Magnólia
Gibson Cabral da Silva
> Esoterismo e Religiosidade Brasileira Contemporânea
Magnólia Gibson Cabral da Silva
Profa. Dra. DAS – PPGS - UFPB
O esoterismo moderno, é, ao mesmo tempo, uma forma de pensamento
ou tipo de conhecimento (modo de abordar a realidade) uma doutrina,
uma concepção de universo (teodicéia) e um grande
movimento espiritual e intelectual, que congrega - em torno de si
- uma infinidade de movimentos, de idéias, de práticas,
de técnicas e de realizações. O esoterismo critica
o catolicismo por este ter perdido o seu caráter iniciático
- caminho do auto-conhecimento e por seu caráter oficial e
político de articulador da vida comunitária e legitimador
do controle do Estado sobre os indivíduos. De fato, ao longo
de sua evolução, o catolicismo teria fechado o caminho
da religiosidade plena para a maioria dos seus fiéis, uma vez
que o lado hermético (místico), ficou restrito apenas
aos sacerdotes das ordens contemplativas (CARVALHO:
1994: 72).
Esoterismo (1) é,
também, o conjunto de princípios da doutrina esotérica.
Aqui, a palavra está sendo empregada com o sentido de Weltanschauung,
(2) termo
alemão, que designa uma concepção do universo
e da vida. A doutrina esotérica é o fundamento do misticismo
(3).
Misticismo é uma atitude religiosa em que o homem visa a união
com as forças, ou seres sagrados (BERGER,
1985: 73). De acordo com essa perspectiva, a vida humana não
é separada da vida que se expande no universo (Ibid.).
Enquanto permanece dentro do nomos
socialmente estabelecido, o indivíduo participa de um ser universal
que também consigna lugar aos fenômenos do sofrimento
e da morte. Quando o indivíduo está em sintonia com
os ritmos das forças cósmicas, seu próprio ser
está em harmonia com a ordem fundamental de todo ser - uma
ordem que, por definição, inclui e, assim, legitima
os ciclos do nascimento, da decadência e da regeneração.
Conseqüentemente, a decadência e a morte do indivíduo
são legítimas mediante sua "colocação
no âmbito da ordem mais ampla dos ciclos cósmicos"
(Op. cit. 75).
Conforme Simmel,
o misticismo encontra novas possibilidades de afirmação
na época contemporânea, porque se trata de um tipo de
religiosidade que satisfaz a tendência geral para maior individualização
e universalização. Para ele, a tendência ao misticismo
é dupla: de um lado, evidencia-se uma nova forma religiosa;
do outro, está mais aberta ao acolhimento de novos conteúdos,
porque são menos estruturadas; constituindo-se em "ilimitada
amplidão do sentimento religioso que não se choca com
nenhuma barreira dogmática" (Op.
cit. 255).
Religiosidade Brasileira Contemporânea
Para José Jorge de Carvalho
(Características do fenômeno religioso
na sociedade contemporânea 992) é como se uma
grande erosão tivesse abalado o solo seguro em que se assentava
a tradição religiosa ocidental, dando ensejo a uma acentuada
tendência aos ateísmos, agnosticismos e anticristianismos
(Op. cit. 139). Todas essas tendências
se entrecruzam na modernidade e acabam por configurar-se em inúmeras
formas culturais, com padrões e estilos expressivos próprios.
Nesse contexto, o esoterismo determina uma das vertentes mais importantes
da religiosidade contemporânea, o misticismo moderno.
A maior contribuição do esoterismo moderno, segundo
Carvalho, foi a busca de equivalências, de complementações
e de sínteses (Op. cit. 142).
Ressurgido no século XIX e coetâneo da crise histórica
e cultural, identificada por Weber como "desencantamento do mundo",
o movimento esotérico, inicialmente restrito à elite
intelectual européia, mais tarde, através de várias
mediações, termina por influenciar uma parcela bastante
ampla de indivíduos e recolocando questões relevantes
sobre a religiosidade na era moderna como um todo (Ibid.).
