Uma das questões mais fascinantes
do Espiritismo é a mediunidade e, nesse campo, em especial,
temos o fenômeno em sua expressão mais intrínseca.
Vez por outra, somos abordados sobre uma aparente incongruência
quanto ao tema, quando encontramos, no Livro dos Médiuns, que
a mediunidade seria uma faculdade orgânica e, no mesmo livro
citado, temos a informação de que a mediunidade aconteceria
através do perispírito.
Entendendo que o homem é a alma encarnada, temos que nos lembrar
de que a divisão do ser em suas diversas formas de manifestações,
ou seja, nos seus diversos corpos, é esquemática, pois,
na realidade somos um ser indivisível em sua expressão.
Como nos alerta, em O Livro dos Espíritos, dentro da nossa
pequenez evolutiva, só podemos conceber o espírito sem
matéria pelo pensamento. Assim, o homem, ao se manifestar,
o faz através do seu corpo físico, pela ação
do seu perispírito e pela vontade e direcionamento do espírito.
A partir dessas colocações, temos que qualquer que seja
a forma de Manifestação do espírito, ela se fará,
enquanto esse não pertencer ao grupo dos Espíritos Puros,
pelo seu perispírito e pelo seu correspondente físico
(quando encarnado).
Assim, da mesma forma que os médiuns ostensivos teriam uma
preparação especial do ponto de vista perispiritual,
essa condição diferenciada do corpo espiritual implementaria
no físico (anatômica ou eletro-quimicamente) uma estruturação
especial, para que a mediunidade acontecesse.
A mediunidade é o fenômeno que possibilita o contato
entre os espíritos, os quais se encontrariam em planos diversos
de manifestação. Essa condição da diversidade
de planos de ação determina limites e possibilidades
desse contato mediúnico.
Assim, da mesma forma que um ser da terceira dimensão não
pode agir na quarta e vice-versa, o fenômeno mediúnico
não pode se constituir pela atuação do espírito
desencarnado diretamente no corpo físico do encarnado, por
estarem em planos diversos. Para que isso aconteça, a mediunidade
tem que ocorrer em planos semelhantes.
Nesse aspecto, o ponto material (mesmo que transcendente e etéreo)
de contato entre o desencarnado e o encarnado é o perispírito.
Por isso, Kardec, sob a orientação do Espírito
da Verdade, afirma-nos que o fenômeno é perispiritual.
No entanto, quando da transferência
desta informação ou sensação perispiritual,
ela se faria por um órgão ou um conjunto de estruturas
físicas, ligadas àquelas regiões perispirituais.
No caso da mediunidade ostensiva, que diretamente nos toca, o conjunto
perispírito e corpo físico teria, então, características
especiais dos não médiuns ostensivos, diferenciando
estes dos primeiros. Essa condição, no entanto, não
teria nenhuma ligação com a postura moral da criatura,
do mesmo modo que a melhor condição dos sentidos do
homem não está vinculada a sua superioridade moral ou
espiritual.
Dentro do estudo sobre os mecanismos mediúnicos, encontramos
várias teorias que determinariam as regiões onde ocorreriam
as modificações, presentes nos médiuns ostensivos.
Elas não são necessariamente incoerentes e/ou excludentes,
podendo ser compreendidas como complementares. Os dados mais precisos
falam da ação do tálamo, em especial, da glândula
Pineal como sede da mediunidade no corpo físico. O
Dr. Sérgio Felipe de Oliveira, presidente da Associação
Médico-Espírita de São Paulo e professor
da USP, busca pelo estudo dessa glândula provar a sua importância
no fenômeno mediúnico e, conseqüentemente a comprovação
dessa teoria.
Pastorino, em seu livro "Técnicas
da Mediunidade", apresenta um excelente trabalho sobre
a importância dos centros vitais, situados no Duplo Etérico,
para o Fenômeno da mediunidade, correlacionando não só
os diversos tipos de manifestações, mas, também,
os pontos de ação das diferentes classes de espíritos.
O Dr. Nubor Facure, do Instituto do Cérebro,
de Campinas, apresenta uma correlação dos fenômenos
mediúnicos com as diversas áreas do encéfalo,
a partir das observações da Neurofisiologia dessas regiões.
Podemos, com certa tranqüilidade, afirmar que o fenômeno
da mediunidade ocorre sob a coordenação do centro coronário,
foco da atuação do espírito sobre corpo físico,
representado, neste último, pela região do Tálamo,
sede da glândula pineal, que direciona, por sua vez, a sua manifestação
física, orientando e se refletindo nas diversas regiões
cerebrais, vinculada ao tipo de atividade mediúnica. Aquele
centro vital direcionaria também as expressões da mediunidade
nos outros centros de força do Duplo Etérico, conforme
a atuação de cada um, fazendo-se sentir nos plexos nervosos
correspondentes a cada centro de força ou chakra.
Outra evidência, quanto à mediunidade, é que ela
ocorreria pelo pensamento, ou seja, seria basicamente um fenômeno
mental. No entanto, a experiência e a observação
da manifestação mediúnica mostram que todo o
fenômeno é precedido, no médium, por uma experiência
emocional. Isso poderia ser visto como uma outra ambivalência
quanto ao fenômeno, o que na realidade não é.
