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Dias após fazer publicar em um
semanário de São Paulo uma reportagem sobre Dona Otília
Diogo e as materializações através de sua mediunidade
(éramos, então, chefe de reportagem da Edição
Extra) foi o autor deste livro convidado por Francisco Cândido
Xavier e Waldo Vieira a assistir, em Uberaba, sessões com a
referida médium de efeitos físicos. Era o primeiro contato
que teríamos com Dona Otília Diogo, e ansiávamos
por ele. Minha incumbência específica era registrar em
um documento cinematográfico o encontro da médium com
os médicos, com Chico e Waldo, etc. e, assim ampliar a Filmoteca
Allan Kardec, criada por nós.
No dia marcado, em companhia do psiquiatra Alberto Calvo, dirigi-me
a Uberaba, levando comigo a aparelhagem de filmar. A sessão
a que assisti foi realizada no pequeno consultório médico
de Waldo Vieira. E em condições capazes de evitar possibilidade
de fraude. Rigorismo absoluto, inclusive entre os próprios
médicos. Basta recordar que a ninguém foi permitido
entrar na sala dos trabalhos trazendo lenço e nem relógio
no pulso. Ainda mais: fomos obrigados a entrar na sessão sem
paletó... e sem gravata! Quanto a médium Otília
Diogo, devia trocar de roupa: ao invés do vestido colorido,
que usavam, devia ela vestir uma camisola negra, exclusivamente. A
cautela se justificava: é que o espírito de Irmã
Josefa se materializa como freira, vestida totalmente de branco. A
jornalista associada, Wanda Marlene, foi incumbida pelos médicos
de acompanhar Dona Otília Diogo ao compartimento contíguo
ao consultório e fiscalizar, também, a troca de roupa.
Era a primeira vez que a jornalista se defrontava com a médium.
No consultório do médico Waldo Vieira estavam instaladas
nove máquinas fotográficas: os espíritos que
porventura se materializassem seriam fotografados em nove ângulos
diferentes para exame e confronto. No teto, o flash eletrônico.
Viam-se, também, barômetros, balanças, etc. Frente
às cadeiras, dispostas em fila para os assistentes, uma jaula
de aço confeccionada em Uberaba; idêntica às que
se vê nos jardins zoológicos e da qual (sem exagero)
nem mesmo uma pantera ou um leão poderiam escapar. Jaula esta
destinada aos médiuns.
Após verificação da temperatura do ambiente e
pesagem de todos os presentes, foram introduzidos na referida jaula
Otília Diogo, coberta por uma camisola de cor negra, e o Sr.
Feitosa. Em seguida foram amarrados pelos próprios médicos.
Nos pés, foram colocadas fortes correias com cadeados; nos
pulsos, ao invés de correias, algemas policiais prendendo também
o braço da cadeira. Algemas do tipo espanhol: quanto mais o
preso procura libertar-se, mais apertam os pulsos.
Penalizou-me ver Dona Otília Diogo naquela situação
humilhante: vestida com roupa preta, dentro de uma jaula e algemada,
como uma criminosa. Mas, a mesma pedira aos médicos rigor excessivo
na fiscalização de sua pessoa, e esse pedido ela o fez
com espontaneidade admirável, pois médium autêntica
que é, sujeita-se a tudo, sem nada temer. Tudo pronto, os médicos
sentaram-se em seus lugares. Waldo Vieira leu um trecho do Evangelho,
abrindo em nome de Deus a reunião e, em seguida, foi apagada
a lâmpada do consultório. A sala ficou em escuridão
total.
A pedidos, Francisco Cândido Xavier, ao nosso lado, fez uma
lindíssima prece, citando várias vezes o nome de Jesus.
Terminada esta, a expectativa pareceu crescer. Algo aconteceria ou
não? O mundo espiritual se faria presente ali?
Acredito que todos estivessem duvidando. Quanto a mim acostumado a
ver embusteiros fantasiados de "fenômeno", confesso
que, não sei porque, não acreditava nos dons mediúnicos
de Dona Otília... E muitíssimo menos nos do Sr. Feitosa.
Aquelas algemas policiais... A jaula zoológica... Os dezenove
médicos, todos atentos com os olhos arregalados...
