1. INTRODUÇÃO
Questões relacionadas à
espiritualidade sempre permearam o imaginário humano, desde
milênios, demonstrando uma inquietação acerca
do sentido da vida, do nascer e o morrer, da finitude e fragilidade
da matéria, das diferenças biopsicossociais do ser,
da sensação ou impressão da existência
ainda que não palpável de que algo maior, uma entidade
ou um deus, rege e detém todo o mistério da vida.
O espaço para esses questionamentos foi se construindo e se
constituindo ao longo do tempo, através de instituições
religiosas na sua mais repleta diversidade. Foi se indicando onde
e de que forma deveríamos examinar questões tão
primitivas relacionadas à vida e à própria existência.
Historicamente, foram-se separando as questões espirituais
(emocionais e, portanto subjetivas) das lógicas, racionais
e/ou cientificas.
Na idade média, muitas atrocidades aconteceram em nome destas
instituições religiosas que detinham o saber e o poder
sobre os povos. Propunham-se a controlar seu sentir e seu pensar.
Na idade moderna com o advento do Iluminismo, a ciência fortalece
seu saber e consequentemente seu poder de influência na forma
de pensar e agir das pessoas. Questões relacionadas à
espiritualidade e religiosidade são desqualificadas em favor
do pensamento racional e lógico.
Nesse momento se caracteriza de forma determinante as dicotomias:
razão e emoção, o bem e o mal, o belo e o feio,
a mente e o corpo e por fim, a ciência e a espiritualidade.
É importante ressaltar que, o conceito de espiritualidade aqui
proposto não se refere diretamente a aspectos religiosos.
Esclarecendo esse conceito mais amplo de espiritualidade atentemo-nos
a citação seguir:
Dimensão que integra e transcende
as outras dimensões humanas, é o princípio
de vida que permeia a pessoa por inteiro, incluindo a volição,
a moral, a ética, a arte, os valores, as tradições,
a fé e a fonte da própria consciência.
(Frankl, 1992 apud ARAUJO, 2008, p.13).
O termo espiritualidade envolve questões
quanto ao significado da vida e à razão de viver, não
limitado a tipos de crenças ou práticas.
Embora a idade moderna e a contemporânea, mantenham a dicotomia
mente e corpo, razão e emoção, ciência
e espiritualidade, as inquietações quanto ao sentido
da vida e seus mistérios continuam a existir cada vez mais
de forma menos velada pelo individuo.
A própria medicina pautada na ciência positivista/ naturalista,
começa a render - se às questões mais transcendentes
do ser humano, na tentativa de promover uma saúde mais eficaz
e prevalente aos indivíduos.
Nobre (2004), médica e presidente da Associação
Médico Espírita (AME) - Brasil não deixa duvidas
dessa realidade, quando descreve em seu artigo, a necessidade eminente
de buscar compreender o mundo de forma mais abrangente:
Cada vez mais, “minorias criativas”
buscam a integração entre Fé e Razão,
tendo em vista que é impossível compreender o mundo,
o universo e o próprio ser humano, sem as luzes de um paradigma,
de um modelo, que contemple todas as áreas das cogitações
humanas. ”(...)
Foi assim que ganhou impulso, na década
1970, uma dessas minorias criativas, formada por médicos que
buscam implantar nas universidades estudos de Medicina e Espiritualidade.
(p.1).
Nesse cenário histórico, a psicoterapia, conhecida conceitualmente
como sendo uma técnica psicológica, colocada a disposição
do individuo com objetivo de promovê-lo na resolução
de conflitos e/ou traumas geradores de sofrimentos, não escapa
estruturalmente do modelo positivista e cartesiano original.
Diferentemente de outras áreas que também se dispõem
ao atendimento do individuo, a psicoterapia vem evoluindo em sua pratica,
buscando “humanizar” a relação permitindo
maior aproximação e acolhida do mesmo em sua totalidade.
Geralmente pondera fatores diversos tais como: espiritualidade, mas
de um modo geral, desqualifica este aspecto como material terapêutico
importante e promotor de melhora no quadro de sofrimento que se apresenta.
Em outras palavras, esta característica do ser humano é
extensamente confundida com religiosidade e talvez por este motivo,
não encontre lugar no espaço terapêutico tradicional.
Foi nas décadas de 80 e 90 que esse ramo profissional, ou seja,
a psicoterapia originada da Psicologia se surpreende com uma nova
metodologia vinda da Europa e dos Estados Unidos da América,
denominada Terapia de Vida Passada.
Esta técnica foi criada por Morris Netherton, psicólogo
americano que estruturou o método com base na regressão
de memória, onde conteúdos inconscientes da vida do
cliente são acessados, retornando a varias instancias da vida:
adulta, infância, vida intrauterina e a vidas passadas.
Ainda nos anos 80 o físico francês, Drouot (1988) começou
a publicar suas pesquisas sobre TVP. Em sua primeira obra, enfatiza:
A viagem através das vidas
passadas permite alargar o conceito da tomada da consciência
através da noção de continuidade do destino.
Permite também pôr em evidência as más
utilizações que fazemos do poder, do egoísmo,
da perda do amor. E essa tragédia se repete sem cessar, enquanto
emitimos falsos julgamentos em relação a nós
mesmos, enquanto estamos limitados por falsas crenças. Somos
como crianças separadas da última fonte e não
podemos sem ajuda encontrar sozinhos, o caminho para ela. (p.80).
Parece que, nesta perspectiva, a terapia
vai alem dos limites impostos pela Psicologia ortodoxa para encontrar
e solucionar os traumas ou problemas trazidos ao set terapêutico.
A complexidade do inconsciente humano é considerada alem de
um banco de memórias que se limitem apenas a vida atual do
individuo.
Para a ratificação deste fato, o Presidente da Associação
Brasileira de Estudo e Pesquisa em Terapias de Vivencias Passadas,
Michel C. Maluf personalidade que também prefaciou o mesmo
livro de Netherton, referente à edição brasileira,
conceitua a TVP da seguinte forma:
É uma nova técnica
psicológica de abordagem do inconsciente, relacionada com
traumas, problemas psicossomáticos, comportamentos emocionais
e mentais das fases mais precoces da vida, incluindo a concepção,
a vida intra- uterina, o nascimento, a infância, as mortes
anteriores à atual vida e outras vidas. Pesquisa o problema
onde ele estiver. A técnica vai alem das fronteiras estabelecidas.