No século XIX essa crítica aparece claramente nas artes
e na filosofia ocidental que, à margem da Igreja, permite a
recuperação da tradição pagã, e
na sua esteira toda uma dimensão esotérica do cristianismo,
reinterpretada pelos movimentos considerados heréticos e silenciados
pelo discurso cristão oficial - os templários, os maçons,
os rosa-cruzes, os herméticos, os gnósticos, os alquimistas
etc. Tal como o movimento conhecido como a cabala cristã do
Renascimento, que se caracterizou como um espaço de grande
invenção e criatividade, essa nova tentativa de 'reencantar'
o cristianismo, justamente em plena época da declaração
do mundo desencantado, teria provocado um certo grau de fragmentação
da tradição cristã (diferente em tudo, da Reforma
protestante), em conseqüência, algumas dos seus símbolos
mais fortes foram reprocessados em novos contextos, de modo a contribuir
para o surgimento de novas sínteses religiosas, cuja repercussão
e significado histórico só agora começa ser devidamente
apreciada (Op. cit. 142).
Qual a importância do movimento esotérico? Pode-se dizer
que a maior contribuição dos movimentos esotéricos
é a busca de equivalências, de complementações,
de sínteses (Op. cit. 142). Esse
exercício de busca foi intensificado ao máximo pela
fundadora Sociedade Teosófica, Helena Petrovna Blavatstsky,
a qual encarnou literalmente a trajetória do peregrino, tendo
dado a volta ao mundo três vezes no século XIX, observando
e estudando e estudando as mais variadas tradições espirituais.
Não é atoa, que sua teosofia ocupa um lugar central
no esoterismo moderno (Ibid.). O movimento
esotérico aparece como um dos fenômenos de maior significância
sociológica da atualidade. Seus efeitos 'devastadores' não
se restringem aos estreitos limites da individualidade. Espraiando-se
muito além destes limites, objetivam-se numa multiplicidade
de formas e de movimentos sociais que, por seu caráter abrangente
e profundo, por onde passa, provoca as mais diversas reações
e efeitos.
Uma das conseqüências mais significativas para o cristianismo
da presença cada vez maior das tradições esotéricas
e orientais no Ocidente, é o deslocamento ou ampliação
das imagens das personagens e representações da tradição
cristã, em favor das imagens e representações
da tradição oriental. À medida que crescem as
propostas de diálogo inter-religioso, as figuras de Jesus Cristo
e a imagem do Deus cristão vão adquirindo características
opostas àquelas da tradição cristã. O
Cristo, passa a ser entendido como um princípio divino (como
a natureza búdica, o Ishawara) e Jesus, como a encarnação,
um avatar, uma manifestação histórica da divindade,
equivalente a Budha Shakya Muni, a Krishna, a Zoroastro, a Maomé
etc. (Op. cit. 144).
O deslocamento de imagens e representações aparece claramente
em nossa recente pesquisa sobre esoterismo no Brasil (SILVA,
2000). Em comparação com pesquisa anterior sobre
NMR de inspiração oriental (1988)
vários fatores evidenciam o deslocamento de imagens e representações,
bem como, uma significativa ampliação e diversificação
do fenômeno esotérico. Em primeiro lugar, observa-se
maior penetração de idéias e crenças de
caráter esotérico em todas as categorias da amostra
estudada. Isto é, a penetração da concepção
místico-esotérica de mundo, aparece, tanto entre cristãos,
como entre adeptos de outras religiões e entre os não
religiosos. O fenômeno é evidente nas respostas às
questões referente às imagens de Deus em praticamente
todos os depoimentos. Em segundo lugar, observa-se significativa ampliação
e diversificação dos movimentos esotéricos. Comparando-se
os dados da atual pesquisa com pesquisa anterior, observamos o aumento
do contingente dos sem religião, a diminuição
do percentual de católicos, o aumento no contingente de adeptos
de novas religiões brasileiras e estrangeiras nas classes médias,
tais como: Fé Baha'i, Messiânica, Hare Krishna e Santo
Daime. Constatamos, ainda, grande diversificação de
opções religiosas resultantes da combinação
de duas religiões (espírita-daimista, católico-espírita,
cristão-budista etc.) e o aumento de cristianismos esotéricos
e de criações e/ou combinações individuais
tais como: cristão-pagão, cristão, espiritualista,
católico-espirutualista, católico liberal, não
definida etc.
