Há temas dentro da Doutrina Espírita
que geram tanto espanto, tantos questionamentos nos estudantes –
não apenas nos neófitos – que estes, por consequência
imediata, buscam informações de forma desenfreada e, muitas
vezes, encontram explicações equivocadas ou truncadas.
E qual é o resultado mais provável desta série
de acontecimentos? De forma geral, temos um aumento do número
de pessoas com percepções equivocadas sobre Doutrina e
sobre os fenômenos explicados por ela. É por isso, dentre
outros fatores, que encontramos inúmeras páginas na internet,
grupos online, livros e palestras transferindo informações
falsas, baseadas em achismos. É um ciclo, que só será
freado com um serviço de informações seguras sobre
os mesmos temas. Não é algo simples de empreender e, tampouco,
com resultados ligeiros. Todavia, e este é o motivo desta introdução,
a dedicação a uma pesquisa mais profunda sobre os temas
abordados pela Doutrina Espírita faz parte, não apenas
deste corpo editorial, como também, da Associação
de Física e Espiritismo do Rio de Janeiro – AFERJ, mas
de considerável número de grupos, no Brasil ou não.
Com a ajuda dos senhores e das senhoras que nos leem, avaliando e comentando
os nossos artigos, só temos a melhorar esse serviço de
divulgação doutrinária.
Um desses temas que suscitam muitas dúvidas é a Psicometria.
Não estamos falando da Psicometria idealizada por Francis Galton,
criador de testes para medir processos mentais. A Psicometria como “teoria
da medida em ciências para explicar o sentido que têm as
respostas dadas pelos sujeitos a uma série de tarefas e propor
técnicas de medida dos processos mentais” (1)
é uma teoria e uma técnica voltada à psicologia
e à educação. Estamos falando da Psicometria, termo
cunhado pelo médico Joseph Rhodes Buchanan em 18422, ou seja,
anterior à publicação de O Livro dos Espíritos,
que descreve a capacidade extra-sensorial de alguns seres, os psicômetras,
de extrair o conteúdo de algum objeto ou de um ambiente, impressos
fora da nossa realidade física.
Na Doutrina Espírita, “a psicometria é uma variedade
da psicoscopia (3), isto é, uma
faculdade que tem o médium de estabelecer contato com toda a
vida psíquica de alguém, coisa ou ambiente, podendo perscrutar
o passado, presente e futuro. O médium localiza no tempo e no
espaço o objeto de suas pesquisas, seguindo-o por uma espécie
de ‘rastreamento’ psíquico” (4).
Buchanan explicava o fenômeno utilizando termos científicos.
Dizia ele que nossos nervos emitiam uma vibração elétrica
a que deu o nome de aura nervosa. Enquanto fazia experimentos em torno
da psicometria, publicava seus resultados no Journal of Man,
por ele mesmo criado em 1849. Depois, reunindo esses artigos, publicou
um livro intitulado Manual of Psychometry (5).
Um dos melhores resultados, dos experimentos feitos por Buchanan, foi
com um jovem chamado Charles Inman. Este jovem, recebendo cartas fechadas
dadas por Buchanan, conseguia ler o caráter dos seus respectivos
autores e, além disso, se mostrou capaz de saber até o
estado de espírito destes (6).
Buchanan desencarnou na Califórnia, no início do século
XX, sem que as suas pesquisas fossem aceitas pela Academia. Isso nos
parece ser explicado pelo fato da chegada, a partir de 1848, do espiritualismo
moderno e de uma grande mudança ocorrida na opinião pública
a respeito desses fenômenos. Contudo, o trabalho de Buchanan não
foi infrutífero. William Denton, cidadão inglês,
continuou e superou a obra de Buchanan.
Denton nasceu em Darlington, Inglaterra, em janeiro de 1823. Foi para
os Estados Unidos com 25 anos, e permaneceu em Cincinatti, onde Buchanan
fundara seu instituto de estudos de psicometria. (7)
É bem provável que os dois tenham sido conhecidos ou até
mesmo amigos próximos. Denton se casou com Elizabeth Foote e
se mudou para Ohio. “Como sua grande paixão intelectual
era geologia, deu início às suas próprias experimentações
com finalidade de apurar se a psicometria funcionava com espécies
minerais” (8). Nós conhecemos
a obra de William Denton a partir das pesquisas feitas por Hermínio
de Miranda, em seu livro “Memória Cósmica”.
Nesta obra, Hermínio examina, de forma magistral, uma das obras
deste grande pesquisador inglês: The Soul of Things
(9).
