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Dissertação de Mestrado
apresentada ao Programa de Pós-Graduação em
Linguística e Língua Portuguesa da Faculdade de Ciências
e Letras – Unesp/Araraquara
– como requisito para obtenção do título
de Mestre em Linguística e Língua Portuguesa.
Linha de pesquisa: Estrutura, organização e funcionamento
discursivos e textuais
Orientador: Prof. Dr. Jean Cristtus Portela
RESUMO
Este estudo tem como objetivo compreender os
processos de construção do éthos, concebido enquanto
“imagem” ou “identidade” do enunciador, nas
cartas familiares escritas por Chico Xavier e atribuídas a
“autores espirituais”, sob a perspectiva da Semiótica
greimasiana. Por meio da análise das cartas psicografadas,
pretende-se demonstrar como a sua configuração semiótica
(enunciva e enunciativa) permite caracterizá-las como um tipo
de texto em particular, diferenciando-o dos textos epistolares “típicos”.
O córpus analisado é composto de dez cartas psicografadas
publicadas entre os anos de 1973 e 1980 e atribuídas a três
autores: Augusto César Netto, Jair Presente e Laurinho Basile.
Entre os conceitos que orientam as análises estão os
de práticas semióticas, contrato fiduciário,
presença e as relações entre éthos e estilo.
O percurso analítico deste estudo inicia-se pela definição
da carta como objeto semiótico. Para isso, foram adotadas as
contribuições de Jacques Fontanille, na aplicação
de uma hierarquia de níveis de pertinência semiótica.
Essa hierarquia permitiu a delimitação do percurso da
carta psicográfica, desde a sua prática geradora até
a sua inscrição em outros objetos-suporte.
As noções de práxis enunciativa, práticas
semióticas e gênero auxiliaram a caracterização
do gênero epistolar psicográfico, enquanto objeto produzido
no interior da prática psicográfica epistolar. A sua
articulação com a prática de edição,
em um nível estratégico, revelou-nos de que maneira
a intervenção do editor resulta na ressignificação
do texto, inserindo-o, assim, no âmbito editorial.
Após a análise do córpus, foi possível
constatar que o texto epistolar psicográfico é caracterizado
por um éthos dual e ambíguo, coerente com os valores
que permeiam a prática da psicografia epistolar.
Sinopse
O objetivo central deste livro foi tentar compreender,
com auxílio de métodos semióticos, o processo
de construção das autorias espirituais nas cartas "familiares"
ou "consoladoras" escritas - ou psicografadas - pelo médium
Chico Xavier. A autora procura detectar sinais de coerência
nessas autorias ao longo do tempo, e em que medida elas apresentam
marcas de autonomia ou individualidade que permitam distingui-las
umas das outras.
Os textos analisados são compostos de dez cartas
psicografadas publicadas entre 1973 e 1980 e atribuídas a três
autores: Augusto César Netto, Jair Presente e Laurinho Basile.
Como pano de fundo, a autora põe em xeque uma ideia bastante
comum entre os espíritas adeptos de Xavier, a de que a escrita
do médium seria tão fiel ao estilo dos espíritos
por ele psicografados que se poderia até reconhecer as expressões
e formatos verbais que eles supostamente utilizavam em vida.
O trabalho também buscou caracterizar as cartas
psicográficas como um tipo particular de texto, que se diferencia
dos textos epistolares tradicionais. Para a autora, além de
se configurarem como gênero editorial específico, as
cartas psicografadas são escritas de modo tão peculiar
que ultrapassam o contexto do Espiritismo, avançando por vezes
para os terrenos da literatura e do memorialismo.