Cercados por verdejantes campos de
café e cana-de-açúcar, dormíamos em nossa
modesta casa de colônia, ao som apaziguador dos milhares de
grilos que, assim como nós, humildes lavradores, faziam daquelas
terras férteis e ricas a sua morada. Silenciavam e descansavam
durante o dia; enquanto nossos pais laboravam duramente de sol a sol,
para garantir nosso parco sustento. Depois que o sol se punha e Deus
lançava sobre aquelas terras a bênção da
noite para o merecido descanso dos trabalhadores, vinham eles, os
grilos, aos milhares, com sua doce sinfonia, embalar-nos o sono profundo
e reparador. Eu era menino, deveria ter 5 ou 6 anos, e dormia como
uma pedra.
Mas não todas as noites! Muitas, e digo muitas mesmo, foram
as madrugadas em que éramos arrebatados pelos gritos aterrorizadores
de meu irmão menor, à época com 2 ou 3 anos de
idade, que dormia no quarto comigo.
Em questão de segundos minha mãe já o tinha no
colo. Tentava acalmá-lo, mas sem sucesso. Ele esperneava, arranhava-a,
e continuava aos berros. Seus olhos permaneciam cerrados, sua expressão
era de terror. Era como se estivesse em um pesadelo do qual não
conseguia despertar.
Não fazia muito tempo, perguntei a ele se recordava daquelas
noites, daqueles sonhos terríveis. E ele me disse que sim.
Perguntei o que o aterrorizava tanto que o despertava daquele jeito.
Ele me disse que via duas rodas enormes vindo em sua direção,
aproximando-se cada vez mais, e quando estavam a esmagá-lo,
começava a gritar. E era sempre o mesmo sonho, as mesmas rodas,
o mesmo horrível episódio.
Esta ocorrência é denominada “terror noturno”,
um distúrbio do sono caracterizado, como éramos testemunhas,
por gritos acompanhados do semblante de terror como se a pessoa estivesse
vendo algo terrível, como era o caso de meu irmão. Geralmente,
o terror noturno ocorre na infância e tende a diminuir a partir
do início da adolescência.
Convencionalmente, a medicina atribui as causas do terror noturno
a eventos estressantes da vida, febre, privação do sono
e medicamentos que afetam o sistema nervoso central.
No entanto, meu irmão não tinha nada disso. Não
padecia de estresse; exceto às noites desses episódios,
dormia muito bem; não tinha febre e tampouco estava tomando
medicamentos que afetavam o sistema nervoso central. Aliás,
naquele meio de mato em que vivíamos e naqueles idos da década
de 60, remédio era um artigo de luxo!
Poderia meu irmão estar revivendo um trauma de vida passada,
rememorando o momento de uma morte trágica em sua existência
anterior?
Em meu livro “Morrer não é o fim”,
no capítulo “Marcas de outras vidas”, onde abordo
defeitos congênitos e sinais de nascença em crianças
que se recordavam de vidas passadas e cujas marcas e defeitos estavam
associados aos traumas que causaram sua morte, descrevo o caso de
Cemil Fahrici, da Turquia. À medida que o pequeno Cemil Fahrici
concatenava melhor as palavras, falava de sua vida passada como Cemil
Hayik, um primo distante de seu pai.
Cemil Hayik havia sido preso pelo assassinato de dois homens que violentaram
sua irmã. Fugiu da cadeia e passou a ser perseguido pela polícia.
Dois anos mais tarde foi encontrado e cercado pelos policiais que
atearam fogo á casa onde se escondia. Para não se entregar,
Cemil Hayik suicidou-se, colocando o cano do rifle sob o queixo, disparou;
a bala saiu pela nuca, do lado esquerdo.
Além de Cemil Fahrici ter trazido as lembranças da vida
de Cemil Hayik, trouxe também as marcas, sob o queixo, onde
a bala entrou e, na nuca, onde saiu. E o que é mais extraordinário
ainda: quando Cemil Fahrici nasceu, a ferida sob o queixo sangrava!