Mas, para grande espanto nosso, de súbito ouvimos no lado esquerdo
da jaula, onde se encontrava Dona Otília Diogo, ruídos
estranhos... Ruídos guturais. Deram a impressão de alguém
estava a extrair algo da boca da médium. Dona Otília
gemia. Era o transe que se iniciava. Segundos depois, começou
a liberação do ectoplasma; não apenas pela boca,
mas também pelos ouvidos e nariz. Agora, o ruído que
chegava até nós modificou-se: palavras ininteligíveis
passaram a ser proferidas. Palavras gritadas. Evidentemente, o espírito
manifestante estava a experimentar a garganta recém-formada
com o ectoplasma fornecido pela médium.
Que estava por suceder? E, imediatamente, mãos invisíveis
puseram em movimento a vitrola localizada fora da Jaula e, ato contínuo,
sob a luz de uma pequenina lâmpada vermelha, diante dos dezenove
médicos surgiu a materialização total do espírito
de Irmã Josefa: magnífica, toda vestida de branco, com
roupa de freira. Trazia uma luz na fronte e no tórax.
- Viva Jesus! - disse ela, alegre, e sua voz com timbre brilhante
e, no entanto, suavíssimo (oposto ao da médium) ecoou
pelo consultório.
- Viva Jesus! - responderam todos, deslumbrados com o fenômeno.
E Irmã Josefa tornou a repetir, com seu sotaque alemão:
- Viva Jesus!
E esparziu sobre todos gotas de perfume. O ambiente parecia etéreo,
não obstante vinte e poucas pessoas respirando e transpirando
dentro de uma pequena sala hermeticamente fechada a cadeados.
- Sabem porque estou aqui entre vocês, meus filhos? Para dar
provas de que a morte não existe. Provas verdadeiras de que
todos vocês são imortais.
E Irmã Josefa, mostrando-se muito feliz, deu em verdade provas
magníficas. Permitiu dezenas de fotografias; entre elas, várias
curiosas, como por exemplo, uma que mostra seu corpo ectoplásmico
sendo interpenetrado pelas grades da jaula. Outro fenômeno curioso,
foi o transporte de três fitas coloridas para o consultório.
Essas fitas de pano foram colocadas na palma da mão de Chico
Xavier e, entre Chico Xavier e Irmã Josefa havia uma distância
de, pelo menos, três metros; o espírito, no entanto,
para colocar as fitas na mão de Chico Xavier, não caminhou
um passo! Seu braço ectoplásmico é que se alongou.
Nessa noite memorável, também se materializou através
de Dna. Otília o espírito de Alberto Veloso, ex-médico
da marinha. Materialização integral. Antes, fez-se anunciar
no recinto esparzindo gotas de éter. Foi inúmeras vezes
fotografado. Também o espírito de uma criança,
sem se deixar ver, conversou com os presentes. Em seguida, materializou
uma gaita e tocou-a, permitindo que nós outros (inclusive eu)
a examinássemos. A gaita teria uns quinze centímetros
de comprimento e cinco de altura.
Por tudo o que nos foi dado ver, podemos afirmar: Dona Otília
Diogo nos faz lembrar as médiuns do passado Eusápia
Paladino, que também era analfabeta, Mme. D'Esperance nos seus
grandes momentos de mediunidade. Principalmente, D'Esperance; inclusive,
pela sua comovedora simplicidade, fora do normal. Infelizmente, Antônio
Alves Feitosa, dentro da jaula algemado, nada pode oferecer aos médicos
no complexo campo da mediunidade.
Esse trabalho em Uberaba, dias depois foi repetido na residência
do autor deste livro. Mas, em condições privilegiadas:
não foi necessário o uso intermitente da lâmpada
vermelha, que as materializações de Alberto Veloso e
Irmã Josefa, em nossa sala de visitas, se verificaram sob a
luz branca, indireta e contínua. Iluminação excessiva;
e, no entanto, Alberto Veloso, nessa noite, apresentou-se diante de
nós sem véus. Com uma nitidez espantosa.
Aqui termina o que podemos chamar de primeira fase do nosso histórico.
Foi ela redigida a fim de que o leitor se inteire de fatos paralelos
ao escândalo de O Cruzeiro e tome conhecimento de detalhes que
vão esclarecer (ainda mais) certas questões que adiante
serão levantadas.
OS REPÓRTERES
DA REVISTA O CRUZEIRO EM UBERABA
Agora, é chegado o momento de tocarmos em um ponto fundamental:
o intrometimento da revista O Cruzeiro nas experimentações
de ectoplasmia, em Uberaba.
