como de delírio
têm alterações do pensamento no que se refere
à compreensão dos fatos. Nos casos das alucinações
as percepções são tidas como realidade, levando
a comportamentos e vivências alterados. Todas estas alterações
terminam por comprometer a interação com outras pessoas,
provocando padrões anormais de comportamento.
Nesse aspecto, o Espiritismo observa, como hoje a física quântica
já afirma, que a realidade não pode ser determinada
da forma reducionista, como os materialistas insistem em realçar.
A criatura convive com diversas expressões de conhecimentos,
as quais deverão ser paulatinamente apreendidas pela ciência
ortodoxa. Uma delas é a realidade de uma experiência
reencarnatória, onde memórias de vidas passadas podem
apresentar-se à criatura, facilitando ou dificultando determinadas
vivências atuais, entendidas como delírios. Outra é
oriunda da sensibilidade mediúnica, onde o sensitivo apreende
determinadas verdades, de conotação afetiva positiva
ou negativa, que, ao serem relatadas de forma contundente, são
vistas como delirantes. Como exemplo, nos casos de obsessão
espiritual, em que o médium relata que está sendo perseguido
por uma criatura que o acusa de um crime. Por não saber que
é médium ou por estar desequilibrado emocionalmente,
este relato pode ser considerado um delírio persecutório,
quando, na verdade, seria fruto de acusação de uma entidade
espiritual de atitude vivida nesta ou em outra encarnação.
Uma abordagem neurológica dos fenômenos místicos
e dos estados alterados da consciência.
O estudioso William Sargant chegou à conclusão de que
as semelhanças entre os Estados Alterados de Consciência
(EACs) transcendentes por ele observadas apontavam para um sistema
cerebral comum, afetado por diferentes manipulações
culturalmente específicas. A partir disso, os neurocientistas
têm fornecido suporte a esse mecanismo, explicando que existe
um circuito neural complexo encontrado nos níveis médios
do cérebro dos mamíferos, conhecido como sistema límbico.
Esse sistema tem uma variedade de funções emocionais,
motivacionais e de memória, além de estar envolvido
com as funções de atenção e do despertar.
A estimulação elétrica de áreas límbicas
em pacientes de neurocirurgia produz intensas alterações
da consciência, incluindo aquelas presentes nos estados transcendentes
ou místicos.
Alguns tipos de enxaqueca e ataques epiléticos que se originam
nas estruturas límbicas do lobo temporal são também
capazes de produzir estados dissociativos similares. A idéia
de que experiências transcendentes são causadas pela
hiperativação das funções normais desse
circuito é reforçada pela pesquisa em neurofarmacologia,
mostrando que drogas psicodélicas podem alterar a atividade
no sistema límbico. E, finalmente, patologias associadas a
profundos distúrbios emocionais e alucinações
são também conhecidas por envolver anormalidades límbicas.
Após coligir pesquisas em drogas psicodélicas, neuropatologias
e várias técnicas comportamentais usadas para alterar
a consciência, o neuropsiquiatra Arnold Mandell (1880) comparou
seus efeitos com os descritos na tradição mística.
Ele mostrou como todas essas manipulações eram capazes
de afetar a atividade neural no sistema límbico. Mandell implicou
interações especiais entre o septo, hipocampo e amídala
como decisivas para a ocorrência de experiências transcendentes.
Este circuito pode ser afetado por vários estados patológicos,
assim como por estimulação rítmica prolongada,
privação sensorial e as três grandes classes de
drogas alucinógenas (as que afetam os neurotransmissores serotonina,
acetilcolina e as catecolaminas).
Essa abordagem não invalidaria a existência de tais experiências
místicas. Ao contrário, Mandell afirma que elas podem
acontecer por um mecanismo fisiológico ou fruto da ação
de determinadas substâncias químicas. Para o Espiritismo
o sistema nervoso em sua totalidade é a expressão mais
evoluída do indivíduo e é através dele
que o espírito atua controlando as ações do corpo
físico. Portanto, toda a ação espiritual teria
uma expressão física, como se vê a seguir.
Uma teoria sobre o mecanismo neurofisiológico
da mediunidade
Kardec, em “O Livro dos Médiuns”,
afirma que a mediunidade seria uma faculdade orgânica, ou seja,
dependeria de um organismo, sendo que este abarcaria a estrutura do
ser encarnado, incluindo toda bagagem física, especializada
para tal, e dos elementos perispirituais, que capacitam o homem a
viver no intercâmbio entre o mundo material e o espiritual.
