Jill Brooke estudou a biografia
de dezenas de pessoas famosas cuja ambição e busca pelo
sucesso ela atribui, em parte, à perda na infância de
um ou de ambos os pais.
Um livro desconcertante sobre
a morte diz que seu trauma pode até ser positivo
CONCLUSÕES A QUE CHEGOU A AUTORA:
"Muitos órfãos de pais normais
criam a imagem de um super pai e ela os guia pela vida em busca
do sucesso"
"A cultura Ocidental repele a morte como tema
de conversa. Falar dela a torna mais suportável"
"Homens encaram a morte de um filho de modo
diferente das mulheres. Isso pode gerar atritos e, não raro,
o divórcio"
O nascimento do ser humano, neste Planeta Terra é
uma grande incerteza. Quem estuda as teses espíritas não
tem dúvida sobre isto. A encarnação, ou a reencarnação
do homem depende de muitas variáveis, que são reunidas
no mapa encarnatório. Esses fatores começam a ser levantados
no mundo espiritual, quando alguém decide ou é obrigado
pelas circunstâncias de seu passado a vir para a Terra. O projeto
da encarnação estando pronto, como vemos na obra de
André Luiz, convoca-se os futuros pais, que têm o direito
de colaborar, ou não, para que o projeto seja materializado
na esfera terrena. Conciliar todos os interesses que entram em cena
é muito complicado e, depois de análises, estudos e
autorização superior, a encarnação poderá,
ou não, ocorrer. E muitas vezes o reencarnante acaba desambarcando
aqui através de uma prevaricação sem vínculo
algum com o projeto familiar. Por isso afirmamos acima que o nascimento
dos humanos na Terra é bastante incerto. Opostamente, a morte
na Terra é a grande certeza. Este fenômeno compulsório
que desde o princípio da vida neste mundo o homem vem procurando
administrá-lo a seu favor. Na Antiguidade, ele criou a mumificação
com a esperança de ressuscitar um dia. Na atualidade, a ciência
trouxe-nos a criogenia (A manutenção de cadáver
em temperaturas baixíssimas), alimentando a mesma esperança
dos antigos egípcios. A Medicina vem procurando a longevidade
mas... E, por fim, algumas filosofias dão ao homem um alívio:
a certeza da vida além da morte. Eis a saída mais coerente,
pelo menos do ponto de vista religioso, que o homem encontrou para
viver eternamente.
Em minhas pesquisas encontrei uma matéria da jornalista Tânia
Menai, publicada na revista Veja, edição
de 2 de maio último, que vale uma reprodução,
ainda que em parte, para que os leitores do Correio também
possam apreciá-la:
Não há respostas simples sobre como
lidar com a morte. Teólogos, filósofos, místicos
e consoladores de todos os matizes tentaram ao longo dos séculos
aliviar essa carga que se instala sobre os ombros de cada um a partir
daquele instante, na infância, em que se descobre a inevitabilidade
da morte. A americana Jill Brooke, de 42 anos, fez sua tentativa com
o livro Don't Let Death Ruin Your Life (Não
deixe a Morte Arruinar a sua Vida).
Órfã de pai desde os 16 anos, criada na religião
judaica e dona de uma carreira que inclui credenciais no canal de
televisão CNN e no jornal New York Post, há quase três
anos Brooke viu a morte passar por perto. Ela perdeu, em virtude de
sérias complicações, aquele que seria o seu segundo
filho. A tragédia levou Brooke a mergulhar no tema que lhe
sacudiu emocionalmente: "A Morte".
Ela fez uma longa pesquisa e descobriu que muitos personagens que
hoje são lembrados como líderes, vencedores, revolucionários
e inovadores tiveram em comum o fato de enfrentar a morte de um ou
dos dois pais ainda na infância. "Reagir com bravura
diante do inevitável é um traço de caráter
muito interessante. Para muitas personalidades pode ter sido essa
a alavanca que as impulsionou em busca da glória e das grandes
realizações", diz Brooke. E cita, como exemplos
históricos, o conquistador macedônio Alexandre, o Grande
(356-323 a.C.), o ex-beatle Paul McCartney, o filósofo Francis
Bacon (1561-1626), Napoleão Bonaparte, Simon Bolívar,
Eleonor Roosevelt, Eva Perón e homens públicos ambiciosos
como Bill Clinton e o magnata da Imprensa Rupert Murdoch. "Perder
o pai ou a mãe na infância, felizmente, é uma
experiência rara mesmo em tempos de guerra", constatou
Jill Brooke. A taxa média nas sociedades ocidentais é
de 15%. Nas grandes guerras do século passado, as vítimas
militares eram jovens que em sua maioria ainda não tinham sido
pais. Sendo raro esse evento ele deixa, segundo Brooke, marcas indeléveis
na personalidade de quem passa por ele. E a autora se admira ao ver
que os biógrafos de Abraham Linclon não tenham dado
o peso certo à orfandade dos maiores presidentes que povo norte-americano
já teve. Pois Brooke observa que na primeira linha de uma das
biografias desse vulto histórico diz: "Nasci no Kentucky.