A primeira reportagem (a favor das experiências) com catorze
páginas ilustradas, traz a assinatura de José Franco
e foi feita com o sentido de conquistar a simpatia dos dezenove médicos
que examinaram a médium Otília Diogo. Essa primeira
reportagem, porém, nasceu como?
Por incrível que pareça, de um programa de televisão...
O repórter assistiu ao programa organizado por Wanda Marlene
na TV Itacorumy, ouviu o depoimento de alguns médicos, viu
diversas fotografias pelo vídeo e foi aos estúdios buscar
o material para a reportagem, que recebeu o nome de "Fenômenos
de Materialização".
Aqui começa a irresponsabilidade da revista O Cruzeiro:
publicar uma vasta reportagem sobre materialização de
espíritos, ilustrada com quinze fotografias, algumas ocupando
página inteira, sem que seu autor, José Franco, tivesse,
pelo menos, conhecimento do local das sessões!
Absurdo, evidentemente, em se tratando de uma revista que pretende
ser mais ou menos honesta. Mas, má fé já estava
patente nessa primeira reportagem; porque José Franco, ao fim
da mesma, deu destaque à seguinte "nota do repórter"
e para a qual chamo a atenção do leitor:
"Não houve neste texto
(escreve o repórter) do princípio ao fim, nenhuma frase
que denunciasse a opinião do repórter. Esta será
expedida em outra ocasião, se me for dada a oportunidade de
presenciar, com os próprios olhos, as pesquisas que a numerosa
equipe médica procede na cidade de Uberaba"
Os médicos (psicologicamente pressionados por essa reportagem)
se viram obrigados a convidar José Franco para uma sessão
experimental com Dona Otília Diogo. José Franco respondeu
que se faria acompanhar de uma testemunha, um outro repórter
de nome José Nicolau. E a data da experimentação
foi marcada, que já não era possível aos médicos
voltar atrás... Se desfizessem o compromisso, fatalmente seriam
massacrados pela revista como "embusteiros", etc.
No dia da sessão, porém, tiveram os médicos uma
surpresa: ao invés de apenas José Franco e uma testemunha
José Nicolau, surgiu em Uberaba, vindo do Rio de Janeiro, um
bando de repórteres e fotógrafos, "para assistir
aos trabalhos".
É evidente, portanto, que a trama de O Cruzeiro já
estava preparada.
Era impossível recuar; e os médicos, sem saber o que
iria acontecer (mas, apoiados espiritualmente com a presença
de Chico Xavier) entraram no consultório de Waldo Vieira acompanhados
de Jorge Audi, Henri Ballot, José Franco, Mário Moraes,
Paulo Miranda, José Nicolau e Nilo Oliveira. Ao todo, sete
repórteres e fotógrafos de uma revista sensacionalista.
Participaram, também, dos trabalhos Cleusa Soares e a valorosa
Wanda Marlene, ambas da TV Itacolomy, de Belo Horizonte. (A sessão
foi realizada na noite de 3 de janeiro de 1964).
O que foi essa sessão, vamos narrar agora; sem minúcias,
mas com base em depoimentos.
Estavam presentes no consultório do Dr. Waldo Vieira (local
da experimentação) treze médicos, alguns professores
de faculdades. Eram eles: Dr. Eurípedes Tahan Vieira, Dr. Cleomar
Borges de Oliveira, Dr. Adroaldo Modesto Gil, Dr. Alberto Calvo, Dr.
Adelor Alves Gouveia, Dr. Waldo Vieira, Dr. Oswaldo de Castro, Dr.
Elias Barbosa, Dr. Armando Valente de Couto, Dr. José Américo
Junqueira de Mattos, Dr. Ismael Ferreira da Rezende, Dr. Milton Skaff
e Dr. Sebastião de Mello, que dirigiu a sessão propriamente
dita.
Treze médicos, mas a fiscalização foi entregue
aos repórteres. Foi-lhes dada, para isso, ampla liberdade de
ação. Começaram eles examinando, através
de batidas, as paredes do consultório; depois, o teto, o piso,
a porta. O ventilador e o exaustor também passaram por uma
revisão: por dentro e por fora. Nada de suspeito encontraram.
Os próprios médicos foram revistados pelos Jornalistas;
inclusive, os sapatos e, mais detidamente, os saltos de borracha...Talvez
com uma pressão pulasse o salto do sapato de um médico
mancomunado com Dna. Otília Diogo e surgisse o vestuário
enorme da freira...
