1) Introdução
O Espiritismo não tem uma visão
oficial sobre todos os assuntos porque muitos deles surgiram depois
da doutrina, mas isso não nos impede de, na condição
de estudantes do Espiritismo, traçar paralelos entre a nossa
doutrina e qualquer outro conhecimento. Particularmente, prefiro
ser cuidadoso ao traçar certos paralelos, o que pode ser
arriscado quando se preza pela cientificidade. O espiritualismo
em geral utiliza-se, por exemplo, de conhecimentos da física
quântica para construir teorias mais ou menos consistentes.
Considero o que disse o físico teórico e crítico
da ciência Jean- Marc Lévy-Leblond:
“Por que não
aplicar a teoria da relatividade às relações
amorosas? E a teoria dos quanta à inflação
monetária? Por que não realmente? Mas cabe aos que
tentam operações desse gênero fazer a demonstração
de que elas são pertinentes! Em ciência, não
se pode assinar cheque em branco”. [...] “Poderíamos
evocar numerosas teorias físicas para tirar analogias mais
ou menos esclarecedoras em relação a fenômenos
biológicos ou sociais – isto é velho como
a ciência” [...] “Não me oponho a semelhantes
utilizações, ou desvios, com a condição
de que não haja confusão” [...] (in:
PESSISPASTERNAK, 1993).
É claro que a formação
de hipóteses é uma etapa do método científico,
porém as hipóteses sozinhas, não se podem dizer
científicas. Apesar de tratar de um tema científico,
defendo que, o paralelo que agora faço entre Doutrina Espírita
e Teoria do Caos, não é científico. Trata-se
apenas da construção de hipóteses e de observações,
ainda superficiais, feitas entre estes dois campos do conhecimento,
entretanto, acredito que este seja um campo aberto à pesquisa
da ciência Espírita, por isso resolvi expor minhas
observações pessoais no intuito de contribuir com
o avanço de pesquisas que possam comprovar ou desmentir minhas
hipóteses.
2) O que é a teoria do Caos?
Para traçar um paralelo é necessário
ter alguma noção do que se trata esta teoria. As observações
feitas aqui a esse respeito foram baseadas, sobretudo na obra de
Gleik (1989). A Teoria do Caos observa a ordem oculta que existe
na natureza por detrás de fenômenos aparentemente caóticos,
esta ordem pode ser observada tanto em estruturas humanas como na
natureza.
A nível microscópico pode-se dar o exemplo dos fractais
que são estruturas observadas na natureza com regularidade
geométrica e beleza incríveis, estas estruturas regulares
e com padrões definidos, surgem em diferentes objetos ou
seres, demonstrando um padrão de organização
na natureza.
Edward Lonrenz foi um dos precursores desta ciência quando
descobriu o que chamou de efeito borboleta, ou seja, a dependência
sensível que um fenômeno tem das condições
iniciais. O primeiro passo para a descoberta desta nova abordagem
científica aconteceu quando ele pesquisava a previsão
do clima através de um programa de 12 equações
no seu Royal Mcbee que fazia apenas 60 multiplicações
por segundo, enquanto os institutos modernos já utilizavam
um Control Data Cyber 205, capaz de fazer milhões de operações
por segundo com um programa de 500.000 equações.
A diferença foi que
Lorenz usou equações não lineares para realizar
suas simulações de como se comportava o clima. Ele
alimentava as equações com dados iniciais das condições
climáticas e em seguida o programa começava a produzir
gráficos de previsão climática.
O tempo era visto como algo que não podia se expressar na
forma de medias, a idéia era de que influências muito
pequenas podem ser postas de lado (o mesmo para as previsões
de rotas astronômicas, as previsõesm econômicas
etc), porém qual não foi a surpresa de Lorenz quando
no seu computador teve que reiniciar uma seqüência de
simulação climática e ao alimentar os dados
do seu computador, em vez de seis casas decimais usou apenas três
casas por achar que os milésimos decimais não afetariam
significativamente o resultado; percebeu ele que o gráfico
começava sem nenhuma diferença do anterior, mas em
determinado ponto ele se diferenciava drasticamente revelando que
as condições iniciais determinam sensivelmente os
resultados, ou seja, as três casas decimais que ele achou
que não seriam importantes, foram responsáveis por
uma mudança completa na simulação.
