Elton
Rodrigues
> Reflexões acerca da iluminação no
trabalho mediúnico e da água fluidificada
Quem costuma frequentar as reuniões
nos centros espíritas talvez já tenha se perguntado,
por qual motivo é utiliza da uma iluminação distinta
(geralmente na cor azul ou vermelha), no momento do passe ou em outros
trabalhos mediúnicos.
Também é muito comum entre os adeptos do Espiritismo,
após a reunião pública, a ingestão de
um pequeno copo com a chamada “água fluidificada”.
Você já se perguntou o porquê desta prática?
Não, raro escutarmos variadas explicações sobre
a função e a origem deste recurso terapêutico.
Algumas delas, porém, carecem de referências mais sólidas
dentro do estudo espírita.
Assim, entusiasmados pelo sentimento natural de entender um pouco
mais sobre alguns pontos desta Doutrina, buscaremos o entendimento
na literatura espirita para melhor compreensão destas práticas.
Por que mudar a iluminação?
No livro Desobsessão,(1)
André Luiz, em seu capítulo XVII, afirma: “A iluminação
no recinto será, sem dúvida, aquela de potencialidade
normal, na fase preparatória das tarefas, favorecendo vistorias
e leituras. Contudo, antes da prece inicial, o dirigente da reunião
graduará a luz no recinto, fixando-a em uma ou duas lâmpadas,
preferivelmente vermelhas, de capacidade fraca, 15 watts, por exemplo,
de vez que a projeção de raios demasiado intensos sobre
o conjunto prejudica a formação de medidas socorristas,
mentalizadas e dirigidas pelos instrutores espirituais, diretamente
responsáveis pelo serviço assistencial em andamento,
com apoio nos recursos medianímicos da equipe. (...) Nas localidades
não favorecidas pela energia elétrica, o orientador
da reunião diminuirá, no recinto, o teor da luz empregada”.
Hermínio de Miranda, em seu livro Diálogo com as
Sombras,(2) capítulo I, também
faz referência à luz vermelha, durante a reunião
mediúnica: “Cerca de duas horas antes, a sala está
preparada fisicamente para a reunião: mesa e cadeiras em posição,
a água destinada à fluidificação, os livros
que contêm os textos destinados à leitura, material para
eventual psicografia, papel, lápis, canetas esferográficas,
o caderno de preces, o gravador com a fita já também
em posição para captar a mensagem final dos mentores
do grupo, uma pequena luz indireta, preferentemente de cor, pois a
luz branca é prejudicial a certos fenômenos mediúnicos.
Sugere-se a cor vermelha”.
Acredito que as sugestões de Hermínio de Miranda são
referências ao texto de André Luiz. Todavia, temos que
considerar o alto grau de discernimento do grande pesquisador espírita.
Desta forma, quero dizer, que se o Hermínio corroborou as informações
trazidas à luz por André Luiz, ele, inequivocamente,
concorda com esta atitude.
Igualmente, Léon Denis, em No Invisível,(3)
apresenta alguns relatos sobre a iluminação da sala
reservada à experimentação mediúnica:
“Em certas noites são múltiplas as aparições.
Perfis indistintos, contornos de cabeças, sombras obscuras
se desenham num fundo escassamente iluminado; fantasmas brancos, de
extrema tenuidade, se mostram nos lugares escuros da sala.”(4)
Porém, em outro ponto, Denis, compartilhando uma carta
do Sr. Larsen direcionada a um jornal sueco, onde o Sr. Larsen descreve
a aparição de sua mulher morta, temos: “Ela deslizou
silenciosamente até ao gabinete, cujas cortinas se cerraram
de novo. A sala estava bem iluminada: os assistentes se conservaram
sérios e calmos; o médium permaneceu visível
em sua poltrona, ao lado e durante todo o tempo da aparição.”(5)
Neste relato do Sr. Larsen, fica claro que “a sala estava bem
iluminada”. Até o momento, temos André Luiz e
Hermínio de Miranda trazendo orientações sobre
a importância da luz reduzida, ou vermelha, no recinto reservado
aos trabalhos mediúnicos. León Denis, por outro lado,
traz duas informações importantes: o relato sobre a
diminuição da luz antes das manifestações
ocorrerem e uma carta do Sr. Larsen, onde afirma que a manifestação
ocorreu em um ambiente iluminado. O que podemos concluir dessas primeiras
informações? Será que alguns fenômenos
podem ocorrer em ambiente iluminado sem que haja prejuízo algum?
