Kardec aconselhou a todos nós,
que sonhamos com uma ordem social mais justa, a trabalhar na construção
da base do edifício, sem pensar em colocar-lhe a cúpula.
Esclareceu que essa base deve ser formada pela fraternidade em sua
mais pura acepção, mas advertiu que não adianta
decretar a fraternidade nem inscrevê-la numa bandeira: será
preciso colocá-la no coração dos homens, pela
extirpação do egoísmo e do orgulho que aí
moram ainda. No estudo intitulado Liberdade, Igualdade, Fraternidade,
o Codificador aponta a distinção entre liberdade legal
e liberdade natural, ensinando que a segunda é imprescritível
para toda criatura humana; podemos inferir, portanto, que só
a primeira fica suscetível às restrições
culturais. Ele demonstra que a liberdade é filha da fraternidade
e da igualdade e que, sem a reunião desses três elementos,
o edifício social fica incompleto. Adverte que, sem a fraternidade,
a liberdade se torna rédea solta a todas as más paixões,
e a igualdade conduz ao deslocamento do despotismo: sob o pretexto
de igualdade, o pequeno rebaixa o grande, para lhe tomar o lugar,
e se torna tirano por sua vez. O trabalho que devemos desenvolver:
eliminar o egoísmo e desenvolver a fraternidade; não
é fácil, mas não podemos desanimar, acreditando
na impossibilidade de atingir essa meta. O Codificador assinala ainda
que a aspiração humana por uma melhor ordem de coisas
é indício da possibilidade de alcançá-la
e conclui: "Aos que são progressistas cabe acelerar
esse movimento por meio do estudo e da utilização dos
meios mais eficientes."(1)
Hoje, o que se faz mais necessário
é que, vivendo em sociedades, os homens alcancem uma vida de
inter-relação mais consciente e responsável,
aplicando seu potencial intelectual na busca de soluções
para os problemas reais da coletividade que os abriga. Isso é
mais urgente do que a formação de cientistas individuais
que apliquem sua inteligência a descobertas particulares. As
descobertas individuais são importantes, porque cada avanço
da ciência significa o domínio de tecnologia mais apurada
que facilita a vida da criatura na Terra, mas, considerando as dificuldades
que se apresentam na intimidade dos lares e no seio dos grupos que
compõem os aglomerados urbanos, sentimos que precisamos atingir
essa consciência da responsabilidade que nos cabe no plano social.
A Doutrina Espírita institui uma nova visão do mundo
e do homem, que deve fundamentar uma nova forma de educação.
Será preciso, desde cedo, colocar a criança em contato
com um meio rico em estímulos, apoiar suas descobertas, incorporar
a brincadeira e o jogo ao cotidiano das atividades pedagógicas
e favorecer a formação de grupos, por meio dos quais
cada um poderá aprender a compartilhar suas aquisições.
Mas há outros aspectos a considerar quanto às energias
que nos envolvem e produzem efeitos sobre nossos pensamentos.
Os estudos espíritas mostram que as manifestações
da natureza e da vida se resumem a vibrações mais ou
menos rápidas e extensas, conforme as causas que as produzem.
Tudo vibra no Universo: a luz, o som, o calor, a eletricidade, os
raios químicos, as ondas hertzianas, tudo, enfim, são
diferentes modalidades de ondulação da energia primitiva,
chamada por Kardec "fluido cósmico universal"
(*). O Universo
pode ser interpretado como um todo dinâmico que expressa o pensamento
do Criador. O homem, criado à imagem e semelhança de
Deus, é dotado também da capacidade de mentalizar e
co-criar, utilizando os recursos intrínsecos à vida
e ao ambiente em que se encontra. Como afirma André Luiz: "Nos
fundamentos da Criação vibra o pensamento imensurável
do Criador e sobre esse plasma divino vibra o pensamento mensurável
da criatura, a constituir-se no vasto oceano de força mental
em que os poderes do Espírito se manifestam." (2)
Cada Espírito possui uma irradiação mais ou menos
luminosa, conforme seu grau de adiantamento. O pensamento é
expressão da energia mental. Ele imprime às moléculas
do cérebro movimentos vibratórios de variada intensidade
e, exatamente como o som e a luz, exprime-se por vibrações
que se propagam pelo espaço com intensidades diferentes. As
vibrações dos cérebros pensantes, de encarnados
ou desencarnados, cruzam-se ao infinito, sem se confundirem.
Em torno de nós, passam correntes de idéias e ondas
de pensamentos que pessoas mais sensitivas podem captar. O pensamento
é o agente essencial de todas as realizações
no plano físico. Achamo-nos todos mergulhados num mesmo oceano
de energia sutil, mas, pela ação da nossa vontade, construímos
em torno de nós mesmos um halo vital caracterizado pelos pensamentos
que nos são habituais (aura).
Exteriorizamos continuamente uma corrente de partículas mentais,
cuja potência depende da nossa capacidade de concentração
e do teor de persistência no rumo dos objetivos desejados. Essa
ambiência energética que nossos pensamentos criam em
torno de nós tem a capacidade de atrair elementos de correntes
mentais a que se assemelham, e essa energia em que escolhemos estar
mergulhados interfere em nossa economia psíquica, criando impulsos
que favorecem ou atrapalham a nossa evolução, dependendo
da direção que escolhemos livremente dar aos nossos
pensamentos.
