
Depois do programa Conversa com Bial,
diversos amigos, todos trabalhadores espíritas, vêm entrando
em contato para ouvir a opinião do Espiritismo Comentado sobre
a entrevista que o Bial fez com Dora Incontri e com Marcel Souto Maior.
https://globoplay.globo.com/v/8702287/
Em nossa opinião, a entrevista
como um todo projetou uma imagem racional e favorável do espiritismo
para a população brasileira, muito diferente da imagem
que ficou com o caso de João de Deus, que, mesmo não
sendo espírita, era confundido como tal por se apresentar como
médium. Na mentalidade de grande parte dos brasileiros “é
tudo a mesma coisa”, e a multiplicidade de experiências
religiosas não vem acompanhada com uma clareza na distinção
de princípios, proposições e práticas.
Houve um sensacionalismo na mídia
de divulgação do programa, feita pela própria
emissora, ao falar de descobertas novas e atribui-las à Dora.
Ao longo da entrevista, vê-se que ela não se colocou
nesse lugar.
Um exemplo do sensacionalismo da mídia
global, para quem quiser conferir:
https://gshow.globo.com/programas/conversa-com-bial/noticia/pesquisadora-brasileira-descobre-cartas-ineditas-de-allan-kardec-que-podem-mudar-historia-do-espiritismo.ghtml
A entrevista foi muito rica em informações
então vamos nos deter nos dois pontos mais questionados: as
novas informações sobre a história do espiritismo
e, especificamente, a família de Allan Kardec.
Dora Incontri fez menção
a algumas descobertas já tornadas públicas por instituições
que estão trabalhando com a conservação, transcrição
e tradução da correspondência de Kardec e com
os documentos copiados por Canuto Abreu na França no período
entre guerras, que estava guardado e acesso vetado pelos seus herdeiros.
Além dessas duas iniciativas
há uma grande pesquisa que vem sendo feita via internet. Ela
se baseia no acesso digital aos arquivos, documentos e coleções
europeias das mais diferentes instituições, como cartórios,
bibliotecas e órgãos governamentais.
Achei curioso como um grande número
de pessoas desconhece o trabalho que vem sendo feito na preservação
da memória do espiritismo. As cartas de Kardec compradas dos
descendentes de Leymarie e o acervo de Canuto Abreu, especialmente
esse último, é quase uma novela com diversos capítulos.
Paulo Henrique de Figueiredo nos explica em seu livro “Autonomia:
a história jamais contada do espiritismo”, que o acervo
de Canuto Abreu (documentos escritos à mão ou datilografados)
estão sob os cuidados da Fundação Espírita
André Luiz, em São Paulo.

Imagem do C.S.I: Imagens e Registros
Com relação às
pesquisas pela internet, gostaria de destacar o Carlos Seth Bastos
e seu C.S.I. (Codification, Séances, Investigation): Imagens
e Registros Históricos do Espiritismo, pelas contribuições
que vêm dando nessa frente de trabalho. O Carlos vem publicando
seus achados em três espaços:
https://www.facebook.com/HistoriaDoEspiritismo
https://www.allankardec.online
- clicar no canto inferior direito, imagem CSI
https://kardecpedia.com/obra

Uma das ilustrações que se encontra
em allankardec.online (clique para ampliar)
Outro espaço virtual em que
se tem publicado documentos digitalizados referentes a Allan Kardec
e sua época é o AllanKardec.online. Seu acervo tem por
base a Librairie Leymarie e aquisições em outras livrarias
especializadas. Seu curador se chama Adair Ribeiro. Eles trabalham
em conjunto com o Carlos, citado acima, e o Charles Kempf (veja abaixo).
O endereço digital já foi disponibilizado acima:
https://www.allankardec.online
Há também uma página do Facebook:
https://www.facebook.com/allankardec.online
As informações da família
de Kardec, como a filha Louise e o pai, foram publicadas inicialmente
por um espírita francês. Charles Kempf, em outubro de
2018, divulgou em português os achados referentes à correspondência
pessoal de Rivail com Amélie que citam a menina Louise, possivelmente
desencarnada enquanto os pais adotivos estavam vivos.
Ele pode ser lido em http://ismaelgobbo.blogspot.com/2018/10/artigo-inedito-por-charles-kempf.html
Foi também o Charles quem
publicou sobre o pai de Allan Kardec. O texto em português pode
ser lido no site da Federação Espírita do Paraná
com os endereços eletrônicos das fontes: http://www.feparana.com.br/topico/?topico=2255.
No entanto, posteriormente esta informação foi revisada,
pois descobriu-se seu paradeiro, conforme explicado por Carlos Seth
em https://www.facebook.com/HistoriaDoEspiritismo/posts/407144190049369
Pessoalmente, não há
como negar que uma história de perdas de pessoas queridas pode
vir a afetar os interesses de uma pessoa, mas acho ainda especulativo
associar as desencarnações ao interesse pelos fenômenos
espíritas. Principalmente porque conhecemos a grande maioria
dos trabalhos públicos de Kardec, que são extensos,
e ele sempre defende os interesses de cientista ante os fenômenos
espirituais que estudou.
A posição de Dora contra
a idealização de médiuns é muito correta
e sensata. Nosso trabalho, como estudiosos do espiritismo, é
sempre conhecer bem a doutrina e as afirmações dos espíritos,
verificar onde se baseiam, confrontar diferenças e concluir
na defesa do que está devidamente fundamentado, argumentado,
lógico, venha de quem vier. Isso me fez recordar Sócrates,
condenado à morte pela defesa racional de suas ideias, que
desagradavam as elites gregas.