Antes de defendermos esta hipótese, estudaremos mais algumas
informações.
Henri Regnault confirma, em seu livro, Léon Denis e a Experiência
Espírita,(6) a utilização
de iluminação débil nas sessões mediúnicas
presididas por Denis: “No começo de cada sessão,
o presidente, no caso Léon Denis, fazia uma curta prece. Em
seguida, diminuía-se a luz e ouviam-se, com paciência
e recolhimento, as manifestações.”(7)
William Crookes, em uma série de artigos publicados no Quarterly
Journal of Science,(8) relata diversos
experimentos realizados por ele. A maioria dos experimentos foram
realizados em ambiente pouco iluminado. Porém, diversas manifestações
ocorreram em ambiente totalmente escuro e, também, com grande
iluminação.
Poderíamos citar relatos de experiências realizadas por
Bozzano, De Rochas, Richet e muitos outros, para concluir que existem
experimentos realizados desde a escuridão total até
sob a luz do Sol.
Por que é que as aparições
se dão de preferência à noite?
Allan Kardec, em O Livro dos Médiuns,(9)
diz: “Acrescentemos que a forma da mesa, a substância
de que é feita, a presença de metais, da seda nas roupas
dos assistentes, os dias, as horas, a obscuridade, ou a luz etc.,
são indiferentes como a chuva ou o bom tempo”.
Já no capítulo VI,(10)
do livro supracitado, Kardec pergunta aos Espíritos: “Por
que é que as aparições se dão de preferência
à noite? Não indica isso que elas são efeito
do silêncio e da obscuridade sobre a imaginação?
E os Espíritos respondem: “Pela mesma razão por
que vedes, durante a noite, as estrelas e não as divisais em
pleno dia. A grande claridade pode apagar uma aparição
ligeira; mas, errôneo é supor-se que a noite tenha qualquer
coisa com isso. Inquiri os que têm tido visões e verificareis
que são em maior número os que as tiveram de dia”.
Ora, os Espíritos que trabalharam com Kardec afirmam que a
luz não impede que uma manifestação ocorra. Será
que as informações de André Luiz e Léon
Denis vão de encontro ao que Kardec divulgou? A resposta é
não.
Realmente a pouca iluminação facilita, por exemplo,
materializações, fenômenos ectoplasmáticos
e fenômenos luminosos. Porém, existem diversos relatos,
mesmo desses fenômenos, ocorrendo de dia, sob o Sol. O que podemos
concluir é que a luz branca, com as suas características
próprias — frequência, principalmente — influencia
de alguma forma essas manifestações, mas não
que isso seja um impedimento absoluto à manifestação.
Por outro lado, já é atestado que há uma relação
entre a luminosidade e a produção de melatonina,(11)
hormônio produzido pela pineal. Sendo a glândula pineal
uma parte importante do processo mediúnico,(12)
então é de boa lógica concluir que a pouca iluminação,
não importando a cor da lâmpada, a priori, pode facilitar
o trabalho dos médiuns e, também, se for o caso, a abertura
necessária dos assistidos, seja no passe no salão ou
em trabalhos específicos de cura, no recebimento da fluidoterapia.
A água fluidificada
A água, notoriamente, é um elemento
primordial à vida. Sob ação da vontade e da fé,
pode-se impregná-la de um fluido mais sutil, enchendo-lhe,
“os interstícios até a saturação”.(13)
Allan Kardec, em A Gênese, afirma que certas substâncias,
como a água, podem adquirir qualidades interessantes sob ação
do fluido espiritual e magnético.(14)
É por isso — vale ressaltar — o motivo de chamarmos
de “água fluidificada”, pois a água é
saturada de fluidos espirituais e magnéticos.
André Luiz, em Nosso Lar, aprende que a água
é um veículo dos mais poderosos para os fluidos de qualquer
natureza.(15)
No livro Passe, magnetismo curador, Palhano Jr. e Dalva Souza,
nos informam: “Os espíritas têm grande apreço
à água fluidificada; utilizando-a, de modo geral, em
benefício de todos. Entretanto, esse recurso pode ter caráter
particular: pode-se destinar a água a ser fluidificada para
determinado enfermo e, nesse caso, é conveniente que o uso
seja pessoal e exclusivo”.(16), (17)
Desta forma, caros leitores, não nos resta dúvida que
a água fluidificada deverá ser utilizada como mais um
recurso em qualquer tratamento.
