A educação
do povo precisa ser totalmente modificada para que todos possam
ter a noção dos deveres sociais, o sentimento das
responsabilidades individuais e coletivas e, principalmente, o conhecimento
do objetivo real da vida, que é o progresso, o aperfeiçoamento
da alma, o aumento de suas riquezas íntimas e ocultas
Léon Denis (O Mundo Invisível
e a Guerra)
De acordo com o que aprendemos no Espiritismo
(1), na consciência se encontram
escritas as Leis de Deus, sendo ela uma espécie de tribunal divino
instalado em nós. Ela não é um lugar, mas, psicologicamente
falando, um modo de percebermos o que ocorre em nós e à
nossa volta. Percebermos de forma espontânea, imediata ou de uma
maneira reflexiva, especialmente quando pensamos com mais vagar
em que somos, como somos e os rumos que desejamos imprimir à
nossa vida a partir das noções socialmente aceitas do
que seja bom ou ruim, certo ou errado, bem ou mal.
(1) O Livros dos Espíritos, questão
621.
Além de nos referimos à
consciência dando-lhe as características de espontaneidade
e reflexão, podemos também identificar em sua constituição
a presença de um sentido ético que nos permite
examinar os próprios pensamentos, questionando nossas intenções
e atos. Em nosso caso particular, se estamos agindo segundo os valores
propostos pelo Cristianismo e restaurados pelo Espiritismo, tendo em
vista que a moral espírita é a moral cristã.
Podemos dizer que o espírito imortal, o ser inteligente da criação
(2), é uma consciência cósmica
criada para evoluir, alcançar a perfeição de que
é dotada por meio do desenvolvimento das suas potencialidades,
etapa a etapa, através das sucessivas existências.
(2) O Livros dos Espíritos, questão
71.
Tais existências nos permitem
construir conhecimentos e acumular experiências, determinando
pelo amadurecimento que já tenhamos alcançado, uma postura
ingênua ou crítica diante de tudo aquilo que a vida nos
apresente.
A ingenuidade aqui abordada não é sinônimo de simplicidade,
pureza, mas por uma visão superficial e imatura de alguns aspectos
da existência. Parafraseando o grande educador brasileiro Paulo
Freire( 1921-1997), diremos que esta ingenuidade estando presente na
personalidade de alguém, se manifestará da seguinte maneira:
- A criatura tem a sensação de que tudo
no passado era melhor.
- Percebe que a vida é estática e não
dinâmica, não registrando a impermanência das coisas.
- Possui dificuldade em conseguir ver os seus e os
problemas dos outros por diferentes ângulos.
- Apresenta resistência ao progresso.
- Tem uma compreensão mágica (fantasiosa)
dos fatos.
- Suas ações são motivadas principalmente
por impulsos.
- Raramente terá autocrítica.
A pessoa tendo esta postura ingênua e sendo espírita,
já estará na contramão do que o Espiritismo nos
faz enxergar. Caso seja também evangelizadora da infância
ou da juventude numa instituição espírita e pouco
estude a Codificação, tenderá a agir mais ou menos
assim, sem que esta postura seja matematicamente determinada:
- Grupará as crianças e jovens considerando
apenas o critério da faixa etária.
- Negar-se-á trabalhar com histórias
e textos que não tenham sido publicados no meio espírita
ou priorizará apenas as fontes que
nada tenham a ver com conteúdos doutrinários em defesa
de uma visão livre e aberta.
- Deixará de abordar assuntos à luz do
Espiritismo para abordá-los exclusivamente apenas à
luz das diferentes ciências
- Não estabelecerá “pontes”
entre os fatos sociais divulgados pelas diferentes mídias e
as aulas de evangelização.
- No uso de material didático, limitar-se-á
ao uso de apostilas, engessando a práxis (ação
e reflexão) evangelizadora.
- Não encontrará tempo para participar
de encontros e cursos de capacitação, tendo em vista
a vasta experiência que considera ter acumulado ao longo do
tempo.
- Não estudará o Espiritismo vinculado
a algum grupo, limitando o próprio estudo aos temas das aulas
de evangelização.
- Colocar-se-á impermeável às
ideias dos evangelizadores mais novos e às sugestões
dos mais experientes.
- Acreditará que a finalidade precípua
da evangelização espírita é formar novas
gerações de espíritas.
- Transformará o espaço
evangelizador num espaço semelhante ao escolar, com atitudes
e práticas que são próprias da educação
formal, sem nenhuma adequação e convergência aos
objetivos buscados pelo processo evangelizador à luz do Espiritismo.
Como então assumir uma postura crítica
compatível com as recomendações doutrinárias
e com o progresso das ideias pedagógicas e psicológicas,
de modo a imprimir maior qualidade na tarefa da evangelização
espírita infantojuvenil?
O caminho passa inevitavelmente pela convicção de que
para evangelizar à luz do Espiritismo não basta “qualquer
coisa”, ou seja, qualquer conteúdo, qualquer metodologia,
quaisquer recursos, qualquer tempo, qualquer postura e qualquer boa
vontade. É preciso mais, é necessário estudo, troca
de ideias, conhecimento de outras práticas exitosas e engajamento
sem fanatismo.
Além disso, uma boa dose de autoconhecimento é fundamental
para que percebamos nossas sombras e trabalhemo-nos interiormente, de
modo que estas não interfiram negativamente em nossa relação
com os evangelizandos, seus familiares e demais companheiros da instituição
espírita que frequentamos.
Como vemos, são múltiplas as frentes que requisitam cuidado
e atenção de nossa parte para a transição
de uma consciência ingênua e superficial em direção
a uma consciência crítica e mais amadurecida.
É necessário que não fiquemos apenas registrando
os adversários da causa, as dificuldades estruturais das famílias,
a ausência de visão dos dirigentes espíritas do
nosso centro e a falta de compromisso de certos evangelizadores. Pensemos
também na atuação dos bons espíritos, no
bom trabalho que já fazemos e podemos aprimorar, nos companheiros
com os quais podemos contar.
Com entusiasmo crescente por esta bela tarefa, sigamos convictos que
Jesus não apenas abençoa, mas secunda os nossos esforços,
provendo sempre todas as nossas necessidades
Fonte:
https://celd.xyz/wp-content/uploads/02-Revista_CELD_Fevereiro-2017.pdf
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