Davilson
Silva
> Cirurgias que intrigam
Há milênios, as cirurgias
mediúnicas, ou espirituais, têm sido feitas! Existem
relatos de descobertas no Egito e Grécia, além de vestígios
da remota época do homem neolítico, também chamada
Idade da Pedra Polida, época na qual, segundo se presume, eram
efetuadas delicadíssimas trepanações, em alterado
estado de consciência. Sempre existiram médicos-feiticeiros
entre chefes ou maiorais dos lamas do Tibete, dos xamãs da
Sibéria, Bornéu, Melanésia, Sumatra e Polinésia.
Só que as “cirurgias com corte” popularizaram-se
nas Filipinas em 1940, através do médium Eleutério
Terte. Até onde se sabe, no século 20, nas ilhas do
sul do Pacífico, Ásia, ocorreram as primeiras cirurgias
com incisão.
Segundo George Meek,1o fenômeno das cirurgias ficou conhecido
desde que os aborígines das Filipinas, os aetas, receberam
influência dos povos das Ilhas da Polinésia e da Índia.
Uma parte das crenças desse povo referia-se à ideia
de que as enfermidades eram motivadas pelo desforço. Ao utilizar-se
da feitiçaria, a pessoa, por vingança, valia-se dos
malefícios de um bruxo que tivesse a capacidade medianímica
de transpor no corpo do inimigo algum objeto, por efeito da desmaterialização
e rematerialização.
Esse procedimento seguiu inalterado e ainda prevalece nas grandes
ilhas do sul, regiões dos campos de arroz, situadas na área
norte-central de Luzon. A referida crença e prática
continuaram ao longo da primeira metade do século 20, período
em que as cirurgias eram mais executadas por fenômenos de efeitos
físicos; em geral, costumava-se retirar do corpo do paciente,
sem abri-lo nem fechá-lo, os citados objetos de feitiço,
ou seja: fibras de coqueiro, folhas de tabaco, farpas de madeira,
espinhos etc. Já as cirurgias com cortes profundos ou superficiais
tornaram-se exatamente conhecidas e difundidas no ano de 1950.
Elas aconteceram no começo dos anos cinquenta e, conforme dados
de Meek, pessoas de países ocidentais foram as primeiras a
recorrer aos médiuns filipinos que surgiram depois de Terte.
Diga-se de passagem, antes, Terte prestara valioso auxílio
às forças do Exército Americano, quando da 2ª.
Guerra Mundial, ao atuar como guerrilheiro e médium curador.
Meek acha possível que, durante a guerra, tenha se desenvolvido
nele aptidões semelhantes às observadas no trabalho
de outro médium famoso, o brasileiro José Pedro de Freitas,
Arigó, que chegava a atender individualmente de 300 a 400 pessoas
em cada sessão de cura. Dr. Andrija Puharich o viu realizar
“cirurgias incríveis”, consoante palavras suas,
utilizando-se de faca ou de canivete, sem causar dor, ou algum tipo
de prejuízo aos milhares de pacientes que atendeu.
Novamente, relativo às Filipinas, outro médium digno
de nota é Antonio Agapoa, ou Tony Agapoa, por sinal, vítima
de calúnias, da intolerância, de demandas. Após
Terte, cerca de uma década antes do médium brasileiro
que também experimentou os mesmos dissabores, Agapoa principiou
a fazer incisões com objetos que cortam. A Dra. Sigrun Seutemann,
médica alemã, médium vidente, uma das testemunhas
oculares da notável capacidade mediúnica do filipino,
disse ter ficado impressionada com as cirurgias: ela contou que viu
desmaterializar-se e rematerializar-se partes dos membros superiores
de Agapoa enquanto o corpo dele irradiava energia para o corpo do
paciente.
Contras e prós — No entanto ainda há resistências,
e já foi muito pior! Geralmente, aqueles que se basearam em
fraudes e em trabalhos escolhidos por eles mesmos, a fim de confirmarem
suas convicções, são os que mais oferecem resistência,
daí, debates, julgamentos apressados, e tacham as cirurgias
de ineficazes ou de produto de farsa. Por outro lado, um bom número
de pesquisadores reputa o fenômeno legítimo e sugere
que o conheçam a fundo sem ideias preconcebidas, tendo em vista,
conforme eles, a comprovação da sua eficácia
para o bem da própria Ciência e da Humanidade.
Outros pesquisadores, além disso, entenderam que as cirurgias
espirituais são inúteis e que apenas pacientes com “transtornos
somatoformes” obteriam efeito positivo. Há, contudo,
quem relate curas de doenças graves, sem aprofundarmos o fato
de que alguns estudiosos verificaram casos de diagnósticos
complexos feitos com precisão por médiuns pesquisados
antes do diagnóstico do médico convencional.
Existe ainda quem diga que as cirurgias só servem para propiciar
“suposta cura do operado e dos que assistem às operações”,
numa referência ao argumento do efeito placebo. Consoante autores
de um artigo da Revista da Associação Médica
Brasileira (RAMB) ,2, a ideia do efeito placebo é alvo de inúmeras
polêmicas e não há concordância entre os
médicos sobre um diagnóstico do que seria ou não
seria mero efeito de natureza psicológica.