(NETHERTON, 1997, p.9)
Neste sentido, Guimarães (2004),
fundadora da SBTVP apresenta alguns argumentos teóricos sobre
questão de assumirmos responsabilidades diante da vida, que
devem ser ressaltados, fundamentalmente pela clareza da proposta:
Na verdade todos sabemos quem somos.
O problema é assumirmos a responsabilidade do que somos,
o que é muito difícil, pois daí implica abandonarmos
nosso papel de vítima, de injustiçados pela vida,
pelas pessoas ou pelo destino. (p.35).
No prefácio de um dos trabalhos escritos por
Guimarães (2000), encontramos falas referidas ao objetivo desta
terapia, descritas por, Célia Monteiro Werner e Neusa Passos
Feijó:
[...] a SBTVP objetiva com esta técnica não
só curar dores do cliente, mas uma consciência maior
em ser mais brando, mais resignado, daquilo que não pode
ser mudado e mais amoroso para que possa ser feliz. (p.18).
Embora seja extensivamente usada por
médicos e psicólogos nos últimos 20 anos, sofre
críticas penosas fundamentalmente da sociedade cientifica e
de profissionais ortodoxos por enquadrar no set terapêutico,
o conceito de vidas passadas que se relaciona intimamente ao conceito
de reencarnação.
É importante ressaltar que o conceito de reencarnação
advém de crenças espiritualistas (orientais e ocidentais)
e que embora renomados pesquisadores atentem para a evidência
de tal fato, ainda não foi comprovada pelos métodos
cientificamente aceitos na atualidade.
Para a SBTVP, a crença de que o espírito é imortal
e reencarna é pressuposto fundamental da TVP.
Em defesa da TVP e de seus pressupostos teóricos, Lucca e Possato
(1998), consideram:
[...] O simples fato de ainda não
compreendermos totalmente evidencias, fatos comprovados, depoimentos,
pesquisas, não significa necessariamente ser a TVP fruto
de fantasia, imaginação, alucinação
ou alguma outra explicação simplista comumente desferida
pelos incrédulos. Pode-se, por que não, recusar-se
a acreditar em reencarnação e vidas passadas, porem
os resultados práticos não podem ser negados [...].
(p.10).
Para os teóricos da TVP, antes
de desejarem comprovar o conceito de reencarnação, importam-se
fidedignamente com os resultados obtidos por tal método. A
resolução das questões trazidas aos consultórios
em menor tempo que as propostas terapêuticas tradicionais, acompanhadas
obviamente da exclusão do sofrimento e do amplo conhecimento
de si mesmo, fortalecem sua utilização e procura.
2. DESENVOLVIMENTO
Influência da Filosofia
A busca por respostas às duvidas
e a compreensão de fatos que comprovem e expliquem a origem
das causas e transformações do mundo e do homem, este
como um ser em constante mutação e aprimoramento, vem
se constituindo a milhares de anos.
Amaro (2009) refere em seu texto, Breve Histórico da Psicoterapia,
que a psicologia embasa a psicoterapia conceituando-a desta forma:
“A Psicoterapia consiste no
uso de meios psicológicos para atingir objetivos terapêuticos
em pacientes com transtornos psíquicos, físicos ou
sociais.” (grifo do autor.)
Em uma de suas aulas expõe
que o uso de meios psicológicos para favorecerem indivíduos
e grupos, já acontecia em sociedades chamadas pré-letradas
(pré-históricas), através dos reconhecidos feiticeiros,
poderosos por manipularem as forças da natureza e fundamentalmente
exercerem a cura, o acesso aos espíritos e ao conhecimento
divino.
A história aponta que esta idéia e comportamento são
substituídos posteriormente pela idéia dos mitos advinda
dos gregos.
No início do século VI antes de Cristo, nasce a Filosofia,
que significa literalmente na tradução do grego (língua
original da palavra) "Amizade pelo Saber" e define uma forma
característica de pensar: o pensamento racional.
O surgimento da filosofia deu-se a partir de alguns fatos significativos
como as viagens marítimas; a invenção do calendário;
da moeda e da escrita; o surgimento da vida urbana entre outras, foram
marcos que estimularam o convívio e o pensamento coletivo.
Influência da Fisiologia
As influências da fisiologia na Psicologia ocorreram devido
às diferenças individuais, determinadas por fatores
pessoais e incentivaram os cientistas do século XIX a investigarem
e considerarem fatores de ordem subjetiva, como sensações
e emoções na percepção dos fenômenos
mentais, através dos órgãos dos sentidos.
Vários foram os cientistas que recorreram ao método
experimental, portanto novo, para o estudo e qualificação
da psicologia enquanto ciência positivista, centrando suas pesquisas
em fatores materiais tais como: velocidade dos impulsos nervosos e
sua relação com tempo de reposta muscular, visão
e audição, sensações cutâneas e
musculares, percepções, etc.
Wundt que, influenciado por Fechner, deu à psicologia, técnicas
de medidas precisas, sendo considerado fundador de uma Nova Psicologia.
Posteriormente, Wundt sofreu criticas densas aos conceitos dispostos
em seus estudos, já que considerava a mente como processos
mensuráveis. As criticas apontavam falhas no desenvolvimento
pré-estruturalista proposto. Com isso teve que desvincular
seu trabalho com um passado não exatamente científico
(segundo a idéia vigente), cortando vínculos com a velha
filosofia mental, abandonando assim as discussões sobre a natureza
da alma imortal.
Nasce então outro movimento norte americano, o Behaviorismo,
fortalecendo a idéia de que o comportamento é mais importante
que os processos mentais, por estes não serem facilmente observáveis
e não poderem sofrer a mensuração do método
cientifico amplamente aceito.
Concomitantemente ao aparecimento do Behaviorismo, na Alemanha crescia
a chamada Psicologia da Gestalt (que significa forma, estrutura).