Como já foi citado anteriormente, as estruturas pertencentes
ao sistema nervoso são as mais especializadas, além
de serem as mais sutis do corpo físico.
Importante ressaltar que, na realidade, os fenômenos mediúnicos
se iniciam no corpo espiritual, ou mais precisamente em estruturas
menos densas, onde se encontra a manifestação dos pensamentos.
Quanto a essa percepção, vejam-se as colocações
de André Luiz, em “Evolução em Dois Mundos”,
ao se referir ao surgimento dos rudimentos da mediunidade na Terra:
“Considerando toda célula
em ação por unidade viva, qual motor microscópio,
em conexão com a usina mental, é claramente compreensível
que todas as agregações celulares emitam radiações
e que essas se articulem, através de sinergias funcionais,
a se constituírem de recursos, os quais podemos nomear por
tecidos de forças”.
Nessa tela eletromagnética
circula o pensamento, colorindo-a com as vibrações e
imagens de que se constitui, aí exibindo as solicitações
e os quadros que improvisa, antes de irradiá-los no rumo dos
objetos e das metas que demanda. Nessa conjugação de
forças físico-químicas e mentais existem as auras
humanas, peculiares a cada indivíduo, em que todos os estados
da alma se estampam, com sinais característicos e em que todas
as idéias se evidenciam, plasmando telas vivas. A aura é,
portanto, a plataforma onipresente em toda comunicação
com as rotas alheias e nas atividades de intercâmbio com a vida
que rodeiam a criatura. Por essa couraça vibratória,
espécie de carapaça fluídica, é que começaram
todas as expressões da mediunidade no planeta.
Essa obra de permuta, no entanto, foi iniciada no mundo sem qualquer
direção consciente. A intuição foi, por
esse motivo, o sistema inicial de intercâmbio.
A tentativa de compreensão dos mecanismos em nível físico
leva ao estudo do mecanismo das estruturas cerebrais que são
as mais sutis e aprimoradas do ser. Assim, o cérebro e todas
as estruturas do sistema nervoso estão intimamente vinculados
ao fenômeno mediúnico.
O desenvolvimento da neurociência, apoiado nos mais modernos
meios de estudos da atividade neuronal, como a tomografia computadorizada,
a ressonância magnética e a tomografia por emissão
de pósitrons, tem caminhado para a compreensão da fisiologia
cerebral.
Admite-se hoje que a atividade mental seria a resultante de uma ação
harmônica de um grupo de estruturas cerebrais que, interagindo,
formariam um sistema funcional complexo.
A doutrina espírita tem mostrado que, na realidade, os processos
mentais seriam frutos da atividade espiritual com repercussão
na estrutura física cerebral; sendo assim, o cérebro
seria apenas o instrumento. No entanto, para ocorrer essa integração
entre a essência espiritual, sua manifestação
e a estrutura física, é necessária a existência
de um elemento, que seja intermediário tanto na função
e também em sua composição. Esse corpo é
chamado espiritual ou perispírito.
“Esse corpo espiritual é
composto de uma substância vaporosa para os teus olhos, mas
ainda bastante grosseira para nós, assaz vaporosa, entretanto,
para poder elevar-se na atmosfera e transportar-se aonde queira”
(LE. perg. 93).
Por esse corpo semimaterial, presente
também nos desencarnados, ocorreriam as comunicações
mediúnicas. A partir das informações da neurologia
e dos ensinos dos espíritos, busca-se maior compreensão
do fenômeno mediúnico e da participação
de estruturas e áreas cerebrais em sua expressão.
Todo o material apresentado aqui é fruto de síntese
e compilação de estudos realizados por escritores dos
dois planos da vida.
Do ponto de vista anatômico, o sistema nervoso é constituído
pelos sistemas nervoso central e periférico. O periférico
é constituído por nervos e gânglios. Os nervos
são cordões esbranquiçados que ligam o sistema
nervoso central (SNC) aos órgãos periféricos.
Quando a sua origem se dá ao nível do encéfalo,
ele é chamado de nervo craniano. Se sua origem ocorre ao nível
da medula espinhal, ele é chamado de nervo espinhal. Em alguns
nervos podem existir certas dilatações constituídas
principalmente de corpos celulares de neurônios, que são
os gânglios.