Tudo parece indica, que estamos diante "da mudança sem
precendentes", à qual se referem Pace (1997)
Campbell (1997) e Velho (1997).
Para esses estudiosos, o paradigma cultural da teodicéia que
tem sustentado a prática e o pensamento ocidental por cerca
de dois mil anos, estaria sofrendo um processo de substituição.
O novo paradigma emergente é aquele que tradicionalmente caracterizou
o Oriente (CAMPBELL, 1997: 6). Quer dizer,
aquele que é predominante no Oriente, mas não do 'domínio
do Oriente'. Pois, o misticismo existia também na tradição
"pagã" européia e no judaísmo, antes
da dominação cristã. Porém, após
dois séculos e meio de intensa perseguição, a
tradição mística foi quase completamente dizimada.
Seu retorno se deu via Oriente, porque lá, a tardição
mística estava preservada. Essa teria sido a razão que
levou os esotéricos ocidentais a tomar o Oriente como modelo.
Hoje, acompanhado a atual tendência à reflexividade e
à globalização cultural, essa tradição
vai, pouco a pouco, retomando seu espaço, e na sua esteira,
além de incorporar a tradição mística
universal à cultura ocidental moderna, retoma também
suas próprias raízes místicas, o "neo-paganismo"
na Europa, os diversos misticismos das tradições indígenas,
africana e pré-colombiana, nas Américas. Conforme observa
Velho (1997) o esoterismo é um
fenômeno digno de atenção ainda devidamente apreciado.
As mudanças que têm-se
dado ultimamente, não se restringem à questões
e grupos periféricos, como pareciam ser o caso dos "novos
movimentos religiosos". Dão-se no cerne mesmo do pensamento
de grande parte da população e portanto (suponho eu)
inclusive entre os adeptos das religiões ocidentais históricas,
apesar da tendência genericamente observada por Campbel para
o seu declínio (VELHO, 1997: 24).
Em nosso estudo, a expansão
do fenômeno fica por demais evidenciada. Com relação
ao declínio do religioso, por exemplo. Em comparação
com dados de pesquisa anterior, constatamos significativo aumento
no percentual dos sem religião. Em 1988 os sem religião
representavam 29% da amostra, que era composta apenas por adeptos
e simpatizantes do misticismo. Na estudo atual (00), os sem religião
correspondem à 41,5% do total da amostra. 15% dos os esotéricos
declarados4 e chegam a 80%, entre os não esotéricos.
Esses dados estão bem acima da média nacional, que estava
em torno de 18,7% (obtida através respostas simuladas), na
pesquisa Gallup (1998). Mesmo levando-se
em consideração a defasagem dos dados, é de se
supor que a média nacional não chegue, ainda a 25%.
Em relação à fé em Deus, entretanto, nossos
dados coincidem. Eles são 98,5% na pesquisa nacional do Gallup
(1988) e 90,5% na nossa amostra.
Consoante Leandro P. Carneiro e Luiz Eduardo Soares, as pesquisas
no Brasil, assim como os meios utilizados, são inquestionavelmente
insuficientes. Em vista disso, na análise dos dados da pesquisa
Gallup (1988) - sobre o quadro religioso
brasileiro - por eles utilizada, eles procuraram indentificar as dimensões
relativas dos dados, e não o significado aparente, que segundo
eles não é de todo representativo. Para eles, mais interessante
do que saber que 98,5% dos brasileiros acreditam em Deus, (ainda que
fosse preciso supor muitas distinções significativas
sob este extensíssimo consenso aparente) ... é descobrir
que 45.9% dos católicos praticantes (que pareciam constituir
um grupo confiável do ponto de vista da significação
sociológica) declararam acreditar na reencarnação
- credo reconhecidamente não incluído na tradição
católica.
