Há muitos pais que reclamam do comportamento dos filhos em
relação à vida escolar. Em geral, porque eles
não se esforçam, acham muito chato aprender e dizem
que não gostam de estudar; também porque resistem até
o fim para sentar em casa e realizar a tarefa e/ou rever a matéria;
e porque não conseguem prestar atenção. Além
desses, há os que afirmam que o filho apresenta "dificuldade
de aprendizagem".
Em relação a essa última
questão, é preciso considerar que essa frase é
vazia, sem sentido. Aprender algo novo é sempre difícil,
por mais que a pessoa queira ou goste. Para aprender, é preciso
reconhecer a própria ignorância, e isso tem sido cada
vez mais difícil no nosso mundo.
Em resumo: todos nós temos
dificuldades de aprendizagem, por isso seria interessante deixarmos
de lado esse rótulo quando nos referimos aos mais novos.
Retomemos as primeiras razões
das reclamações dos pais e vamos pensar no quanto eles
mesmos colaboram para que tudo aquilo aconteça com o filho,
sem que eles percebam sua contribuição.
E, de largada, vamos lembrar: quando
a criança inicia seus estudos formais, ela terá de persistir,
se esforçar, encarar o erro e procurar não repeti-lo,
aprender a "grudar a bunda na cadeira" cada vez por mais
tempo e a seguir um processo.
A maioria dos pais reconhece tais
requisitos mas, na hora de tentar passar aos filhos, comete um equívoco:
o de dizer à criança o que ela precisa fazer, na esperança
de que ela apreenda as lições dos pais e passe a aplicá-las
nos estudos. Costuma ser em vão essa estratégia, porque
as crianças continuam com os mesmos comportamentos.
É que elas precisam aprender
isso com os pais no cotidiano. Para ilustrar essa questão,
vou usar um exemplo muito presente na vida dos mais novos: os convites
para comparecer a festas de aniversários. Aliás, nunca
antes as crianças tiveram tantas demandas para eventos sociais.
Será bom para elas essa alta frequência? Ainda não
sabemos.
Qual costuma ser o comportamento das
crianças em relação aos convites que recebem?
Primeiramente, elas não pensam se querem mesmo ir ou não.
Desconfio que elas acham que o comparecimento a essas festas é
obrigatório, como ir à escola.
Elas não pensam porque os pais
não as levam a isso. Perguntar ao filho qual ou quais motivos
ele tem para querer ir à festa pode ser um bom começo.
Ele gosta do colega? Tem boa convivência com ele? Quer brincar
com outras crianças? Entretanto, o motivo mais utilizado, o
de que "todo mundo vai", não deve ser suficiente
para convencer os pais.
Depois disso, sair em busca de um
presente para o colega. Pensar na idade dele, do que ele gosta, de
suas características, usar uma faixa de preço para escolher,
ir com os pais até a loja e --por que não?-- contribuir
com parte de sua mesada são questões que também
ajudam a criança a vivenciar um processo do começo ao
fim dele.
Ir a uma festa exige uma preparação:
não é apenas ir e se divertir, não é verdade?
Muitas crianças só se
defrontam com os processos da vida na escola e, por isso, resistem
tanto, reclamam tanto, acham tão chato. A escola tem sido,
para muitas delas, a única instituição a exigir
delas dedicação, esforço, perseverança,
espera, contenção, planejamento etc.
Desde antes dos sete anos a criança
já pode, em família, começar a vivenciar todas
essas questões. Afinal, pertencer a uma família já
é um processo que exige muito, não é?
Mas parece que temos deixado a criança
concluir que pertencer a uma família é puro desfrute
e que aprender algo deve ser fácil.