Em 1972 Lorenz lançou um artigo de grande repercussão
intitulado “Previsibilidade: o bater de asas de uma borboleta
no Brasil desencadeia um tornado no Texas?”, o artigo foi
apresentado em 1972 em um encontro em Washington. Ele não
responde à pergunta, mas argumenta que:
a) se um
simples bater de asas de uma borboleta pode ocasionar um tornado,
então todos os bateres anteriores e posteriores de suas
asas, e ainda mais, as atividades de outras inúmeras criaturas
também o poderão;
b) se um simples bater de asas de uma borboleta
pode ocasionar um tornado que, de outra forma, não teria
acontecido, igualmente pode evitar um tornado que poderia ser
formado sem sua influência.
O que Lorenz queria dizer
é que insignificantes fatores podem amplificar-se temporalmente
de forma a mudar radicalmente um estado.
Assim, a previsão do tempo em longo prazo continua a ser
algo inalcançável, pelo fato de que nossas observações
são deficientes e os arredondamentos que utilizamos, inevitáveis.
O efeito borboleta recebeu o nome técnico de dependência
sensível das condições iniciais. A partir daí
deixava-se de lado o preceito de que as influências muito
pequenas não são determinantes ou que pouco afetam
os resultados.
O fato é que a Teoria do Caos destrói a possibilidade
de previsibilidade absoluta dos fenômenos (o sonho laplaciano)
uma vez que é impossível não trabalhar com
arredondamentos quando se estudam sistemas caóticos como
o clima, destrói também a mecanicidade do universo
(a visão cartesiana) fazendo com que o cosmo não seja
mais visto como um relógio e sim comparado a um organismo
vivo que mais parece ter livre arbítrio. No estudo se sistemas
caóticos como o clima, as estatísticas econômicas
e sociais, a dinâmica de fluidos, podia-se observar que fenômenos
aleatórios apresentavam globalmente padrões de comportamento
ou uma “ordem” que surge no meio do caos. Um sistema
caótico podia ser estável se sua irregularidade específica
perdurasse diante de pequenas perturbações.
O sistema de Lorenz era um
exemplo disso, o caos descoberto por ele, com toda a sua imprevisibilidade,
era tão estável quanto uma bola de gude numa tigela.
Poderíamos acrescentar ruído ao sistema, sacudi-lo,
agitá-lo, interferir no seu movimento, mas quando tudo se
acalmava, quando as interferências passageiras desapareciam
como ecos num precipício, o sistema voltava ao mesmo padrão
singular de irregularidades de antes. Era, portanto localmente imprevisível
e globalmente estável. Os padrões de regularidade
encontrados no clima ou nas variações da bolsa de
valores, quando expressados graficamente, são similares às
estruturas fractais encontradas na natureza, é como se todas
as coisas estivessem sob uma ordem oculta que as dirige e organiza,
mesmo quando parece haver apenas o Caos.
Um outro exemplo disso foi quando astrônomos da Nasa puderam
observar uma enorme mancha vermelha no planeta Júpiter, uma
espécie de furacão estável que se movimenta
no sentido anticiclópico. Depois de muitos anos descobriram
do que se tratava, e indagavam como podia em meio a um sistema caótico
e imprevisível como o clima, surgir um sistema estável?
A mancha vermelha é um sistema auto-organizador criado e
regulado pelas mesmas mudanças não lineares que criam
a agitação imprevisível à sua volta.
É o caos estável!
Mesmo que as coisas sejam
imprevisíveis pontualmente ou em um lugar específico,
elas apresentam uma tendência global que emerge em todos os
lugares, na natureza, na economia ou no comportamento social. Ou
seja, as grandes nações estão sempre em alternância
de ascensão e queda, as estações do ano sempre
se repetem, as alterações da bolsa de valores seguem
tendências matemáticas que podem ser previstas ao nível
de macroeconomia por equações alineares inspiradas
no modelo de Lorenz.
Equações alineares são mais adequadas para
o estudo de sistemas caóticos do que as lineares, a geometria
euclidiana também se torna limitada para o estudo dos fractais.
O estudo dos fractais já é usado na agronomia para
determinar a estrutura do solo de forma muito mais eficiente, e
na biologia para o estudo de dinâmica populacional de espécies.
O Caos também influi em todos os campos da ciência
que trabalham com modelos de previsões, até para jogar
na loteria se usa o Caos, depois da relatividade e da mecânica
quântica é o campo mais revolucionário da ciência
moderna e pasmem, influi também na educação
e na filosofia.