Eis ai um sinal perturbador do sincretismo;
perturbador da serenidade triunfante e fetichista dos quadros estatísticos
de contornos claramente bem desenhados (CARNEIRO,
& SOARES, In BINGEMER, 1992: pp.13 e 40).
Além das já citadas,
outras constatações da nossa pesquisa reforçam
a hipótese da crescente penetração das concepções
esotéricas de universo entre os brasileiros. Em nossa pesquisa
(1986 - 88) 50% dos entrevistados declararam haver buscado as tradições
orientais por insatisfação com materialismo reinante
e a religião institucinalizada. No caso, em questão
a Católica. 67% do total era ou foi católico, 55% destes
permanecia 'católico orientalista' e 33% continuavam busca.
Na atual pesquisa, entre os esotéricos declarados, alguns são
'católicos liberais' e outros 'independentes' e o número
daqueles que confessam abertamente sua adesão às tradições
esotéricas aumentou, é de 38%, enquanto o número
de 'católicos puros' diminuiu, representa apenas 20,2% do total
da amostra. Entre estes, a idéia de auto-aperfeiçoamento
- que é um dos princípios por excelência de esoterismo
- aparece em 20% da amostra. 50% dos esotéricos declarados,
afirma ter encontrado a verdade no misticismo. Em nosso entender,
o dado mais revelador da expansão das idéias esotéricas
entre brasileiros não adeptos, aparece nos depoimentos dos
esotéricos não declarados. 55% destes, vêem o
esoterismo como 'uma orientação prática para
o auto-aperfeiçoamento' e 45%, acham que 'o esoterismo pode
servir de fundamento para uma nova ordem moral'.
A opinião favorável a respeito do esoterismo, foi a
razão que nos levou a classificá-los nesta categoria.
Essa constatação reforça, também, nossa
suposição de maior penetração das idéias
esotéricas na população em geral. As representações
de Deus encontradas em nossa amostra evidenciam que uma mudança
de paradigma cultural parece, de fato, estar em curso. As definições
abstratas esotéricas de "princípio criador do universo",
"luz", "energia" e "amor", aparecem
na maioria dos depoimentos, tanto entre os religiosos como entre os
não religiosos, esotéricos e não esotéricos.
Isso significa, em nosso entender, que as idéias difundidas
pelo esoterismo, hoje, tem um alcance que se estende para além
dos círculos esotéricos. Outros dados da pesquisa, reforçam
a hipótese da crescente penetração do esoterismo
entre nós. Diríamos, até, que estamos diante
de uma nova tradição, e que o esoterismo no Brasil não
é um modismo passageiro, sem conseqüências e implicações
culturais e sociais. 15% dos esotéricos entrevistados tinham
mais de trinta anos de prática e 17,6%, declaram praticar o
esoterismo por 'ter recebido educação familiar com orientações
esotéricas'. Observamos, também, aumento no contingente
de adeptos de outras religiões brasileiras e estrangeiras nas
classes médias, como: Espírita, fé Baha'i, Messiânica,
Hare Krishna e Santo Daime. Além de enorme diversificação
de opções religiosas resultantes da combinação
de duas religiões (espírita-daimista, católico-espírita,
cristão-budista etc.) Bem como de criações individuais
(cristão-pagão, cristão, espiritualista, católico-espirutualista,
sem nome etc.).
Devido a sua amplitude, abrangência e alto grau de liberdade
e autonomia, os movimentos esotéricos podem-se desdobrar quase
que infinitamente, numa miríade de formas e de movimentos,
apresentando enorme diversidade de orientações. De tal
modo, que, embora inspirados na religiosidade mística, assumem
também formas não religiosas, entre outras; o Movimento
Holístico, o Círculo Esotérico para a Comunhão
do Pensamento e a Eubiose.