A psicologia da Gestalt, no lugar de criticar o objeto de estudo do
estruturalismo, que no caso era a mente, se apropria do mesmo refletindo
as questões de forma mais ampliada e estabelecendo críticas
ao método do estruturalismo, assim como ao reducionismo praticado
pelos behavioristas.
O advento da Idade Moderna e a Contemporaneidade
Alheio às influências da psicologia acadêmica,
crescia na Europa uma nova teoria chamada de Psicanalítica,
fundada por Sigmund Freud.
A forma como se estruturou a proposta psicanalítica não
é muito clara.
Para a psicanálise a existência do inconsciente está
acima do consciente, e nos impulsiona a buscar satisfazer necessidades
instintivas, dentro do contexto biopsicossocial que o homem está
inserido.
A revelia das teorias acadêmicas e propostas até então,
supervaloriza a questão da mente inconsciente, como aspecto
fundamental no entendimento, compreensão e cura do sofrimento
humano.
Causa com isso um grande desconforto no meio cientifico positivista,
mas não recua às exigências e posteriormente é
aclamado graças ao método de hipnose com consequente
cura dos casos de histeria atendidos na época.
Para Jung, seu discípulo fiel e posterior dissidente, a libido
se caracteriza por aspectos históricos vividos pelo individuo,
assim como sua cultura e sua relação com questões
vinculadas a espiritualidade.
Segundo a Wikipédia (2009), uma enciclopédia virtual,
define-se o inconsciente coletivo da seguinte forma:
[...] é a camada mais profunda
da psique humana. Ele é constituído pelos materiais
que foram herdados da humanidade. É nele que residem os traços
funcionais, tais como imagens virtuais, que seriam comuns a todos
os seres humanos.
Em paralelo ao crescimento da psicanálise,
a psicologia fenomenológica, começa a surgir propondo
outra forma de compreensão dos processos psíquicos do
ser humano, tendo como seu principal representante, Edmund Husserl.
Embora o discurso trouxesse a ideia de um homem integral, nesta teoria,
a questão da espiritualidade e da essência da alma não
são sequer citadas tão pouco consideradas.
No final dos anos 60, com um pequeno grupo de pesquisadores, dentre
eles Anthony Sutich, Abraham Maslow, James Fadiman e Stanislav Grof
criam um movimento chamado de Psicologia Transpessoal. Reconhecem
que Jung, o criador da Psicologia Analítica, tenha sido o primeiro
a considerar a dimensão espiritual do ser humano no processo
psicoterapêutico e ratificam esse entendimento sobre a psique
humana.
Seguindo a evolução e as necessidades emergentes do
ser humano, na busca continua de entendimento e do significado do
seu existir e ainda, considerando o alto grau de sofrimento em que
a sociedade moderna se encontra, surge na década de 80, já
na chamada Idade Contemporânea da historia, a TVP, vinda da
Europa e dos Estados Unidos da América, tendo como precursor
Morris Netherton, psicólogo americano que estruturou o método
com base na regressão de memória, onde conteúdos
inconscientes da vida do cliente são acessados. Seus estudos
sistematizados contam com mais de 30 mil casos de regressão
de memória que remeteu os pacientes a vidas distintas da atual.
Com o apoio de documentos históricos confirmou dados revelados
nas regressões.
Sobre o método, podemos observar nos escritos onde, como outras
teorias (Freud e Jung), admite a existência do inconsciente
na mente humana, funcionando como um grande armazenador das experiências,
embora não nos lembremos de tudo que nos acontece na vida.
Netherton, (1997) descreve os conceitos que embasam a teoria e o método
em seu livro, Vida Passada - Uma Abordagem Psicoterápica, o
que vemos a seguir:
É um método terapêutico.
Não esta, de modo algum, associado ao ocultismo, exceto quanto
ao fato de compartilhar da aceitação da possibilidade
da reencarnação. [...] O inconsciente funciona como
um gravador. Registra e armazena indiscriminadamente todo e qualquer
acontecimento que ocorra. (p.34).
A TVP fecha este capítulo com
a marca de um novo paradigma na compreensão e na abordagem
dos aspectos saudáveis e patológicos do psiquismo humano,
pois se reserva o direito junto à ética, de considerar
no espaço terapêutico questões relacionadas à
espiritualidade. Questões estas que acompanham o ser humano
ao longo da historia como pudemos observar até aqui, ainda
que este fato contrarie as proposituras da ciência cartesiana
e positivista.
2.2 ESPIRITUALIDADE
- CONSIDERAÇÕES SOBRE O CONCEITO E A TVP
O conceito de espiritualidade acompanha
as inquietações humanas também ao longo de milênios.
Nas antigas religiões, desde a pré-história,
a ideia de um deus ou de deuses, ou ainda “das forças
da natureza”, podem ser entendidas como referencias que a humanidade
da época oferecia à questões que fugiam do entendimento
possível e concreto da época.
Nesse tempo antigo também era comum ouvirmos falar em rituais
que tinham como objetivo estabelecer contato com divindades, desvendar
mistérios, promover a cura e alimentar de certa forma a idéia
da imortalidade.
Filósofos como Sócrates e seu seguidor Platão,
discorriam sobre a ideia da existência de instâncias divinas/mitológicas
que se relacionavam com o homem, através de sua essência:
a alma.
Durante a idade média, os conhecimentos da Grécia foram
totalmente perdidos no ocidente. O intercambio de nações,
possibilitou um resgate histórico de algumas idéias
vinculadas a espiritualidade. No texto Historia... (2009), podemos
observar:
[...] contato com o mundo islâmico,
onde os manuscritos gregos foram preservados e elaborados, rapidamente
levou a um grande volume de traduções no século
XII. Os europeus foram então reapresentados aos trabalhos
de Platão e Aristóteles, assim como ao pensamento
islâmico. Pensadores cristãos escolásticos,
em particular Abelardo e São Tomás de Aquino, combinaram
o sistema de classificação aristotélico com
as idéias de Platão sobre a excelência de Deus,
e de que todas as formas de vida em potencial estavam presentes
numa criação perfeita, para organizar todos os seres
animados, inanimados e espirituais em um grande sistema interconectado:
Scala naturae. (grifo do autor).
Essa ideia vai embasar o conceito
de espiritualidade na idade média, já com o advento
da doutrina Cristã e a retomada de valores bíblicos
que seguem até os tempos atuais, considerando a evolução
do homem e do mundo.
