Espiritualidade e Sociedade





Sonia Campos

>   O vazio existencial

Artigos, teses e publicações

Mônica Soares
>   O vazio existencial - Como enfrentar os problemas do mundo?
Como superar a perda pelo sentido da vida? As terapias libertadoras e a cura pelo Evangelho de Jesus

 

Vivemos numa sociedade marcada pelos contrastes: de um lado a alegria, os sucessos e os prazeres do mundo. De outro a dor, a solidão e o sofrimento interior. A cada dia aumenta o número de pessoas que mergulha no vazio existencial por não se sentirem capazes de realizar o que o “mundo” exige delas, ainda que tal exigência, muitas vezes, seja até mesmo o mínimo. Medo, angústia, depressão, ansiedades, desilusões. Terá sido este o destino que o Mestre Jesus programou para nós? Por que, muitos de nós, embora tão capacitados, temos medo de enfrentar este mundo? Por quê?



Até algumas pessoas que já seguem a doutrina do Mestre Jesus – seja no âmbito espírita, seja em outra religião – sentem-se, muitas vezes, sozinhas e abandonadas, ora distanciadas dos amigos que buscam apenas os prazeres da vida cotidiana, ora afastadas daqueles que também buscam a renovação. Por que será?

A benfeitora Joanna de Ângelis afirma que tais conflitos íntimos ainda fazem parte de uma existência que traz em seu bojo muitas lutas e dificuldades do passado espiritual. Segundo o seu pensamento, “em face desses conflitos, o indivíduo renasce assinalado por certa debilidade das forças morais, que resulta na indisciplina e na morigeração (boa educação) da conduta, durante as experiências evolutivas que não ficaram bem trabalhadas... Lentamente, neste estado emocional, perdia ele (nas diversas reencarnações) a própria identidade, mergulhando em vidas de aparências que pudessem agradar aos outros, em detrimento de sua própria realização. Hoje, nessa busca desenfreada pelo brilho, transita-se de um estado de estresse para outro, sem que haja harmonia interior”.

Nesta ciranda, basta algum acontecimento imprevisto negativo como o desemprego ou a separação de um cônjuge para que a pessoa entre em algum tipo de estado depressivo. Neste período em que vivemos, o desemprego assustador; a queda dos valores; o aumento da violência, das guerras e catástrofes; a inseguran ça se instala no indivíduo. É o caso da “depressão ansiosa”, que soma ao sentimento de inferioridade, o desespero generalizado, a insatisfação e a ansiedade, como mais uma vez aponta Joanna de Ângelis: “Freud assinalava, que o fator preponderante mais comum a este conflito (solidão, ansiedade, insegurança) era a dificuldade que as pessoas tinham em aceitar o lado instintivo e sexual da vida, em razão dos preconceitos e tabus. Posteriormente, foram assinalados outros motivos, como o sentimento de inferioridade, a incapacidade para enfrentar novos desafios e a culpa. Ah, a culpa!

Os benfeitores espirituais alertam constantemente que ser feliz não é uma questão de circunstância, e tampouco depende das ações e gestos de uma outra pessoa. “As estradas que levam à felicidade fazem parte de um método gradual de crescimento íntimo, e depende do constante trabalho interior... E é resultado da atitude comportamental em face das tarefas que viemos desempenhar na Terra”, como afirma o Espírito Hammed, no livro Renovando Atitudes.

Já Léon Denis, em O Problema do Ser e do Destino, lembra que “a dor e o prazer são as duas formas extremas de sensação. Para suprir uma ou outra, seria necessário suprimir a sensibilidade. Elas são, portanto, inseparáveis, ainda que, em princípio, ambas fundamentais à educação do ser. “Em sua evolução, o ser deve esgotar todas as formas ilimitadas de prazer e também de dor... A dor física produz sensações; o sofrimento moral produz sentimentos”. O prazer e a dor residem, pois, bem menos nas coisas exteriores do que em nós mesmos. E ainda o filósofo do Espiritismo cita Epíteto: “Ele dizia que as coisas são apenas o que imaginamos que elas sejam”. Assim, continua Denis, “pela vontade podemos domar, vencer a dor, ou pelo menos, utilizá-la”.

