Vivemos numa sociedade marcada pelos contrastes: de
um lado a alegria, os sucessos e os prazeres do mundo. De outro a
dor, a solidão e o sofrimento interior. A cada dia aumenta
o número de pessoas que mergulha no vazio existencial por não
se sentirem capazes de realizar o que o “mundo” exige
delas, ainda que tal exigência, muitas vezes, seja até
mesmo o mínimo. Medo, angústia, depressão, ansiedades,
desilusões. Terá sido este o destino que o Mestre Jesus
programou para nós? Por que, muitos de nós, embora tão
capacitados, temos medo de enfrentar este mundo? Por quê?

Até algumas pessoas que já seguem a doutrina do Mestre
Jesus – seja no âmbito espírita, seja em outra
religião – sentem-se, muitas vezes, sozinhas e abandonadas,
ora distanciadas dos amigos que buscam apenas os prazeres da vida
cotidiana, ora afastadas daqueles que também buscam a renovação.
Por que será?
A benfeitora Joanna de Ângelis afirma que tais conflitos íntimos
ainda fazem parte de uma existência que traz em seu bojo muitas
lutas e dificuldades do passado espiritual. Segundo o seu pensamento,
“em face desses conflitos, o indivíduo renasce assinalado
por certa debilidade das forças morais, que resulta na indisciplina
e na morigeração (boa educação)
da conduta, durante as experiências evolutivas que não
ficaram bem trabalhadas... Lentamente, neste estado emocional, perdia
ele (nas diversas reencarnações) a própria identidade,
mergulhando em vidas de aparências que pudessem agradar aos
outros, em detrimento de sua própria realização.
Hoje, nessa busca desenfreada pelo brilho, transita-se de um estado
de estresse para outro, sem que haja harmonia interior”.
Nesta ciranda, basta algum acontecimento imprevisto negativo como
o desemprego ou a separação de um cônjuge para
que a pessoa entre em algum tipo de estado depressivo. Neste período
em que vivemos, o desemprego assustador; a queda dos valores; o aumento
da violência, das guerras e catástrofes; a inseguran
ça se instala no indivíduo. É o caso da “depressão
ansiosa”, que soma ao sentimento de inferioridade, o desespero
generalizado, a insatisfação e a ansiedade, como mais
uma vez aponta Joanna de Ângelis: “Freud assinalava, que
o fator preponderante mais comum a este conflito (solidão,
ansiedade, insegurança) era a dificuldade que as pessoas tinham
em aceitar o lado instintivo e sexual da vida, em razão dos
preconceitos e tabus. Posteriormente, foram assinalados outros motivos,
como o sentimento de inferioridade, a incapacidade para enfrentar
novos desafios e a culpa. Ah, a culpa!
Os benfeitores espirituais
alertam constantemente que ser feliz não é uma questão
de circunstância, e tampouco depende das ações
e gestos de uma outra pessoa. “As estradas que levam à
felicidade fazem parte de um método gradual de crescimento
íntimo, e depende do constante trabalho interior... E é
resultado da atitude comportamental em face das tarefas
que viemos desempenhar na Terra”, como afirma o Espírito
Hammed, no livro Renovando Atitudes.
Já Léon Denis, em O Problema do Ser e do Destino,
lembra que “a dor e o prazer são as duas formas extremas
de sensação. Para suprir uma ou outra, seria necessário
suprimir a sensibilidade. Elas são, portanto, inseparáveis,
ainda que, em princípio, ambas fundamentais
à educação do ser. “Em sua evolução,
o ser deve esgotar todas as formas ilimitadas de
prazer e também de dor... A dor física produz sensações;
o sofrimento moral produz sentimentos”. O prazer
e a dor residem, pois, bem menos nas coisas exteriores
do que em nós mesmos. E ainda o filósofo do Espiritismo
cita Epíteto: “Ele dizia que as coisas são apenas
o que imaginamos que elas sejam”. Assim, continua Denis, “pela
vontade podemos domar, vencer a dor, ou pelo menos,
utilizá-la”.
O vazio existencial, que só aumenta nesses tempos modernos,
muitas vezes levando jovens ao suicídio, e pelos motivos (para
quem está de fora da dor) mais “insignificantes”
deriva, segundo Joanna de Ângelis, da repetição
de experiências que não se renovaram. Ou seja, que não
ajudaram, e ainda não ajudam, ao progresso do espírito.