Os nervos funcionam como estações emissoras e receptoras,
manipulando a energia mental, projetada ou recolhida pela mente, em
ação constante nos domínios da sensação
e da idéia, atuando nos demais centros do corpo espiritual
e nas zonas fisiológicas que se configuram no veículo
somático.
Uma proposta deste modelo levanta as seguintes explicações:
No córtex cerebral se origina
a atividade motora voluntária e consciente. Ali também
são codificadas todas as percepções sensitivas
que chegam ao cérebro e organizadas as funções
cognitivas complexas. Para tornar-se consciente, a atividade cerebral
precisa estabelecer uma interação entre o córtex
cerebral, o tálamo e a substância reticular do tronco
cerebral e do diencéfalo, na qual se situa o centro da consciência.
Uma lesão nessa substância provoca o estado do coma.
Da substância reticular projetam-se estímulos neuronais
ativadores ou inibidores da atividade do córtex cerebral, responsável
pelos diversos estágios de consciência. Desta forma,
o fato de uma manifestação mediúnica ser consciente
ou não, após o fenômeno para o medianeiro, deve
envolver estas áreas ligadas à consciência, certamente
objetivando algum benefício para a estrutura do sensitivo.
Ao estudar a anatomia e fisiologia do córtex, concluímos
que os fenômenos da psicografia, a vidência, a audiência
e a psicofonia devem ter a participação ativa dessa
estrutura, pois ali se encontram as áreas específicas
para a escrita, visão, audição e fala. Mesmo
quando na inconsciência do médium, esses centros devem
ser ativados para decodificação e organização
motora do fenômeno. Na ausência de um bloqueio do sistema
reticular ativador ascendente (por parte do médium ou do espírito
comunicante), as mensagens seriam sempre conscientes e o médium
poderia acrescentar sua participação, distorção,
ou a falta de detalhes dependeria do maior ou menor grau de desenvolvimento
mediúnico. Essas interferências do sensitivo são
chamadas de anímicas e sempre se fazem presentes, pois o fenômeno
tem que se expressar a partir dos recursos intelectivos, emocionais
e culturais do medianeiro. Elas diferem da ação maldosa
de criaturas que simulam tais fenômenos na busca de terem algum
tipo de ganho pessoal – o que a doutrina espírita também
chama de charlatanismo.
Os gânglios ou núcleos da base, constituídos por
aglomerados de neurônios situados na profundidade da substância
branca cerebral, são responsáveis por funções
motoras automáticas e involuntárias, e fazem parte do
sistema extrapiramidal. Eles controlam o tônus muscular, a postura
corporal e uma série de movimentos gestuais que completam a
movimentação voluntária; após o nascimento,
coordenam a nossa gesticulação reflexa e automatizada.
Progressivamente surgem os movimentos intencionais (voluntários),
projetados pelo córtex através de sua área motora
principal, que se vão sucedendo com maior facilidade, tornando-se
automáticos. Considerando o fenômeno mediúnico
da psicografia e da psicofonia, pode-se observar que os médiuns,
ao discursar ou escrever sob influência do espírito comunicante,
geralmente o fazem revelando gestos, posturas e expressões
mais ou menos comuns aos todos sensitivos, o que leva a crer que haja
uma ação de característica primária na
utilização dessas áreas cerebrais durante a fenomenologia,
provocando essa semelhança no agir.
Na psicografia, por exemplo, a escrita freqüentemente ocorre
com muita rapidez, as palavras podem aparecer escritas com pouca clareza
e as letras, geralmente, são grandes, provavelmente, para facilitar
a escrita rápida. A caligrafia é sem capricho e não
há necessidade de o médium acompanhar o que escreve,
podendo, inclusive, ocorrer escrita em espelho. Nesses tipos de fenômenos,
os médiuns conscientes relatam que são levados a escrever
ou falar como se isso independesse de suas próprias vontades.
Numa correlação da fisiologia do sistema extrapiramidal
(gânglios da base e área cortical pré-motora)
com as características da comunicação mediúnica,
pode-se dizer que o espírito comunicante se utilizaria desse
sistema automático para se manifestar com maior rapidez, com
um mínimo de gasto de energia e menor interferência consciente
do médium e maior possibilidade de suceder uma amnésia.
Essas comunicações seriam resultado de uma constelação
de automatismos complexos, desempenhados pelo sistema extrapiramidal
do médium, mas com a co-autoria do espírito comunicante.
