Espiritualidade e Sociedade





Dalva Silva Souza


>    Educação e Liberdade

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Dalva Silva Souza
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Kardec aconselhou a todos nós, que sonhamos com uma ordem social mais justa, a trabalhar na construção da base do edifício, sem pensar em colocar-lhe a cúpula. Esclareceu que essa base deve ser formada pela fraternidade em sua mais pura acepção, mas advertiu que não adianta decretar a fraternidade nem inscrevê-la numa bandeira: será preciso colocá-la no coração dos homens, pela extirpação do egoísmo e do orgulho que aí moram ainda. No estudo intitulado Liberdade, Igualdade, Fraternidade, o Codificador aponta a distinção entre liberdade legal e liberdade natural, ensinando que a segunda é imprescritível para toda criatura humana; podemos inferir, portanto, que só a primeira fica suscetível às restrições culturais. Ele demonstra que a liberdade é filha da fraternidade e da igualdade e que, sem a reunião desses três elementos, o edifício social fica incompleto. Adverte que, sem a fraternidade, a liberdade se torna rédea solta a todas as más paixões, e a igualdade conduz ao deslocamento do despotismo: sob o pretexto de igualdade, o pequeno rebaixa o grande, para lhe tomar o lugar, e se torna tirano por sua vez. O trabalho que devemos desenvolver: eliminar o egoísmo e desenvolver a fraternidade; não é fácil, mas não podemos desanimar, acreditando na impossibilidade de atingir essa meta. O Codificador assinala ainda que a aspiração humana por uma melhor ordem de coisas é indício da possibilidade de alcançá-la e conclui: "Aos que são progressistas cabe acelerar esse movimento por meio do estudo e da utilização dos meios mais eficientes."(1)

Hoje, o que se faz mais necessário é que, vivendo em sociedades, os homens alcancem uma vida de inter-relação mais consciente e responsável, aplicando seu potencial intelectual na busca de soluções para os problemas reais da coletividade que os abriga. Isso é mais urgente do que a formação de cientistas individuais que apliquem sua inteligência a descobertas particulares. As descobertas individuais são importantes, porque cada avanço da ciência significa o domínio de tecnologia mais apurada que facilita a vida da criatura na Terra, mas, considerando as dificuldades que se apresentam na intimidade dos lares e no seio dos grupos que compõem os aglomerados urbanos, sentimos que precisamos atingir essa consciência da responsabilidade que nos cabe no plano social.

A Doutrina Espírita institui uma nova visão do mundo e do homem, que deve fundamentar uma nova forma de educação. Será preciso, desde cedo, colocar a criança em contato com um meio rico em estímulos, apoiar suas descobertas, incorporar a brincadeira e o jogo ao cotidiano das atividades pedagógicas e favorecer a formação de grupos, por meio dos quais cada um poderá aprender a compartilhar suas aquisições. Mas há outros aspectos a considerar quanto às energias que nos envolvem e produzem efeitos sobre nossos pensamentos.

Os estudos espíritas mostram que as manifestações da natureza e da vida se resumem a vibrações mais ou menos rápidas e extensas, conforme as causas que as produzem. Tudo vibra no Universo: a luz, o som, o calor, a eletricidade, os raios químicos, as ondas hertzianas, tudo, enfim, são diferentes modalidades de ondulação da energia primitiva, chamada por Kardec "fluido cósmico universal"
(*). O Universo pode ser interpretado como um todo dinâmico que expressa o pensamento do Criador. O homem, criado à imagem e semelhança de Deus, é dotado também da capacidade de mentalizar e co-criar, utilizando os recursos intrínsecos à vida e ao ambiente em que se encontra. Como afirma André Luiz: "Nos fundamentos da Criação vibra o pensamento imensurável do Criador e sobre esse plasma divino vibra o pensamento mensurável da criatura, a constituir-se no vasto oceano de força mental em que os poderes do Espírito se manifestam." (2)

Cada Espírito possui uma irradiação mais ou menos luminosa, conforme seu grau de adiantamento. O pensamento é expressão da energia mental. Ele imprime às moléculas do cérebro movimentos vibratórios de variada intensidade e, exatamente como o som e a luz, exprime-se por vibrações que se propagam pelo espaço com intensidades diferentes. As vibrações dos cérebros pensantes, de encarnados ou desencarnados, cruzam-se ao infinito, sem se confundirem.

Em torno de nós, passam correntes de idéias e ondas de pensamentos que pessoas mais sensitivas podem captar. O pensamento é o agente essencial de todas as realizações no plano físico. Achamo-nos todos mergulhados num mesmo oceano de energia sutil, mas, pela ação da nossa vontade, construímos em torno de nós mesmos um halo vital caracterizado pelos pensamentos que nos são habituais (aura).