Algo muito interessante ocorria na família de Denton. Tanto sua
esposa Elizabeth, quanto sua irmã Anne
Denton, eram grandes psicômetras. Desta forma, Denton conseguiu
realizar diversos experimentos. Um dos resultados mais interessantes
foi conquistado pela esposa de Denton. Elizabeth Denton identificou
a
origem de uma rocha de origem vulcânica, sem nenhum conhecimento
de geologia, acompanhou a sua trajetória da região das
geleiras no norte, para o sul, descreveu a influência das correntes
marítimas neste deslocamento, a presença de gelo e água
acima, durante o deslocamento, até o seu depósito em uma
bacia, em lugar amplo. Todas as informações eram corretas,
segundo o geólogo. Além deste, inúmeros outros
resultados magníficos foram obtidos por Denton e suas sensitivas.
Em outro experimento, Elizabeth, avaliou um fragmento de afresco recolhido
na “Casa de Cícero”, em Pompéia. A sensitiva
percebe toda a casa, as pessoas, os sentimentos. Percebe, também,
toda a dor, toda a confusão gerada pela terrível catástrofe.
O psicômetra não apenas vê o cenário, a topografia
e demais aspectos materiais, mas também o clima psicológico,
as emoções vividas por todos da região estudada.
Ernesto Bozzano foi um outro grande investigador da psicometria. Em
sua obra “Os Enigmas da Psicometria”, Bozzano analisa as
diferentes modalidades dos fenômenos psicométricos e telestésicos
(10), incluindo-os na clarividência
e procurando desvendar-lhes os enigmas. Relata diversos casos que indicam
haver uma relação psicométrica entre pessoas vivas,
animais, vegetais e matéria inanimada. Diz Ernesto Boz zano
(11), sobre a psicometria: “As modalidades segundo as quais
se estabelece a conexão entre o sensitivo e a pessoa ou meio
concernente ao objeto “psicometrado” distinguem, efetivamente,
a psicometria das outras formas de clarividência. No sonambulismo
provocado, é o próprio operador quem estabelece a relação
entre o sensitivo e a pessoa ou o meio colimados. Na ausência
de operador, é o consulente que, por sua presen ça, faculta
a ligação entre o sensitivo e ele próprio ou a
pessoa e o meio distantes. Na clarividência utilizada por quiromancia,
cartomancia, visão do cristal, os diversos objetos ou processos
empregados podem considerar-se como simples estimulantes, próprios
para suscitar o estado psicológico favorável ao desembaraço
das faculdades subconscientes. Na psicometria, muito pelo contrário,
parece evidente que os objetos apresentados ao sensitivo, longe de atuarem
como simples estimulantes, constituem verdadeiros intermediários
adequados, que, à falta de condições experimentais
favoráveis, servem para estabelecer a relação entre
a pessoa ou meio distantes, mercê de uma influência real,
impregnada no objeto, pelo seu possuidor”.
Esta magistral explicação nos remete ao capítulo
26, de Nos Domínios da Mediunidade. Neste capítulo,
André Luiz, acompanhado por Hilário e o orientador Áulus,
entraram em um museu. Diz o orientador para os seus tutelados (12):
“Numa instituição como esta, é possível
realizar interessantíssimos estudos. Decerto, já ouviram
referências à psicometria. Em boa expressão sinonímica,
como o é usada na Psicologia experimental, significa ‘registro,
apreciação da atividade intelectual’, entretanto,
nos trabalhos mediúnicos, esta palavra designa a faculdade de
ler impressões e recordações ao contato de objetos
comuns”.
André Luiz, observou, nos objetos expostos no museu, que a grande
maioria estava revestida “de fluidos opacos, que formavam uma
massa acinzentada ou pardacenta, na qual transpareciam pontos luminosos”
(13). Áulus, percebendo a curiosidade
de André, afirma que aquelas substâncias fluídicas
são uma consequência das lembranças e visitas daqueles
que foram os donos dos objetos. Como exercício, ainda no mesmo
capítulo, Áulus indica um relógio antigo à
André. Instantaneamente, “me assomou aos olhos mentais
linda reunião familiar”, diz André, “em que
venerando casal se entretinha a palestrar com quatro jovens em pleno
viço primaveril”. André ainda na sua percepção,
conseguiu visualizar o recinto, o mobiliário, as flores e as
telas que enfeitavam o local. Áulus explica: “O relógio
está envolvido pelas correntes mentais dos irmãos que
ainda se apegam a ele, assim como o fio de cobre na condução
da energia está sensibilizado pela corrente elétrica.
