A dinâmica das relações raciais
no Brasil é um fenômeno bastante complexo. Para compreendê-la
é necessário abordar suas implicações
históricas, políticas, econômicas e culturais,
uma vez que se construiu ao longo dos anos ideias e práticas
diversas em relação ao negro.
Uma característica importante nas relações
raciais do Brasil é o preconceito em relação
a diversos aspectos culturais africanos, mais precisamente, frente
as religiões afro-brasileiras. Elas possuem características
sui generis, uma vez que a proibição inicial
dos cultos e o consequente sincretismo, construíram ao longo
do tempo, através de diversas lutas, uma diversidade de expressões
e saberes que ocupam espaços sociais importantes. Desta forma,
partimos da hipótese de que o preconceito em relação
às religiões afro-brasileiras não existe somente
em virtude de uma diferenciação interreligiosa, mas
que há fatores raciais envolvidos.
Nosso objetivo geral, então, é verificar
se existe essa relação e quais os processos categoriais
e discursivos envolvidos. Para tanto, foram realizados três
estudos. A amostra dos dois primeiros estudos era composta por 77
sujeitos das religiões católica, evangélica e
espírita, enquanto para o terceiro estudo, a amostra contou
com 4 líderes religiosos. O primeiro estudo consiste na categorização
em que os sujeitos categorizam os praticantes das religiões
afro-brasileiras, católica, evangélica e espírita
com adjetivos apropriados tanto a pessoas simpáticas e pessoas
antipáticas, como a pessoas de primeiro mundo e pessoas de
terceiro mundo. Esse primeiro estudo está baseado em pesquisas
de Camino e Cols. (2001 e 2004). O segundo estudo é a análise
lexical com o auxílio do software ALCESTE, da seguinte pergunta:
quais são os elementos essenciais das religiões católica,
evangélica, espírita e afrobrasileiras. Neste estudo
as análises foram em torno das respostas para as religiões
afrobrasileiras e entre as outras três. O terceiro estudo é
uma análise do discurso de líderes das religiões
citadas sobre as religiões afro-brasileiras em uma situação
concreta. No primeiro estudo, não foi encontrada a relação
esperada. Encontramos no segundo estudo, os repertórios discursivos
e os léxicos em relação às religiões
afro-brasileiras remetem ao primitivo, ao inferior. Quando se tratam
das religiões católica, evangélica e espírita
entre si, as palavras e os repertórios discursivos ficam no
âmbito da diferenciação intergrupal. No terceiro
estudo, encontramos diversos discursos racistas que remetem à
cultura negra e africana como sendo inferior, distante e que precisa
aprender com a cultura branca para que possa diminuir-se o preconceito.
Conclui-se que há uma relação muito forte entre
o preconceito com as religiões afro-brasileiras e o preconceito
racial.
SANTOS, Matheus Laureano Oliveira dos. Raça
e religião: uma análise piscossocial dos discursos acerca
das religiões afro-brasileiras. 2010. 134 f.
Dissertação (Mestrado em Psicologia Social) - Universidade
Federal da Paraíba, João Pessoa, 2010.
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