Quanto a Francisco Cândido Xavier, que participava da reunião
apenas na qualidade de assistente, teve as roupas um pouco mais policialmente
examinadas. Era tal a desconfiança que inspirava, que os bolsos
de sua calça foram destruídos: alguém levantara
a hipótese de que a vestimenta da freira poderia estar escondida
na calça do médium mineiro...
Para completar a fiscalização, o próprio Dr.
Adelor Alves Gouveia aconselhou que se colocasse no ombro de cada
participante um pedaço de esparadrapo fosforescente a fim de
evitar-se movimentos suspeitos no consultório. Isso também
foi feito.
Médicos e consultório revistados com perícia
pela equipe de repórteres, restava, agora, um exame completo
em Dona Otília Diogo. Já sabe o leitor que ela é
uma senhora humilde, sem nenhuma instrução (não
sabe sequer ler e escrever) e que a exemplo dos médiuns Francisco
Cândido Xavier e Waldo Vieira, se sujeita a qualquer tipo de
experimentação; inclusive, a exigida pela equipe de
O Cruzeiro...
Antes de entrar na sala dos trabalhos, foi ela submetida a um exame
(por razões óbvias) feito pelo Dr. Ismael Ferreira de
Resende. Em seguida, para evitar qualquer suspeita de fraude, convidada
a vestir uma camisola negra, visto que a roupa da freira materializada
é totalmente branca, dos pés a cabeça. Tanto
o exame no corpo de Dona Otília Diogo como a troca de roupa
foram feitos na presença dos repórteres Mário
Moraes e Jorge Audi. Absurdo, evidentemente, mas era preciso que a
verdade espiritual se manifestasse límpida e cristalina naquela
noite.
Comprovado que nada de suspeito havia no corpo e nas vestes da famosa
médium, foi ela conduzida ao consultório onde todos
a aguardavam. A cadeira destinada a médium era do tipo "espreguiçadeira".
Estava solidamente fixada ao solo, pois fora chumbada com cimento!
Tranqüila, dona Otília Diogo acomodou-se e os repórteres,
imediatamente, procederam a sua prisão.
Nilo Oliveira, ex-reporter policial, comandou esse trabalho. Com grossas
correias a médium teve as pernas presas aos pés da cadeira.
Nas correias, cadeados; e, cobrindo a fechadura dos mesmos, teve ainda
o arguto Nilo Oliveira o cuidado de colocar tiras de esparadrapo,
todas elas com a sua rubrica. Mas, os repórteres não
comem gato por lebre: o corpo de Dona Otília não poderia
ter movimentos livres...E fizeram uso de novas correias, as quais
levaram a força o corpo da médium ao encosto da cadeira;
prendendo essas correias, foram colocados novos cadeados envolvidos
em esparadrapos, também rubricados por Nilo Oliveira. Pés
e tronco presos, restavam apenas as mãos de Dona Otília
Diogo: para impedir-lhes qualquer ação, estava reservada
uma algema policial, que foi colocada nos pulsos pelo ex-reporter
policial.
Tudo em perfeita ordem, os repórteres, já combinados
entre si, distribuíram-se, estrategicamente, pelo consultório.
Paulo Miranda foi incumbido de policiar a porta da entrada. Quanto
a Nilo Oliveira, recusou-se a ficar no consultório, explicando:
- Se alguma coisa aparecer aqui dentro, é porque veio do lado
de fora. Eu e o nosso motorista ficaremos vigiando o prédio.
Fechada a porta, foram as lâmpadas do consultório apagadas.
Dr. Sebastião de Mello, após fazer uma breve explanação
sobre os fenômenos que certamente iriam se verificar, pediu
a Francisco Cândido Xavier que abrisse a sessão com uma
prece.
A experimentação foi cronometrada pelo Dr. Adroaldo
Modesto Gil e teve início, exatamente, às 21:05 hs.
Cinco minutos depois, porém, já a notável médium
entrou em transe: primeiro, gemidos, em seguida liberação
do ectoplasma pela boca, ouvidos e nariz. As 21,20 hs. (dez minutos
depois) surgiu o primeiro fenômeno: aspersão de perfume
em forma de chuva leve sobre os repórteres (aviso de que Irmã
Josefa iria materializar-se). Sete minutos após a "chuva",
com espanto observaram todos o segundo fenômeno: uma luminosidade
movimentando-se nas proximidades da médium, a qual se mantinha
em sono profundo. A luminosidade continuou em movimento e um minuto
depois foi constatado o terceiro fenômeno: uma voz feminina
ecoou no consultório. Voz com timbre metálico, porém
suave, meigo.