Exteriorizamos continuamente uma corrente de partículas mentais, cuja potência depende da nossa capacidade de concentração e do teor de persistência no rumo dos objetivos desejados. Essa ambiência energética que nossos pensamentos criam em torno de nós tem a capacidade de atrair elementos de correntes mentais a que se assemelham, e essa energia em que escolhemos estar mergulhados interfere em nossa economia psíquica, criando impulsos que favorecem ou atrapalham a nossa evolução, dependendo da direção que escolhemos livremente dar aos nossos pensamentos.

Podemos ampliar ainda mais nossa compreensão, percebendo que cada agrupamento humano possui também uma ambiência energética com as características peculiares dos indivíduos que o compõem. As instituições têm, pois, a sua aura que pode favorecer ou dificultar os caminhos dos indivíduos que a ela se vinculam. Pensando nisso, imaginamos que uma escola precisaria cuidar dessa ambiência energética, tornando-a fator de incentivo ao crescimento do potencial dos educandos. Isso só poderia dar-se, se os professores e demais profissionais envolvidos com a instituição estivessem informados a respeito da importância da contribuição energética que estão trazendo e assumissem um compromisso com seu próprio trabalho de crescimento espiritual.

André Luiz nos traz outras informações bastante interessantes sobre isso
(3). Em determinado momento de suas tarefas, orientado por Aniceto e acompanhado por Vicente, tem a oportunidade de observar do alto grandes núcleos sombrios deslocando-se nas ruas ou envolvendo determinados edifícios. Aniceto esclarece que "são zonas de matéria mental inferior, matéria que é expelida incessantemente por certa classe de pessoas (...)" compara isso às bactérias produzidas por um corpo doente, afirmando haver larvas mentais produzidas por mentes enfermas, podendo causar doenças da alma, assim como as bactérias físicas causam doenças do corpo. Assinala a importância da fé religiosa na criação de um estado positivo de confiança, otimismo e ânimo sadio na mente dos encarnados, anulando as possibilidades de contágio inferior.

Uma instituição destinada à educação precisaria estar protegida dessas nuvens escuras, cuja presença deve, sem dúvida, dificultar qualquer atividade humana, quanto mais aquela que objetiva o desenvolvimento dos potenciais anímicos das criaturas. Destacamos, na orientação de Aniceto, o estado de espírito que nos preserva do contágio dessas energias negativas: o estado positivo de confiança, otimismo e ânimo sadio. Diretores, supervisores e professores precisarão estar sempre atentos quanto aos próprios pensamentos, mantendo essa atmosfera psíquica favorável, para que sua contribuição na formação da psicosfera da escola seja a melhor possível.

Ainda com André Luiz, vamos aprender outros aspectos que acrescentam valioso material às nossas reflexões
(4). Em visita ao lar coletivo de Adelaide, recebe ele informações sobre a ambiência da instituição, trazendo esclarecimentos que nos interessam de perto. Afirmou o instrutor Jerônimo que aquela organização era campo propício às melhores semeaduras do espírito e André Luiz observa: "Em todos os compartimentos havia luz de nosso plano, indicando a abundância de pensamentos salutares e construtivos de todas as mentes que ali se entrelaçavam na mesma comunhão de ideal." Uma jovem colaboradora espiritual da casa, Irene, noticia que o salão das reuniões públicas era o local que forçava a equipe a um trabalho mais árduo, porque os encarnados menos esclarecidos que compareciam ao recinto traziam semanalmente emanações mentais prejudiciais ao ambiente e explicou: "(...) os pensamentos exercem vigoroso contágio e faz-se imprescindível isolar os prestimosos colaboradores de nossa tarefa, livrando-os de certos princípios destruidores ou dissolventes."

André Luiz estranhou que o número de colaboradores espirituais fosse tão grande, em contraposição ao das crianças assistidas pela instituição, mas Irene esclareceu que a obra não se dedicava exclusivamente às necessidades do estômago e do intelecto da infância desamparada, mas destinava-se à evangelização e, para infundir espiritualidade superior à mente humana, seria importante aproveitar instituições como aquela em que se encontravam, para funcionar como um difusor de idéias salutares, pelos valores de solidariedade cristã que oferecia. Ela acrescentou: "A fundação é muito mais de almas que de corpos, muito mais de pensamentos eternos que de coisas transitórias." E, em seguida, traz uma informação que nos parece muito preciosa, quando menciona o fato de que as instituições criadas com fundamento em outras interpretações do Cristianismo, embora realizem importante trabalho em prol dos que sofrem ao desamparo, não oferecem a melhor ambiência ao trabalho de iluminação da mente humana, porque "(...) as concepções espirituais não se desenvolvem, acanhadas que ficam nos moldes tirânicos dos dogmas obsoletos".

Uma instituição espírita tem, pois, a possibilidade de criar a ambiência ideal ao trabalho de iluminação do ser humano, pela libertação do pensamento dogmático que amarra e impede realizações maiores. Há pessoas, contudo, que, ao se tornarem espíritas, apenas mudam alguns rótulos: trocam céu por Nosso Lar, inferno por umbral, ressurreição por reencarnação, hóstia por água fluidificada, mas mantêm a inflexibilidade dogmática que impede a elas mesmas o uso consciente do livre-arbítrio. Precisamos meditar sobre nós mesmos, considerando nossa necessidade de reeducação e de libertação das cadeias interiores, para podermos criar o clima propício a uma educação também libertadora.