Como essa atuação não impediria a consciência
do médium, ocorreriam ingerências voluntárias
do sensitivo, podendo ele interromper o fenômeno quando quisesse
ou necessitasse, justificando desse modo a necessidade da educação
mediúnica.
Na ausência de bloqueio desse sistema reticular ativador ascendente,
por parte do médium ou do espírito comunicante, as mensagens
seriam sempre conscientes, com que o médium poderia acrescentar
sua participação intelectual na comunicação,
causando, muitas vezes, dúvidas no intermediário sobre
a realidade do fenômeno. O que se acredita, atualmente, é
que nenhuma comunicação mediúnica seja totalmente
inconsciente, pois é sempre necessária a participação
do córtex. O fenômeno da inconsciência seria fruto
de amnésia provocada pelo desligamento entre os elementos sutis
do espírito e da estrutura psíquica do médium
(interação de campos de força), provavelmente
envolvendo o sistema reticular ativador ascendente.
Os trabalhos modernos da neuropsicologia têm identificado no
córtex do hemisfério direito as funções
correlacionadas com a organização de noção
geométrica e espacial. Quando ocorrem lesões nessas
áreas as falhas nos desenhos são muito características:
os objetos são esquematizados com negligência de detalhes,
ficando as figuras incompletas. Os médiuns que captam informações
à distância ou registram visões imateriais também
costumam descrever suas percepções com falta de detalhes
ou amputações, semelhantes às das síndromes
do hemisfério direito. Esse nível de distorção
ou de falta de detalhes dependeria do maior ou menor grau de desenvolvimento
mediúnico ou da utilização dessas áreas
cerebrais durante este tipo de fenômeno, dando como resultado
essas percepções distorcidas.
O tálamo é um núcleo sensitivo por excelência,
exercendo um papel receptor, centralizador e seletor das informações
advindas dos botões sensórios. Assim, todos os estímulos
do tipo dor, tato, temperatura e pressão, percebidos em toda
extensão do corpo, percorrem as vias neurais, terminando no
tálamo. Aqueles estímulos são percebidos, priorizados
e selecionados, chegando ao cérebro apenas os mais convenientes
ou os mais urgentes. Para os de menor importância, o tálamo
pode fornecer as informações desejadas, quando essas
são requeridas pelo cérebro.
Desse modo, o tálamo exerce um papel bloqueador, interrompendo
o caminho até o córtex cerebral, o qual será
alcançado se a informação for nova ou de interesse
ou, ainda, de risco. É bem provável que muitas sensações
somáticas referidas pelos médiuns, dando a impressão
da aproximação de entidades espirituais, sejam efeitos
dos estímulos talâmicos. A possibilidade de facilitação
ou inibição para a sensibilidade desses estímulos
espirituais estaria sob o comando do córtex cerebral, acrescida
à própria postura atenciosa do médium, em especial,
devido ao seu estado emocional ou a sua postura disciplinar na mediunidade.
Desse modo, o tálamo exerce um papel bloqueador, interrompendo
o caminho até o córtex cerebral, o qual será
alcançado se a informação for nova ou de interesse
ou, ainda, de risco. É bem provável que muitas sensações
somáticas referidas pelos médiuns, dando a impressão
da aproximação de entidades espirituais, sejam efeitos
dos estímulos talâmicos. A possibilidade de facilitação
ou inibição para a sensibilidade desses estímulos
espirituais estaria sob o comando do córtex cerebral, acrescida
à própria postura atenciosa do médium, em especial,
devido ao seu estado emocional ou a sua postura disciplinar na mediunidade.
Acredita-se na possibilidade da melatonina ter importante papel na
gênese de algumas patologias psiquiátricas, como a depressão
e a esquizofrenia.
A literatura oferece uma série de informações
que dão destaque especial a essa glândula, como núcleo
gerador de irradiação luminosa, servindo como porta
de entrada para a percepção do mundo espiritual e como
elemento físico através do qual o espírito rege
toda a estrutura somática. André Luiz, através
da psicografia de Francisco C. Xavier, no livro “Missionários
da Luz”, assim se refere à pineal:
“É a glândula
da vida mental. Ela acorda no organismo do homem, na puberdade,
as forças criadoras e, em seguida, continua a funcionar como
o mais avançado laboratório de elementos psíquicos
da Criatura terrestre (…). Ela preside aos fenômenos
nervosos da emotividade, como órgão de elevada expressão
no corpo etéreo”.