Edgar Morin é um dos que se inspira no Caos para nos falar
de complexidade. A complexidade surge porque o Caos revela um universo
muito mais rico e imprevisível do que as teorias de Newton,
Descartes e Laplace. O mundo é complexo e imprevisível,
e mesmo que as coisas sigam uma ordem e uma tendência, e no
todo todas as coisas obedeçam a esta ordem, nos níveis
inferiores não existe determinismo.
Podemos então observar
que os sistemas caóticos surgem com determinadas características:
a auto-organização; espontaneidade e antideterminismo;
são localmente imprevisíveis e globalmente estáveis;
são alineares; sofrem dependência sensível das
condições iniciais; são interdisciplinares
(o Caos rompe com as fronteiras que separavam as disciplinas científicas)
e são complexos.
3) Caos e suas possíveis relações
com o Espiritismo
Para o Espiritismo Deus é a causa da
ordem que emerge do caos, suas leis são as mesmas que fazem
com que todos os fenômenos tenham uma tendência auto-organizadora.
Conforme nos diz Kardec:
“A harmonia existente
no mecanismo do Universo patenteia combinações e
desígnios determinados e, por isso mesmo, revela um poder
inteligente. Atribuir a formação primária
ao acaso é insensatez, pois que o acaso é cego e
não pode produzir os efeitos que a inteligência produz.
Um acaso inteligente já não seria acaso”.
(L..E.1 q.8).
A ciência do Caos revela
que na verdade não há caos na natureza, sistemas aparentemente
caóticos são imprevisíveis e instáveis
apenas a nível local e pontual, se vistos de maneira global,
logo surge a ordem que é inerente à natureza das coisas,
assim como no Espiritismo, sabe-se que as leis de Deus existem em
todo o universo e que todas as coisas, mesmo as que parecem caóticas,
seguem uma ordem oculta, esta ordem é inerente à própria
natureza das coisas e não imposta externamente, esta ordem
surge ou emerge e como o próprio nome diz, são "propriedades
emergentes", tão estudadas na ecologia profunda. De
outro modo, podemos comparar esta ordem a Lei Divina ou Natural
onde “a harmonia que reina no universo material, como no universo
moral, se funda em leis estabelecidas por Deus desde toda a eternidade”
(L.E. q.615).
Mas o que faz todos os fenômenos naturais estarem sujeitos
à mesma ordem e tendência organizadora? Talvez a natureza
da própria matéria seja a resposta para essa questão.
Antigamente concebia-se que a matéria podia ser composta
de diferentes elementos primordiais que lhe daria as diferentes
qualidades que possui, porém desde 1857 os Espíritos
nos dizem que a matéria é formada de um só
elemento primitivo e que suas diferentes propriedades são
resultado da modificação que as moléculas elementares
sofrem, por efeito da sua união, em certas circunstâncias
(L.E. q.30, 31).
Os avanços da física
de partículas e da mecânica quântica demonstram
uma realidade muito próxima, na verdade hoje é pouco
preciso usar a expressão “moléculas elementares”
porque na verdade não existem moléculas elementares,
a matéria é energia, o que chamamos de partículas
podem ser ao mesmo tempo uma onda de probabilidade ou partículas,
possuem qualidades paradoxais e em determinados momentos assemelham-se
mais a “bolsões” de energia do que propriamente
a uma partícula e suas propriedades a nível subatômico
são inconcebíveis para o nosso estado de percepção
tridimensional.
Os espíritos utilizaram o vocabulário disponível,
vocabulário que eles constantemente se queixavam da sua limitação
e pobreza para definir coisas desconhecidas para nós. Os
espíritos anunciaram inclusive a impossibilidade de apreciarmos
essas “moléculas” (L.E.
q.34). Assim, tendo a matéria
a mesma natureza comum e a mesma origem, é natural que toda
a matéria esteja sujeita as mesmas leis.
Para o Espiritismo toda a matéria possui o mesmo princípio
comum e é regida pelas mesmas leis naturais:
“Há um fluido
etéreo que enche o espaço e penetra os corpos. Esse
fluído é o éter ou matéria cósmica
primitiva, geradora do mundo e dos seres. São-lhes inerentes
as forças que presidem às metamorfoses da matéria,
as leis imutáveis e necessárias que regem o mundo”.
(Ge.2 Cap. VI, 10).
Deus não é um legislador
que vive impondo regras de fora para dentro na natureza. Não!
Suas regras já fazem parte da natureza e todas elas tendem
à ordem, porque a ordem está implícita na natureza.