O vazio existencial, que só aumenta nesses tempos modernos, muitas vezes levando jovens ao suicídio, e pelos motivos (para quem está de fora da dor) mais “insignificantes” deriva, segundo Joanna de Ângelis, da repetição de experiências que não se renovaram. Ou seja, que não ajudaram, e ainda não ajudam, ao progresso do espírito. Na modernidade, podemos exemplificar em nossas ações que não desenvolvem toda a nossa capacidade de promover e exercitar experiências e vivências, como o excesso de tempo diante do computador, as intermináveis horas de busca na internet, os encontros românticos inseguros e, na maior parte do tempo, frustrantes. “Desse modo, avança-se para um vazio coletivo, que se estabelece na sociedade”. E não é sem motivos que testemunhamos hoje, no Brasil, uma parte significativa da sociedade que perdeu o interesse pelo “desejar e realizar”, principalmente em prol da coletividade. E, no entanto, como ensina nosso querido Léon Denis, “Não existe abismo que o amor não possa preencher”.

O MEDO QUE NOS PARALISA

Em uma de suas muitas palestras sobre o assunto, o escritor Rossandro Klinjey fala sobre este medo que paralisa. “(...) O mundo te deixa deprimido, paralisado? O Evangelho de Jesus é um tratado e um compêndio de psiquiatria, psicologia, e de comportamento humano. Nele, a gente pode sempre perceber a forma como Jesus lida com as nossas emoções, nos convidando a mudar do estágio em que a gente se encontra para um estágio de maior progresso. Há sempre um convite para que se possa avançar. Existem, na sociedade humana, vários parâmetros feitos para nos definirem. Como por exemplo, pela profissão (quando nos definimos pelo que fazemos, tal qual: “sou um professor”); pela forma como a gente se comporta em casa... Esses parâmetros exteriores podem – ou não – estar em concordância com os nossos parâmetros interiores. Dentro do Evangelho, a gente sempre se identifica (conhece ou ama alguém) que se iguala aos personagens que conviveram com Jesus ou mesmo que o circundaram. Todos eles queriam dar um passo à frente, mas tinham medo. E o medo paralisa. Zaqueu, a mulher adúltera, os demais, todos eles são arquétipos psicológicos de todos nós. Até os discípulos que conviveram mais perto de Jesus viveram um intenso tratamento emocional com o Mestre, para dar um passo adiante”. Rossandro, então, afirma que “os medos são construídos na infância, porque nossos pais não tinham como serem perfeitos. Querendo ou não, eles sempre vão deixar sequelas”. É por isso que, ainda segundo o palestrante, “o pior são os erros da infância que a gente continua alimentando. Quando temos medo de enfrentar a vida, ou a gente se justifica ou a gente se culpa. Na parábola dos talentos vemos as características básicas de fuga. O Senhor da terra dá a cada servidor alguns talentos, diferenciados. Aquele que recebeu apenas um talento, o escondeu na terra. E isso mostra o desperdício que o medo provoca na alma humana... Tendo medo ele esconde na terra os talentos confiados a ele. E assim é repreendido pelo seu Senhor (...) A gente sempre se incomoda por não ter se sentido capaz de ter conseguido algo, mas arruma uma desculpa. Ah, o meu irmão é mais estudioso do que eu, então não me cobre.. Jesus dá talentos diferentes para todos nós.”

Nesse momento da palestra, Rossandro lembra uma passagem de Divaldo Franco. “Certa ocasião, conversando com o amigo Samuel, Divaldo ouviu dele que este não se sentia mais em condições de dar palestras porque tinha muitos defeitos dentro de si, muitas sombras que não vencera. E Divaldo perguntou: Como se limpa um cano sujo? E Samuel lhe respondeu: `Jogando água limpa’... Divaldo retrucou que era isso que ele tinha que fazer. Nossos problemas, devemos enfrentá-los no trabalho com Jesus, a favor do próximo. A gente precisa deixar passar a água limpa, para que saia a podre, porque ninguém é perfeito. Jesus não nos capacita para que a gente fique inerte. Servir significa sair do ego infantil, que chora as dores, e, apesar das dores, servir. ‘Apesar dos joelhos desconjuntados’, como diz Emmanuel, servir!”...

COMO ENFRENTAR OS PROBLEMAS DO MUNDO?

O tema deste ano do 28º Encontro sobre a Vida e a Obra de Bezerra de Menezes tratou justamente do assunto “Como enfrentar os problemas do mundo atual”. Nele, os diversos ensinamentos passados, por intermédio das mensagens dos espíritos e pelo próprio exemplo da vida de Dr. Bezerra, mostraram a todos que “Os problemas do mundo são resultados das ações individuais e coletivas e funcionam como oportunidades grandiosas para nossa reformulação e o retorno, gradativo, ao cumprimento da lei.

