Cezar
Braga Said
> Os bons médiuns
Allan Kardec afirma em O Livro
dos Médiuns que todo aquele que sente, num grau qualquer, a
influência dos Espíritos é, por esse fato, médium.
Essa faculdade é inerente ao homem; não constitui, portanto,
um privilégio exclusivo. Por isso mesmo, raras são as
pessoas que dela não possuam alguns rudimentos. Pode, pois,
dizer-se que todos são, mais ou menos, médiuns (1).
(1) KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns.
Rio de Janeiro: FEB, 2002, 70. ed., p. 203.
Podemos encontrar bons médiuns
fora do movimento espírita e médiuns que, se dizendo
orientados pelos princípios da terceira revelação,
conduzem o exercício das próprias faculdades a revelia
do que preconiza o Espiritismo.
Neste último caso, múltiplas são as possibilidades
disto acontecer: interpretação muito pessoal e isolada
do que seja o Espiritismo e a mediunidade; ausência de estudo
sério da Codificação; pouco contato com a experiência
mediúnica de outros tarefeiros mais experientes e coerentes;
falta de disciplina; desejo de projeção dentro do centro
ou do movimento espírita do qual faça parte; postura
de competição com outros médiuns; aspiração
por ser o portador de novas revelações, o que denota
mais vaidade do que espírito de serviço; ausência
de senso crítico para analisar o que recebe e criticismo exagerado
em relação ao que outros medianeiros registram; fornecer
informações sobre espíritos ou vidas passadas
sem nenhum critério ou proveito, criando um séquito
de aduladores mais interessados nisto do que no estudo e no trabalho
e, o que ainda é mais grave, o uso da mediunidade para lucrar,
transformando-se num médium profissional.
Tais fatores, que não são os únicos, ajudam
a explicar porque tantos disparates são possíveis e
mesmo que em alguns casos o médium seja vítima de um
processo obsessivo, a matriz sobre a qual os espíritos inferiores
agem, está enraizada na personalidade, e sem que esta imperfeição
seja corrigida, a obsessão não terá fim.
Já tomamos ciência que a mediunidade é uma faculdade
que se manifesta à revelia da condição moral
da criatura, mas também já entendemos que a assistência
dos bons espíritos, ao contrário, se condiciona aos
valores e à conduta, ao modo como o médium vive sua
vida particular e exerce as suas faculdades.
Considerando a singularidade que assinala um médium, tendo
em vista não apenas a faculdade que este possua, mas suas próprias
características de personalidade, encontraremos não
apenas uma grande diversidade de faculdades mediúnicas catalogadas,
mas igualmente especificidades na maneira como cada médium
encara o exercício do compromisso assumido diante da espiritualidade
e perante a sua própria consciência.
Desse modo, não temos apenas diversidade de aspectos dentro
de uma mesma faculdade mediúnica, mas detalhes na maneira de
exercê-la que são próprios da experiência,
conhecimento e compromisso de cada médium.
Esta diversidade é positiva, útil e necessária
quando procuramos manter uma “espinha dorsal” ou um “pano
de fundo” comum, uma unidade baseada nas diretrizes espíritas.
Unidade que funciona como uma bússola e que não significa
engessamento nem padronização, mas a adoção
de critérios claramente definidos pelo codificador para a caracterização
de um bom médium.
Estes critérios podem ser encontrados em O Livro dos Médiuns
(2) quando Allan Kardec assinala os pontos
básicos para que alguém receba a assistência dos
bons espíritos em seu trabalho.
(2) Idem, ibidem, p. 288, item 227.
Tais pontos são:
- a bondade;
- a benevolência;
- a simplicidade do coração;
- o amor do próximo;
- o desprendimento das coisas materiais.
Salienta, também, quais são as imperfeições
que promovem o afastamento dos espíritos amigos:
- o orgulho;
- o egoísmo;
- a inveja;
- o ciúme;
- o ódio;
- a cupidez;
- a sensualidade
Todas as paixões
que escravizam o homem à matéria.
Estas colocações do codificador
nos fazem pensar que a mediunidade existe independente da condição
moral do médium.
Passar tudo sempre pelo crivo da razão e do critério
da universalidade dos ensinos, além de procurar a aplicação
direta em nosso mundo interior do que foi registrado nos instantes
de intercâmbio, certamente nos credenciará a receber
a assistência benfazeja dos espíritos que podem nos
orientar e nos sustentar nos instantes mais difíceis.
Nenhum médium está “pronto” no sentido
de que não tenha mais que vigiar, esclarecer-se, moralizar-se,
questionar seus registros mediúnicos. Além disso,
aprendemos com Allan Kardec que não há médium
perfeito, mas que existem bons médiuns e esta categoria o
codificador a subdividiu em: médiuns sérios, médiuns
modestos, médiuns devotados e médiuns seguros.(3)
(3) Idem, ibidem, p.242 e 243, item 197.
Parafraseando o Kardec, diremos que seriedade,
modéstia e devotamento nos trazem maior segurança,
possibilitando-nos menos enganos no exercício da tarefa que
fomos chamados a realizar.
Concluímos com a certeza de que um médium seguro não
conduzirá suas faculdades ao exibicionismo, autopromoção,
ataques sutis a outras pessoas ou outros médiuns e que o
fator moral se torna decisivo no tocante à sintonia estabelecida,
pois como afirma Léon Denis: O bom êxito da experimentação,
no que ela tem de belo e grandioso — a comunhão com
o mundo superior — não o obtém o mais sábio,
mas o mais digno, o melhor, aquele que tem paciência e consciência
e mais moralidade.(4)
(4) DENIS, Léon. No Invisível.
Rio de Janeiro: FEB, 17. ed., p.10, 1996.
Fonte:
https://celd.xyz/wp-content/uploads/06-Revista_CELD_Junho-2017.pdf
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