Por outro lado, mesmo que a ordem seja implícita, isto não
impede o livre arbítrio relativo à nossa condição
inferior.
Se, por exemplo, o clima é caótico a nível
pontual, não se pode prever o clima com precisão absoluta,
porém ele segue padrões a nível global como
nas estações do ano, assim, o Caos também observa
que se o homem interfere em um sistema caótico, ele pode
até conseguir desestabilizar momentaneamente a ordem que
surge do caos, como quando causa alterações climáticas
pela poluição, mas, em seguida, cessada a interferência
humana, a natureza se restabelece porque a ordem faz parte da natureza
das coisas.
Não podemos aí fazer uma comparação
com a visão do livre arbítrio no Espiritismo? Sim!
O Homem tem livre arbítrio e por isso ele pode momentaneamente
alterar a ordem da natureza, mas esta ordem se restabelecerá
porque ela é inerente à própria natureza. Temos
liberdade de ação, mas nossa ação, apesar
de ser desorganizadora, não altera os princípios que
regem o universo e estes princípios acabam restabelecendo
um dia.
Esta abordagem resolve a aparente
contradição de como podem existir leis divinas e livre
arbítrio ao mesmo tempo. Nosso livre arbítrio é
relativo à flexibilidade das leis naturais que nos permitem
intervir na ordem dos fatos sem com isso alterar a natureza das
próprias leis existentes em todas as coisas. Liberdade absoluta
é um contra-senso quando se concebe a existência de
leis universais ou quando se fala de vida em sociedade. Todos precisamos
um dos outros e por isso não há liberdade absoluta
(L.E. q.825), mas, sem o livre-arbítrio
o homem seria apenas uma máquina (L.E.q.843).
O Caos também torna mais aceitável a idéia
de que os Espíritos interferem nos fenômenos da natureza,
se, como Lorenz disse, o bater de asas de uma borboleta é
capaz de causar um furacão, ou seja, que pequenas interferências,
quase imperceptíveis, são capazes de provocar profundas
modificações em um fenômeno em uma escala de
tempo adequada; então para alterar fenômenos naturais
de grande escala, não é necessário uma interferência
monumental, com grande desperdício de energia ou de força.
Existem chaves na natureza, pontos onde uma pequena interferência
pode provocar uma espetacular mudança, os espíritos
detentores destes conhecimentos, podem facilmente manipular estas
“chaves” tendo controle sobre os fenômenos naturais.
O Espiritismo se adiantou no tempo
e negou a possibilidade do caos e do acaso até mesmo nos
fenômenos naturais:
“São devidos a causas
fortuitas, ou, ao contrário, têm todos um fim providencial,
os grandes fenômenos da Natureza, os que se consideram como
perturbação dos elementos? – Tudo tem uma
razão de ser e nada acontece sem a permissão de
Deus” (L.E. q.536).
A fatalidade é algo que não
existe de forma absoluta, só há fatalidade nas provas
que escolhemos para esta vida ou na hora do nascer e desencarnar
(L.E. q. 851, 853), as leis naturais
conjugadas com os nossos compromissos cármicos dirigem o
gênero de vida que temos, mas não há um controle
específico para cada passo que damos.
Aqui na terra estamos sujeitos a pequenos incidentes que são
próprios do estado material em que vivemos, sem que cada
pequeno acontecimento tenha um significado cármico. Como
nos mostra a Teoria do Caos, a vida é localmente caótica
e globalmente estável.
Os fatos corriqueiros da vida, como um tropeção ou
uma enfermidade simples, acontecem de maneira casual ou caótica
(no sentido de que não há um controle específico
para estes fatos), porém trata-se de uma desordem submissa
a uma ordem maior que dá a estes fatos o limite da trivialidade.
Não há um controle para cada passo da vida, assim
como não há um controle específico para cada
alteração do clima ou da bolsa de valores, porém
há uma ordem geral que limita o aparente caos existente nas
coisas, esta ordem pode ser percebida quando observamos os fatos
com uma visão além da ótica pontual e individual
e transcendemos para uma percepção global e holística
(L.E.q.859).