As ciências naturais tendem a render-se diante da notícia
de que a espiritualidade não está mais sob o julgo desta
ciência materialista.
Principalmente a medicina e a psicologia, passam a repensar seu papel
no trato com pessoas, visto que estas são mais do que sintomas,
do que corpos doentes ou saudáveis. São seres complexos
e historicamente espiritualizados.
É o que podemos constatar no texto que segue:
Desde o início da década
de 1980, a medicina vem se direcionando a uma visão mais
abrangente do modelo de atendimento na área da saúde,
enfatizando a importância de fatores ambientais e psicossociais
(Engel, 1980).
A medicina moderna encontra-se em fase de transição
e está à procura de novas fronteiras e caminhos para
a evolução do conhecimento. O direcionamento científico
da medicina aponta as áreas da biologia molecular, genética,
farmacoterapia e acupuntura, mas também há reconhecida
tendência para o estudo da espiritualidade (Koenig,
2004, PERES et al, 2007).
Nesse período de questionamentos
modernos e ao mesmo tempo, de velhos conhecidos nossos, deparamo-nos
com a TVP, que busca conciliar (e o faz) conceitual e na prática,
uma relação harmônica entre terapia e espiritualidade
no set terapêutico.
O Brasil, terra das miscigenações de raças, culturas
e religiões, nos predispõem a crer em relações
intrínsecas entre a questão da saúde e da espiritualidade.
Quanto a este fato apontamos a TVP como aquela que considera, integra
e concilia estas características:
A TVP, nascida em meio à
medicina dita “científica”, vem resgatar as antigas
tradições xamânicas, com um detalhe que a distingui:
não existe mais o cunho do exotismo, esoterismo, curandeirismo.
Firmando-se como um novo degrau para psicologia, a TVP une conceitos
espirituais e terapêuticos em um caminho único (LUCCA
e POSSATO 1998, p.11).
2.3 A REENCARNAÇAO COMO CRENÇA
E PRESSUPOSTO TEÓRICO DA TVP
No que diz respeito à reencarnação,
Farias (2003) discorre sobre uma conversa tecida entre Celestino e
um rabino judeu situando a bíblia como o livro mais antigo
a apontar sua existência:
O rabino Arieh Kaplan afirma que:
Não é possível entender a Cabalá sem
acreditar na eternidade da alma e suas reencarnações’.
Com o nome de ‘Transmigração das Almas’,
todo o povo judeu, inclusive a corrente ortodoxa hassídica,
acredita que depois da morte a Alma reencarna numa nova forma física...
A reencarnação é uma crença fundamental
do hassidismo. Seus conceitos constam dos livros Sefer Ha-Bahir
(Livro da Iluminação), primeiro livro da Cabalá
judaica e do Zohar (Livro do Esplendor). Ambos os livros atribuem
grande importância à doutrina da reencarnação,
usada para explicar que os justos sofrem porque pecaram em uma vida
anterior. Nele, o renascimento é comparado a uma vinha que
deve ser replantada para que possa produzir boas uvas. (p.3, grifo
do autor).
No Ocidente, vários filósofos
gregos trabalharam com a idéia da reencarnação,
a começar por Pitágoras. Ele afirmava ter vivido antes
como guerreiro troiano, comerciante, agricultor e prostituta.
Platão defendia que a alma é imortal, antecede o nascimento
e reencarna diversas vezes. Cada alma escolheria sua próxima
vida, a partir de suas experiências nas vidas anteriores.
Discípulo de Platão, Aristóteles inicialmente
adotou as idéias do mestre. Depois passou a opor-se aos conceitos
de imortalidade e de reencarnação.
O influente teólogo e escritor Alexandrino Orígenes
(185 d.C. - 254 d.C.), por exemplo, aceitava a reencarnação.
Outro artigo divulgado em espaço virtual sob o titulo Reencarnação,
traça uma trajetória extensa a respeito do surgimento
deste tema, mostrando que é uma idéia que nos acompanha
a tempos remotos:
Pensa-se que a reencarnação
foi inventada pela Doutrina Espírita, entretanto vamos encontrá-la
já na Antigüidade... os povos da Índia, Egito,
China, Pérsia e Grécia acreditavam que a alma poderia
ter várias vidas.
Gabriel Delanne, diz no livro A Reencarnação que iremos
encontrar nos Vedas (1.300 a.C.), que é o conjunto de textos
sagrados, base fundamental da tradição religiosa –
do Bramanismo e do Hinduísmo – e filosófica
da Índia esta passagem:
A alma não nasce nem morre nunca, ela não nasceu outrora
nem deve renascer; sem nascimento, sem fim, eterna, antiga não
morre quando se mata o corpo. Como poderia aquele que sabe impecável,
eterna sem nascimento e sem fim matar ou fazer matar alguém?
Assim como se deixam as vestes gastas para usar estes novas, também
a alma deixa o corpo usado para revestir novos corpos. Eu tive muitos
nascimentos e também tu, Arjuna; eu as conheço todas,
mas tu não as conheces [...] (Delanne,
1987, p. 22, apud SOBRINHO, 1995, p.1).
Como vemos, a concepção
da continuidade da vida e das vidas sucessivas aporta povos de todo
o mundo, com maior ou menor crédito, mas inevitavelmente presente
na historia da humanidade.
Mariléa Castro, prefaciando o livro Tempo de Amar - A trajetória
de uma alma, de Guimarães (2004), demonstra a resistência
às evidencias relacionadas ao tema:
A hipótese da reencarnação
já acumulou tantas e tão solidas evidencias, com pesquisadores
mais do que sérios e credenciados, que se pode dizer sem
exagero, que qualquer outra teoria com metade destas evidências
já teria sido adotada pelo menos como hipótese de
trabalho por cientistas de qualquer área. Parece mesmo que
nenhuma outra idéia, no ocidente, jamais recebeu tamanha
repulsa e tanta ojeriza ao ser pesquisada pela comunidade cientifica.
(p.15).
