Diário de Natal:
Quando surgiu essa paixão pela Bíblia e a vontade
de estuda-la de forma tão profunda?
Severino Celestino:
Desde 1964, quando entrei no seminário e ganhei a primeira
Bíblia de presente do meu Reitor. Foi aí que me fascinei
pelo lado social e moral do livro, que me tocam profundamente. Em
cima disso eu procuro unir a moral bíblica com a moral da doutrina
espírita. Meu trabalho gira em torno de mostrar que nos textos
originais, ao contrário do que muita gente quer falar nos textos
em português, que a Bíblia não condena a doutrina
espírita. Do Gênese ao Apocalipse, não existe
religião alguma. A Bíblia é um código
moral de ensinamentos, que nos liberta e leva a Deus de uma forma
neutra. Jesus nunca pregou religião; ele pregou o amor.
Há muitas diferenças
entre os textos originais da Bíblia em hebraico e as traduções?
Muitas diferenças, distorções
e intenções. Eu não me preocupo muito em condenar
quem faz isso e sim mostrar a verdade que está lá. Quem
quiser seguir, siga, quem não quiser não pode dizer
que não conhece.
Erros na tradução
do hebraico ou são distorções forçadas?
As raízes de todas as distorções
estão nas traduções gregas. Por exemplo, quando
você começa a estudar a Torah, que é uma palavra
hebraica que significa ensinamento ou revelação divina.
Quando você chega no grego, eles não chamam de revelação
e sim de nomos, que significa Lei. Eles transformaram o que era uma
revelação para uma Lei. E a conseqüência
disso é que Lei é um princípio que regulamenta,
proíbe e delimita. Enquanto o ensinamento é ao contrário,
ele liberta. Não sei qual foi a intenção deles
(gregos), mas eles foram os grandes mentores de todo o desvio entre
o hebraico e as traduções em espanhol, inglês
e português.
O senhor fala que os católicos
voltarão a acreditar na reencarnação. Quando
foi que eles acreditaram?
A reencarnação está
patente nos textos originais. A partir da criação do
homem, no Gênese. Daí para frente você vai encontrando
referências claras de reencarnação pela Bíblia.
São provas claras de que a reencarnação fazia
parte do cristianismo, até ser ‘‘apagado’’
pelo Concílio de Constantinopla, algo que os estudiosos católicos
negam até hoje, mas que está registrado historicamente.
Isso seguiu até o famoso Concílio de Constantinopla,
no ano de 553 da nossa era, que apresentava duas correntes: a corrente
monofítica e a originista, que defendia a reencarnação,
um princípio que já estava arraigado à Igreja.
A rainha Teodósia de Constantinopla teve muita influência
nesse Concílio, hospedando os monofisistas, pois era contra
a reencarnação, uma vez que era muito devasta e tinha
sido prostituta. As prostitutas de Constantinopla se orgulhavam em
dizer que eram amigas da rainha, então ela mandou matar todas
as quinhentas prostitutas. A partir daí, o povo passou a dizer
que ela reencarnaria quinhentas vezes e, para não reencarnar,
ela influenciou o Concílio, que assim foi muito tumultuado.
Até mesmo o Papa foi excomungado e depois perdoado. A partir
daí, a Igreja determinou que todo aquele que fosse a favor
da doutrina de reencarnação seria anátema ou
condenado. Portanto, essa foi a origem. Mesmo assim, você encontra
no meio católico pessoas que aceitam a reencarnação.
A Igreja Católica voltará a aceitar os conceitos da
reencarnação. É só uma questão
de tempo.
Indique uma Bíblia
de boa tradução.
A Bíblia católica,
chamada ‘Bíblia de Jerusalém’ (Edições
Paulinas), eu considero como a melhor tradução para
o português. Mesmo assim há algumas distorções.
Deu no Diário de Natal
(08.10.2006)