Até aproximadamente os 7 anos de idade, Cemil Fahrici tinha
lembranças vívidas de sua vida como Cemil Hayik em vigília,
durante o dia, e, à noite, tinha pesadelos do momento da emboscada
e de seu suicídio. Cemil Fahrici tinha pavor de sangue e odiava
policiais!
Outra curiosidade, quando o menino nasceu, seus pais o batizaram com
o nome Dahham Fahrici, e quando ele compreendeu que esse nome referia-se
a ele, recusava-se em responder, dizendo chamar-se Cemil, e os pais
tiveram que trocar seu nome.
A Divisão de Estudos da Personalidade da Universidade de Virginia,
departamento fundado pelo Dr. Ian Stevenson (já desencarnado),
o maior pesquisador científico da reencarnação,
possui pelo menos 49 casos de terror noturno com características
de traumas de vidas passadas.
A doutora Antonia Mills, antropóloga e pesquisadora de reencarnação
da universidade de British Columbia no Canadá, investigou casos
de terror noturno em três crianças norte-americanas,
instando por uma interpretação alternativa (traumas
em vidas passadas) em lugar das clássicas e nem sempre fundamentadas
interpretações convencionais, ou seja, eventos estressantes
da vida, febre, de privação do sono e medicamentos que
afetam o sistema nervoso central.
Um dos casos mais dramáticos é o do garoto Gerald Jardin
(pseudônimo) que, assim como o meu irmão, despertava
toda sua família com gritos na madrugada, desde antes de completar
1 ano de idade. Entre as idades de 2 e 8 anos, tinha os mesmos pesadelos
pelo menos uma vez na semana, sempre entre meia-noite e duas da manhã.
A partir dos 8 anos a freqüência foi diminuindo e após
os 10 anos de idade, nunca mais teve. Gerald despertava com seus próprios
gritos. Certa vez, em um desses episódios em que sua mãe
tentava acalmá-lo, disse ela: “Tudo bem, filho, a
mamãe está aqui”. “Você não
é a minha mãe”, gritou o menino.
Quando Gerald tinha 4 anos de idade, sua família fez um passeio
à Gettysburg, no Estado da Pensilvânia, onde foram visitar
o campo de batalha da guerra civil nos arredores daquela cidade, até
hoje impecavelmente preservado e um dos marcos históricos mais
visitados dos Estados Unidos. Entre 1 e 3 de julho de 1863, foi palco
do mais violento confronto entre os soldados abolicionistas da união
e os sulistas confederados. Mais de 7.000 soldados de ambas as forças
morreram no confronto e mais de 30.000 saíram feridos.
Em determinado momento do passeio, Gerald separou-se dos pais, e em
seguida voltou correndo a eles e apontou para um lugar onde as tropas
confederadas haviam se posicionado durante a batalha. “Foi
lá que eu morri”, disse ele com naturalidade. Seus
pais perguntaram o que ele queria dizer com isso, mas Gerald nada
mais falou sobre o assunto.
Assim como no caso de meu irmão, as causas do terror noturno
de Gerald nada tinham a ver com as explicações dadas
pela medicina convencional. E casos de medos intensos e fobias, cujas
causas a medicina convencional igualmente não consegue explicar,
sobejam na literatura.
Vem-me a mente neste momento certa vez que perdi um objeto, e por
mais que o procurasse, não conseguia encontrá-lo. Reclamei
o fato com um tio que estava perto. “Claro que você
não o encontra, você só procurou em lugares onde
ele não está. Procure onde está e você
o encontrará”, respondeu-me em gozação.
Eu disse gozação, mas havia sabedoria em suas palavras.
Sabedoria esta que pode muito bem ser aplicada a certos casos de terror
noturno assim como a tantas fobias para os quais a medicina não
encontra explicação em eventos da vida presente. Não
encontra explicação em eventos da vida presente porque
não está aí. Procure onde está –
em outros tempos, em passadas existências – e a encontrará.