O que ocorre na realidade, é que a camada mais densa do perispírito
seria o corpo espiritual ou astral, sede das emoções
e dos sentimentos, a qual seria orientada e até estruturada
por um corpo etéreo mais transcendente, o corpo mental, onde
temos o pensamento concreto e a razão. Dessa forma, em sua
expressão mais materializada o fenômeno seria observável
pelas emoções e sentimentos, que para se fazerem compreendidos
precisam ser exprimidos pelos pensamentos, em forma de palavras.
A mente se expressa através do corpo mental, que embora maior
que aquele, é menor que o espírito, essência do
ser. Assim, diríamos didaticamente que o fenômeno mediúnico
tem sua sede no perispírito, se fazendo consciente através
do corpo mental. A mente pode esquematicamente ser expressa na figura
da casa mental.
A Casa Mental, na expressão de André
Luiz, teria uma correspondência na estrutura
do Sistema Nervoso Central. Teríamos, então:
"No sistema nervoso, temos
o cérebro inicial, repositório dos movimentos instintivos
e sede das atividades subconscientes; figuremo-lo como sendo o porão
da individualidade, onde arquivamos todas as experiências
e registramos os menores fatos da vida.
Na região do córtex motor, zona intermediária
entre os lobos frontais e os nervos, temos o cérebro desenvolvido,
consubstanciando as energias motoras de que se serve a nossa mente
para as manifestações imprescindíveis no atual
momento evolutivo do nosso modo de ser. Nos planos dos lobos frontais,
silenciosos ainda para a investigação científica
do mundo, jazem materiais de ordem sublime, que conquistaremos gradualmente,
no esforço de ascensão, representando a parte mais
nobre de nosso organismo divino em evolução."
..................................................................
"Tomemo-lo
como se fora um castelo de três andares: no primeiro situamos
a "residência de nossos impulsos automáticos",
simbolizando o sumário vivo dos serviços realizados;
no segundo localizamos o "domicílio das conquistas atuais",
onde se erguem e se consolidam as qualidades nobres que estamos edificando;
no terceiro, temos a "casa das noções superiores",
indicando as eminências que nos cumpre atingir. Num deles moram
o hábito e o automatismo; no outro residem o esforço
e a vontade; e no último demoram o ideal e a meta superior
a ser alcançada.
Distribuímos, deste modo, nos três andares, o subconsciente,
o consciente e o superconsciente.” - do livro "No
Mundo Maior", ditado pelo espírito André
Luiz ao médium Chico Xavier, cap.
3.
Para que o médium possa atuar e obter a comunicação
espiritual, ele necessita ampliar o seu estado de consciência,
atingindo o seu campo mental, correspondente a sua expressão
perispiritual, para isso, é preciso que ele entre em transe.
O transe é um estado ampliado da consciência
que, em diferentes graus de intensidade, a criatura se dissocia global
ou parcialmente dos centros psicossomáticos, mantendo ou não
a sensibilidade e a lucidez, estando em condições de
baixa tensão psíquica. Esse transe pode ser provocado
por substâncias químicas, estados patológicos
da criatura, por condições de stress intenso, através
da hipnose (auto e hetero-hipnose) ou pela mediunidade.
No fenômeno espírita, observamos dois tipos de
transe: o endógeno, provocado pelas
condições anímicas da criatura, induzido pelo
próprio indivíduo ou por terceiros; e o exógeno,
quando a criatura responde aos estímulos extra-físicos,
oriundos das dimensões espirituais.
O transe pode ser superficial, demarcado pelo fato
do sensitivo permanecer lúcido; passar pela fase hipnagógica,
quando a criatura fica sonolenta, entre o estado de vigília
e do sono; e o profundo, quando há uma inconsciência
sonambúlica.
No estado de transe, o médium dissocia-se, em consciência,
da sua dimensão física, ampliando as possibilidades
sensitivas do seu campo perispiritual.
Neste estado, ele pode perceber aquela dimensão, ocorrendo
os fenômenos anímicos (vidência e audiência);
ou, ainda, entrar em contato com as expressões psíquicas
de entidades que se encontram naquela faixa vibratória, que
são percebidas pelo corpo astral, interpretadas pelo corpo
mental, novamente enviadas ao corpo astral, que as direciona para
o Duplo Etérico e que captadas pela glândula Pineal,
são apresentadas, no fenômeno mediúnico, expressando-se
de acordo com as características do próprio intermediário
e do seu estado de transe.
A bagagem que o médium carrega no porão de sua Casa
Mental (subconsciente) e/ou o contato anterior com a entidade
manifestante, além do estado de transe profundo pode fazer
do fenômeno mais exuberante e de expressão mais condizente
com o espírito comunicante, facilitando a identificação
do mesmo, por aqueles que o conheceram. O estado de lucidez,
no transe, aumenta as interferências anímicas, dificultando
a expressão do espírito (não necessariamente
o conteúdo da mensagem) e a identificação deste.
Nos casos obsessivos, a carga de sentimentos negativos, em especial,
de culpa, presente no subconsciente, pode agravar ou reduzir a ação
das entidades sofredora.
As conquistas morais recentes e a busca constantes de metas superiores,
as quais determinam recursos de saúde espiritual respectivamente
no consciente e superconsciente, podem, inclusive, evitar a atuação
de obsessores, além de proporcionar estados mediúnicos
e anímicos superiores, como a intuição e o êxtase.