Bibliografia
CAMPBELL, Colin. A Orientalização
do Ocidente: reflexões sobre uma nova teodicéia para um
novo milênio. Religião & Sociedade. Vol. 18 . Número
1- Ano 1997, pp. 5-22.
CARNEIRO, Leandro. e SOARES, Luiz Eduardo.
Religiosidade, estrutura social e comportamento político. In
Maria Clara L. Bingemer. O impacto da modernidade sobre a religião.
São Paulo: Edições Loyola, 1992, pp. 9- 58.
CARVALHO, José Jorge. Antropologia
e Esoterismo: Dois contradiscursos da modernidade. Horizontes Antropológicos.
Porto Alegre, ano 4, no 8 pp. 53-71, junho de 1998.
____________________ Características
do Fenômeno Religioso na Sociedade Contemporânea. In Maria
Clara L. Bingemer (Org.). O Impacto da Modernidade sobre a Religião.
São Paulo: Loyola, 1992, pp. 133-163.
VELHO, Otávio. O que a Religião
pode fazer pelas Ciências Sociais? In Religião e Sociedade,
Rio de Janeiro, 19 (1): 1998, pp. 9-17.
CARVALHO, José Jorge. O Encontro
de Velhas e Novas Religiões: o esboço de uma teoria dos
estilos de espiritualidade. In Alberto Moreira & Renée Zicman
(Orgs.). Misticismo e Novas Religiões. 2a edição.
Petrópolis: Vozes, 1994, pp. 65-98.
PACE, Enzo. O futuro da religião
na Europa. In Religião e Sociedade, Rio de Janeiro, 19 (1): 1998,
pp. 19-28.
VELHO, Otávio. A orientalização
do Ocidente: comentários a um texto de Colin Campbell. In Religião
e Sociedade 18/1 * 1997, pp. 22-47.
VELHO, Otávio. O que a Religião
pode fazer pelas Ciências Sociais? In Religião e Sociedade,
Rio de Janeiro, 19 (1): 1998, pp.9-17.
_____________ Ensaio Herético
sobre a Atualidade da Gnose. In otáviovelho@ax.apc.org
SILVA, Magnólia G. C. Recentes
teodicéias inspiradas na tradição oriental: conservadorismo
e\ou mudança social. Dissertação de Mestrado em
Sociologia. UFPE, Recife: 1988. Publicado em forma de artigo na Revista
de Cultura Vozes Religião e Sociedade, Petrópolis, no
6 Ano 83, pp. 659-674, nov\dez 1989.
__________________ Possíveis
causas e conseqüências da atração pelo misticismo
oriental. Comunicação apresentada no Congresso Internacional
As novas Religiões - A Expansão dos Movimentos Religiosos
e Mágicos, Recife, Pernambuco, 18 de maio de 1994.
__________________ Visão mística
e holistíca. Comunicação apresentada no VII Encontro
de Ciências Sociais do Norte\Nordeste, João Pessoa 26 de
maio de 1995.(TRAUTWEIN, Breno. O Esoterismo Maçônico.
In Folhas aos Ventos Maçônicos. Vol. I Londrina: Editora
Maçônica, 2000, p.155).
__________________ Seicho-no-iê:
a promessa do paraíso aqui e agora. Comunicação
apresentada no VIII Encontro de Ciências Sociais do Norte\Nordeste
Modos de Pensar o Social, Espaço, Tempo e Imagem, Fortaleza,
Ceará, 13 de junho de 1997.
___________________ Esoterismo e Movimento
Esotérico no Brasil. Recife: Tese de doutorado apresentada no
PPGS em Sociologia da UFPE, 2000.
Notas
1. (TRAUTWEIN, Breno. O Esoterismo Maçônico.
In Folhas aos Ventos Maçônicos. Vol. I Londrina: Editora
Maçônica, 2000, p.155).
2. (CUVILLIER, A. Pequeno dicionário da língua filosófica.
Companhia Editora Nacional. São Paulo: 1961, 166).
3. O misticismo, enquanto sistema de crença é universal.
No Ocidente Medieval, foi duramente perseguido e praticamente extinto.
