
Poder da fé: na imagem,
representação de Jesus
na oração do Horto,
pouco antes da Paixão.
Desde os tempos antigos, uma crença
forte e penetrante na eficácia das orações –
para os vivos e os mortos – reforça a noção
que essa consciência não é limitada ao corpo físico.
Não apenas as tradições por todo o mundo compartilham
uma crença que as orações podem de alguma forma
ajudar (ou invocar ajuda de) antepassados mortos, muitas culturas
por toda a história acreditaram que as orações
podem ocasionar mudanças nas circunstâncias físicas
da vida.
Se as orações afetam
as coisas no mundo físico, seus efeitos devem ser mensuráveis
e a ciência deve poder investigá-lo. Há uma literatura
muito dispersa nisto, mas quando se reúne todo o conjunto de
informações, como fez Larry Dossey em seu livro recente,
"Palavras que Curam" (Editora Harper, São Francisco,
1993), vemos um grande número de experiências interessantes
com resultados inspiradores.
Além de 131 experiências
controladas de cura baseadas em orações, mais da metade
mostraram benefícios estatisticamente significativos. Um dos
mais conhecidos é um duplo "estudo cego" (quando
pelo menos uma das partes envolvidas (médico ou paciente) não
tem conhecimento sobre qual o produto ou dose está sendo administrado
para cada um dos participantes) com 393 pacientes na unidade coronária
do Hospital Geral de São Francisco. Nesta experiência,
192 pacientes, escolhidos aleatoriamente, rezavam em grupos domésticos
de orações, e os outros não. Os pacientes que
fizeram suas preces recuperaram-se melhor, e menos deles tinham morrido.
Para fazer sentido a estes dados sobre
a eficácia das orações, a ciência terá
que mudar suas suposições subjacentes sobre a natureza
da causa. Atualmente, o (pre)conceito padrão é imóvel
e puramente mecanicista – não obstante toda a conversa
recente sobre a Teoria do Caos e da Complexidade (das reações
químicas e psicosomáticas, provocadas pelo cérebro
humano e canalizadas sobre o corpo através do esforço
mental das orações ou "força de vontade").
Quando aplicada às ciências da vida, a Teoria do Caos
e da Complexidade – mesmo com a ajuda de computadores, com modelos
altamente sofisticados – ainda explica o mundo apenas em termos
de causas mecânicas, envolvendo somente processos físicos
e químicos já conhecidos.
Os dados de estudos empíricos
das orações, assim como da grande literatura informando
a pesquisa psi em telepatia, clarividência e psicocinese, seriamente
desafiam a visão mecanicista. Algum outro agente causal, subjacente
à mecânica das interações eletroquímicas,
é exigido para fazer sentido aos fenômenos observados.
Pensadores holísticos geralmente
dividem-se em duas categorias principais. A maioria quer ter o holismo
no barato. Querem um holismo que não discorde com ciência
como a conhecemos. Em vez de explorar a possibilidade de novos fatores
causais, eles preferem explicar o holismo em termos de complexidade
e auto-organização de forças mecânicas
convencionais, no mesmo modelo da matemática sofisticada e
das últimas técnicas de computador. Nada essencialmente
diferente de interações físicas e químicas
é considerado para explicar as propriedades de sistemas vivos.
O outro grupo de holistas (uma minoria
onde incluo Larry Dossey e eu), pensa que isso há mais do que
apenas o que nós conhecemos sobre química e física
e modelos matemáticos espertos. Minha visão é
que outros fatores causais na natureza, processos que fazem as reais
diferenças – as causas na natureza que ocasionam novos
tipos de efeitos que nós temos que levar em conta para entender
a nossa experiência e o mundo. Estes novos fatores causais são
envolvidos em coisas como fenômenos paranormais, as orações
e cura. O impulso inteiro de minha teoria de ressonância mórfica
é dizer que existe mais para a natureza do que somente as forças-padrão
da Física. E o que é mais: estes outros agentes estão
no mesmo próprio coração da maneira com que as
coisas são organizadas na Química, na vida, e na consciência.
As orações e
os campos mentais
Como as orações devem
conciliar com a visão científica de coisas? Focalizarei
em duas categorias amplas de orações: peticionária
e intercessória. Nas orações peticionárias
nós pedimos algo para nós; nas orações
intercessórias nós oramos a um poder mais alto em atenção
a outras pessoas (qualquer um, vivo ou morto).
Ao orar para outras pessoas e para
nós, pedimos que um poder mais alto ocasione um resultado particular.
