Hoje contamos com inúmeras traduções da Bíblia
(tanto o Primeiro Testamento ou Bíblia Hebraica quanto o Segundo
Testamento ou Testamento Cristão) com variados estilos, tendências
e, evidentemente, com suas opções interpretativas. Se
tomarmos as traduções que circulam nos ambientes cristãos,
logo perceberemos sua perspectiva de análise e leitura do texto
antigo.
Agora, o leitor desavisado poderia questionar, ao se deparar com mais
uma tradução para o português das Sagradas Escrituras
Hebraicas: já não temos tantas traduções?
Qual a intenção da editora Sêfer neste árduo
trabalho de produzir uma tradução do texto hebraico?
Ela traz a público uma versão do texto bíblico
conforme a tradição judaica. Vale salientar que se trata
de um trabalho pioneiro nos círculos judaicos, com a intenção
de se manter o mais fiel possível ao texto original. Também
busca se manter distante de certas tendências e interpretações
teológicas.
Nesse sentido, não há notas de rodapé (explicativas
e interpretativas) como noutras traduções. Esta opção
propicia um não direcionamento da leitura que as pessoas farão
do texto.
Mas devemos ter clareza de que, por mais que se diga que propomos
uma tradução isenta e neutra de conveniências
e interpretações teológicas, ainda assim, ao
apresentar uma leitura conforme as tradições religiosas
e culturais, estamos delimitando um caminho e uma proposta de leitura
do texto.
Seria interessante se a tradução trouxesse no final
um pequeno glossário contendo alguns conceitos-chave que aparecem
no texto e como eles são interpretados e relidos pela tradição
judaica. Também seria interessante para ajudar os leitores
que têm pouco conhecimento das tradições e da
história do judaísmo contar na apresentação
alguns aspectos da história, dos costumes e da cultura de Israel.
No entanto, é de suma importância esta tradução
da Bíblia Hebraica à luz do Talmud e das tradições
judaicas. A editora Sêfer e os editores da Bíblia Hebraica
estão de parabéns por mais este serviço aos estudiosos
do texto sagrado, aos grupos religiosos e ao diálogo entre
as tradições judaicas e cristãs.
RAFAEL RODRIGUES DA SILVA é professor de exegese
bíblica do Instituto Teológico São Paulo e da Unisal
e professor de teologia do departamento de teologia e ciências
da religião da PUC-SP.