Os repórteres, é óbvio, começavam a assustar-se.
Sete minutos após a "voz direta", para espanto e
admiração de todos, foi visto o quarto fenômeno,
magnífico e notável: a aparição de uma
forma feminina, vestida com um volumoso e complicado traje branco
de freira, trazendo luz na fronte e no tórax. E no peito um
crucifixo com cerca de dez centímetros de altura. Era Irmã
Josefa.
O ambiente vibratório não era dos melhores, mas, ainda
assim, Irmã Josefa se manteve materializada durante meia hora.
Além das provas que precederam sua aparição tangível,
deu ela ainda outras: conversou com os repórteres e fotógrafos
durante trinta minutos, permitiu que lhe tocassem o corpo, deixou-se
fotografar ao lado de Mário Moraes, Jorge Audi e José
Franco.
A conversa inteira entre Irmã Josefa e os repórteres
foi registrada no gravador do Dr. Eurípedes Tahan Vieira. A
fita magnética foi emprestada ao autor desta obra, que a ouviu,
atentamente. Durante a conversa, houve momentos curiosos. Como este,
por exemplo : estavam sendo batidas fotografias, quando um dos fotógrafos
disse a Irmã Josefa:
- Eu gostaria de tirar uma foto sua em pose especial. A senhora não
quer abrir os braços?
Irmã Josefa captou imediatamente o pensamento do fotógrafo
e respondeu, com seu sotaque alemão:
- Oh, que bonita... Está pensando que meu braço é
braço de Otília...
E, abaixando a voz, acrescentou:
- Eu vou abrir os braços... Faço isso de coração.
Pronto...
E, antes do flash explodir, Irmã Josefa exclamou, alegre:
- Viva Jesus!
Essa foto prova que Irmã Josefa é independente da médium;
em termos, é óbvio.
Minutos depois de Irmã Josefa desaparecer, verificou-se no
pequeno consultório o quinto fenômeno: de súbito,
caiu sobre todos os presentes uma chuva leve de éter (prenúncio
de que o espírito de Alberto Veloso iria também materializar-se).
Um minuto depois, o fato deslumbrante foi visto. Como de costume,
apresentou-se com barbas e vestido, por assim dizer, à moda
oriental. Durante nada menos que quarenta minutos o ex-médico
da marinha se manteve no ambiente. Foi inúmeras vezes fotografado.
De pé e com os braços abertos. Em certo momento, para
provar a Nilo Oliveira, que se encontrava do lado de fora, que algo
de notável estava se processando dentro do consultório,
jogou éter no exaustor. Ao respirar o éter, o repórter
certamente pensou: " Dona Otília conseguiu esconder um
vidro de éter e nós não percebemos!" Ao
terminar a sessão, Nilo Oliveira entrou no consultório
e, bastante surpreso, encontrou a médium na posição
exata em que a deixara: sentada, algemada e... presa com correias
e cadeados. Libertou-a, depois de constatar, cuidadoso, que todas
as tiras de esparadrapo que cobriam as fechaduras continham a sua
assinatura. Mas um outro repórter não se conteve e quis
examinar, mais uma vez, a roupa preta que os médicos haviam
dado a Dona Otília. Forçou-a, rasgou-a: a médium,
na revista O Cruzeiro, aparece de soutien! Um dos fotógrafos
bateu inesperadamente uma foto...
Ainda sob a emoção, diversos repórteres deixaram
suas impressões sobre os fenômenos no gravador do Dr.
Eurípedes Tahan Vieira. Vamos transcrevê-las, integralmente,
e na ordem cronológica, a fim de que o leitor possa compará-las
com os depoimentos que, dias depois, publicaram na revista O Cruzeiro.
"Eu, Nilo Oliveira, posso declarar que algemei a Dona Otília,
médium que atuou nesta sessão, rubriquei e colei o esparadrapo
na fechadura dos cadeados e tomei conta do exterior da casa onde se
realizava esta sessão. Não observei absolutamente nada
de anormal por fora. E terminada a sessão, penetrei na sala
E ENCONTREI TUDO COMO HAVIA DEIXADO: a Dona Otília algemada,
tendo eu desfeito a algema, aberto os cadeados e encontrado as rubricas
que havia feito anteriormente."
