Como oncologista, tenho um conselho: não
espere até a aposentadoria para aproveitar a vida
Confira cinco ensinamentos importantes sobre
como viver de forma significativa
Sou especialista no tratamento de idosos com câncer.
Por isso, tive o privilégio de ajudar pessoas em momentos cruciais
da vida. Testemunhei triunfos do espírito humano e lições
comoventes sobre como viver uma vida que tenha sentido.
Também tentei ser um bom aluno e anotar as
coisas que meus pacientes diziam. Eles são os melhores professores
que um médico poderia imaginar. Aqui estão as lições
que eles me ensinaram.
1. Trabalhe para realizar
seus sonhos agora
Vejo isso todos os dias: meus pacientes trabalham a vida toda, economizam
para a aposentadoria e anseiam pela melhor idade, quando poderão
passar mais tempo com a família e fazer o que mais gostam.
Mas, logo depois de aposentar, eles são diagnosticados com
câncer.
A idade média de um diagnóstico de câncer nos
Estados Unidos é 66 anos, de acordo com o Instituto Nacional
do Câncer. É quase exatamente a idade legal de aposentadoria
no País, entre 66 e 67 anos.
Então, não deixe para depois as atividades ou experiências
que lhe trazem prazer, presumindo que terá a oportunidade de
fazê-las depois da aposentaria. Reserve um tempo para a família,
para viajar e para criar memórias especiais agora mesmo. É
isso que meus colegas oncologistas e eu fazemos.
2. Reflita sobre seu relacionamento
No começo da carreira de oncologista,
comecei a anotar informações sobre pacientes que estavam
casados havia mais de 40 anos. Ao longo de dois anos, registrei suas
respostas à pergunta: Qual é o segredo para um casamento
duradouro?
Muitos disseram que é preciso ter senso de humor ou que dá
muito trabalho.
Alguns se recusaram a responder, preferindo discutir a logística
do tratamento do câncer.
Outros responderam com brutal honestidade, dizendo, por exemplo, que
“não conseguiram encontrar ninguém melhor e tiveram
que se contentar”.
Havia também aqueles que tinham
uma reação mais afetuosa. Olhavam calorosamente para
seus parceiros, que por sua vez retribuíam o olhar. Muitas
vezes, davam as mãos. Aí alguém dizia: “Não
sei. Nós simplesmente nos amamos”.
Este é o tipo de relacionamento
que todos devemos almejar.
Pergunte-se o que você diria.
E se seu parceiro ou parceira estaria ao seu lado em momentos tão
difíceis. A resposta pode ter impacto na sua saúde.
Um estudo publicado no periódico Cancer constatou
que divórcios ou separações ocorreram entre pacientes
com câncer na mesma proporção que na população
em geral. Mas, para as mulheres, o risco foi seis vezes maior. E aquelas
que se separaram ou se divorciaram durante a doença tiveram
maior probabilidade de ter menos qualidade de tratamento e de vida.
3. Pergunte-se: o que é mais importante?
Parte da minha conversa inicial com os pacientes passa
por perguntar sobre seus objetivos: para o tratamento do câncer
e para a vida. Alguns pacientes não querem terapia, preferindo
passar o máximo de tempo possível em casa com a família.
Outros me dizem que querem tratamento para maximizar suas chances
de viver o suficiente para chegar a um evento importante da vida,
como o 50º aniversário de casamento ou o nascimento de
um neto.
Um homem, diagnosticado com dois tipos agressivos
de câncer, havia criado a neta e queria viver até o casamento
dela, para levá-la ao altar. Nós o tratamos de leucemia
e, depois, de câncer de pulmão para que ele chegasse
ao grande dia. Ainda guardo a foto dele de smoking, meio apoiado na
neta, vestida de branco, os dois sorrindo ao passar por familiares
e amigos nos bancos da igreja.
Enquanto você estiver saudável, reserve um momento para
considerar o que é significativo para você e o que você
precisa fazer para atingir esse objetivo.
4. Evite hábitos que possam causar câncer
Minha família tem histórico
de câncer, então, desde a faculdade, tomei medidas para
mitigar meu risco. Limito meu consumo de álcool. Evito bebidas
açucaradas, fast food e alimentos ultraprocessados. E pratico
exercícios diariamente.
Já ouvi pessoas se referirem
a esses hábitos como “vida chata”. Mas, quando
encontro meus pacientes logo após um diagnóstico de
câncer, quase todos perguntam se houve algo no estilo de vida
que possa ter causado a doença.
Um estudo da Sociedade Americana do
Câncer publicado em 2024 estimou que 40% dos novos diagnósticos
de câncer em adultos com mais de 30 anos nos Estados Unidos
tinham a ver com fatores de risco modificáveis. Quando o câncer
pode ser associado a questões de estilo de vida, meus pacientes
geralmente expressam profundo arrependimento.
Embora não seja garantido que
fumar e beber causem câncer, sua associação com
o risco é clara. Qualquer prazer que eu possa obter desses
hábitos é superado pelo meu medo de ter câncer.
5. Mesmo em tempos difíceis, seja
gentil
Você talvez pense que pacientes em meio a uma
crise de saúde não se importam com o meu bem-estar como
médico. Mas, muitas vezes, vou ao consultório para conversar
com pacientes com câncer, questioná-los sobre os efeitos
colaterais do tratamento, falar de seu bem-estar geral e fazer exames
físicos. Quando termino, há uma pausa na conversa, e
aí alguns deles perguntam:
“Mas e você, doutor, como você está?
Como está sua família? Está tirando um tempo
para si mesmo?”
Às vezes, rimos da mudança repentina
na dinâmica. Mas também é verdade que ser gentil
pode ser bom para você: a gentileza tem sido associada à
melhora da conexão social, à satisfação,
à redução da depressão e da ansiedade
e ao bem-estar.
Sempre me sinto grato e profundamente comovido quando
alguém que está lidando com um diagnóstico tão
grave reserva um tempo para se concentrar nas pessoas ao seu redor.
Dr. Mikkael A. Sekeres é chefe da divisão
de hematologia e professor de medicina no Sylvester Comprehensive
Cancer Center da Universidade de Miami. Ele é autor dos livros
When Blood Breaks Down: Life Lessons from Leukemia e Drugs and the
FDA: Safety, Efficacy, and the Public’s Trust.