Podemos ampliar ainda mais nossa compreensão, percebendo que
cada agrupamento humano possui também uma ambiência energética
com as características peculiares dos indivíduos que
o compõem. As instituições têm, pois, a
sua aura que pode favorecer ou dificultar os caminhos dos indivíduos
que a ela se vinculam. Pensando nisso, imaginamos que uma escola precisaria
cuidar dessa ambiência energética, tornando-a fator de
incentivo ao crescimento do potencial dos educandos. Isso só
poderia dar-se, se os professores e demais profissionais envolvidos
com a instituição estivessem informados a respeito da
importância da contribuição energética
que estão trazendo e assumissem um compromisso com seu próprio
trabalho de crescimento espiritual.
André Luiz nos traz outras informações bastante
interessantes sobre isso (3).
Em determinado momento de suas tarefas, orientado por Aniceto e acompanhado
por Vicente, tem a oportunidade de observar do alto grandes núcleos
sombrios deslocando-se nas ruas ou envolvendo determinados edifícios.
Aniceto esclarece que "são zonas de matéria
mental inferior, matéria que é expelida incessantemente
por certa classe de pessoas (...)" compara isso às
bactérias produzidas por um corpo doente, afirmando haver larvas
mentais produzidas por mentes enfermas, podendo causar doenças
da alma, assim como as bactérias físicas causam doenças
do corpo. Assinala a importância da fé religiosa na criação
de um estado positivo de confiança, otimismo e ânimo
sadio na mente dos encarnados, anulando as possibilidades de contágio
inferior.
Uma instituição destinada à educação
precisaria estar protegida dessas nuvens escuras, cuja presença
deve, sem dúvida, dificultar qualquer atividade humana, quanto
mais aquela que objetiva o desenvolvimento dos potenciais anímicos
das criaturas. Destacamos, na orientação de Aniceto,
o estado de espírito que nos preserva do contágio dessas
energias negativas: o estado positivo de confiança, otimismo
e ânimo sadio. Diretores, supervisores e professores precisarão
estar sempre atentos quanto aos próprios pensamentos, mantendo
essa atmosfera psíquica favorável, para que sua contribuição
na formação da psicosfera da escola seja a melhor possível.
Ainda com André Luiz, vamos aprender outros aspectos que acrescentam
valioso material às nossas reflexões (4).
Em visita ao lar coletivo de Adelaide, recebe ele informações
sobre a ambiência da instituição, trazendo esclarecimentos
que nos interessam de perto. Afirmou o instrutor Jerônimo que
aquela organização era campo propício às
melhores semeaduras do espírito e André Luiz observa:
"Em todos os compartimentos havia luz de nosso plano, indicando
a abundância de pensamentos salutares e construtivos de todas
as mentes que ali se entrelaçavam na mesma comunhão
de ideal." Uma jovem colaboradora espiritual da casa, Irene,
noticia que o salão das reuniões públicas era
o local que forçava a equipe a um trabalho mais árduo,
porque os encarnados menos esclarecidos que compareciam ao recinto
traziam semanalmente emanações mentais prejudiciais
ao ambiente e explicou: "(...) os pensamentos exercem vigoroso
contágio e faz-se imprescindível isolar os prestimosos
colaboradores de nossa tarefa, livrando-os de certos princípios
destruidores ou dissolventes."
André Luiz estranhou que o número de colaboradores espirituais
fosse tão grande, em contraposição ao das crianças
assistidas pela instituição, mas Irene esclareceu que
a obra não se dedicava exclusivamente às necessidades
do estômago e do intelecto da infância desamparada, mas
destinava-se à evangelização e, para infundir
espiritualidade superior à mente humana, seria importante aproveitar
instituições como aquela em que se encontravam, para
funcionar como um difusor de idéias salutares, pelos valores
de solidariedade cristã que oferecia. Ela acrescentou: "A
fundação é muito mais de almas que de corpos,
muito mais de pensamentos eternos que de coisas transitórias."
E, em seguida, traz uma informação que nos parece muito
preciosa, quando menciona o fato de que as instituições
criadas com fundamento em outras interpretações do Cristianismo,
embora realizem importante trabalho em prol dos que sofrem ao desamparo,
não oferecem a melhor ambiência ao trabalho de iluminação
da mente humana, porque "(...) as concepções espirituais
não se desenvolvem, acanhadas que ficam nos moldes tirânicos
dos dogmas obsoletos".
Uma instituição espírita tem, pois, a possibilidade
de criar a ambiência ideal ao trabalho de iluminação
do ser humano, pela libertação do pensamento dogmático
que amarra e impede realizações maiores. Há pessoas,
contudo, que, ao se tornarem espíritas, apenas mudam alguns
rótulos: trocam céu por Nosso Lar, inferno por umbral,
ressurreição por reencarnação, hóstia
por água fluidificada, mas mantêm a inflexibilidade dogmática
que impede a elas mesmas o uso consciente do livre-arbítrio.