"Eu (diz agora Mário Moraes) repórter de O
Cruzeiro, declaro que assisti uma experimentação
realmente estranha: NUNCA HAVIA VISTO NADA IGUAL, e é lógico
que não sendo estudioso da matéria, NÃO TENHO
EXPLICAÇÃO PARA O QUE VI. Passo a partir desse momento
a me interessar pelo problema: procurarei no futuro próximo
talvez dar uma explicação para o fato."
"É difícil (confessa Henri Ballot) dar uma explicação...
É a primeira vez que eu assisti a uma sessão assim...
Eu fiquei SURPREENDIDO pelo fenômeno, que a primeira vista não
se vê uma explicação plausível.... Deve
haver uma, não há dúvida. Eu tenho algumas idéias
a respeito disso. Mas não tenho autoridade para falar."
"Sinceramente (diz o repórter José Franco) após
essa reunião não sei o que dizer; fiquei bastante IMPRESSIONADO
COM O FENÔMENO, mas ainda tenho uma explicação
a respeito."
"Eu assisti a uma dessas sessões realizadas em Uberaba
(diz Audi) e é REALMENTE ESPETACULAR; nós procuramos
de toda forma encontrar alguma falha, algum defeito, alguma coisa
que pudesse denunciar anormalidade. E, naturalmente, vai depender
de algum raciocínio e, se possível, uma outra oportunidade
em que a gente possa ter mais chance de observar melhor o fenômeno.
No momento, o que eu posso dizer é que, para mim, FOI UMA COISA
INÉDITA! EU JAMAIS HAVIA ASSISTIDO COISA IGUAL, embora na vida
de um repórter essas emoções são quase
que diárias. Essas emoções novas e violentas
são já um lugar comum na vida de um repórter.
Posso afirmar que é realmente QUALQUER COISA ASSIM EMOCIONANTE.
Agora, eu gostaria de ter mais contato e mais oportunidade PARA PODER
FAZER UM RACIOCÍNIO MAIS ABSOLUTO."
Essas, as declarações dos repórteres logo após
a sessão com a notável médium Dona Otília
Diogo.
Depois, porém....
O ESCÂNDALO DE "O CRUZEIRO"
E A MISSÃO DE IRMÃ JOSEFA
A sessão de Uberaba parecia haver terminado bem; o depoimento
vibrante dos repórteres, aliás, deixa evidente que os
jornalistas ficaram profundamente emocionados com o que viram e ouviram
na famosa experimentação com a médium Otília
Diogo. Em verdade, Irmã Josefa deu aos repórteres algumas
das mais importantes provas da imortalidade do espírito. No
entanto, dias depois, a revista O Cruzeiro divulgou em todo
o Brasil uma reportagem (primeira de uma extensa série) assinada
por seis dos sete repórteres e intitulada... "A Farsa
da Materialização": uma reportagem enorme, com
catorze páginas, arrasando a médium, os médicos
e as reportagens subsequentes, os repórteres se tornaram ainda
mais agressivos (para efeito de sensacionalismo) e taxaram os médicos
de mistificadores, levianos, escroques, petulantes, gangsters (...)
etc.
Essa campanha de O Cruzeiro contra o Espiritismo teve a duração
de quase três meses consecutivos! Ocupou onze números
seguidos da revista! Nos onze números, foram gastas cerca de
setenta páginas compactas... Ilustraram a campanha um total
de oitenta e sete fotografias!
Foi, em verdade, o maior golpe sofrido pelo Espiritismo, por enquanto,
em toda a América do Sul!
No grande escândalo, o nome venerável de Francisco Cândido
Xavier Também foi envolvido.
Vejamos as principais acusações da revista O Cruzeiro
que pretenderam transformar em farsa as materializações
de Uberaba:
1) O espírito masculino de Alberto Veloso se materializa com
seios
2) Embaixo do turbante de Alberto Veloso se esconde uma vasta cabeleira
3) O ectoplasma que sai da boca, ouvidos e nariz de Otília
Diogo é um chumaço de pano branco
4) A roupa das formas materializadas é uma só
5) A roupa das formas materializadas apresentam marcas nítidas
de confecção mecânica: sinais de dobragem e costuras
6) O fio da "roupa" de Irmã Josefa, encontrado após
a sessão, não era fio ectoplásmico
7) Apenas a barba diferencia Otília Diogo de Alberto Veloso
8) Otília Diogo não é filha de Irmã Josefa,
e sim de Dna. Maria Luisa Barbosa
9) Otília Diogo tinha os pés praticamente soltos, após
a sessão.