Pincherle (1990), pesquisador da TVP,
faz menção às descobertas de Jung a respeito
da reencarnação e da impossibilidade que se viu posto
na época, não esclarecendo fidedignamente suas descobertas:
Numa de suas aulas em São
Paulo, Morris Netherton contou-nos que numa viagem a Suíça
procurou a filha de Jung. Ela mostrou-lhe uma série de paginas,
manuscritas pelo pai, nas quais afirmava, já no fim de sua
longa vida, que certas memórias que surgiam do inconsciente
poderiam ser explicadas pela reencarnação. Essa afirmação
foi tão mal vista por seus editores, que no livro impresso,
frases inteiras haviam sido modificadas. Onde nos originais se via
a palavra “reencarnação” lia-se “memórias
provindas do inconsciente coletivo. (p.19).
2.3.1 As Contribuições do
Dr. Ian Stevenson à Ideia da Reencarnação e a
TVP
Ian Stevenson ficou carinhosamente
conhecido como o “caçador de vidas passadas”. Foi
a maior autoridade mundial no estudo da reencarnação
com método científico. Não conseguiu provar que,
em nossa trajetória evolutiva, nós realmente vivemos
(e morremos) muitas vezes. As descobertas realizadas e o imenso acervo
que coletou de casos que sugerem reencarnação, fizeram-no
chegar a poucos passos das provas definitivas.
Graduado em medicina, professor de psiquiatria e diretor da Divisão
de Estudos da Personalidade (atualmente, Divisão de Estudos
da Percepção) da Universidade de Virgínia, dedicou
mais de 40 anos à pesquisa da reencarnação e
escreveu mais de 200 artigos e livros fundamentais sobre o tema.
Com os seus trabalhos sobre a reencarnação ele tornou-se
mundialmente conhecido.
2.3.2 Dr. Hernani Guimarães Andrade: Contribuições
de um Pesquisador Brasileiro
Pioneiro na pesquisa do efeito Kirlian
e da transcomunicação instrumental em nosso país,
o engenheiro e psicobiofísico Hernani Guimarães Andrade
foi também o introdutor no Brasil da metodologia de Ian Stevenson
para o estudo de casos sugestivos de reencarnação. Stevenson
veio a São Paulo em 1972 e seus arquivos abrigam casos brasileiros
estudados pelo Instituto Brasileiro de Pesquisas Psicobiofísicas
(IBPP), presidido por ele. Estes estudos realizados segundo o modelo
elaborado por Stevenson, renderam dois livros: Reencarnação
no Brasil – Oito Casos que Sugerem Renascimento e Renasceu
por Amor – Um Caso que Sugere Reencarnação: Kilden
& Jonathan.
Hernani estudou na Escola Politécnica da Universidade de São
Paulo (USP), onde se formou em 1941, construindo ao longo do tempo
um currículo vasto em atividades e pesquisas das mais variadas.
Contudo, centralizou suas pesquisas nas áreas da Parapsicologia,
Psicobiofísica, transcomunicação instrumental
(TCI), comunicação com mentes extracorpóreas
através de aparelhos eletrônicos, sendo o autor mais
citado no Brasil e exterior a respeito do tema.
Realizava conferências, seminários, cursos e palestras
por todo o mundo, assim como, em espaços onde suas idéias
eram ouvidas com maior simpatia e afinidade como é o caso da
Associação Médico-Espírita de São
Paulo e o Instituto Nacional de Terapia de Vivências Passadas.
Transitava com fidelidade indiscutível em suas investigações,
considerando três aspectos fundamentais do Espiritismo: filosofia,
ciência e religião. Fundou o Instituto Brasileiro de
Psicobiofísica (IBPP), com trabalhos reconhecidos mais no exterior
do que no Brasil.
Formou, como colaborador, a primeira turma de Pós-Graduação
do Grupo de Pesquisas Psicobiofísicas da USP no campo da integração
cérebro/mente/corpo/espírito e transmitiu ao movimento
espírita, inúmeras obras frutos de exaustivas pesquisas.
2.4
PSICOTERAPIA E ESPIRITUALIDADE: RELAÇÕES POSSÍVEIS
A PARTIR DA TVP
À existência desta “entidade”
chamada espiritualidade é parte integrante na história
do ser humano desde tempos longínquos, observando a trajetória
religiosa e a ordem da evolução científica.
O artigo sob o titulo, As Dificuldades Científicas do Entendimento
da Espiritualidade, discute aspectos relacionados às limitações
da ciência, quando no entendimento da espiritualidade e seu
exercício pratico na relação com os pacientes:
O culto contemporâneo à Ciência
- e seus inegáveis êxitos nos mais variados campos
-- não modifica sua natureza intrínseca, em especial
no que se refere às suas limitações, definidas
em sua própria origem. A precisão científica
deriva exatamente de uma estrita delimitação de campo
e, necessariamente, gera um conhecimento fragmentário [...]
(BARROS, 2003, p.2, grifo do autor).
Continua, citando Pieper (1989) apud
BARROS, 2003 em suas pesquisas:
[...] reafirma a tese sustentada
por outros autores de que "modestamente críticas em
relação a si mesmas, as ciências se limitam
ao que pode ser conhecido com precisão, ao particular e,
portanto, ao concreto". Em outras palavras, a Ciência
só se propõe questões que possa resolver. Mais
grave que isto, eu diria, em muitos casos ignora ou desdenha tudo
aquilo que não consiga compreender. (p.2, grifo do autor).
O desenvolvimento exacerbado da razão
e do pensamento científico, que assola a psicoterapia entre
outras especialidades, pode reduzir sensivelmente a potência
terapêutica no trabalho, principalmente por evitar contatar
com esses aspectos legados a humanidade.
O texto a seguir se reporta ao fato da iminência de aspectos
espiritualizados estarem presentes no processo terapêutico,
afirmando que a experiência individual na chamada Psicologia
Transpessoal, é o fator mais significativo:
[...] a primazia da experiência
individual sobre toda doutrina, religião ou teoria, é
sagrada. Por isso, nosso enfoque é eminentemente espiritual,
isto é, temos como objetivo a dimensão mais elevada
do ser. Nesse caso, o indivíduo é sempre estimulado
a expandir cada vez mais sua consciência para alcançar
compreensões mais profundas. Isto, porque os enfoques religiosos
e teóricos estão presos a um sistema; o espiritual
é livre. Ele compreende um esforço que não
pressupõe qualquer purificação moral ou espiritual
no sentido religioso ou doutrinário, mas o reencontro do
homem com sua essência (VIEIRA, 2008,
p.4).