Minha mãe morreu quando eu tinha 9 anos". Isto deve
ter influenciado a personalidade do distinto biografado. As elucubrações
de Jill Brooke vão nessa linha para concluir que a morte de
um pai é uma variável quase tão significativa
quanto a educação, a classe social ou a religião
na qual a pessoa foi criada. "Crianças órfãs
são forçadas a ser muito introspectivas e a examinar
os mistérios da vida trazidos pela morte num período
da vida em que seus colegas lidam apenas com as tensões mais
brandas, típicas da idade", diz Brooke. Enfim, ela
avalia que nem sempre a experiência do enfrentamento da morte
é prejudicial. Ao contrário, "A capacidade
de tolerância e resistência dessas crianças é
enorme e suas perspectivas de vida tendem a ser mais amplas que as
pessoas que não passaram por dores ou tristezas profundas",
explica a autora.
Uma pesquisa da Universidade Columbia sugere que as crianças
que passaram pelo trauma da morte de parentes próximos podem
ser classificadas em dois grupos. No primeiro, ficam as que realmente
se vergam ao peso da dor. Elas se entregam. Suas frágeis estruturas
emocionais são destruídas pela fatalidade e elas via
de regra, não se tornam adultos normais. Num segundo grupo
estão aquelas que a experiência da morte a seu redor
imuniza para as dificuldades da vida, tornando-as mais equipadas para
perseguir objetivos extraordinários, para o bem ou para o mal.
Brooke lembra que os ditadores Adolf Hitler, Josef Stalin ou o sérvio
Slobodan Milosevic, que está sendo julgado pelos seus crimes
e que teve pai e mãe suicidas, foram órfãos que
poderiam ser classificados num terceiro grupo - dos que se deixaram
consumir pela amargura da perda e, por isso, tornaram-se frios e indiferentes
ao sofrimento dos outros.
"Não podemos generalizar, mas as experiências-padrão
na infância geram um tipo de comportamento futuro que podemos
agora começar a entender", diz ela. "Uma
das conseqüências mais comuns para essas crianças
é o fato de desenvolverem mais aguçadamente do que outras
o raciocínio abstrato."
Abstraindo o ambiente social e o período histórico dos
personagens cuja biografia estudou, Jill Brooke encontrou em diversos
artistas órfãos a mesma obsessão pelo ente querido
perdido. Quando a mãe de Paul MacCartney morreu, o pai deu-lhe
um violão para aliviar seu sofrimento. Mais tarde ele compôs
a famosa canção Let it Be, em que a mãe é
personagem sempre presente lhe trazendo proteção e sabedoria.
No caso de John Lennon, que também perdeu a mãe muito
cedo, as letras de suas músicas foram chamuscadas pela raiva
e revolta pelo isolamento. Mas o motivo, segundo a pesquisadora, é
outro. Lennon foi abandonado pela mãe e criado pelos tios.
Outro exemplo de grandeza motivada em parte pelo amor à mãe
perdida na infância, é o escultor e pintor italiano Michelangelo,
autor de obras eternas, como o teto da Capela Sistina e a escultura
de Davi, em Florença.
São inúmeros os fatores que definem se uma experiência
traumática de morte na família vai formar ou deformar
a personalidade da criança. Como era de esperar, a pesquisa
de Brooke mostra que o pior efeito vem de lares em que a morte de
um dos pais ou de ambos joga as crianças na pobreza. "Sem
um mecanismo de apoio que garanta a qualidade de vida e mesmo padrão
econômico, as crianças vão sofrer mais do que
deveriam", diz ela. A morte dos pais é algo doloroso,
mas o suicídio de um parente jovem ou a perda de um filho são
considerados em todos os círculos as formas mais agonizantes
e debilitantes de luto. No primeiro caso, segundo Brooke, a melhor
tábua de salvação é a terapia. E eu aduzo:
em ambos os casos a psicologia, pelo lado científico e a Doutrina
Espírita, pelo lado religioso-assistencial, são excelentes
tábuas de apoio. Além de violar a ordem natural das
coisas, a perda de um filho costuma aumentar o atrito entre os casais,
culminando, muitas vezes, em divórcio. Isso porque homens e
mulheres vivenciam o luto de forma diferente. As mulheres fazem amizades
mais baseadas na emoção. Já os homens tendem
se agrupar em torno de atividades comuns, como os esportes. O homem,
na opinião de Brooke, compartilha menos suas emoções.
Por isso tem maior dificuldade de lidar com a agonia da perda de um
filho. Esse comportamento pode levar a mulher a achar que o marido
não está sofrendo tanto quanto ela. "É
vital que o casal lembre que está no mesmo barco. Mesmo que
os dois estejam remando em velocidades diferentes, ambos devem remar
na mesma direção" - aconselha a autora.