Na modernidade, podemos exemplificar em nossas ações
que não desenvolvem toda a nossa capacidade de promover e exercitar
experiências e vivências, como o excesso de tempo diante
do computador, as intermináveis horas de busca na internet,
os encontros românticos inseguros e, na maior parte do tempo,
frustrantes. “Desse modo, avança-se para um vazio
coletivo, que se estabelece na sociedade”. E não
é sem motivos que testemunhamos hoje, no Brasil, uma parte
significativa da sociedade que perdeu o interesse pelo “desejar
e realizar”, principalmente em prol da coletividade. E, no entanto,
como ensina nosso querido Léon Denis, “Não existe
abismo que o amor não possa preencher”.
O MEDO QUE NOS PARALISA
Em uma de suas muitas palestras
sobre o assunto, o escritor Rossandro Klinjey fala sobre este medo
que paralisa. “(...) O mundo te deixa deprimido, paralisado?
O Evangelho de Jesus é um tratado e um compêndio de psiquiatria,
psicologia, e de comportamento humano. Nele, a gente pode sempre perceber
a forma como Jesus lida com as nossas emoções, nos convidando
a mudar do estágio em que a gente se encontra para um estágio
de maior progresso. Há sempre um convite para que se possa
avançar. Existem, na sociedade humana, vários parâmetros
feitos para nos definirem. Como por exemplo, pela profissão
(quando nos definimos pelo que fazemos, tal qual: “sou
um professor”); pela forma como a gente se comporta em casa...
Esses parâmetros exteriores podem – ou não
– estar em concordância com os nossos parâmetros
interiores. Dentro do Evangelho, a gente sempre se identifica (conhece
ou ama alguém) que se iguala aos personagens que conviveram
com Jesus ou mesmo que o circundaram. Todos eles queriam dar um passo
à frente, mas tinham medo. E o medo paralisa. Zaqueu, a mulher
adúltera, os demais, todos eles são arquétipos
psicológicos de todos nós. Até os discípulos
que conviveram mais perto de Jesus viveram um intenso tratamento emocional
com o Mestre, para dar um passo adiante”. Rossandro, então,
afirma que “os medos são construídos na infância,
porque nossos pais não tinham como serem perfeitos. Querendo
ou não, eles sempre vão deixar sequelas”. É
por isso que, ainda segundo o palestrante, “o pior são
os erros da infância que a gente continua alimentando. Quando
temos medo de enfrentar a vida, ou a gente se justifica ou a gente
se culpa. Na parábola dos talentos vemos as características
básicas de fuga. O Senhor da terra dá a cada servidor
alguns talentos, diferenciados. Aquele que recebeu apenas um talento,
o escondeu na terra. E isso mostra o desperdício que o medo
provoca na alma humana... Tendo medo ele esconde na terra os talentos
confiados a ele. E assim é repreendido pelo seu Senhor (...)
A gente sempre se incomoda por não ter se sentido capaz de
ter conseguido algo, mas arruma uma desculpa. Ah, o meu irmão
é mais estudioso do que eu, então não me cobre..
Jesus dá talentos diferentes para todos nós.”
Nesse momento da palestra, Rossandro lembra uma passagem de Divaldo
Franco. “Certa ocasião, conversando com o amigo Samuel,
Divaldo ouviu dele que este não se sentia mais em condições
de dar palestras porque tinha muitos defeitos dentro de si, muitas
sombras que não vencera. E Divaldo perguntou: Como se limpa
um cano sujo? E Samuel lhe respondeu: `Jogando água limpa’...
Divaldo retrucou que era isso que ele tinha que fazer. Nossos problemas,
devemos enfrentá-los no trabalho com Jesus, a favor do próximo.
A gente precisa deixar passar a água limpa, para que saia a
podre, porque ninguém é perfeito. Jesus não nos
capacita para que a gente fique inerte. Servir significa sair do ego
infantil, que chora as dores, e, apesar das dores, servir. ‘Apesar
dos joelhos desconjuntados’, como diz Emmanuel, servir!”...
COMO ENFRENTAR OS PROBLEMAS
DO MUNDO?