Dr. Jorge Andréa sobre esta
glândula, em seu livro “Forças Sexuais da Alma”,
afirma:
(…) “seria realmente
o casulo das energias do inconsciente, a sede do espírito,
pela possibilidade de ser a zona medianeira de transição
entre o energético e o físico. A glândula pineal
deve ser considerada a glândula da vida psíquica; a
glândula que ilumina toda a cadeia orgânica, orientando
as glândulas de secreção interna através
das estruturas da hipófise. (…) seria a tela medianeira
onde o espírito encontraria os meios de aquisição
dos seus íntimos valores, por um lado, e, pelo outro, forneceria
as condições para o crescimento mental do homem, num
verdadeiro ciclo aberto, inesgotável de possibilidades e
potencialidades. Descartes atribuiu-lhe a honra de ser a sede da
alma, ou seja, o ponto em que a alma se pendia ao corpo. Ela seria
uma chave de ligação elétrica, ou melhor, uma
válvula. Os nervos seriam os canais por onde passam os impulsos
eletromagnéticos eletroquímicos, mas seria no corpo
pineal que se registrariam esses impulsos e transmitidos para o
espírito”.
Pastorino, no livro “Técnicas
da Mediunidade”, ao comentar sobre a calcificação
da glândula, assim se expressa:
“A própria chamada
areia (sais calcários) tem sua tarefa específica,
ainda não revelada: com suas lâminas concêntricas
desincumbe-se de seu serviço à semelhança daquela
pedra natural denominada galena, que possui capacidade idêntica,
de detectar ondas hertzianas”.
Na própria pedra galena é
indispensável procurar um pontinho microscópio para
conseguir essa transmutação. Assim ocorre com o corpo
pineal, muito superior em seu funcionamento à galena. Nele
temos, não propriamente como interpretou Descartes, mas como
a válvula transmissora-receptora de vibrações
do corpo astral a regular todo o fluxo de emissões do espírito
para o corpo físico e vice-versa. Daí sua grande importância
para a mediunidade. Ao se observar a sensibilidade da pineal à
luz, pode-se pensar ser ela também mais sensível às
vibrações eletromagnéticas. A irradiação
espiritual seria essencialmente semelhante à onda eletromagnética
que conhecemos, compreendendo assim sua ação direta
sobre a pineal. Isso também explicaria o porquê da maior
presença de fenômenos mediúnicos em situações
desprovidas/ ou de pouca luminosidade.
Desse modo, num primeiro contato do médium com a entidade espiritual,
esse encontro se daria através da pineal. A ação
química, a partir do grau de estimulação no fenômeno
mediúnico, explicaria aquelas sensações relatadas
pelos médiuns, bem como as flutuações da intensidade
e freqüência dessas. Á medida que desenvolva sua
capacidade e moral, o médium terá as sensações
diminuídas em seus aspectos dolorosos, fazendo da mediunidade,
cada vez mais, um instrumento de crescimento e de felicidade.
Características marcantes dos delírios
a) Perda do
juízo da realidade por parte do sujeito;
b) Ausência da consciência da sua própria
enfermidade;
c) Firme convicção do sujeito da veracidade
(objetividade) de suas idéias;
d) Não modificáveis nem pela experiência,
nem por conclusões irrefutáveis;
e) Incorporados à personalidade;
f) Incorrigíveis, porque a convicção
anormal se assenta sobre um transtorno da personalidade;
g) Apresentam-se como uma forma de pensamento desassociado
e autista;
h) Como se constitui uma alteração
patológica do conteúdo do pensamento, proveniente
de quadro que pode comprometer o sujeito como uma unidade, o resto
dos processos do pensamento pode ser afetado (desagregação
delirante).
Características marcantes das alucinações
a) São percepções
sem um estímulo externo, emancipadas de todas as variáveis
que podem acompanhar os estímulos ambientais;
b) Convicção inabalável
do sujeito em relação ao objeto alucinado;
c) O objeto alucinado, muitas vezes,
é percebido com maior nitidez que os objetos reais de fato;
d) Podem se manifestar através
de qualquer um dos cinco sentidos, sendo as mais freqüentes
as auditivas e visuais;
e) O envolvimento psíquico
é mais contundente e de caráter mais mórbido
do que nas ilusões.