Precisamos meditar sobre nós mesmos, considerando nossa necessidade
de reeducação e de libertação das cadeias
interiores, para podermos criar o clima propício a uma educação
também libertadora.
Uma receita interessante para quem trabalha com a educação
é dada por Rubem Alves: "(...) eu gostaria que os
nossos currículos fossem parecidos com a "Banda",
que faz todo mundo marchar, sem mandar, simplesmente por falar as
coisas de amor. Mas onde, nos nossos currículos, estão
estas coisas de amor? Gostaria que eles se organizassem nas linhas
do prazer: que falassem das coisas belas, que ensinassem Física
com as estrelas, pipas, os piões e as bolinhas de gude, a Química
com a culinária, a Biologia com as hortas e os aquários,
Política com o jogo de xadrez, que houvesse a história
cômica dos heróis, as crônicas dos erros dos cientistas,
e que o prazer e suas técnicas fossem objeto de muita meditação
e experimentação... Enquanto a sociedade feliz não
chega, que haja pelo menos fragmentos de futuro em que a alegria é
servida como sacramento, para que as crianças aprendam que
o mundo pode ser diferente. Que a escola, ela mesma, seja um fragmento
do futuro".(5)
A respeito disso vale a pena fechar com Emmanuel: "Lembra-te
de que vives, onde te encontras, por iniciativa do Poder Maior que
nos supervisiona os destinos e guardemos lealdade às obrigações
que nos cercam. E, agindo incessantemente na extensão do bem,
no campo de luta que a vida nos confia,esperemos por novas decisões
da Lei a nosso respeito, porque a própria Lei nos elevará
de plano e nos sublimará as atividades no momento oportuno."
(6)
1. KARDEC, Allan. Obras Póstumas.
27. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1995.
2. XAVIER, Francisco Cândido. Mecanismos da Mediunidade. 12.
ed. Rio de Janeiro:FEB, 1991.
3. XAVIER, Francisco Cândido. Os Mensageiros. 9. ed. Rio de
Janeiro: FEB, 1975.
4. XAVIER, Francisco Cândido. Obreiros da Vida Eterna. 5. ed.
Rio de Janeiro: FEB,s/d.
5. ALVES, Rubem Azevedo. Estórias de quem gosta de ensinar.
12. ed. São Paulo:Cortez, 1988.
6. XAVIER, Francisco Cândido. Fonte Viva. 15. ed. Rio de Janeiro:
FEB, 1987.
(*) Cósmico
e Universal são sinônimos, podendo-se usar na escrita
somente Fluido Cósmico ou Fluido Universal que o entendimento
continua sendo o mesmo. (Nota da A ERA DO ESPÍRITO)
No MICHAELIS - Moderno
Dicionário da Língua Portuguesa (UOL)
cos.mo 1 sm (gr kósmos)
O universo, a natureza, considerados como um
todo organizado e harmonioso; cosmos.
cosmo 2 elem comp (gr
kósmos)
Expressa a idéia de mundo, universo: cosmogonia, cosmografia,
microcosmo.
Cós.mi.co adj (gr kosmikós)
1 Pertencente ou relativo ao universo, ao cosmo.
2 Astr Diz-se do nascimento e do ocaso de um astro simultaneamente
com o do Sol.
3 Diz-se da matéria espalhada no cosmo e de que se formam os
astros.
U.ni.ver.sal adj m+f (universo+al3)
1 Geral, total.
2 Comum a todos.
3 Que abrange todas as coisas; que se estende a tudo.
4 Que provém de todos; que é efeito de todos.
5 Que tem o caráter de generalidade absoluta.
6 Composto de elementos tirados de várias fontes; variado,
eclético.
7 Católico, ecumênico. sm
1 Aquilo que é geral, total.
2 Filos Termo da Escolástica, com que se designava a idéia
geral de uma espécie de seres, abstraindo da existência
realizada individualmente.
3 Dir Determinado conjunto de coisas singulares, formando um todo
suscetível de ser apreçado, constituindo um ser jurídico,
coletivo, independente de seus componentes.
__________________________
FLUIDO UNIVERSAL
Respostas as questões 1 e 27 de «O
LIVRO DOS ESPÍRITOS»
Deus, espírito e matéria constituem
o princípio de tudo o que existe, é a trindade Universal.
Deus é a inteligência suprema causa
primária de todas as coisas.(q. 1 – LE)
O Espírito (Alma) é o princípio
inteligente.
Para que o Espírito possa exercer ação
sobre a matéria tem que se juntar o fluido universal, pois,
é ele que desempenha o papel intermediário entre o
Espírito e a matéria grosseira.
É lícito até certo ponto, classificar
o fluido universal com o elemento material, porém, ele se
distingue, deste por propriedades especiais. Este fluido deve ser
considerado como sendo um elemento semimaterial, pois, está
situado entre o Espírito e a matéria.
Esse fluido universal, ou primitivo, ou elementar,
sendo o agente de que o Espírito se utiliza; é o princípio
sem o qual a matéria estaria em perpétuo estado de
divisão e nunca adquiriria as qualidades que a gravidade
lhe dá.
* * *