Na atualidade médicos e psicoterapeutas,
tendem a não mais negarem no trato com pacientes, a realidade
da presença de fatores espirituais e, portanto subjetivos.
Parece que a cada dia que passa a relação entre psicoterapia
e espiritualidade, é mais que possível, é fato
e desenha-se como uma necessidade, principalmente dentro da proposta
da TVP, pioneira na ação técnica de, metodologicamente,
compor conceitos distintos numa mesma pratica.
A TVP desbrava esse caminho tão tortuoso, delicado e amplamente
criticado pelo modelo vigente de ciência. Estabelece e credita
uma relação possível entre psicoterapia e espiritualidade,
de forma nunca anteriormente vista ao longo da historia da psicologia
enquanto ciência.
2.5 NASCIMENTO E DESENVOLVIMENTO DA TVP
2.5.1 Morris Netherton
O acesso às recordações
de vidas passadas é muito antigo. Este acesso foi exercido
desde a origem da humanidade, principalmente no homem primitivo cuja
primeira religião foi o culto aos antepassados.
Neste período as recordações de vidas passadas
não tinham caráter terapêutico. Eram apenas um
aspecto da religião e consideradas como prova de grande desenvolvimento
espiritual.
Como terapia, a TVP é relativamente recente, nasce na década
de 60, através do psicólogo americano Morris Netherton,
pioneiro na sistematização do método.
Paralelamente, no mesmo período, Edith Fiore, também
americana, sinalizava os primeiros passos para uma metodologia à
Terapia de Vidas Passadas. A principal diferença entre os dois
é que Fiore utiliza hipnose clássica (direta) procurando
o insight e Netherton utiliza hipnose indireta procurando o desenvolvimento
da chamada catarse.
Outros precursores que muito contribuíram com a TVP são:
Roger Wooger, terapeuta americano da linha de Jung, Hans Tem Dam,
Hazel M. Denning e Helen Wambach, dentre outros.
No Brasil citamos especialmente, Lívio Túlio Pincherle,
Michel Maluf, Dirce Barsottini, Elaine Gubeissi de Lucca, Maria Julia
Prieto Peres, Ney Prieto Peres, Dra. Maria Teodora Ribeiro Guimarães
e Hermínia Prado Godoy.
Durante séculos as únicas abordagens que se referiam
ao conceito de reencarnação foram a religiosa, a mística
e a filosófica. A partir do século passado e, principalmente
desde 1950, os cientistas começaram a pesquisar o assunto dentro
de uma metodologia própria da academia, como citado no capitulo
anterior.
Netherton elabora a técnica durante seu próprio processo
psicoterápico, que tinha como foco tratar-se de um problema
alérgico de fundo emocional. Sonhava desde criança com
um navio que afundava e comentou o fato com sua terapeuta. Trabalhando
sobre esses sonhos recorrentes, descobriu seu nome em uma vida anterior
e em sessão terapêutica re-vivenciou sua morte por afogamento,
resultado de um naufrágio. Na cena, pôde ver também
o nome daquele navio e mais tarde através do acesso a documentos
relativos ao fato, veio a confirmar o nome da embarcação,
a data, a época e o próprio nome que constava na lista
dos passageiros.
A partir desse ponto deduz que o seu caso não deveria ser único.
Resolveu aprofundar-se no assunto, trabalhando com milhares de pessoas
com resultados surpreendentes.
2.5.2 A Técnica Padrão da
SBTVP – Dra. Maria Teodora Ribeiro Guimarães
Dra. Maria Teodora Ribeiro Guimaraes
é medica psiquiatra, formada em TVP pela Association for Pastlife
Research and Therapy, na Califórnia, EUA; membro fundador e
Didata Supervisora da SBTVP com sede atual na cidade de em Campinas/
SP. A obra da autora conta com um significativo numero de livros publicados.
Desenvolveu a chamada Técnica Padrão à partir
de principos fundamentais como: fatos traumáticos, o conceito
de caráter, padrões e contra padrões de comportamento,
o conceito de “presenças”, a morte, a reprogramação,
e o ectoplasma, todos perpassando pela hipotese da reencarnação.
Em escritos de sua autoria, podemos observar a definição
clara e objetiva sobre o que se trata a terapia de vida passada:
A TVP é um tratamento psicológico
que se processa com regressões de memória. Sessões
de regressão no tempo, partindo da informação,
da decodificação que o terapeuta dá ao chamado
inconsciente do indivíduo, sobre o problema a ser resolvido,
com a proposta de se chegar ao passado, em vivências passadas,
em outras vidas, onde supostamente está a origem desse problema
(GUIMARAES, 2008, p.33).
Enfatiza, quando relata de forma simples,
que o objetivo basico da TVP é tratar os traumas do passado
que repercutem ainda hoje em nossas vidas.
Complementa ainda, no mesmo texto, questões do processo da
TVP relacionadas aos traumas e aos momentos dolorosos, esclarecendo:
Uma incrivel viagem no tempo, sem
escalas, que, no fundo, nada mais é do que um vasculhar nos
empoeirados arquivos da nossa historia, da nossa memoria, em busca
dos episodios mal resolvidos de nossos antigos personagens, cujas
sobras, cujos restos de emoçao, de energia e de dor balançam
displicentes e perigosos sobre o nosso conciente, sobre o nosso
dia-a-dia, causando outras dores, outras emoçoes, sem causa
aparente, e que nao conseguimos compreender (ibid., p.33).
Todo esse processo em TVP permite
que o cliente sinta-se acolhido e potencializado nas suas qualidades,
compreendendo que, ao acionar essa nova ferramenta terapêutica,
pode reconstruir a vida desabilitando o sofrimento e fortalecendo
a alegria de viver.
Uma referência de grande importância da TVP neste novo
milênio, apreciamos a seguir:
Acredito que esta terapia se transformara,
neste novo milênio que se inicia, numa arma extraordinaria
para a resoluçao das dores do homem ja cansado de procurar
aqui e ali, sem resoluçao, as respostas definitivas para
o seu sofrimento. Cansado de mascarar suas tristezas com remedios
e suas raivas com escapismos (GUIMARAES, 2005,
p. 14).
