Zila van der Meer Sanchez
- Doutora em Ciências pela Universidade Federal de São
Paulo (Unifesp). Pesquisadora do Centro Brasileiro de Informações
sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid).
Tese (Doutorado)
- Universidade Federal de São Paulo. Escola Paulista de Medicina.
Programa de Pós-Graduação em Psicobiologia.
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Resumo
Objetivo:
Compreender e elucidar procedimentos dos diversos tratamentos para dependência
de drogas realizados por grupos religiosos, que não seguem os
padrões médicos convencionais.
Métodos:
Utilizou-se de método qualitativo, empregando-se técnicas
de entrevistas semi estruturadas e observação participante,
considerando a visão do fenômeno que têm os indivíduos
que se submeteram a essas práticas religiosas. Registrou-se a
percepção dos entrevistados sobre o tratamento religioso,
uma vez que eram fonte rica de informação de um fenômeno
por eles vivido intensamente.
Resultados:
Foram visitadas 21 instituições religiosas dos segmentos
católico, protestante e espírita, nas quais foram contatados
informantes-chave que permitiram a entrada e acesso à cultura
e a 85 ex-usuários de drogas, submetidos a práticas religiosas
no tratamento da dependência de drogas, que foram entrevistados
em profundidade.
Observou-se que a crise é o maior motivo de busca de tratamento,
nos três grupos, sendo representada pela perda de família,
emprego e sujeição a fortes humilhações.
Os evangélicos foram os que mais utilizaram o recurso religioso
como forma exclusiva de tratamento, apresentando forte repulsa ao papel
do médico e qualquer tipo de tratamento farmacológico
Também foram os que descreveram maior intensidade da crise vivida,
relacionada especialmente a drogas ilícitas.
Os espíritas foram os que buscaram mais apoio terapêutico
à dependência de drogas lícitas, simultaneamente
a um tratamento convencional, justificado inclusive por serem o grupo
de maior poder aquisitivo.
Os católicos afirmaram terem buscado apoio no que já lhes
era conhecido, já que todos foram educados nesta religião.
O que há de comum em todos os tratamentos é a importância
dada à oração, conversa com Deus, como método
de controle da fissura da droga, atuando como forte ansiolítico.
Para evangélicos e católicos, a confissão e o perdão,
através da conversão (fé) ou das penitências,
respectivamente, exercem forte apelo à reestruturação
da vida e aumento da auto-estima.
Apesar de todos os entrevistados terem se vinculado a um tratamento
religioso para dependência de drogas, a fé não foi
o móvel inicial desta busca. Na realidade ela foi desenvolvida
numa etapa posterior do tratamento, sendo uma decorrência dos
sucessos observados em terceiros ou em sua própria recuperação
paulatina. O que os manteve na instituição religiosa foi
a admiração pelo acolhimento recebido, a pressão
positiva do grupo e a oferta de reestruturação da vida
com apoio incondicional dos líderes religiosos. Além disso,
a religião lhes oferece condições de refazer seus
vínculos de amizade, através de diversas atividades ocupacionais
voluntárias e, assim, facilitando o afastamento da droga e dos
companheiros vinculados a ela.
Conclusões:
O tratamento religioso para dependência de drogas ganha espaço
na saúde pública brasileira e compartilha responsabilidade
com o serviço de saúde convencional. Tais intervenções
são consideradas eficazes pelos indivíduos submetidos
a elas e despertam a atenção destes pela forma humana
e respeitosa pela qual são tratados.
A maior potencialidade destes tratamentos está no suporte social
do grupo que os recebe, no tratamento de igual para igual e no acolhimento
imediato e sem julgamentos, mostrando que o sucesso destas ações
não se esgota num possível aspecto “sobrenatural”,
como poder-se-ia supor, mas sim, em especial, na dedicação
incondicional do ser - humano por seu semelhante.
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Esta tese foi realizada no Departamento de Psicobiologia da Universidade
Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina, com
o apoio financeiro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico
e Tecnológico (CNPq; bolsa de Doutorado), da Coordenação
de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES);
da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São
Paulo (FAPESP), Centro Brasileiro de Informações sobre
Drogas Psicotrópicas (CEBRID), Associação Fundo
de Incentivo à Psicofarmacologia (AFIP) e Òrgan Tècnic
de Drogodependències de la Generalitat de Catalunya.
Fonte:
http://www.hoje.org.br/site/arq/artigos/tese_zila_PhD.pdf