O tema deste ano do 28º Encontro sobre a Vida e a Obra de Bezerra
de Menezes tratou justamente do assunto “Como enfrentar os problemas
do mundo atual”. Nele, os diversos ensinamentos passados, por
intermédio das mensagens dos espíritos e pelo próprio
exemplo da vida de Dr. Bezerra, mostraram a todos que “Os problemas
do mundo são resultados das ações individuais
e coletivas e funcionam como oportunidades grandiosas para nossa reformulação
e o retorno, gradativo, ao cumprimento da lei.
Para isso, a Doutrina Espírita oferece esclarecimentos para
auxiliar a todos nas estratégias de enfrentamento dos problemas.
Será sempre o enfrentamento, corajoso, da situação,
seja ela qual for, que trará resultados benéficos. E
sempre com a confiança e a fé no auxílio da espiritualidade
do Senhor Jesus, por intermédio de nossos guias e espíritos
protetores. Afinal, o próprio Dr. Bezerra de Menezes enfrentou
os maiores revezes da vida. Perdeu filhos em idade prematura e amargou
o desemprego. Como médico, desempregado, passa a atender a
população carente sem cobrar nada. Sua fama vai longe,
e ele é convidado para ser médico do Hospital Central
Militar. E por aí segue ele em sua vida de muitas lutas. Mas
sempre com o olhar no próximo.
A equação é simples, mas exige determinação
e a coragem da fé: os problemas “afunilam” a vida,
estreitam as portas, dificultam prazeres. E quando se aprende, por
intermédio da Doutrina Espírita, a enfrentar a dor e
os sofrimentos com “calma e repouso”,
para a depuração do espírito, livre das paixões
desordenadas, aí o amor se instala. A prática da lei
do amor se torna constante, e, aos poucos, tudo se resolve. Chega,
então, aquele momento em que nos lembramos de Maria de Nazaré
e o valioso ensinamento, que nos foi deixado por Chico Xavier: “Isso
também passa”.
A FORÇA PARA VENCER
Vários foram os casos
divulgados para provar a equação: Problemas
– oportunidades - benefícios. Com o desemprego,
e a falta de recursos para gerenciar a vida material, à beira
do colapso, alguns exemplos de pessoas que conseguiram passar pelas
provas, seguindo os ensinamentos do Evangelho, e com a consciência
de que estas foram nossas escolhas.
Vários foram os casos reais ilustrados, como o de Maria do
Carmo. Casada com Rafael, há 5 anos, com dois filhos, de 2
e 4 anos. Ela, secretária; ele, metalúrgico. Lutavam
contra as dificuldades da vida, mas no lar havia amor. Até
que o desemprego atinge os dois. Nenhum parente para ajudar. O dinheiro
das indenizações acabara e Rafael abandona Maria do
Carmo com os filhos pequenos. Na rua, com os filhos, ela é
acolhida por uma bondosa senhora, que lhe ensina o seu próprio
ofício, corte e costura. Aos poucos ela aprende de tudo. Economiza
e compra uma máquina de costura. Começa a ter uma clientela,
aluga uma quitinete e vai morar com os filhos. Seu lar volta a ser
feliz. Um dia, ao ser entrevistada para a televisão, sobre
a crise, ao fechar a janela de sua humilde casa, ouve o filho dizer
ao microfone: “Quando eu crescer, quero ser forte como a minha
mãe!”...
Notemos a questão 132 de O Livro dos Espíritos:
Qual o objetivo da encarnação dos espíritos?
“Deus impõe-lhes a encarnação com o objetivo
de fazê-los chegar à perfeição: para uns
é expiação; para outros, missão. Porém,
para chegarem a essa perfeição, devem suportar
todas as vicissitudes da existência corporal: nisto é
que está a expiação (...)”.
Provas, expiações, vicissitudes da vida corporal materializam-se
por meio dos problemas que enfrentamos
durante a reencarnação, possibilitando corrigir imperfeições,
e, segundo o educador Jean Piaget, para desenvolver a inteligência.
Ainda mais sublime é a definição de Jesus, no
Evangelho de João, 16:32-33. “Eis que chega a hora, e
já se aproxima, em que vós sereis dispersos, cada um
para a sua parte, e me deixareis só; mas não estou só,
porque o Pai está comigo. Tenho-vos dito isto, para que em
mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas
tende bom ânimo, eu venci o mundo”.