Para isso, a Doutrina Espírita oferece esclarecimentos para auxiliar a todos nas estratégias de enfrentamento dos problemas. Será sempre o enfrentamento, corajoso, da situação, seja ela qual for, que trará resultados benéficos. E sempre com a confiança e a fé no auxílio da espiritualidade do Senhor Jesus, por intermédio de nossos guias e espíritos protetores. Afinal, o próprio Dr. Bezerra de Menezes enfrentou os maiores revezes da vida. Perdeu filhos em idade prematura e amargou o desemprego. Como médico, desempregado, passa a atender a população carente sem cobrar nada. Sua fama vai longe, e ele é convidado para ser médico do Hospital Central Militar. E por aí segue ele em sua vida de muitas lutas. Mas sempre com o olhar no próximo.

A equação é simples, mas exige determinação e a coragem da fé: os problemas “afunilam” a vida, estreitam as portas, dificultam prazeres. E quando se aprende, por intermédio da Doutrina Espírita, a enfrentar a dor e os sofrimentos com “calma e repouso”, para a depuração do espírito, livre das paixões desordenadas, aí o amor se instala. A prática da lei do amor se torna constante, e, aos poucos, tudo se resolve. Chega, então, aquele momento em que nos lembramos de Maria de Nazaré e o valioso ensinamento, que nos foi deixado por Chico Xavier: “Isso também passa”.


A FORÇA PARA VENCER

Vários foram os casos divulgados para provar a equação: Problemas – oportunidades - benefícios. Com o desemprego, e a falta de recursos para gerenciar a vida material, à beira do colapso, alguns exemplos de pessoas que conseguiram passar pelas provas, seguindo os ensinamentos do Evangelho, e com a consciência de que estas foram nossas escolhas.

Vários foram os casos reais ilustrados, como o de Maria do Carmo. Casada com Rafael, há 5 anos, com dois filhos, de 2 e 4 anos. Ela, secretária; ele, metalúrgico. Lutavam contra as dificuldades da vida, mas no lar havia amor. Até que o desemprego atinge os dois. Nenhum parente para ajudar. O dinheiro das indenizações acabara e Rafael abandona Maria do Carmo com os filhos pequenos. Na rua, com os filhos, ela é acolhida por uma bondosa senhora, que lhe ensina o seu próprio ofício, corte e costura. Aos poucos ela aprende de tudo. Economiza e compra uma máquina de costura. Começa a ter uma clientela, aluga uma quitinete e vai morar com os filhos. Seu lar volta a ser feliz. Um dia, ao ser entrevistada para a televisão, sobre a crise, ao fechar a janela de sua humilde casa, ouve o filho dizer ao microfone: “Quando eu crescer, quero ser forte como a minha mãe!”...

Notemos a questão 132 de O Livro dos Espíritos:

Qual o objetivo da encarnação dos espíritos?
“Deus impõe-lhes a encarnação com o objetivo de fazê-los chegar à perfeição: para uns é expiação; para outros, missão. Porém, para chegarem a essa perfeição, devem suportar todas as vicissitudes da existência corporal: nisto é que está a expiação (...)”.


Provas, expiações, vicissitudes da vida corporal materializam-se por meio dos problemas que enfrentamos durante a reencarnação, possibilitando corrigir imperfeições, e, segundo o educador Jean Piaget, para desenvolver a inteligência.

Ainda mais sublime é a definição de Jesus, no Evangelho de João, 16:32-33. “Eis que chega a hora, e já se aproxima, em que vós sereis dispersos, cada um para a sua parte, e me deixareis só; mas não estou só, porque o Pai está comigo. Tenho-vos dito isto, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo”.

 

Referências Bibliográficas:

KARDEC, Alan. O Livro dos Espíritos, caps 132 e 264 . Rio de Janeiro, Ed. CELD.

DENIS, Leon. O problema do Ser e do Destino. Rio de Janeiro, Ed. CELD.

FRANCO, Divaldo. Conflitos Existenciais. Pelo Espírito de Joanna de Ângelis. Salvador. Ed. 07. 2016

NETO, F, E, S. Renovando Atitudes. Pelo Espírito de Hammed. São Paulo. Boa Nova, 24ª edição. 1997.

APOSTILA 28º Encontro Espírita sobre a Vida e a Obra de Bezerra de Menezes, de 27 de agosto de 2017, Ed. CELD.

KLINJEY, Rossandro. Palestra realizada na Sociedade Espírita Joanna de Ângelis (SEJA) Link: https://www.youtube.com/watch?v=pdjp9MsImfM

 

 

Fonte: Revista CELD de Estudos Espíritas
https://celd.xyz/wp-content/uploads/11-Revista_CELD_Novembro_2017.pdf

 

 

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