(trecho inicial)
Introdução
O pós-modernismo na Antropologia, segundo bibliografia recentemente
produzida nos Estados Unidos, tem como característica principal
formular uma crítica ao texto etnográfico clássico,
considerando questões como suas condições de
produção, o papel do autor, os recursos retóricos
utilizados e a ausência, no texto, de uma perspectiva crítica
mediando a cultura descrita (do informante) em função
da cultura para qual se escreve (do autor).
O contato com uma parcela dessa bibliografia da reflexão pós-moderna,
apresentada em linhas gerais na primeira parte desse trabalho, sugeriu-me,
então, a possibilidade de sua aplicação para
alguns dos textos etnográficos da bibliografia religiosa afro-brasileira,
com os quais venho trabalhando ultimamente na realização
de projeto de dissertação de mestrado, que trata das
transformações rituais e simbólicas no culto
urbano aos orixás, na cidade de São Paulo. Alguns desses
textos, como aqueles produzidos por Roger Bastide, Pierre Verger e
Juana Elbein, entre outros, têm sido recentemente criticados
em função dos modelos por demais idealizados que propõem
para análise do material religioso afro-brasileiro. Além
da presença ambígua do autor, que aparece como pesquisador
para legitimar a sistematização proposta no texto, e
como "iniciado" para garantir uma perspectiva "desde
dentro". Contudo, essas críticas frequentemente não
focalizam os artifícios da construção textual,
os quais, conforme tentarei demonstrar na segunda parte desse trabalho,
são elementos importantes (e elucidativos) do fazer etnográfico
desses autores.
Um outro aspecto a ser explicado, e para o qual a análise do
discurso pode contribuir, é aquele referente ao fato de que
alguns textos da etnografia religiosa afro-brasileira vêm se
transformando, recentemente, em verdadeiras fontes de consulta para
um número crescente de leitores religiosos, que passam a tratar
as informações etnográficas como verdadeiros
estatutos de regras rituais válidas para todas as comunidades
religiosas.
Sobre essa transformação da obra etnográfica
em um potencial texto (litúrgico e doutrinário) de uma
religião acostumada à transmissão oral dos conhecimentos
rituais, é o que trata a conclusão deste trabalho.
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