Tomando por base ser o corpo um veículo da alma em suas
múltiplas formas de expressar a vontade divina, e para a qual
foi criada, revela-nos o missionário a composição
sutil desse corpo diáfano; e a lida do ser vivente, a sua luta
constante entre os instintos, as emoções, as ações;
a falácia do discernimento e a busca de uma doutrina de vida.
Inspira-nos o doutrinador e propagador a uma reflexão! Se não,
vejamos: Por bem sabemos que a lei é espiritual; mas eu sou carnal,
vendido sob o pecado. Porque o que faço não aprova; pois
o que quero isso não faz, mas o que aborreço isso faz.
- E, se faço o que quero, consinto com a lei, que é boa.
De maneira que agora já não sou eu que faço isso,
mas o pecado que habita em mim. Porque eu sei que em mim, isto é,
na minha carne, não habita bem algum.
E, com efeito, o querer está em mim, mas não consigo realizar
o bem.
- Porque não faço o bem que quero, mas o mal que não
quero, este faço. Ora, se eu faço o que não quero,
já não faço eu, mas o pecado que habita em mim.
Acho, então, essa lei em mim que, quando quero fazer o bem, o
mal está comigo.
- Porque segundo o homem interior, tenho prazer na lei de Deus. Mas
vejo nos meus membros outra lei, que trabalha contra a lei do meu entendimento,
e me prende debaixo da lei do pecado que está nos meus membros.
- Miserável homem que sou! Quem me livrará do corpo
da morte? Assim que eu, com o entendimento servimos à lei de
Deus, mas com a carne, à lei do pecado.
Sentindo as mesmas forças atuarem em seu ser, Santo Anselmo teve
a mesma reflexão do evangelizador. E num momento de inspiração,
escreveu esta prece:
Há que confessar, Senhor, e eu rendamos graça por isso.
Que criou em mim essa imagem para que, lembrando-me de ti, eu pense
em ti e te ame; mas ela é de tal maneira encoberta pelo contato
com os vícios e obscurecida pela fumaça dos pecados, que
só pode realizar sua finalidade se tu a renovas e restauras.
Vemos, pois, ser o corpo um instrumento da evolução, o
veículo de expressão da alma, suscetível a melhoras,
se nos conduzimos segundo um código doutrinário.
E, encerrando esta crônica, um comentário de Sócrates,
o mestre dos filósofos: A mesma alma que faz uma comédia
faz também uma tragédia!
Somos, apenas e tão somente, um instrumento para que se cumpra
à ação divina em nós! Entretanto, somos
dotados do livre arbítrio. Temos, pois, as rédeas na condução
do nosso corpo e da nossa alma, no curso da jornada evolutiva que por
Deus nos foi confiada.