Características fundamentais do fenômeno
mediúnico
a) Na grande maioria das manifestações
não há perda do juízo da realidade e, quando
isto acontece, é prova de um comprometimento do sensitivo,
que necessita de algum tipo de ajuda especializada, sem descaracterizar
a existência da sensibilidade mediúnica;
b) O comportamento do médium,
no geral, segue os parâmetros da normalidade, reconhecendo
a realidade do fenômeno e sua origem, dentro das suas crenças.
Isso pode ser confirmado pelo trabalho do Dr. Alexander Moreira,
que estudou 115 médiuns espíritas escolhidos aleatoriamente
em instituições kardecistas da cidade de São
Paulo, tendo verificado que eles “evidenciaram alto nível
socioeducacional, baixa prevalência de transtornos psiquiátricos
menores e razoável adequação social. A mediunidade
provavelmente se constitui numa vivência diferente do transtorno
de identidade dissociativa. A maioria teve o início de suas
manifestações mediúnicas na infância,
e estas, atualmente, se caracterizam por vivências de influência
ou alucinatórias, que não necessariamente implicam
num diagnóstico de esquizofrenia”. “Fenomenologia
das experiências mediúnicas, perfil e psicopatologia
de médiuns espíritas” Almeida, Alexander Moreira
de – Tese de Doutorado em Psiquiatria – USP. 2005.
c) É capaz de ocorrer o questionamento
do sensitivo, em especial, sob o aspecto do conteúdo apresentado
e se relaciona diretamente com suas crenças religiosas;
d) Não é parte da
personalidade do médium, mas os conteúdos morais e
as experiências podem modificar positivamente a vida afetiva
e os comportamentos do sensitivo. No entanto, nos processos obsessivos
podem apresentar sérias semelhanças com os quadros
patológicos, necessitando da intervenção de
profissionais especializados para diferenciar uma de outra situação;
e) A grande maioria dos sensitivos
não apresenta transtornos importantes da personalidade e
fora do fenômeno tem uma vida comum, cumprindo os papéis
fundamentais dentro da sociedade;
f) O conteúdo das manifestações
não tem caráter dissociativo ou autista; geralmente,
são congruentes com a realidade e, algumas vezes, trazem
revelações que podem ser confirmadas por terceiros,
desconhecidas dos sensitivos. Os quadros não são constantes
na vida da criatura, o que não impede que o médium
tenha um cotidiano semelhante ao da maioria das pessoas;
g) Por não se constituírem
manifestações patológicas não geram
um comprometimento da vida social do médium, nem causam uma
desagregação interna do indivíduo.
Desse modo pode-se resumidamente identificar alguns elementos
para diferenciar os fenômenos delirantes-alucinatórios
das manifestações mediúnicas:
– Características
do fenômeno
Os quadros patológicos são
acompanhados de uma sintomatologia mais ampla do que a presença
de delírios e alucinações, na maioria das vezes.
Deve ser avaliada toda a história do indivíduo, que
quase sempre já apresentava sinais de alterações
emocionais. É muito comum a presença de quadros semelhantes
nos familiares mais próximos, podendo ser induzidos por doenças
orgânicas ou traumatismos e pelo uso de substâncias
químicas. Entretanto, alguns casos de eclosão mediúnica,
em especial, com a interferência de obsessores podem assemelhar-se
ou serem induzidos por psicotrópicos que levam aos ECAs.
O caso é que os portadores de transtornos mentais não
darão sinais de evidente melhora ou cessação
dos sintomas com apenas a interferência no campo espiritual.
No entanto, os fenômenos mediúnicos podem ser reprimidos
com a medicação antipsicótica, que bloqueia
as mesmas vias de manifestação cerebral, como citado
anteriormente, dando a impressão de uma patologia psiquiátrica.
A observação não pode ser restrita ao fenômeno;
é preciso uma leitura completa da história pessoal
e um acompanhamento da evolução do caso. Quando o
fenômeno se apresenta em médiuns já desenvolvidos,
mesmo se suas características são semelhantes a processos
psicóticos, poder-se-á fazer com clareza a diferença
entre a conduta anterior e posterior do sensitivo em sua vida particular.