10) Dr. Waldo Vieira não permitiu aos repórteres o uso
de infravermelho
11) As algemas e cadeados eram de propriedade dos médicos
12) Os repórteres não examinaram, antes da sessão,
o corpo e as vestes da médium Otília Diogo.
13) Nilo Oliveira não pode, a sua maneira, manietar a médium
14) Os Drs. Alberto Calvo e Oswaldo de Castro também manietaram
Dna. Otília Diogo
15) Os repórteres não tiveram liberdade para escolher
suas cadeiras na sala de experimentação
16) A vitrola, durante a sessão, não tocou (?)
17) O espírito de Alberto Veloso não fala
18) Irmã Josefa disse, em determinado momento, que tinha apenas
um dado materializado, mas na verdade tinha ela os cinco
19) As roupas das materializações apresentam vincos
e dobraduras
20) As materializações, sob a luz, projetam sombras
nas paredes
21) As fotografias das materializações são truques
grosseiros
22) Há coleta de dinheiro nas sessões científicas
23) Nos pés de Otília Diogo, pós a sessão
de Uberaba, existiam resquícios do círculo de giz feito
pelos médicos
24) Não foi permitida a prova do talco
25) Chico Xavier estava "falsamente inebriado" ao lado da
Irmã Josefa, em uma fotografia
26) Waldo Vieira prometeu aos repórteres inúmeras sessões
com a médium Otília Diogo
27) A virgindade de Irmã Josefa é indiscutível
28) Otília Diogo abandonou vilmente o marido e filhos
29) Documentos "oficiais" provam que a materialização
de Uberaba é farsa
Antes de refutarmos as acusações, digamos que essas
reportagens de O Cruzeiro abalaram profundamente os espíritas
de todo o país e, por mais estranho que pareça, a convicção
de alguns líderes... Não obstante, Francisco Cândido
Xavier e Waldo Vieira, dois médiuns notáveis e impolutos,
colunas mestras da mediunidade no Brasil (instrumentos de Emmanuel
e André Luís) estarem presentes à experimentação.
Esse fato, por si só, deveria ser, pelo menos para os "líderes",
uma garantia da autenticidade dos fenômenos. E, apesar dos espíritas,
em geral, saberem, perfeitamente, que a revista O Cruzeiro
sempre foi inimiga declarada e feroz da Doutrina de Allan Kardec.
Ou será, santo Deus, que não nos serviu de lição
a reportagem que David Nasser (hoje, um dos diretores de O Cruzeiro)
fez há alguns anos ridicularizando Francisco Cândido
Xavier e o Espiritismo ?!
Aproveitamos o momento para responder à pergunta, que, certamente,
o leitor já formulou: Francisco Cândido Xavier e Waldo
Vieira já foram avisados pelos Guias espirituais que a sessão
com os repórteres iria transformar-se em escândalo nacional?
A resposta, em se tratando de dois médiuns missionários
e com grande responsabilidade na evolução do Espiritismo
no Brasil, só poderia, evidentemente, ser esta: o mundo espiritual
os avisou. Mas, não podiam recuar; porque os escândalos,
em nosso planeta, são necessários...
Lembremo-nos de que o próprio Cristo serviu de escândalo....
para o bem do cristianismo!
Quanto a Irmã Josefa, podemos dar nosso testemunho de que também
ela sabia do que estava por suceder; e, com antecedência de
meses!
Recordo-me de que em Uberaba, quando ainda não nos passava
pela mente o nome da revista O Cruzeiro, Irmã Josefa,
materializada, dirigiu-se nestes termos a Wanda Marlene, da TV Itacolomy
de Belo Horizonte e notável defensora do Espiritismo:
- Você, minha filha, vai ser soldado de Irmã Josefa.
Você gosta de ser soldado de Irmã Josefa?
Naquele momento, ninguém entendeu nem deu importância
as palavras proféticas de Irmã Josefa... Se as sessões
de materialização, em Uberaba, estavam se processando
na mais absoluta calma e tranqüilidade...
Também, em minha residência, em São Paulo, Irmã
Josefa, plenamente materializada, disse, dirigindo-se a mim:
- Você vai ser mais que um soldado de Irmã Josefa....
Você gosta, Rizzini?
Respondi automaticamente que sim; não me ocorreu interrogar
a entidade... Mas, um ou dois meses depois, abria a revista O
Cruzeiro guerra contra Irmã Josefa e as experiências
de Uberaba: e a verdade é que nós, e Wanda Marlene,
na qualidade de soldados, entramos na luta - e na linha de frente!