2.6 O NOVO PARADIGMA – VIDAS PASSADAS
NO SET TERAPÊUTICO
É importante ressaltar que
a mudança de paradigma não está acontecendo apenas
de forma conceitual. Na prática, os fenômenos inerentes
à imortalidade, à espiritualidade, de um princípio
inteligente que preexiste ao corpo e que reencarna sistematicamente
em busca de evolução, estão cada vez mais sendo
alvo de discussões no meio comum e leigo, mas também
de forma velada e tímida, nos espaços reservados ao
pensamento acadêmico.
Parece que sustentar a não existência da alma ou do espírito
é tarefa trabalhosa, considerando as inúmeras evidências
dispostas nos mais variados e sérios trabalhos espalhados pelo
mundo.
Guimarães (2000) se refere a isso da seguinte forma:
[...] a TVP muitas e muitas vezes
põe por terra nossos mais profundos arquétipos, o
que não deixa de ser muito interessante para o pensamento
cientifico, que deveria ser desprovido de preconceitos ao analisar
a possibilidade de vivencias pretéritas. (p.59).
Por outro lado o manejo técnico
do terapeuta é fundamental para que essa experiência
possa ser vivenciada seguramente pelo cliente.
Espera-se que o terapeuta de vida passada, esteja devidamente credenciado
ao exercício terapêutico, não só pela especialidade
e especificidade de tal terapia, mas, antes, pela sua formação
original, a de ser um médico ou um psicólogo.
Pincherle, (1990) é enfático diante neste tema:
Uma coisa, sim, me parece importante.
Um psicoterapeuta precisa ser confiável não só
pela sua integridade e pelos seus conhecimentos, mas, também
pela ”potencia terapêutica”, e, como dizem os
analistas transacionais, pela capacidade de dar PROTEÇÃO
e PERMISSÃO ao paciente em qualquer momento. (p.63, grifo
do autor).
Esse cuidado reflete a responsabilidade
terapêutica e o papel de facilitador que o terapeuta ocupa ao
acompanhar os fatos vivenciados pelo paciente em regressão
de memória.
Embora a técnica esteja respaldada no conceito da reencarnação,
o paciente não necessita acreditar em tal pressuposto. A eficiência
da técnica não esta vinculada a crenças ou dogmas,
mas fundamentalmente no processo que se dá através da
consciência de sua história longínqua.
Isso é confirmado em vários relatos de pacientes que
se submeteram a TVP:
[...] há pacientes em dúvida
quanto a existência ou não de outras vidas, e alguns
são totalmente incrédulos. É interessante que
nenhum destes tipos de pacientes alguma vez se referiu as regressões
como fantasia ou alucinação.
Pelo contrário, acabaram fortemente inclinados pela aceitação
das vidas passadas, uma vez que, conforme me dizem, “não
posso negar a existência de outras vidas, pois eu senti, eu
vivi, eu mudei... (ibid, p. 99, grifo do autor).
A autora esclarece que facilita a
compreensão das experiências vividas pelo paciente (vivencias
traumáticas, com forte conteúdo emocional como raiva,
vingança, ódio, etc.) apontando como referência,
a lei de causa e efeito da física.
A TVP busca a raiz das questões trazidas pelos pacientes através
da revelação de conteúdos complexos e pertinentes
a todo ser humano, que encontram-se em estado de inconsciência.
O movimento natural para este novo milênio, considerando a história
da humanidade, sugere o fortalecimento da TVP, ainda que sustentado
pelos resultados e não por uma revisão técnica
- teórica da ciência.
Suponho que não se deve negar o obvio e se tratando de TVP,
os fatos falam por si só.
2.7 A TVP NA ATUALIDADE
Durante algum tempo, acreditou-se
que a TVP não seria mais que um modismo passageiro e por isso,
deixaria de ser buscada pelos indivíduos como recurso terapêutico.
Muitas pessoas defendiam essa opinião porque não viam
consistência teórica ou prática nessa modalidade
terapêutica e, em alguns casos, desconheciam estas bases fortemente
sustentadas, como é o caso da Técnica Padrão,
desenvolvida pela Dra. Maria Teodora Ribeiro Guimarães.
O fato de muitos terapeutas de vida passada não possuírem
uma formação básica no campo da saúde
mental e uma formação consistente na técnica,
colocou a TVP pareada com misticismo e religião aumentando
as resistências e os opositores. Todavia, terapeutas sérios
e credenciados pela conduta valorosa e pela primazia metodológica,
continuam exercendo seu trabalho com ética e compromisso, multiplicando
os resultados positivos.
O relato realizado por Rozenkviat (2006), em sua dissertação
de mestrado, demonstra um crescimento na utilização
da TVP, independente dos apontamentos que faz quanto às controvérsias
vinculadas ao tema, a resistência científica, aos resultados
aparentemente funcionais (segundo ele), a simbologia envolvida nos
casos, etc. Não deixa também de lembrar ao meio acadêmico,
a importância de voltar um olhar mais cuidadoso a este novo
paradigma.
Finalmente, descreve assim o movimento da TVP:
[...] dado o panorama geral apresentado
neste trabalho, podemos perceber que a TVP tem sido aplicada em
larga escala, não só por charlatões ou pessoas
incultas, mas também por profissionais que verdadeiramente
acreditam nesta técnica e nas crenças envolvidas na
mesma. Eles tem feito um trabalho sério e se esforçado
no desenvolvimento da metodologia... de fato ela aparenta ser funcional
em determinados casos... a TVP continua em movimento ascendente
de estudo e aplicação... é um fenômeno
emergente e atuante que, por isso, merece ser melhor pesquisado
pelo meio acadêmico. (p.109).
Talvez o futuro da TVP esteja diretamente
relacionado à mudança na visão de homem e de
mundo. Uma visão mais ampliada, não só no discurso
de sua integralidade biopsicossocial, mas, na pratica da compreensão
de sua complexidade, finitude material e imortalidade espiritual.