– Conteúdo da
fenomenologia
Uma questão fundamental para
a diferenciação dos fenômenos são os
seus conteúdos. Geralmente, as informações
na mediunidade são pautadas por maior coerência, revelando
dados desconhecidos pelos médiuns, os quais identificam as
entidades espirituais que podem ser confirmadas pelas pessoas ligadas
a esses processos.
Ainda aqui os fenômenos medianímicos nem sempre apresentam
dados bastante claros: a presença de processos de vingança
espiritual, por exemplo, pode levar a confusão com os delírios
persecutórios. Entretanto, essa perseguição
não é necessariamente dirigida para o medianeiro,
como nos casos delirantes, cujo conteúdo é auto-referencial.
Também não é comum que as alucinações
tenham expressões de beleza e elevado teor moral, diferindo
das manifestações de entidades superiores.
Deve ser lembrado nessa situação, como em outros casos,
as manifestações histéricas, de profundo colorido
anímico, presas aos conteúdos e histórias pessoais,
as quais poderão ser identificadas ao ser avaliada a vida
do indivíduo em sua totalidade. Isso é dificultado
por uma observação comum: a de que muitos sensitivos
apresentam tonalidade histérica em sua expressão diária,
sejam quais forem os aspectos do relacionamento.
– Personalidade e estado
psicológico do medianeiro
As manifestações patológicas
estão associadas a uma estrutura emocional doentia. Desse
modo, os indivíduos doentes têm um comprometimento
geral em seu comportamento e afetividade, diferindo dos médiuns
que, fora do fenômeno, são criaturas com uma vida de
relação pautada dentro de parâmetros de normalidade.
Grande dificuldade apresentam os casos patológicos associados
à presença de sensibilidade mediúnica. Ou seja,
os portadores de transtornos mentais que também são
médiuns. Para diagnosticá-los é fundamental
a presença de um profissional especializado que tenha conhecimento
espiritual, em especial o espírita. Para chegar a esta conclusão
é necessário, muitas vezes, um acompanhamento do sujeito
por um tempo maior. De toda forma, a orientação precisa
seria a da interrupção de quaisquer estímulos
à mediunidade, cuidando do aspecto médico até
que se tenha certeza de outras formas de orientação
para o caso.
O uso de antipsicóticos inibirá tanto as alucinações
e delírios quanto os fenômenos mediúnicos, causando
maiores dúvidas para o diagnóstico. Nesses casos a
orientação espiritual através de médiuns
sérios e experientes poderá servir como mais um elemento
para a diferenciação. É preciso ter o cuidado
com posicionamentos extremados e fanatizados de ambos os lados (médico
e espiritualista), tendenciosos, a observarem os quadros apenas
por um ponto de vista.
– Evolução
do fenômeno na vida do sensitivo
Um fator importante é a diferenciação
na evolução do sujeito. Em geral a fenomenologia mediúnica
não é antecedida de sintomas psicopatológicos
graves, nem de distúrbios de caráter acentuados, embora
isso possa acontecer em certos casos. O que geralmente se observa
são expressões de maior sensibilidade emocional nos
relacionamentos, com mudanças súbitas de humor e comportamento,
com volta à normalidade em curto espaço de tempo,
também presente em alguns processos psiquiátricos.
Nas obsessões graves, porém, a influência de
uma entidade espiritual doente sobre o medianeiro pode dar o aspecto
de um quadro psiquiátrico. Será necessária
a intervenção médica para observar a evolução
do quadro, o que, diante dos cuidados espirituais, geralmente não
deixará seqüelas. As informações mediúnicas
sérias poderão facilitar esse diagnóstico,
mas não deverão partir de apenas um sensitivo, como
já orientava Allan Kardec.
Com o desenvolvimento mediúnico, os distúrbios emocionais
deverão cessar e as manifestações se restringirão
aos momentos de transe. A situação do medianeiro tenderá
ao normal na maioria das criaturas, com o despertamento para os
aspectos éticos. Toda a postura estará pautada dentro
de uma crença específica. No entanto, não se
pode esquecer que existem sensitivos voltados para a prática
do mal ou ligados ao ganho material através do dom que possuem.
A experiência tem mostrado que na maioria das vezes esses
médiuns caminham para uma derrocada moral ou para o adoecimento,
como efeito de uma ligação mental com energias tóxicas.
A maior parte dos processos psicóticos que envolvem as alucinações
e delírios, tem um prognóstico reservado, com repercussão
ruim e extensa na vida do paciente, necessitando do uso da medicação
por longos períodos ou até mesmo pela vida inteira.