Já agora, na mente do leitor, se delineia a difícil
missão confiada ao admirável espírito de Irmã
Josefa: sacudir (e trazer) a consciência de todo o povo brasileiro
para os problemas fundamentais da imortalidade. Irmã Josefa,
como vimos, estava perfeitamente consciente dessa missão. Missão
árdua, repetimos, pois materializando-se, como freira, agitou
o clero da terra e o clero do espaço... Para bem cumprir a
missão (apoiada por Emmanuel e André Luís) tinha
ela de, pacientemente, criar uma série de circunstâncias:
aproximar a médium Otília Diogo de Chico Xavier e Waldo
Vieira, cujos nomes já eram famosos no campo da mediunidade;
reunir em Uberaba uma equipe médica que se responsabilizasse
cientificamente pela sua materialização e de Alberto
Veloso, espírito que podemos considerar como seu assistente.
Mas, esse trabalho, apenas, não bastaria: era necessária
a presença de divulgação! Agora, um outro detalhe
importante que mostra a inteligência e a argúcia dos
espíritos: a revista O Cruzeiro chegou em Uberaba
representada não apenas por um jornalista, mas por uma equipe
formada por... sete repórteres! Não se tem notícia
de um tema para reportagem que exigisse a colaboração
de tantos jornalistas...
Prontos os preparativos, presentes às materializações
os sete repórteres da mais importante revista brasileira, os
fenômenos se desenrolaram e... dias depois, a consciência
popular foi violentamente despertada para os problemas espirituais;
inclusive, a consciência dos espíritas adormecidos e
vacilantes... e sem posição firmada!
Com a revista O Cruzeiro Irmã Josefa atingiu o objetivo.
E o resultado, indiscutível, é que durante a publicação
da extensa série de reportagens sensacionalistas todo o povo
se interessou pelo Espiritismo; e como se vendeu no Brasil livro espírita
- principalmente, os que relatam fenômenos da mediunidade! Quem
o diz é o próprio Departamento Editorial da Federação
Espírita Brasileira. Diversas edições se esgotaram
em poucas semanas... Nesse sentido, o "caso Otília Diogo"
nada fica a dever ao "caso Arigó".
Mas, paralelamente ao escândalo, era preciso promover a defesa
da autenticidade das materializações de Uberaba, de
acordo com o plano de Irmã Josefa. E, para alegria nossa, em
um local de São Paulo, recebemos das mãos de Francisco
Cândido Xavier e Waldo Vieira o material de que necessitávamos:
a fita magnética que contém as declarações
dos repórteres, fotocópias, filmes, fotografias, etc.
E, inclusive, a roupa especial que a médium Otília Diogo
usava durante a experimentação, e que foi violentada.
Agora, restava-nos, apenas, cumprir a obrigação.
E foi o que fizemos, com a ajuda dos mentores espirituais.
Luciano do Anjos e Jorge Rizzini, em programas televisivos, desmascaram
a fraude dos repórteres e expuseram tudo o que eles fizeram
de errado. A desmoralização foi total, tanto que, num
ato de desespero, até invocaram um repto de honra, que simplesmente
foi desconsiderado pelos médicos, médium e Chico.
Seis anos depois, Otília Diogo foi presa com uma maleta recheada
de roupas utilizadas nas "materializações".
O hábito de irmã Josefa também estava lá.
A transformista confessou até mesmo ter pago uma cirurgia plástica
facial com exibições "espíritas" na
casa do cirurgião. Atrás das grades, desta vez numa
delegacia, ela explicou ter perdido a mediunidade em 1965, um
ano após as sessões em Uberaba. Não
se conformou e decidiu apelar para truques. Chico Xavier, em entrevista
à revista O Cruzeiro, voltou a definir todo médium
como "uma criatura humana, com defeitos, qualidades e anseios
humanos". Para ele, havia os espíritas capazes de superar
as vaidades e viver para o outro e havia, também, aqueles que
não suportavam os baques "reservados por Deus como provação".
O fato não inviabiliza a sessão de materialização
que os repórteres e médicos testemunharam.
Extraído do livro Materializações
em Uberaba, de Jorge RIZZINI. Ed. Livro Fácil - Nova Luz
Editora. Fotos de Nedyr Mendes da Rocha (quem puder obter a edição
de 1964, da Edicel, terá melhores fotos do que a atual)
>
texto também disponível em pdf - clique aqui
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