Quando o Caos afirma que não
há determinismo localmente, mas há leis globais, isso
está consoante com a teoria das predições proposta
pelo Espiritismo. Não se podem prever acontecimentos com
detalhes específicos como data e hora. Determinados fatos
estão propensos a acontecer, porém a forma particular
e o momento em que se realizam estão sujeitos ao livre arbítrio
do homem:
“Pode, portanto, ser certo
o resultado final de um acontecimento, por se achar este nos desígnios
de Deus; como, porém, quase sempre, os pormenores e o modo
de execução se encontram subordinados às
circunstâncias e ao livre arbítrio dos homens, podem
ser eventuais as sendas e os meios. Está nas possibilidades
dos Espíritos prevenir-nos do conjunto, se convier que
sejamos avisados; mas, para determinarem lugar e data, fora mister
conhecessem previamente a decisão que tomará este
ou aquele indivíduo. Ora, se essa decisão ainda
não lhe estiver em mente, poderá, tal venha ela
a ser, apressar ou demorar a realização do fato,
modificar os meios secundários de ação, embora
o mesmo resultado chegue sempre a produzir-se. É assim,
por exemplo, que pelo conjunto das circunstâncias, podem
os Espíritos prever uma guerra que se acha mais ou menos
próxima, que é inevitável, sem, contudo,
poderem predizer o dia em que começará, nem os incidentes
pormenorizados que possam ser modificados pela vontade dos homens”.
(Ge. Cap. XVI, 13).
Os Espíritos, na condição
de erraticidade, podem mais facilmente prever os acontecimentos,
interferir em nossas vidas, porém deve-se desconfiar daqueles
que dão informações muito precisas:
Os Espíritos, que formam a população individual
do nosso globo, onde eles já viveram e onde continuam a imiscuir-se
na nossa vida, estão naturalmente identificados com os nossos
hábitos, cuja lembrança conservam na erraticidade.
Poderão, por conseguinte, com maior facilidade, determinar
datas aos acontecimentos futuros, desde que os conheçam;
mas, além de que isso nem sempre lhes é permitido,
eles se vêem impedidos pela razão de que, sempre que
as circunstâncias de minúcias estão subordinadas
ao livre arbítrio e à decisão eventual do homem,
nenhuma data precisa existe realmente, senão depois que o
acontecimento se tenha dado (Ge. Cap.
XVI,16).
Uma outra contribuição do Caos é diluir a visão
linear e simplista que temos das relações de causa
e efeito. Ao lerem-se filósofos empiristas como Hume e Berkley
e Locke observa-se que as relações de causa e efeito
não são tão simples e lineares, elas podem
ser influenciadas inclusive por nossas expectativas. David Hume
(1711-1776), não acreditava na imortalidade da alma ou em
Deus, se dizia agnóstico, porém ele acreditava que
existiam leis imutáveis, mas por causa de nossas experiências
vividas criamos expectativas assim, podemos facilmente nos enganar
na relação de causa e efeito, por exemplo; uma galinha
pode criar uma relação de causa e efeito baseada na
seguinte observação: todas as vezes que ela escuta
os passos do granjeiro, em seguida vem a ração, estabelece
a relação de que a conseqüência dos passos
do granjeiro será sempre mais comida, mas, um dia, depois
de ouvir os passos do granjeiro, ele quebra o pescoço da
galinha.
Na verdade nós podemos agir
como a galinha e enxergar uma relação de causa e efeito
onde ela não existe.
A complexidade é uma característica que demonstra
que as coisas não funcionam mecanicamente e são tantos
os fatores que agem em um fenômeno, que é impossível
fazer diagnósticos e previsões quanto ao carma e destino
de cada um. Entender a complexidade é uma prevenção
contra explicações simplistas, como o justificar que
alguém nasceu aleijado porque usou mal as pernas em outra
vida, ou que nasceu sem um braço porque usou este membro
para chicotear escravos na encarnação passada.
Apesar observarem-se casos de uma relação direta de
causa e efeito, isto não se aplica a todas as circunstâncias.
A lei de causa e efeito sempre se aplica, mas não necessariamente
de forma linear o que tornaria intragável esta lei e a própria
reencarnação.
Muito se poderia dizer a respeito deste vasto campo científico
que veio acrescentar à Doutrina Espírita ao mesmo
tempo comprovando o pioneirismo e atualidade do Espiritismo perante
a ciência e contribuindo para uma visão mais profunda,
seja no campo da compreensão da matéria e dos fenômenos
da natureza ou da sua filosofia e teoria social. Este ensaio abre
apenas uma discussão e como todas as coisas que se iniciam,
é como uma pedra bruta que precisa ser lapidada pelas réplicas
e reflexões de todos os leitores. A ânsia de contribuir
no desenvolvimento do pensamento doutrinário nos fez ousar
escrever este texto na expectativa de que seus frutos sejam positivos.
Muita
paz!