Na Idade Moderna, foi "redescoberto" via Oriente. Por essa
razão, o misticismo moderno é identificado com o Oriente
e sinônimo de esoterismo. Consoante Castellani (1998) a palavra
misticismo, vem de mistério, tem o significado de algo que se
percebe profundamente, no íntimo, no âmago do ser e, não
pode ser revelado. Ou melhor, do qual não se pode falar. A palavra
tem origem no grego myo, que significa literalmente "fechar a boca"
(CASTELLANI, José. Misticismo e esoterismo. In Minerva Maçônica.
Ano II - no. 5 nov./dez. 1998 - jan. 1999, 24). Freqüentemente,
empregam-se os termos misticismo, esoterismo e ocultismo como sinônimos.
Olindina Puglise, em Misticismo - A busca da verdade (1993) emprega
a palavra ocultismo como sinônimo de misticismo. Para ela, ocultismo
é o estudo das leis que estão ocultas na natureza; portanto,
não visíveis (PUGLISE, Olindina. Misticismo - A busca
da verdade. In O Teosofista. Ano 82 jan./mar. 1993 - 21). Para Henricus
Cornelius Agrippa, Occulta Philosophia (1533) o termo ocultismo designa
um conjunto de pesquisas e práticas relativas à astrologia,
à magia, à alquimia e à cabala. Segundo Faivre
(1994) o termo ocultismo tem sido empregado em duas acepções.
A primeira, refere-se a qualquer prática relativa às acima
mencionadas "ciências ocultas" e a segunda, como denominação
de uma corrente de pensamento surgida na segunda metade do século
XIX na Europa, com Eliphas Lévi e cujo apogeu se situa na virada
do século (FAIVRE, Antoine. O Esoterismo. São Paulo: Papirus,
1994, 30). Se misticismo é a experiência com os mistérios
ocultos da natureza e o esoterismo é o "modo de pensamento"
(Faivre, 1994) que informa sobre esses mistérios, ocultismo e
misticismo designam o conjunto de práticas ou formas de ação,
cuja legitimidade lhes é proporcionada pelo esoterismo. Daí,
os termos esoterismo, misticismo e ocultismo serem empregadosindistintamente
como sinônimos entre si. Enquanto os especialistas fazem questão
de evidenciar as diferenças, porém, o emprego generalizado,
consagra-os como sinônimos. Desse modo, tanto na linguagem ordinária
como nas ciências sociais em geral, estes termos têm sido
empregados indistintamente como sinônimos. Isto também
é verdadeiro para a maioria dos estudos sociológicos aqui
discutidos.
4. Em relação às questões sobre esoterismo,
a amostra foi classificada em três categorias: 1) esotéricos
declarados; 2) esotéricos não declarados; 3) não
esotéricos declarados.
II ENCONTROS DO RELIGARE
Saberes Emergentes
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
de 23 a 24 de outubro
Esoterismo e Religiosidade Brasileira
Contemporânea.
Magnólia Gibson Cabral da Silva (UFPB).
Diferentemente do que se havia imaginado,
a religiosidade místico-esotérica tem demonstrado enorme
vitalidade e capacidade de acomodação à sociedade
de consumo globalizada no chamado capitalismo tardio. Ao contrário
do que davam a entender as primeiras interpretações sobre
o assunto, os magos e ocultistas modernos não são pessoas
oprimidas por um meio ambiente incompreensível, ao qual respondem
passivamente, desenvolvendo sistemas de crenças supersticiosas
e sobrenaturais. São pessoas de instrução elevada,
capazes de enfrentar um meio ambiente complexo e intelectualmente exigente.
Nosso propósito, é tecer algumas considerações
sobre o fenômeno e seu impacto sobre a religiosidade brasileira
contemporânea.
Magnólia Gibson Cabral da Silva
Doutor em Sociologia
Profa. do DSA - CCHLA UFPB CII
http://yesod.sites.uol.com.br/cadernos/edicao1/esot.htm
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