Uma receita interessante para quem trabalha com a educação é dada por Rubem Alves: "(...) eu gostaria que os nossos currículos fossem parecidos com a "Banda", que faz todo mundo marchar, sem mandar, simplesmente por falar as coisas de amor. Mas onde, nos nossos currículos, estão estas coisas de amor? Gostaria que eles se organizassem nas linhas do prazer: que falassem das coisas belas, que ensinassem Física com as estrelas, pipas, os piões e as bolinhas de gude, a Química com a culinária, a Biologia com as hortas e os aquários, Política com o jogo de xadrez, que houvesse a história cômica dos heróis, as crônicas dos erros dos cientistas, e que o prazer e suas técnicas fossem objeto de muita meditação e experimentação... Enquanto a sociedade feliz não chega, que haja pelo menos fragmentos de futuro em que a alegria é servida como sacramento, para que as crianças aprendam que o mundo pode ser diferente. Que a escola, ela mesma, seja um fragmento do futuro".
(5)

A respeito disso vale a pena fechar com Emmanuel: "Lembra-te de que vives, onde te encontras, por iniciativa do Poder Maior que nos supervisiona os destinos e guardemos lealdade às obrigações que nos cercam. E, agindo incessantemente na extensão do bem, no campo de luta que a vida nos confia,esperemos por novas decisões da Lei a nosso respeito, porque a própria Lei nos elevará de plano e nos sublimará as atividades no momento oportuno."
(6)

 

1. KARDEC, Allan. Obras Póstumas. 27. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1995.
2. XAVIER, Francisco Cândido. Mecanismos da Mediunidade. 12. ed. Rio de Janeiro:FEB, 1991.
3. XAVIER, Francisco Cândido. Os Mensageiros. 9. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1975.
4. XAVIER, Francisco Cândido. Obreiros da Vida Eterna. 5. ed. Rio de Janeiro: FEB,s/d.
5. ALVES, Rubem Azevedo. Estórias de quem gosta de ensinar. 12. ed. São Paulo:Cortez, 1988.
6. XAVIER, Francisco Cândido. Fonte Viva. 15. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1987.



(*) Cósmico e Universal são sinônimos, podendo-se usar na escrita somente Fluido Cósmico ou Fluido Universal que o entendimento continua sendo o mesmo. (Nota da A ERA DO ESPÍRITO)




No MICHAELIS - Moderno Dicionário da Língua Portuguesa (UOL)

cos.mo 1 sm (gr kósmos)
O universo, a natureza, considerados como um todo organizado e harmonioso; cosmos.

cosmo 2 elem comp (gr kósmos)
Expressa a idéia de mundo, universo: cosmogonia, cosmografia, microcosmo.

Cós.mi.co adj (gr kosmikós)
1 Pertencente ou relativo ao universo, ao cosmo.
2 Astr Diz-se do nascimento e do ocaso de um astro simultaneamente com o do Sol.
3 Diz-se da matéria espalhada no cosmo e de que se formam os astros.

U.ni.ver.sal adj m+f (universo+al3)
1 Geral, total.
2 Comum a todos.
3 Que abrange todas as coisas; que se estende a tudo.
4 Que provém de todos; que é efeito de todos.
5 Que tem o caráter de generalidade absoluta.
6 Composto de elementos tirados de várias fontes; variado, eclético.
7 Católico, ecumênico. sm

1 Aquilo que é geral, total.
2 Filos Termo da Escolástica, com que se designava a idéia geral de uma espécie de seres, abstraindo da existência realizada individualmente.
3 Dir Determinado conjunto de coisas singulares, formando um todo suscetível de ser apreçado, constituindo um ser jurídico, coletivo, independente de seus componentes.

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FLUIDO UNIVERSAL
Respostas as questões 1 e 27 de «O LIVRO DOS ESPÍRITOS»

 

Deus, espírito e matéria constituem o princípio de tudo o que existe, é a trindade Universal.

Deus é a inteligência suprema causa primária de todas as coisas.(q. 1 – LE)

O Espírito (Alma) é o princípio inteligente.

Para que o Espírito possa exercer ação sobre a matéria tem que se juntar o fluido universal, pois, é ele que desempenha o papel intermediário entre o Espírito e a matéria grosseira.

É lícito até certo ponto, classificar o fluido universal com o elemento material, porém, ele se distingue, deste por propriedades especiais. Este fluido deve ser considerado como sendo um elemento semimaterial, pois, está situado entre o Espírito e a matéria.

Esse fluido universal, ou primitivo, ou elementar, sendo o agente de que o Espírito se utiliza; é o princípio sem o qual a matéria estaria em perpétuo estado de divisão e nunca adquiriria as qualidades que a gravidade lhe dá.

* * *

Fonte: Reformador - Jan / 2000
http://www.omensageiro.com.br/artigos/artigo-205.htm


 



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