Mais um objeto de controvérsia é o da necessidade de
fé do paciente para o bom êxito de uma cirurgia espiritual.
Há entre médicos e demais pesquisadores concordância
quanto à necessidade da fé, ao passo que uma parcela
deles a julga desnecessária. O professor Edvaldo Kulcheski
3, estudioso do assunto, considera a fé essencial. Conforme
ele, além da fé, a cura se processa de acordo com o
merecimento. Ou seja, é o que todos os pesquisadores precisam
assimilar em vez de ficarem no campo do achismo prolixo.
No parecer de Kulcheski, as doenças graves e constantes têm
a ver com a Lei de Causa e Efeito. Todavia, pode-se conseguir, segundo
ele, o alívio ou a cura, dependendo do mérito do paciente
e de suas necessidades evolutivas. Comentou: “A Doutrina Espírita
não prega o conformismo, logo, é lícito buscarmos
a cura de nossos males, mas sem exigi-la, por estarmos sujeitos à
atração e fixação dos fluidos curadores”.
Disse mais: “Devemos tentar o que for possível, sem esperar
que, de repente, aconteça um milagre”.
Por falar na Doutrina, a maior parte dos dirigentes e dos divulgadores
espíritas não aceita médiuns nem mediunidade
de cirurgias espirituais com ou sem corte; se tanto, toleram o que
denominam “passe de cura”, não permitindo quaisquer
atividades daquela espécie em suas instituições,
segundo dizem, “orientadas por Allan Kardec”. Reconhecem
a procedência das cirurgias sem, no entanto, considerá-las
um trabalho espírita. Seja dito de passagem, esse tipo de trabalho
não pode ser feito por qualquer um, ainda que se considere
“médium de cura”, pois é mediunidade raríssima
de médiuns físicos e de incorporação inconsciente,
por isso, aconselho: nem tente; sequer cogite imitá-los.
As cirurgias espirituais têm produzido muito interesse nos círculos
médicos ortodoxos. Mais cedo ou mais tarde, no parecer dos
próprios pesquisadores que a comprovaram, resultará
em releitura da prática médica. Há charlatães
e charlatanismo, e aplaudo os autores do artigo da RAMB, Cirurgia
espiritual: uma investigação, resultado de uma pesquisa
acerca do médium de Goiás, João Teixeira de Freitas,
o famoso João de Deus, ou João de Abadiânia. Escreveram
os articulistas: “Como se busca o alívio e, se possível,
curadas as enfermidades, o que é útil deve ser incorporado
à prática médica (...). Com estudos controlados,
seria possível identificar os charlatães, possibilitando
suas punições”. E acrescento eu: que essas “punições”
sejam muito mais rigorosas, mais bem aplicadas a médicos inábeis,
aéticos, causadores de enormes prejuízos a pacientes.
Por fim, cirurgias espirituais, ou mediúnicas, não implicam
milagres nem supõem algo milagroso, tampouco deveriam ser objetos
de tabu. Assim como existem médiuns charlatães, existem
médiuns honrados, sérios, como João de Abadiânia.
No que concerne aos médicos, a mesma asserção:
pelo fato de existirem negligências e erros médicos e,
de vez em quando, alguns deles abusarem sexualmente de suas pacientes,
não se segue que devamos sair por aí dizendo ou escrevendo
que todo médico é incompetente, imoral.
Que não tardem a admitir isto como certo: tudo, a medicina,
a ciência, as religiões, inclusive os médicos
e o seu ofício, estão sob rigorosas leis divinas. Que
os fracassos dos médicos ante as doenças clinicamente
fatais, a proliferação dos efeitos secundários
adversos de drogas receitadas por eles, façam perceber que
há positivos meios de terapia, os quais muito têm para
oferecer, visando a mais amor e respeito às dores do próximo,
apesar do preconceito, da tola e ridícula vaidade da ciência
e da religião.
DAVILSON SILVA
Notas:
1. MEEK, George W., As Curas Paranormais
“Healers and the Healing Process”), 10? ed. São Paulo,
Editora Pensamento, 1995. Capítulo 10?, p. 112.
2. Vide in Revista da Associação
Médica Brasileira, volume 46, n? 3, edição julho/setembro
de 2000: Cirurgia espiritual: uma investigação. Acessado
em 12 de fevereiro/09, às 23 horas em: <http://www.ramb.org.br>.
3. Edvaldo Kulcheski, químico
industrial, formado em Teologia Espírita com ênfase em
Ciência do Espírito, lecionou durante cinco anos o curso:
Mediunidade Sem Preconceito.
Visite Pensamento&Espiritualidade: http://pensesp.blogspot.com.
Autor: DAVILSON SILVA
Fonte: Revista O Consolador,
Ano 6 - N° 272 - 5 de Agosto de 2012
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