A psicometria pode ser dividida, conforme a utilização
e objetivos almejados, em três tipos. O exemplo supracitado pode
ser classificado como Vidência Psicométrica Retrocognitiva.
Historicamente, foi o primeiro tipo a ser realmente estudado e é
o de ocorrência mais comum. A Vidência Psicométrica
Investigativa tem servido a investigações de todo o tipo.
A polícia, em alguns países, utiliza desta faculdade para
localizarem corpos de vítimas, pessoas gravemente feridas, desaparecidas
tendo como elemento indutor uma fotografia ou uma peça de vestuário.
Além destas, temos a faculdade de prever o futuro das pessoas,
em contato com um elemento indutor: Vidência Psicométrica
Precognitiva.
O objetivo deste artigo não é encerrar o assunto. Também,
para não alongar demasiadamente este texto, não incluímos
outros casos interessantes para exemplificar a riqueza do fenômeno
psicométrico. Todavia, indicamos a leitura de três obras
que abordam o assunto: Memória Cósmica, de Hermínio
de Miranda; Enigmas da Psicometria, de Ernesto Bozzano e Teoria
da Mediunidade, de Zalmino Zimmermann.
A partir de Buchanan a vidência psicométrica passou a ser
cada vez mais investigada. Inúmeros casos pesquisados e comprovados
mostram que, seguidamente, este tipo de vidência é acompanhada
da audiência (audiência psicométrica), de sensações
olfativas e gustativa (14). Entre os metapsiquistas,
criou-se, para esse tipo de percepção, a denominação
“criptestesia pragmática” (15).
O exame das inúmeras experimentações ligadas à
vidência psicométrica mostra, de forma inequívoca,
que o processo funda-se, como já foi dito, em uma interação
entre a aura do vidente e a aura do objeto, “impregnado de energias
de várias categorias, a se traduzirem, para aquele em visões
e sensações as mais diversas, dentro de tal quadro de
realidade que, seguidamente, o ontem e, às vezes, o amanhã,
parecem desaparecer, tornando-se tudo atual e transparente”
(16).
Referências
1 – Psicometria, Luiz Pasquali, Rev. esc. enferm. USP vol.43 no.spe
São Paulo Dec. 2009
2 – Encyclopedia of Occultism and Parapsychology, Part 2, Kessinger
Publishing, LLC, 2003
3 – Vidência. Capacidade de ver a dimensão psíquica
dos seres. Nome científico da vidência; clarividência,
lucidez sonam
búlica.
4 – Dicionário de Filosofia Espírita, L. Palhano
Jr., CELD, 3ª Ed., 2008.
5 – Memória Cósmica, capítulo 3, Hermínio
C. Miranda, Lachâtre, 2ª Ed., 2008.
6 – Memória Cósmica, capítulo 3, Hermínio
C. Miranda, Lachâtre, 2ª Ed., 2008.
7 – Memória Cósmica, capítulo 4, Hermínio
C. Miranda, Lachâtre, 2ª Ed., 2008.
8 – Memória Cósmica, capítulo 4, Hermínio
C. Miranda, Lachâtre, 2ª Ed., 2008.
9 – O título de nosso artigo é uma referência
à obra de William Denton.
10 – Telepatia
11 – Gli Enigmi dela Psicometria, Introdução, Ernesto
Bozzano, Casa Editrice Luce e Ombra, 1920.
12 – Nos Domínios da Mediunidade, capítulo 26 André
Luiz, Francisco Xavier, FEB, 1ª Ed. Especial, 2010.
13 – Nos Domínios da Mediunidade, capítulo 26 André
Luiz, Francisco Xavier, FEB, 1ª Ed. Especial, 2010.
14 – Teoria da Mediunidade, capítulo VI, Zalmino Zimmermann,
Editora Allan Kardec, 1ª Ed., 2011.
15 – Charles Richet
16 – Teoria da Mediunidade, capítulo VI, Zalmino Zimmermann,
Editora Allan Kardec, 1ª Ed., 2011.
* Elton Rodrigues - Licenciado
em Física (UFRJ) e Mestrando em Biofísica (CBPF).
É membro fundador da Associação Física e
Espiritismo da Cidade do Rio de Janeiro (AFE-RIO) e editor da revista
O Fóton.
Fonte: Revista O Fóton - Volume 5 •
Maio de 2017
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