Não há mistérios na fluidificação
da água. Basta que o médium, concentrando-se em uma
prece, estenda as suas mãos, solicitando a ajuda espiritual,
no propósito de transmitir seus fluidos para um determinado
reservatório. Não se preocupem se o recipiente está
fechado ou aberto. Os fluidos, por suas características sutis,
atravessam, sem dificuldades, os materiais sólidos. Da mesma
forma que nossas roupas (18) não
oferecem barreira no momento do passe — tanto para o passista
quanto para o assistido — uma garrafa, por exemplo, também
não será empecilho ao fluido direcionado à água
ali contida. Além disso, ainda no livro supracitado, temos
um relato muito interessante sobre a capacidade dos Espíritos,
que possuem a mesma capacidade dos fluidos em atravessar objetos sólidos:
“Certa vez, o Espírito Sheilla, durante uma conversa
entre alguns confrades espíritas sobre essa questão
mostrou, pela vidência de um de nós, que os seus dedos
atravessavam o vidro da garrafa e deixavam extravasar fluidos no líquido”.(19)
Por último, indicamos que a água logo antes da fluidificação,
e após a esta, seja mantida em ambiente fresco, sem que seja
resfriada. Esta informação não deve ser considerada
— assim como qualquer outra neste artigo — como mística.
Com efeito, com menor temperatura, a vibração, ou seja,
a energia cinética das partículas, diminui.
A água pode ser fluidificada durante uma sessão de passes,
por um grupo de médiuns, designados para esta tarefa.
Continuemos com os nossos esforços para estarmos mais próximos
da Verdade, mais próximos de Jesus.
E assim, terminamos nossas reflexões iniciais sobre estes assuntos
tão interessantes. Fiquemos
com as palavras de Jesus:
“Aquele que der de beber, ainda que seja um
copo de água fria, a um destes pequeninos, por ser meu discípulo,
em verdade vos digo que de modo algum perderá a sua recompensa”.(20)
Referências Bibliográficas:
1 - Desobsessão, André Luiz (esp.), Francisco
C. Xavier e Waldo Vieira, 4ª Edição, FEB.
2 - Diálogo com as Sombras, Hermínio de Miranda,
24ª Edição, FEB.
3 - No Invisível, Léon Denis, 2ª Edição,
CELD.
4 - No Invisível, capítulo XX, Léon Denis,
2ª Edição, CELD.
5 - No Invisível, capítulo XX, Léon Denis,
2ª Edição, CELD.
6 - Léon Denis e a Experiência Espírita,
Henri Regnault, 3ª Edição, CELD.
7 - Léon Denis e a Experiência Espírita,
capítulo V, Henri Regnault, 3ª Edição, CELD.
8 - A Federação Espírita Brasileira (FEB) publicou,
parcialmente, estes artigos, em um livro chamado Fatos Espíritas.
9 - O Livro dos Médiuns, capítulo II, item 63,
Allan Kardec, 1ª Edição, CELD.
10 - O Livro dos Médiuns, capítulo VI, 18ª
pergunta, Allan Kardec, 1ª Edição, CELD.
11 - Em humanos, a melatonina tem sua principal função
em regular o sono; ou seja, em um ambiente escuro e calmo, os níveis
de melatonina do organismo aumentam, causando o sono, relaxamento. Ora,
é fácil concluir que esse torpor é necessário
para um certo afastamento parcial do perispírito
12 - Missionários da Luz, capítulo II, André
Luiz, 45ª Edição, FEB.
13 - Magnetismo Animal, capítulo XV, Michaelus, FEB.
14 - A Gênese, Allan Kardec, Capítulo XIV, CELD.
15 - Nosso Lar, Capítulo X, FEB.
16 - Passe, Magnetismo Curador, capítulo 11, Palhano
Jr. e Dalva Silva Souza, Lachâtre.
17 - O Consolador, capítulo V, questão 103, Emmanuel,
FEB.
18 - A cor da roupa também não influencia em nada.
19 - Passe, Magnetismo Curador, capítulo 11, Palhano
Jr. e Dalva Silva Souza, Lachâtre.
20 - Mateus, capítulo 10, versículo 12.
* Elton Rodrigues - Licenciado em Física (UFRJ) e
Mestrando em Biofísica (CBPF).
É membro fundador da Associação Física
e Espiritismo da Cidade do Rio de Janeiro (AFE-RIO) e editor da revista
O Fóton.
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