Espiritualidade e Sociedade





Sebastião Antunes Ribeiro Filho


>   Tolerância e intolerância religiosa: sua percepção e vivência em espaços e práticas do espiritismo kardecista

Artigos, teses e publicações

Sebastião Antunes Ribeiro Filho
>   Tolerância e intolerância religiosa: sua percepção e vivência em espaços e práticas do espiritismo kardecista

 

Dissertação de Mestrado

 

RESUMO

Tolerâncias e intolerâncias acontecem em qualquer âmbito do convívio social, principalmente no religioso. A presente dissertação aborda uma aproximação ao tema, nos ambientes (centros espíritas) de prática religiosa do espiritismo kardecista. Essa tarefa começa por volta de 2013, quando ainda persistiam e já se avolumavam consideravelmente as situações de intolerância religiosa neste tão múltiplo religioso Brasil, e começa a se consolidar a partir de 2015.

Busco explicitar o que é o espiritismo kardecista, sua chegada ao Brasil, como se instala, o surgimento dos primeiros locais de cultos, a sua disseminação, a sua criminalização e a sua luta para se legitimar como religião na sociedade brasileira.

Isto feito, apresento a noção do que seja tolerância ou intolerância em sentido lato, restringindo-se, entretanto, ao entendimento no âmbito das Ciências Sociais. Noções e conceitos estabelecidos, descrevo o ambiente de prática, ou seja, a instituição espírita, sua filiação ao órgão representativo, seus ritos, orientações e recomendações. Realizando pesquisas prévias em três centros espíritas para a verificação da existência das intolerâncias e, em seguida, entrevistas com colaboradores desses centros espíritas onde, de maneira mais próxima, tento observar se o discurso da tolerância se confirma na prática.

O que se verifica ao final, é a existência de ambas: tolerância e intolerância coexistindo nos centros espíritas, não como forças antagônicas, mas como uma particularidade individual dos estados vivenciais, onde o esforço próprio dos colaboradores voluntários parece ser um dos caminhos que podem ser utilizados no sentido de reduzir, ou até mesmo eliminar, as intolerâncias externas e internas. Ao espírita kardecista cabe a responsabilidade e a disposição para demonstrar se isso é possível ou não, neste seu ambiente.

 

(trecho)


Há intolerâncias e há tolerâncias nos centros espíritas que são os ambientes de práticas do espiritismo kardecista. No entanto, essas situações não foram encontradas ou relatadas como existentes nos momentos de acolhimento aos assistidos. Como mencionou Aline ao dar um passe em um muçulmano, orientou-o a pensar em Jesus e ele disse: “Posso pensar em Maomé?” E ela respondeu “Sim, pode!” Os relatos são unânimes neste sentido: os atendimentos se destinam a todos, sem qualquer distinção de cor, ideologia política, nacionalidade, sexo (e gênero) e religião. Assim, se as situações de intolerância e de tolerância não aparecem na superfície do atendimento social das ações espíritas, isso não quer dizer que possam estar nos subterrâneos dos centros. Mas podemos dizer que aparecem, em determinadas situações e em alguns momentos, de maneira pontual, visto não ser geral nas situações de práticas espíritas. Nestes casos, o desmerecedor não é o centro espírita, mas a falta de entendimento e compreensão, por parte do colaborador voluntário que ainda não se conscientizou do que é ser espírita. Do que é ser um verdadeiro espírita. E, para Kardec, “reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que faz para dominar suas más inclinações.”

 

“A história da humanidade é, também, a história da sua inabilidade para conviver com o outro, com o diferente. Os preconceitos que geram a intolerância nutrem-se de alimentos abundantes como o desconhecimento, o desrespeito e a indiferença. A intolerância religiosa, por sua vez, está entre as formas mais violentas, pois ferem o homem no seu aspecto moral mais profundo ao rejeitar sua concepção ontológica, gerando reações muitas vezes imprevisíveis. Nestes casos, as religiões podem deixar de ser “caminhos para os céus” para se tornarem verdadeiros “atalhos para o inferno” ao se proporem o monopólio da “verdade” ou da noção de deus.”
Rita Amaral – Antropóloga (1958-2011)

 

 

RIBEIRO FILHO, Sebastião Antunes. Tolerância e intolerância religiosa: sua percepção e vivência em espaços e práticas do espiritismo kardecista. 2018.
Dissertação (Mestrado em Humanidades, Direitos e Outras Legitimidades)
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2018.

Orientadora: Prof.ª Dra. Margarida Maria Moura

doi:10.11606/D.8.2019.tde-20022019-140944

 

 

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Fonte: https://teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8161/tde-20022019-140944/pt-br.php

 

 

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