Para mim, isto é o que distingue as orações de
pensar positivo. Pensar positivo envolve nada mais que a própria
mente, mas as orações peticionárias e intercessórias
são postas no contexto de um poder mais alto. Para esta razão,
o pensamento positivo não se assenta na categoria das orações
– mesmo que seja freqüentemente confundido com elas.
Se peticionárias ou intercessórias,
as orações claramente postam um desafio à visão
mecanicista do mundo. De acordo com esta visão, não
há nenhum meio que pensamentos em sua cabeça –
que são na maioria pequenas perturbações eletroquímicas
mal detectáveis há algumas polegadas de sua cabeça,
mesmo por aparelho altamente sensível – possam afetar
alguém nem algo numa distância remota.
Se você estava praticando o
pensamento positivo ou algumas formas mais especificamente dirigidas
de orações peticionárias, você podia recorrer
a explicações em termos de telepatia; ou se foram as
orações afetando objetos físicos, você
talvez diga que era psicocinese. Mas tais explicações
servem só para substituir um conjunto de explicações
que permanece fora do alcance da ciência mecanicista moderna,
por outro conjunto de explicações. Não há
nada na ciência mecanicista que possa admitir que meros pensamentos
dentro de minha mente se moldem na forma das orações
nem como pensamento positivo, para afetar coisas à distância.
Simplesmente não pode acontecer.
A chave para entender a reza como
um fenômeno científico exige, em meu ponto de vista,
escapar da idéia da mente como alguma coisa dentro do cérebro.
Se pensamos que nossas mentes são confinadas aos nossos cérebros
– o senso comum – então o que vai em nosso cérebro
ocorre na privacidade e isolamento do próprio crânio
e não pode afetar ninguém mais. No entanto, eu vejo
as mentes como um campo na natureza (parte de minha visão geral
de campos mórficos), e vejo campos mentais como a base para
padrões habituais de pensamento. Campos mentais vão
além; vão através, e interagem com os padrões
eletromagnéticos no cérebro. Campos mentais assim podem
afetar os nossos corpos pelos nossos cérebros. No entanto,
eles são muito mais extensos que os nossos cérebros,
alcançando grandes distâncias em alguns casos.
Tão logo nós temos idéia
que a mente pode ser estendida por estes campos mentais, e sobre grandes
distâncias, nós temos um meio de conexão através
do qual o poder das orações poderiam funcionar. Nós
não estamos mais lidando com um sistema puramente mecânico
no cérebro, com absolutamente nenhum meio de ligar o cérebro
e o efeito observado – isso seria o caso em que o fenômeno
das orações eficientes teriam que ser dispensadas como
engano ou coincidência. Com um campo mental, no entanto, nós
temos um meio para uma série inteira de conexões entre
nós e as pessoas, animais e lugares que conhecemos e com quem
nos preocupamos – com o resto do mundo, aliás. Quando
oramos, esses campos mentais estendidos seriam o contexto em que as
orações podem funcionar não-localmente.
Mente não-localizada
Claramente, isto não se eleva
a uma teoria científica plenamente articulada das orações;
isto é altamente especulativo. Mas, acredito, está também
muito claro que necessitamos ter uma visão muito mais ampla
de como a mente é estendida além do cérebro.
Necessitamos uma teoria daquilo que eu chamo "mente estendida"
ao contrário da vista científica convencional do "mente
contraída" dentro do crânio, voltada para cima.
Esta visão de uma mente contraída veio de Descartes
no século 17.
É um modelo de consciência
que separa nossas mentes do mundo inteiro ao redor de nós numa
região pequena no cérebro – um modelo da mente
que simplesmente contradiz toda a experiência direta. Por exemplo,
quando vê esta página na frente de você, você
a percebe como isto existe fora de você, não dentro do
seu cérebro. Dizer que esta e todas as suas outras percepções
são localizadas no seu cérebro é uma teoria,
não uma experiência.
É importante, no entanto, não
contemplar a mente estendida como algum campo amorfo, uma espécie
de não-diferenciada Mente Universal. Eu não penso que
nós devemos fazer um grande salto do conceito de uma mente
contraída para uma mente universal ilimitada. Tal salto não
é útil cientificamente.
Minha idéia de campos mórficos
é que mesmo que sejam estendidos e não-locais em seus
efeitos, eles ainda são partes de nossas mentes individuais
e coletivas; mas não para ser igualada a alguma definitiva
Mente Universal. Os campos mórficos não são Deus.
São não-locais no sentido que eles podem se estender
por distâncias imensas (como fazem, por exemplo, campos gravitantes),
de modo que se orávamos sobre alguém na Austrália
de meu lar em Londres o campos mórfico carregaria a informação
e as orações poderiam funcionar.
