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RIBEIRO, Raphael Alberto; MACHADO, Maria Clara
Tomaz.
Almas enclausuradas: práticas de intervenção
médica, obsessão e loucura no cotidiano no sanatório
espírita de Uberlândia-MG (1932-1970). In: SIMPÓSIO
NACIONAL DE HISTÓRIA, 23., 2005, Londrina. Anais do XXIII
Simpósio Nacional de História – História:
guerra e paz. Londrina: ANPUH, 2005. CD-ROM.
Este texto é parte do projeto de pesquisa
financiado pela FAPEMIG e CNPq com outros dois alunos: Riciele Majori
Pombo Reis e Fabrício Inácio de Oliveira, além
de Raphael Alberto Ribeiro, orientado pela Profª. Drª
Maria Clara Tomaz Machado.
(trecho inicial)
Sabemos que a loucura acometeu tanto
as gentes modestas como grandes artistas contemporâneos, cuja
arte brotava e suas dificuldades em enfrentar a realidade. Baudelaire,
Van Gogh e Artaud foram exemplos significativos e suas experiências
com a doença mental e as instituições asilares
marcaram profundamente suas obras. Artaud passou nove anos internado
e dizia que morria a cada sessão de eletrochoque que sofria.
Este trabalho de pesquisa teve a oportunidade de conhecer, mais de perto,
a vida, pelo menos asilar, de mais de 1500 pacientes do Sanatório
Espírita de Uberlândia. É esta doença e suas
práticas médicas, associadas à conivência
do espiritismo, que evocamos neste texto que, antes de tudo, para nós,
é ponto de partida e não ponto final.
A discussão em torno da loucura, tal como o seu tratamento, ainda
tem suscitado inúmeros debates, denúncias dos abusos cometidos
com os portadores de transtornos mentais. Dúvidas têm surgido
de maneira intensa em torno da grande incógnita que envolve a
loucura. Quais os indícios que evidenciam a loucura? Mais ainda,
a loucura realmente existe? Muitas outras indagações estão
colocadas, inclusive questionando o discurso médico, que antes
se apresentava como vencedor, como também suas práticas
e técnicas curativas. Em contrapartida, percebemos hoje o quanto
foi importante os debates de outros segmentos da sociedade, que, de
uma maneira ou de outra, não aceitaram a imposição
do saber psiquiátrico.
Neste trabalho abordaremos como os vários discursos
sobre a insanidade estavam presentes na sociedade e como isto possibilitou
as práticas de sua institucionalização. Feito isto,
enfocar-se-á a instituição uberlandense, o Sanatório
Espírita de Uberlândia, discutindo a relação
entre loucura e espiritismo.
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Fonte: Apresentado no seminário 2005
RIBEIRO, Raphael Alberto; MACHADO, Maria Clara Tomaz. Almas enclausuradas:
práticas de intervenção médica, obsessão
e loucura no cotidiano no sanatório espírita de Uberlândia-MG
(1932-1970). In: SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA, 23., 2005,
Londrina. Anais do XXIII Simpósio Nacional de História
– História: guerra e paz. Londrina: ANPUH, 2005. CD-ROM.
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(trecho)
A pertinência deste estudo não é somente refletir
acerca das práticas médicas, mas fundamentalmente a participação
do poder público e da população e todo um imaginário
que intenta excluir os sujeitos que não se ajustam às
condutas estabelecidas como ideais. Este trabalho se situa em um período
de intensos avanços no campo do tratamento aos portadores de
transtornos mentais, ainda que o descaso com a saúde alcança
índices agravantes, principalmente no Brasil, o que nos certifica
de que há um longo camnho a se seguir.
Várias propostas como o hospital dia, terapias ocupacionais,
arte-terapia, entre tantos, têm sido experimentados, muitos deles
nos mostrando a insatisfação de grupos sociais em relação
ao tratamento que os portadores de transtornos mentais recebem. Certamente
estamos longe de chegar a um modelo de práticas terapêuticas,
mais humanas, mas que ao menos consigamos ensejar discussões
que nos permitam refletir sobre a nossa própria condição,
ou, o que estamos fazendo para construir uma sociedade menos injusta,
onde haja mais solidariedade entre os povos e mais consideração
principalmente a quem mais necessite de ajuda.
A discussão deste trabalho primou também pela busca incessante
da cidadania, insistindo na questão da alteridade, na busca da
tolerância com o diferentes. Esperamos não mais presenciar
casas repletas de seres humanos vivendo em condições bastante
precárias, maltratados e desolados. Esta é uma exigência
que não pode mais ser postergada, assim como toda e qualquer
luta que denuncie as injustiças e o sofrimento humano.