– Exames laboratoriais
Há muito que ser pesquisado
e compreendido no que se refere ao funcionamento cerebral. Os estudos
dos estados místicos mostram a realidade positiva dos seus
efeitos na vida do ser, mas não comprovam sua realidade no
aspecto da transcendência. Como foi citado anteriormente,
as áreas da visão real, do imaginar uma cena ou das
chamadas visões espirituais são as mesmas. Alguns
trabalhos científicos citam que o que as diferenciaria seria
a intensidade do fluxo das reações aos estímulos.
Isso, no entanto, exige maiores estudos e pode ser questionado por
aqueles que já conseguem apreender a realidade espiritual.
Existem estudos ligados à glândula pineal que buscam
distinguir os processos de cristalização, relacionando-os
com alguns tipos de mediunidade; entretanto, esses ainda são
preliminares e estão no campo das hipóteses.
Sabe-se hoje que os ECAs são realidade, mas não há
aceitação de sua relação direta com
as chamadas interferências espirituais, ou seja, questiona-se
o verdadeiro móvel desses estados.
Uma crítica importante a este tipo de pesquisa é semelhante
àquela que busca compreender os mecanismos cerebrais durante
o ato sexual. A presença de observadores, o uso de aparelhos
e a necessidade de um ambiente favorável à pesquisa
(nem sempre favorável ao fenômeno) podem inibir a sensibilidade
ou causar interferência de tal grau, a ponto de comprometer
os resultados.
Outras observações envolveriam níveis de determinadas
substâncias durante o processo mediúnico, tais como
a melatonina, a dopamina e a adrenalina. Certamente, pelos dados
aqui relatados – em especial no que concerne às teorias
– essas substâncias são participantes da fenomenologia
na sua expressão física. Entretanto, também,
os quadros patológicos apresentam alterações
dessas substâncias e de forma particular da dopamina.
Todo esse processo será móvel de observações
mais rigorosas, com levantamento de dados mais precisos, e em futuro
próximo facilitará o reconhecimento da realidade da
mediunidade. O certo é que dia-a-dia as pesquisas científicas
estão oferecendo parâmetros, os quais têm referendado
as informações já noticiadas no campo espiritual,
em especial, do Espiritismo.
– Kardec, Allan. “O Livro dos Espíritos”.
FEB.54ª edição. RJ. 1981.
– Kardec, Allan. “O Livro dos Médiuns”.
FEB. 38ª edição. RJ. 1977.
– Collins, Francis S. “A Linguagem de Deus”.
Ed. Gente. 1ªedição. SP. 2007.
– Carter, Rita. “O Livro de Ouro da Mente”.
Ediouro. 2ª edição. RJ. 2002.
– Goswami, Amit. “O Universo Autoconsciente”.
Ed.Rosa dos Ventos. 5ª edição.RJ. 2002.
– Denis, Léon. “O Problema do Ser,
do Destino e da Dor”. FEB.
– Xavier, Francisco C. (pelo Espírito
Emmanuel). Pensamento e Vida. 4ª edição. RJ. 1975.
– Xavier, Francisco C.; Vieira, Waldo.(pelo Espírito
André Luiz). Evolução em Dois Mundos. FEB.
– Xavier, Francisco C. (pelo espírito
André Luiz). Missionários da Luz. 22ª edição.
FEB. RJ. 1990.
– Shirakawa, Itiro; Chaves, Ana C.; Mari, Jair
J. O Desafio da Esquizofrenia. Lemos Editorial. 1ª edição.
SP. 2001.
– Iandoli Jr, Décio. Fisiologia Transdimensional.1ª
edição. FE. SP. 2001.
– Facure, Núbor O. Muito Além dos
Neurônios. 1ª edição. AMESP. SP. 1999.
– Pastorino, Carlos T. Técnicas da Mediunidade.
Texto extraído da Internet.
– Andréa, Jorge. Forças Sexuais
da Alma.
– Andrade, Alcione A. e cols. Porque Adoecemos.
2ª edição. Ed.Espírita Cristã Fonte
Viva. MG. 1996.
– Almeida, Alexander M. “Fenomenologia
das experiências mediúnicas, perfil e psicopatologia dos
Médiuns Espíritas”.Tese de Doutorado em Psiquiatria.
USP. 2005.
– Textos extraídos da PSIQWEB, pela Internet.