Mas meu campo mental normalmente não
se estenderia até Marte, por exemplo, porque não há
nada para me ligar a alguém naquele planeta. Se eu conhecesse
alguém tivesse viajado até lá numa espaçonave,
então haveria um elo. Para campos mórficos terem uma
conexão mental, eu acredito que tem que haver algo que o liga
à outra pessoa. Ainda que você nunca encontrasse a outra
pessoa, eu acredito somente sabendo seu nome ou algo sobre ela parece
ser bastante para estabelecer uma conexão, embora esta conexão
possa ser mais fraca que entre as pessoas que se conhecem profundamente.
Você pode imaginar algo assim:
quando duas pessoas fazem contato e estabelecem alguma conexão
mental (talvez experimentado como afeto, amor, mesmo ódio)
seus campos mórficos de fato tornam-se parte de um campo inclusivo
maior. Então, se eles se separam um do outro, é como
se suas porções particulares dos campos mórficos
sejam esticadas elasticamente, de modo que aí permaneça
uma "tensão mental" ou elo entre eles. Há
algo assim que relaciona as duas pessoas.
Interação de
Campos Mórficos
Campos mórficos são
organizados em hierarquias de nested ou nichos. Por exemplo, há
campos mórficos cercando os átomos nos nossos corpos,
que estão dentro dos campos mórficos planos mais altos
de moléculas, organelas, células, órgãos
e membros, todo que existe dentro do campo mórfico associado
com o corpo inteiro. O campo de corpo, em volta, seria dentro do campo
de relacionamentos que constitui uma família, dentro de um
grupo social maior. As sociedades, em volta, são encerradas
em ecossistemas, e os ecossistemas dentro do sistema planetário
da Terra, ou "Gaia". E por extrapolação, nós
podíamos estender a série de campos mórficos
de nested — ou nichos dimensionais, até que nós
alcançamos algo além do planeta, do sistema solar e
dos limites galácticos até incluir o universo inteiro.
Mesmo o campo de espaço-tempo
de gravitação de Einstein é um campo cósmico
universal segurando tudo junto e a ligar o universo inteiro; aliás,
fazendo-o um universo. Vale a mesma coisa para com a Alma Mundial
ou Anima Mundi da filosofia neo-platônica. Cinge o cosmos inteiro.
Há níveis sobre níveis de campos mórficos
dentro de campos, dentro de que nós somos encerrados. A vida
humana é encerrada em campos vastamente maiores de organização.
Sobre que grau eles estão conscientes, isto ainda permanece
no reino da especulação. Mas suporia que campos de níveis
mais altos não são menos, e sim provavelmente mais conscientes
do que nós. Pensaria que eles são mais cientes, não
simplesmente porque são maiores em tamanho, mas porque são
mais inclusivos ; contêm mais complexidade, e isto inclui mais
possibilidades.
Penso que isso é uma maneira
de interpretar doutrinas tradicionais sobre inteligências super-humanas,
ou inteligências cósmicas; normalmente pensaram no cristianismo
como a hierarquia dos anjos. A palavra "anjo" normalmente
transporta a imagem de um jovem bonito com asas; mas isso é
simplesmente uma representação pictórica. A doutrina
tradicional por trás dessa imagem, no entanto, é de
uma inteligência super-humano. E se o sistema solar e a galáxia
têm inteligência, então talvez seja a de um anjo
e de um arcanjo. Em algumas doutrinas cristãs tradicionais
há, por exemplo, nove hierarquias de anjos ou níveis
de inteligência. E veria estes como equivalente a inteligências,
mentes ou organizações de campos em níveis diferentes
de complexidade. Os anjos galácticos, por exemplo, cingiriam
ou incluiriam sistemas solares, que em volta incluiriam planetas.
Isto é uma descrição
de um cosmos que tem inteligência em cada nível, não
que descreve a consciência como algo que emergiu de matéria
inconsciente. Inteligência consciente estava aí para
começar com alguma coisa. O lugar para procurar por isto não
será em átomos nem em quantum (embora é possível
que haja algum tipo de consciência aí), mas em sistemas
solares e galáxias e no cosmos inteiro. É possível
que sejam todos estes níveis diferentes de imaginação,
inteligência, e mente por trás da organização
cósmica. Todas as doutrinas tradicionais que eu conheço
reconheceram algo desse tipo.
1. Para uma conversa estendida destas teorias, ver
R. Sheldrake, Uma Nova Ciência de Vida: A Hipótese de Causa
Formativa (Tarcher, 1981), e A Presença do Passado: Ressonância
Mórfica e os Hábitos da Natureza (Vindima, 1988).