3. CONCLUSÃO
Como se viu no decorrer deste trabalho,
a psicologia vem ao longo do tempo se constituindo como um instrumento
de acesso a conteúdos mais subjetivos da constituição
da personalidade do ser humano. Este por sua vez, há milênios
vem buscando a compreensão do significado de seu existir através
de condições condizentes com sua época e realidade;
feitiçaria, mitos e filosofia na antiguidade (o ser humano,
visto como espiritual e eterno) e a fisiologia, reduzindo o ser a
comportamentos observáveis (sec.XIX). Na Modernidade, os primeiros
ensaios da psicanálise e posteriormente da dissidente psicologia
profunda, esta, marcando por sua vez, o retorno a totalidade do individuo,
como um ser alem das características/comportamentos comprováveis
em laboratório; reconstituindo uma forma mais abrangente na
compreensão dos processos psíquicos, sem desvincular-se
totalmente da proposta científica vigente, dando ênfase
porem, a existência de um inconsciente complexo e de certa forma,
insondável.
A psicologia profunda, trazida a luz do conhecimento pelo psiquiatra
suíço Carl Gustav Jung, marca uma nova era para a tradicional
psicologia, abrindo questionamentos sobre a transcendência do
ser a partir da ideia do conceito de inconsciente coletivo, que no
sec.XX foi denunciado por sua filha, como originalmente chamado por
Jung de reencarnação ou vidas sucessivas, como citado
anteriormente no decorrer deste trabalho.
Ao longo de milênios de história tal conceito, o da existência
da alma imortal e das vidas sucessivas era um fato e esteve em evidencia
(uma grande parcela da humanidade já carregava consigo a certeza
da reencarnação) e foi rechaçado por caracterizar-se
como um aspecto espiritual e, portanto não qualificado dentro
da ciência.
O advento da ciência cartesiana, assim como, uma serie de mudanças
religiosas e sócio culturais da época, cria uma cisão
entre conceitos que conviviam muito bem nas reflexões filosóficas
que intentavam conhecer o universo humano nas suas mais variadas nuances.
Sem sombra de dúvidas, a ciência colaborou abundantemente
com crescimento tecnológico e com a transformação
da realidade aprimorando técnicas e fidelizando argumentos
que colocaram a psicologia e suas vertentes, assim como as psicoterapias,
num patamar de credibilidade e status, atendendo as exigências
dos últimos séculos.
Mas como tudo na historia e no universo parece estar provido de dualidade,
os ganhos aqui também, implicaram invariavelmente em possíveis
perdas. Se por um lado a psicologia ganhou credibilidade e espaço
concreto para existir enquanto ciência reconhecida, por outro
logrou não considerar devidamente aspectos que originaram sua
própria história.
Ao meio de posições contrárias, de dicotomias
impostas, o sofrimento humano carregado dos mais diversos questionamentos
relacionados ao sentido da vida, do nascer e do morrer e da necessidade
de integração do si mesmo e ainda, diante da impossibilidade
da ciência em responder de forma convincente a estas questões,
a década de 80 é marcada fortemente pelo advento de
um novo paradigma, a TVP.
A revelia de posições radicadas em pólos extremos
e opostos, propõe metodologicamente estruturada, a compreensão
e o manejo do sofrimento humano através da harmonização
de conceitos como psicoterapia e espiritualidade.
Contudo, nesta trajetória histórica da psicologia/psicoterapia,
podemos perceber que a TVP sai à frente, como vanguarda de
um novo modelo, que concilia os tratados psíquicos científicos
às novas evidencias que ampliam a visão na compreensão
da complexa constituição do ser humano.
A TVP abre um novo cenário para terapeutas e clientes: mostra-lhes
os motivos pelos quais ocorrem determinados fatos em suas vidas, possibilita
um novo sentido a esta, e os instrumentaliza para a prática
de novos conhecimentos adquiridos.
Não obstante, a harmonização de conceitos (que
sofreram cisões ao longo da historia) realizados pela TVP,
depende obviamente do método, mas também fundamentalmente
da potencia do terapeuta em permitir que tais pressupostos encontrem
espaço em atuarem no set terapêutico.
Cuidar de pessoas aumenta a responsabilidade que temos perante nós
mesmos, e não poderia ser de outra forma. A decisão
ética que tomamos ao optarmos ser terapeutas nos colocou nos
bancos de uma escola de amor intensivo, chamados a aprender a amar
mais profundamente (GUIMARÃES, 1999,
p.369). Se como pessoas não somos capazes de nos abrirmos
para novas possibilidades, para reflexões menos rígidas,
menos formais e racionalizadas, também como terapeutas, não
estaremos devidamente dispostos a este encontro com o outro que nos
reflete invariavelmente. Não aceitar novas propostas, não
se permitir a aceitação incondicional do outro e sua
história peculiar é de certa forma, impor valores pessoais
e comportamentais próprios que na condição de
terapeuta, pode ser moral, mas não ético. A TVP trabalha
com a essência do ser e com o entendimento de que, suas dificuldades
e sofrimentos estão centrados no rompimento com esta dimensão
essencial. Trabalha com a possibilidade de contatar com um ser biopsicossocial
e espiritualizado, fazendo e refazendo sua historia individual e coletiva
ao longo de milênios. Constatou-se um longo tempo histórico
- um tempo milenar de lutas e descobertas e de questionamentos buscando
ocupar o lugar do vazio existencial que a essência do ser intentava
preencher. Compreende-se que a chegada da TVP, marca um novo tempo.
Um tempo em que se faz urgente a realização do ser pela
compreensão de sua essência, de sua responsabilidade
diante da vida e da sua necessidade em evoluir e transformar-se. Nada,
aparentemente (depois deste estudo), pode impedir um processo que
vem se construindo a longa data, nem mesmo a posição
acirrada do racionalismo cientifico. A essência do ser, sua
necessidade de ser feliz, reaprendendo valores, coloca-se acima de
imposições acadêmicas e reacionárias. Há
um tempo para tudo. Um tempo de construções e desconstruções
que dependem muitas vezes de atitudes carregadas de coragem. Um tempo
natural que segue seu caminho, assim como o curso de um rio, que ainda
que desviado, retorna mais cedo ou mais tarde ao seu leito original.
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